Friday, March 03, 2006

Governos, ideologias e where the buck really stops

Acho interessante esse argumento do Smart (e de muitos outros, dos dois lados ideológicos) que governos são completamente guiados e restritos por uma lista rigida de regras. E que a única maneira de se compreender de verdade qualquer medida é tentar mapear de volta a regra que originou a mesma.

Tenho que admitir que ess visão conspiratória do mundo é atraente: faz a política bem mais interessante e simples ao mesmo tempo.

Porém, eu acredito que as coisas são mais complicadas e desorganizadas do que esse pessoal acredita.

Eu não vejo problema nenhum em acreditar que o Bush decidiu invadir o Iraque por vários motivos: necessidade imediatista de dar o troco, geopolítica (guiada pelas teorias neoconservadoras e outras), medo da arábia saudita e Irã, etc, etc. Como todos esses fatores influenciaram exatamente na decisão final é dificil dizer. Mas acho muito pouco provável que o Bush tenha consultado “the little red book of neocons” ou ligado para os membros do New Century e dito "olha, vocês estavam certos. Estou me convertendo, podem me mandar a yarmulke e organizar o schedule das invasões."

Uma das grandes vantagens de uma Democracia é justamente a luta de poderes e influências que cerca um governo. Da mesma forma que os neocons podem ter influenciado na decisão de invadir o Iraque, os conservadores clássicos influenciam agora nos pedidos de isolacionismo. Será que se o Bush resolver sair fora do Iraque ele terá se convertido a conservador clássico? Mas como explicar os gastos do governo? Será ele na verdade um democrata wilsoniano? E a religião, como é que fica? Os Neocons são judeus, os conservadores WASPs... Aonde ficam os evangélicos nisso tudo? O Bible belt não manda mais no governo? Alguém chama o Rove, rápido!

Lógico que é possível identificar as linhas ideológicas gerais do governo Bush, e essas podem ser criticadas. Afinal, por mais que os comunistas tentem fazer lobby, o poder deles é mínimo. Mas no fim das contas, a aplição prática desse conjunto de teorias (i.e. o próprio governo) vale muito mais do que qualquer outra coisa. Ou então os neocons poderiam muito bem dizer que o problema não foi com eles, e sim na maneira como a coisa foi implementada. Same old, same old.

E vejam que eu ainda nem começei a falar sobre o fato de que diversas ideologias tem pontos em comum. Quer dizer, o fato de eu ter apoiado a invasão do Iraque me faz um neocon? Claro que não. Vemos exemplos desse conundrum diariamente. Nessas últimas semanas os democratas estão gritando aos 7 ventos que são contra esse acordo dos portos com a UAE. Obviamente não estão bravos pelos mesmos motivos que os isolacionistas Republicanos, que também não gostam dessa história. Os Democratas estão com medo que o sindicato perca força, enquanto os isolacionistas acham que a segurança dos portos seria comprometida. Nada impede que os democratas digam que o motivo é o mesmo, mas as coisas são o que são.

Da mesma forma que qualquer governo precisa identificar um conjunto de princípios a ser seguido, como eu pedia na minha crítica ao Alckmin, é necessario se entender que um governo dificilmente pode representar somente um grupo específico, por mais poderoso que este seja. Querer culpar os fracassos do Bush nas teorias neocons seria na verdade um favor para ele, já que tiraria parte da responsabilidade que deveria ser só dele.

Isso só acontece porque os ‘críticos’ não discordam somente do resultado das medidas, mas sim da intenção inicial. Mas admitir isso não é fácil.

1 comment:

Cláudio said...

O parágrafo final é a essência deste post. É a velha estória das pessoas que tentam forçar a realidade dentro do seu modo de ver o mundo e não o contrário. Por isso a gente acaba sempre vendo aquele desfile de 800 pesos e 3500 medidas.