Monday, August 15, 2005

Google e a liberdade empresarial

Parece que os militares americanos não gostaram muito de certas imagens do Google Earth.

O Smart comenta a notícia, e lembra que o Google já bloqueia as fotos aéreas da Casa Branca. Ele ainda critica o fato do Google bloquear websites de acordo com as determinações do governo chinês.

Sobre o primeiro ponto, eu acho essas imagens de satélite realmente interessantes. O Google é uma empresa de entertainment, e a idéia de disponibilizar essas imagens deve render muitas visitas de curiosos.

O ponto principal aqui é que essas fotos são somente uma diversão. Qual é o uso prático de uma foto de satélite da Casa Branca? Se o governo americano está certo ou errado em proibir as imagens eu não sei, mas acreditar que eles tenham mais informações do que um sujeito comum para tomar essa decisão não me soa como conformismo.

Já sobre o caso da China, novamente acho que as prioridades estão sendo invertidas. O Google (e muitas outras empresas que estão entrando no mercado chinês) tem basicamente duas opções: Aceitam as imposições do governo chinês ou abandonam o mercado.

Do ponto de vista das empresas, as duas opções são ruins. Se abandonam o mercado, perdem a possibilidade de lucro e principalmente perdem a first mover advantage de um mercado com um bilhão de potenciais consumidores. Se aceitam as imposições, limitam seu modelo de negócio (possivelmente impactando lucros) e podem criar uma imagem negativa de certos grupos de usuários locais e da mídia internacional.

Porém, do ponto de vista do usuário comum as opções são claramente opostas. Ter uma versão censurada do blogger, por exemplo, é imensamente melhor do que não ter blogger nenhum. E mais, o acesso limitado a uma tecnologia cria muito mais força (e consequentemente maior pressão no governo) para que a censura acabe. Além disso, cria mais oportunidades para que work arounds sejam criados.

Já ouvi gente criando um paralelo entre esses casos com o das empresas que cooperaram com os alemães na segunda guerra mundial. Obviamente, a similaridade das duas situações é nula. Primeiro, o Google não está facilitando o governo chinês. Se o Google se recusar à obedecer e abandonar o mercado, o governo terá atingido o mesmíssimo objetivo.

Nem sempre as regras de um mercado se limitam ao universo econômico, e mesmo quando o fazem, podem significar limitações comparativas. Quando o Wal-Mart veio ao Brasil, por exemplo, teve que se adaptar a realidade de pagar juros altíssimos em comparação à outros países. Consequentemente, os preços cobrados no Brasil são muito mais altos. Poderia se dizer que isso é uma censura econômica, já que muitos brasileiros vão se ver proibídos de comprar os produtos que seus equivalentes americanos compram com facilidade. Quem é o culpado por essa situação? O Wal-Mart ou o governo brasileiro? Seria beneficial ao consumidor brasileiro se o Wal-Mart saísse do mercado porquê não consegue seguir o seu slogan de "low prices, everyday"?

"Dançar conforme a música" não é um luxo, e sim uma necessidade para qualquer empresa. Ser socialmente responsável não significa burlar as regras do jogo e sim obedecer as mesmas da melhor maneira possível.

7 comments:

camiseteria said...

Essa crítica ao Google sobre o mapa nem condiz com a orientação do debate promovido pelo Smart em seu blog, onde ele concorda sujeitar vários tipos de mídia sob certo controle. Mas não se trata nem de opiniões, liberdade de informação, mas de um assunto estratégico em termos militares. Cabal!

Sobre a outra crítica, sobre o Google na China, concordo com o Esperto, é falta de ética se deixar submeter sob essas regras. Não dá. Existem coisas mais importantes que o mercado em si.

camiseteria said...

Essa crítica ao Google sobre o mapa nem condiz com a orientação do debate promovido pelo Smart em seu blog, onde ele concorda sujeitar vários tipos de mídia sob certo controle. Mas neste caso, não se trata nem de opiniões, liberdade de informação, trustes, etc. Mas de um assunto estratégico em termos militares, segurança nacional. Acho perfeitamente compreensivo a proibição. E como o Paulo disse, ora bolas, google é apenas entertainment.

Sobre a outra crítica, sobre o Google na China, concordo com o Esperto, é falta de ética se deixar submeter sob essas regras. Não dá. Existem coisas mais importantes que o mercado em si.

Anonymous said...

Concordo 100%.
Sua visão corresponde a mais pura neutralidade.
Os governos são totalmente estupidos. Me parece que ninguém ainda percebeu como um povo castrado de informação tende a lutar por ela. A democracia é algo latente, e a comunicação global só irá engrandecer essa força.
Deixa o Goggle colocar o pé, é assim que se começa.

Anonymous said...

Arão,

"Essa crítica ao Google sobre o mapa nem condiz com a orientação do debate promovido pelo Smart em seu blog, onde ele concorda sujeitar vários tipos de mídia sob certo controle."

Cuma ??

Paulo,

Definição do Instituto Ethos:

"2. O que é responsabilidade social empresarial?
Responsabilidade social empresarial é uma forma de conduzir os negócios que torna a empresa parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir incorporá-los ao planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos, não apenas dos acionistas ou proprietários."

O que o Google faz na China só pode ser considerado RS se você "overestrechar" o conceito a ponto de deformá-lo. A questão é: o fato do Google bows para o PCC pode fazer com que não só a marca perca lustre e valor no Ocidente, como se torne mal vista no dia em que a China se tornar mais democrática. Ou seja, o que parece um aproveitamento de oportunidades pode se provar uma visão miópica.

abçs

Anonymous said...

smart,

Vc pelo menos concorda que so existem 2 opcoes no caso? E se vc esta criticando a opcao 1, quer dizer que vc queria a 2?

Nao entendo como nao tendo o Google por la seja melhor. A nao ser que vc acredite que o Google tenha poderes sobrenaturais para convencer o PCC. O que nao faria sentido, ja que como vc mesmo disse, essa opcao de entrar e aceitar a censura eh claramente perigosa.

Acho que as vezes falta colocar um aspecto realista nesse tipo de discussao.

[ ]s

Anonymous said...

Paulo,

Antigamente, eu usava o Altavista; hoje sou um fã do Google. Mas se surgir um novo serviço de buscas tão bom quanto o Google com uma imagem um pouco melhor do que a que o Google se arrisca a ficar por causa deste pecadilho, talvez eu mude de máquina de busca.

Da mesma forma, isso pode acontecer na própria China, em um futuro mais democrático. Então o que estou dizendo é que ao cabo e ao rabo, atitudes têm consequências, e o Google pode muito bem se encontrar com algumas delas mais tarde.

Lembremo-nos, por exemplo, de que a reputação de truculência e de empire building da Microsoft lhe valeu muitas reações contrárias, desde os processos antitruste contra os quais ela ainda se debate, como _ mais importante _ a rejeição à Microsoft, que terminou por dar gás ao movimento do software livre e ao Linux, talvez único fenômeno que realmente preocupe o cérebro de Bill Gates hoje em dia.

Não posso imaginar razões mais concretas e reais que estas.

abçs

Anonymous said...

Smart,
Eu sei que esse eh um risco, e disse isso no post.

Mas vc so esta vendo o lado do Google. Eu estou vendo o lado do consumidor chines tambem. E acho que a decisao do Google foi acertada por ser a que melhor atendeu todas as partes envolvidas.

[ ]s