Wednesday, June 16, 2004



Quarta, 16 de Junho, 2004

  Samba do crioulo doido


Esta é uma conversa que tive com meu grande amigo Léo. Ele é um desses caras que ficou grande demais para o país. Vira e mexe, acaba batendo nos limites da burocracia e mediocridade que cerca nosso desenvolvimento.

Aqui vai um resumo da mensagem dele:

"Você falou a palavra-chave: meritocracia. A coisa que mais detesto no Brasil é que não vivemos numa meritocracia. Outro dia fizeram uma manifestação estudantil porque a USP abriu um cursinho pré-vestibular na zona leste de São Paulo que vai atender 5000 (!) estudantes da rede pública.

Os critérios para admissão são as melhores notas e maior assiduidade no 2º grau. Pô, fizeram um protesto porque consideraram os critérios injustos! Falaram que "assim vão selecionar apenas a elite da pobreza", segundo o líder do protesto, um frei que fundou o MSU, Movimento dos Sem Universidade. O que mais falta?

Esse Movimento dos Sem Universidade tem até site:
www.msu.org.br

Você vai ler e, provavelmente, vai ter a mesma reação que tive. Fiquei sem saber se era para rir ou para chorar.

Não sei se você sabe que os funcionários da USP estão em greve. Exigem aumento de salário, e dão até a fórmula:
- basta repassar mais ICMS.
- fim das fundações privadas dentro da USP (eu trabalho numa delas).
- o fim do vestibular e das relações com o Banco Mundial, FMI, Estados Unidos e etc.

Pronto, acabam-se os problemas. Simples, né? O chato é que não consigo descobrir quantos funcionários tem na USP e nem o porquê dos alunos também estarem em grave. Seria engraçado se as pessoas soubessem que aqui tem uns 25.000 funcionários e professores e pensassem: "Ué? Para quê tudo isso? É mais gente do que a população da cidade da minha mãe. Ah, é por isso que custa tão caro...".

Esta é provavelmente a única greve que não divulga a quantidade de grevistas.

Evidentemente, basta que uma reposição salarial seja concedida para que a "ideologia" seja posta de lado e os alunos voltem às salas para descobrirem que o ano letivo foi para o saco. Normal, afinal ninguém tá pagando mensalidade mesmo. Os outros é que pagam o ICMS. O chato é que uma baranga de megafone fica passado todo dia na frente da minha janela gritando: "Funcionários da USP! Vamos parar! Eles vão ver o que é bom para a tosse..."

É como você diz. Por quê as pessoas acham que o brasileiro vive sob a égide do liberalismo se a gente está muito mais próximo do pacto de varsóvia?

O Estado tem que prover tudo? Hoje em dia penso que proposta de retornar à monarquia que foi derrotada naquele plebicito de 1991 (ou 1990, por aí, sei lá) não era tão absurda. O brasileiro vive achando que é um "bom negrinho" cuja vida e provento deve vir do "sinhô". Pô, então vamos de monarquia absolutista socialista. Samba do crioulo doido é aqui mesmo, neste país "liberal"."

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