Comentando sobre meu post sobre o Schwartz, o Smart diz que "ficaria mais tranquilo se o Paulo pusesse a culpa no Irã, ou no Hadramaute, ou na República do Mali. Porque assim quando os EUA invadissem esses países e a guerra e os atentados continuassem, teríamos ao menos um critério de falsificação. Quanto ao "terrorismo islâmico internacional", esse pode estar atrás da cortina, debaixo da cama, sentado ao seu lado no ônibus. Eurasia: tema tudo, tema você mesmo. Só o governo pode nos proteger do feio e malvado mundo lá fora _ esse é o verdadeiro credo dos liberais de poltrona."
Esta é uma das falácias preferidas dos democratas americanos, e consequentemente, uma das mais usadas pelos anti-Bush do mundo: o terrorismo é somente uma facade a la 1984 para justificar seja lá o que eles acham que seja o objetivo do governo americano (world domination, jews, oil, etc).
É um argumento fácil de entender. Eu também ficaria muito mais tranquilo se o inimigo fosse um só. Ainda mais se fosse um país, com soldados uniformizados, objetivos claros, etc. (Aliás, justamente porque o inimigo não é tão facilmente definido que a analogia da WW2 não pode ser aplicada literalmente)
E mais: eu entendo o medo que leva essas pessoas a acreditar nessa teoria. Qualquer governo (e o americano não é exceção) pode se aproveitar de uma situação como a atual para aumentar seu tamanho e misturar interesses obscuros com a briga legítima.
Porém, a realidade é o que é. Querer fingir que o inimigo é de um jeito só porque seria mais fácil politicamente não funciona. Aliás, essa atitude foi uma das causas do 9/11. Antes daquele ataque, a dificuldade em se lidar com o terrorismo islâmico era tão grande, tão maior do que o preço pago na época (i.e. embaixadas destruidas, USS Cole, turistas e jornalistas mortos no Oriente Medio, etc) que simplesmente não compensava a dor de cabeça de se fazer algo sério a respeito. A tática do governo foi minimizar a ameaça.
Se o objetivo é somente entender como funciona operacionalmente o terrorismo islâmico internacional, uma outra analogia que se pode usar é uma que geralmente não agrada os republicanos: a do crime organizado. Grupos como Alqaeda operam de forma parecida com as familias mafiosas: hierárquicos mas decentralizados; cheios de rivalidades entre os grupos, mas com um inimigo em comum. Não é surpresa que em alguns lugares, como na Itália, as duas organizações já estejam cooperando ativamente.
Assim como as outras, essa analogia não é perfeita. A máfia não tem o componente ideológico que os grupos islâmicos tem. Também não tem a associação financeira com governos rivais. E por essas e outras, que os Republicanos temem o approach democrata de combate ao terrorismo somente como um problema policial.
De qualquer maneira, o ponto maior é que essa idéia de que a guerra do Iraque não é parte da guerra contra o terror islâmico porque Saddam não financiou 9/11 ou porque considerava Bin Laden um rival é completamente sem fundamento.
O Iraque foi escolhido por uma série de motivos: antagonismo ideológico, posição estratégica, desaprovação internacional de Saddam, apoio interno a mudança de regime, potencial econômico, influência regional, etc. Mas o maior motivo de todos, é que os EUA sabiam que o foco da luta não era (e nem vai ser) o Afeganistão. Era preciso levar a briga para a região de origem.
Se vai dar certo ou não são outros quinhentos.
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Só mais uma coisa: Sou mesmo um "liberal de poltrona", afinal, não estou lá no Iraque walking the walk. However, é bom lembrar algumas coisas: Primeiro, democracia é isso ai; segundo, a enorme maioria dos militares é à favor da guerra no Iraque; e por último, existem poltronas e poltronas.
Apesar de eu ter nascido no Brasil, eu sou americano. Minha esposa é americana, meus filhos são americanos. Há cinco anos atrás, eu estava a 10 milhas do pentagono. Eu enfrentei a recessão do ataque; eu pago impostos que alimentam o exército, obedeço as leis que são aprovadas e vou sofrer as consequências diretas do sucesso ou fracasso do governo Bush. Se o negócio aqui é basear credibilidade na mesma proporção em que o assunto te afeta diretamente, alguém de brasilia, Rio ou SP não poderia nem começar a discutir comigo.