Wednesday, September 28, 2005

Wherever I May Roam

Depois de quase 8 anos, amanhã dou bye bye para Washington DC. Esses malditos porcos capitalistas continuam me explorando, e usando de suas artimanhas fascistas, me convenceram a mudar. Ouvi dizer que terei que rezar 4 vezes por dia para um certo God Gates (com o mouse apontando para Redmond) e beber Starbucks todo domingo.

Ok, falando sério. Estou indo para Seattle e não sei muito bem quando vou estar instalado por lá.

Talvez volte daqui alguns dias, mas talvez só daqui algumas semanas.

But I'll be back.

UPDATE - Vou viajar mais feliz


Marinho, tentando ouvir melhor minha comemoração 5 thousand miles away

Tuesday, September 27, 2005

Give him enough rope and...

Talvez respondendo a esse post, ou talvez por mera coincidência, o Idelber ironizou a noção de que os EUA são a maior democracia do mundo.

A referência que ele usou para justificar sua ironia não poderia ser mais clara: Uma entrevista do Harold Bloom para a Folha. Vejam só algumas partes bem interessantes do texto (grifos meus):

"Os Estados Unidos são hoje uma oligarquia e plutocracia, pior do que qualquer coisa possa haver no Brasil. E também estamos nos tornando uma teocracia."

"A verdadeira perspectiva do que hoje ocorre na América foi prevista pelo governador e senador da Louisiana no final dos anos de 1920 e início de 1930, Huey Long. Pouco antes de morrer, assassinado, em 1935, ele disse: "Claro que teremos fascismo na América, mas nós a denominaremos democracia". É isso o que está ocorrendo aqui. Gosto de me referir a nosso presidente atual como Benito Bush."

"Isso significa que os últimos dois mil anos de religião ocidental são uma farsa, sobretudo nos EUA, porque somos cada vez mais uma sociedade tão teocrática quanto a do Irã."


Bom, a situação é bem simples, e só não compreende quem não quer. Não estamos falando de hipérboles. Não estamos falando de figuras de linguagem, muito menos de discordância política ou partidária.

Assim como Bloom, o Idelber acredita (letra por letra) que o sistema americano é intrínsecamente ruim, e que o pais é povoado por ignorantes. Uma teocracia comparável ao Irã.

Porquê alguem vai de livre e espontânea vontade morar num país comparável ao Irã eu sinceramente não entendo.

E entendo menos ainda como alguém pode levar qualquer coisa que ele escreva a sério.

Monday, September 26, 2005

Commanding Heights

Acabei de assistir a série Commanding Heights : The Battle for the World Economy da PBS, baseada no livro de mesmo nome.

Longe de ser uma análise detalhada, essa série é uma high level overview das mudanças econômicas e políticas do século XX e começo do XXI.

O tom é pro-mercado/globalização, mas sem exageros. Os vários problemas e desafios do sistema, como volatilidade de capitais, mistura de interesses públicos e privados, e terrorismo, são tratados com destaque.

As imagens ajudam muito na compreensão do assunto. Fica muito mais fácil entender o tamanho da crise da Inglaterra socialista quando se vê aqueles montes enormes de lixo e os confrontos com a polícia. Poucas imagens mostram melhor o que é a forca do tal mercado (e o desastre que foi o comunismo) do que aquelas pessoas vendendo bugigangas depois da descriminalização da iniciativa privada nos países comunistas.

O melhor de tudo é que a série está disponível no site da PBS totalmente de graça. O mesmo material dos DVDs, mais de 6 horas de vídeo, abertos para quem quiser.

Um material e tanto.

Friday, September 23, 2005

Coisas que eu não entendo

Como levar à sério alguém que diz amar os EUA, e mora aqui por opção, mas que ao mesmo tempo define o atual governo como "teocracia fundamentalista bélica"?

***

Como é que alguém pode achar que o Donahue ganhou esse debate com o O'Reilly?

***

Como certos conceitos podem ser tão distorcidos só para se defender o governo?

Esse artigo do Daniel Gross (Slate's "Moneybox") é uma das coisas mais sem sentido que eu já li. Ele compara a falha de geradores auxiliares de energia com o sucesso da rede logística do WalMart... E depois faz uma confusão danada entre as diferenças de empresas de serviços (como a FedEx) e as de produtos (como a Entergy). Tudo isso para chegar a brilhante (e infundada) conclusão de que "There's no doubt the government could learn a great deal from the private sector about how to prepare for and respond to a natural disaster. But the private sector may have something to learn from the government, too."

Wednesday, September 21, 2005

"Armadilha da desigualdade"

Não gosto muito desses artigos que ficam querendo definir igualdade de renda como sendo a solução para todos problemas do mundo, mas esse até que ficou bom. O texto também cita o estudo do Doing Business. Quebrando o copyright do dia, lá vai o artigo inteiro (grifos meus):

"Brasil não só está entre os 4 países mais desiguais em estudo do Banco Mundial como tem mecanismos para perpetuar situação

Bird vê "armadilha da desigualdade" no país

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Mais uma vez, o Brasil recebeu destaque negativo em estudo do Bird (Banco Mundial). O país foi apresentado ontem como um dos mais desiguais do mundo e envolto no que a instituição chamou de "inequality trap" (armadilha da desigualdade).
Campeão da desigualdade social na América Latina, o Brasil só está melhor hoje do que quatro países africanos (Suazilândia, República Centro-africana, Botswana e Namíbia), segundo o Bird.
Pior: o Brasil reúne quase todos os ingredientes possíveis citados pelo estudo "Eqüidade e Desenvolvimento" para continuar perpetuando essa situação.
No trabalho, o país ganhou destaque em texto sob o título "Oportunidades desiguais persistem por gerações no Brasil".
Nele, o Bird observa que não somente a renda dos mais pobres é um problema, ao lado da falta de bons serviços como saúde e educação, mas que não há no Brasil condições e mecanismos de interação entre ricos e pobres.
O Banco Mundial vê avanços nos últimos 12 anos, principalmente após a implantação do programa Bolsa-Família no governo FHC e sua ampliação no governo Lula, mas constata que eles são absolutamente insuficientes para mudar o quadro.
No trabalho, o Bird considera "eqüidade" como chances iguais a todos, independentemente de cor, raça ou nível social.

Elite e poder
Já a "armadilha da desigualdade", segundo o Bird, dá-se quando a elite econômica e política se perpetua no poder, criando mecanismos financeiros e legislativos para manter o comando e obter vantagens.
Um exemplo clássico no caso brasileiro seria quando o Poder Legislativo ou Judiciário aumenta os próprios salários ou se recusa a cortar ganhos previdenciários incompatíveis com os do resto da sociedade.
O Bird cita outros exemplos, desde casamentos constantes entre os filhos de uma mesma elite política e empresarial à falta de financiamentos em condições iguais para ricos e pobres.
As desigualdades nos empréstimos revelam mais um problema no Brasil, segundo o Bird: a falta de um capitalismo mais avançado. "Se uma pessoa pobre tiver uma grande idéia, jamais conseguirá um financiamento bancário nas mesmas condições que alguém rico", diz o estudo.
Na apresentação do trabalho, o economista-chefe do Bird, François Bourguignon, disse que são dois os "pilares" do Bird para o desenvolvimento: clima favorável para investimentos nos países e concessão de poderes econômicos e sociais para os mais pobres.
"Quanto melhores forem o clima para negócios e a eqüidade social, maior será o potencial do crescimento e da distribuição de renda", diz Bourguignon.
Além de falhar na questão da eqüidade, o Brasil também foi colocado, na semana passada, na 119ª posição entre 155 países em um novo ranking do Bird que avaliou o clima para negócios em várias regiões do mundo.

O economista brasileiro Francisco Ferreira, um dos principais autores do estudo apresentado ontem, comparou a um "Estado de bem-estar social truncado" a atual situação brasileira.
"O Estado é muito bom em taxar as pessoas e distribuir o dinheiro somente entre os mais ricos. O que temos falhado em fazer é gastar mais em áreas onde as pessoas mais pobres mais precisam", afirmou.
Ferreira cita como exemplo clássico a educação: filhos de famílias ricas que estudam em bons colégios particulares acabam entrando nas universidades públicas. "Subsidiamos na universidade pessoas ricas que freqüentaram boas escolas privadas em vez de subsidiar mais pessoas pobres em escolas públicas", diz.
O economista afirma que, comparado à Coréia do Sul (um exemplo de país que massificou a educação pública de boa qualidade), o Brasil gasta de três a quatro vezes mais com pessoas adultas em universidades públicas.
Segundo o Bird, além de todas as dificuldades citadas para romper a "armadilha da desigualdade", o Brasil tem um problema adicional, que é uma das cargas tributárias mais altas do mundo.
Hoje, ela supera 36% do PIB (Produto Interno Bruto), contra 12% no México, por exemplo -país que ainda teria espaço para aumentar impostos para subsidiar os mais pobres.
O estudo do Bird foi lançado na véspera do início da reunião conjunta entre o banco e o FMI (Fundo Monetário Internacional).
O FMI deve anunciar hoje uma queda nas projeções de crescimento para as principais economias européias, um crescimento de 3,5% para os EUA neste ano e melhora no Japão. Também serão conhecidas as projeções para o Brasil e a América Latina.
O Fundo deve ressaltar também que os altos preços do petróleo e investimentos insuficientes tanto na produção quanto no refino do produto continuarão a constituir uma ameaça à economia global."

Monday, September 19, 2005

Nobody likes the rhinos

Como eu previa, esse plano do Bush de gastar 200 bilhões de dólares com a recuperação de New Orleans não está pegando bem com muitos Republicanos.

O Stephen Moore, do Wall Street Journal, lembra que "To put that $200 billion in perspective, we could give every one of the 500,000 families displaced by Katrina a check for $400,000, and they could each build a beach front home virtually anywhere in America."

Simplificações à parte, parece que o populismo do Bush começa a parecer mais democrata do que republicano. Por aqui, esse pessoal que fica no meio do muro é chamado de Rhino (rinoceronte), já que não é nem burro (democrata) nem elefante (republicano).

And nobody likes the rhinos.

Saturday, September 17, 2005

Miscellaneous

O que é mais chato?

Pingüim conservador, progressista, ou blogueiros que tem obsessão com isso?

O Smart aliás, parece se preocupar muito com conservadores ultimamente. Ele conseguiu a façanha de escrever q u a tro posts consecutivos sobre esse assunto. Go figure.

Mas do lado positivo, gostei desse post sobre a avaliação dos quatro anos da guerra contra o terrorirsmo. Discordo de algumas premissas (a guerra do Afeganistão foi ganha) mas realmente a confusão é grande e avaliar resultados é difícil.

***

Sobre a incompetência em New Orleans:

1 - O número de mortes causadas pelo Katrina em New Orleans até agora é de 558, e acredita-se que o pior já passou.

O prefeito Ray Nagan tinha dito que as mortes seriam pelo menos 10 mil, e 25 mil body bags foram trazidas para a cidade.

2 - Alguns comerciantes da cidade já estão reabrindo as lojas, e estima-se que a maior parte da cidade deve estar seca e habitável até o fim de outubro, totalizando aproximadamente 2 meses de tempo total de recuperação.

E ai, será que vamos ter muitos editoriais reconhecendo a eficiência do Bush? Ou quem sabe algum pedido de desculpas da imprensa pelo sensacionalismo exagerado? Ou será que o Prefeito de New Orleans deveria ser despedido por ter feito estimativas tão erradas?

***

Iraque

Até agora, o mês de Setembro tem sido o menos mortal para as tropas americanas no Iraque desde que a guerra começou.

A Alqaeda declarou guerra contra os xiitas, e na minha opinião errou feio. Duvido que os Sunis aceitem se aliar com al-Zarqawi, e com isso o foco da violência deve ficar na busca pelos estrangeiros que praticam atentados contra civis.

Já a demora na elaboração da constituição iraquiana deveria ser vista como progresso, e não como um problema. Se eles realmente conseguirem qualquer tipo de compromisso, sem que a maioria force a vontade na minoria, as chances de aprovação no plebiscito serão maiores.

E mesmo que essa constituição seja rejeitada depois, nada disso deveria ser considerado como derrota. O desafio é mostrar que desavenças podem ser resolvidas politicamente, mas não necessariamente de forma fácil e rápida.

Friday, September 16, 2005

Preemptive strike

Como já era esperado, o governo Bush prometeu a total reconstrução das áreas afetadas pelo Katrina.

Na melhor tradição populista, ele usou a oportunidade para prometer não somente a recuperação da estrutura destruída, mas também a "solução dos problemas socias" da região.

O custo total pode chegar a 200 bilhões de dólares, e obviamente o dinheiro tem que sair de algum lugar: do déficit.

O discurso de ontem poderia ter saído da boca de qualquer democrata (LBJ 2 - A missão). Os estrategístas republicanos explicam que se Bush não fizesse isso, os republicanos transformariam esse assunto na maior arma democrata para proxima eleição. Além disso, os democratas achariam maneiras de gastar ainda mais dinheiro do que será gasto agora.

E mais uma vez lá se vai o small government pela janela. E o mais irritante dessa história toda é que, no fim das contas, os Republicanos tem razão.

Thursday, September 15, 2005

Liberdade econômica

Mais um ranking, este medindo a liberdade econômica e criado pelo Fraser Institute. Este índice mede basicamente 5 fatores:

1 - Tamanho do Governo: Despesas, Impostos, e Empreendimentos
2 - Estrutura legal e Segurança do Direito à Propriedade
3 - Acesso à Fundos Confiáveis
4 - Liberdade de Comércio Internacional
5 - Regras de Crédito, Trabalho e Negócios

Num total de 127 países, o Brasil ocupa a posição 88. Estamos empatados com Equador, Haiti, Madagascar, Nigéria e Turquia, e atrás da Nicarágua (70), Índia (66), Quênia (59) e Chile (20).

Uma análise interessante desse estudo foi feita pelo cientista político Erik Gartzke, da Universidade de Columbia. Ele mediu a relação entre paz e o índice de liberdade econômica. O resultado é claro:



Quando se compara paz com democracia, o resultado é bem diferente:


Interesting stuff.

Tuesday, September 13, 2005

Mais uma do Brasil neoliberal...

O Doing business database, um projeto organizado pelo World Bank, é um estudo que mediu os custos das leis que regulam empresas privadas em 155 países. Baseado nesses custos, foi criado um ranking que compara a facilidade/dificuldade nos diversos passos envolvidos na vida de uma empresa (Abrir um negócio, conseguir licenças, contratar e despedir trabalhadores, registrar propriedade, conseguir crédito, proteger investidores, executar contratos, importar/exportar, pagar impostos, e fechar uma empresa) em cada país.

O Brasil neoliberal, para variar, me surpreendeu: Posição 119 (do total de 155). Contratar e despedir funcionários é especialmente horroroso no Brasil (posição 144). No geral, ficamos atrás de potências econômicas como Albânia, Guatemala, Etiópia e Butão.

É mais fácil ser um empresário no Irã (posição 108) e no Iraque (posição 114) do que no Brasil.

Via Marginal Revolution

Monday, September 12, 2005

Meio, fim, and in between

Já passou da hora para que se invente um substituto para a palavra blog. O termo já perdeu o sentido há muito tempo. E anda causando uma bagunça danada.

Muitos confundem a semelhança do meio com uma possível semelhança de conteúdo. Por exemplo, um blog como o LLL, tem muito pouco a ver com este meu. Eu não escrevo sobre minha vida pessoal, não estou promovendo meu livro, etc. Seria mais lógico comparar o LLL com uma novela do que com um blog como o meu.

Outra confusão é com o objetivo de diferentes blogs. A aparência e conteúdo daqui pode até ser semelhante à de blogs como o do Cesar Maia, ou do Marginal Revolution, mas posso garantir que os objetivos dos 3 blogs são totalmente diferentes, assim como são os autores.

Tudo isso pode parecer óbvio, mas não é.

As consequências dessas misconceptions são muitas. Certos nobodys começam a achar que são somebody. Leitores ingênuos aceitam opiniões subjetivas como fato. Muitos esquecem a diferença entre trabalho e hobby.

O novo paradigma criado pela internet, com um fluxo de informações barato e de alto alcance, ainda não foi totalmente compreendido. Blogs são a bola da vez, e logo logo devem ser substituídos por algo diferente.

Da minha parte, tudo continua como antes. Este blog foi criado e é mantido com o único objetivo de me divertir. Posto o que eu acho interessante, e a enorme maioria dos assuntos tratados não é relacionado com a minha profissão. Aceito todo tipo de comentários, adoro qualquer troca de informação. Porém, não pretendo convencer ninguém do que quer que seja, e da mesma forma não espero ser convencido.

Nothing more, and nothing less.

Sunday, September 11, 2005

New Orleans FYI

- A população de New Orleans era de 462,269 mil pessoas em Julho de 2004, de acordo com o U.S. Census Bureau, e ocupava o 35.o lugar no ranking americano.

- De acordo com o U.S. economic freedom index de 2004, a Louisiana era número 40 entre os 50 estados.

- O Porto de New Orleans é o maior integrante do Porto Sul da Louisiana, o maior porto comercial do ocidente e 4.o maior do mundo.

- De acordo com o U.S.Metro Economies: U.S.Metro Economies: The Engines of America’s Growth (2000), a cidade ocupava o 53.o lugar no ranking de produto bruto das cidades americanas (US$ 41.426 million), atrás de cidades como Fort Lauderdale-FL, Salt Lake City-UT e Rochester-NY.

- Quando comparado com a economia de todos países do mundo, New Orleans ocupava o 105.o lugar, na frente de países como Síria (111.o lugar, US$ 36.029), Marrocos (114.o lugar, US$ 35.132) e Romênia (117.o lugar, US$ 32.090). A cidade equivalia a aproximadamente dois terços da economia do Chile (71.o lugar, US$ 67.444), metade da economia da Colômbia (59.o lugar, US$ 83.399), e um terço de economias como a Grécia (43.o lugar, US$ 125.797), Arábia Saudita (42.o lugar, US$ 128.326) e Finlândia (41.o lugar, US$ 129.861).

- A cidade era sede de somente uma empresa do Fortune 500: Entergy Corporation.

- Estima-se que a perda econômica causada pelo furacão chegue a 175 bilhões de dólares. A maior parte desse valor, 100 bilhões, vem de perdas na estrutura da região: casas, estradas, pontes, represas, sistemas de telecomunicação, água e esgoto. 25 bilhões causados pelos negócios perdidos pela região, e 50 bilhões devido ao aumento do preço de energia que o resto do pais pagará.

Thursday, September 08, 2005

Independência

O "Nós na Rede", um grupo de blogs que escrevem posts sobre um certo assunto ao mesmo tempo, estreiou com o tema "Independência do Brasil".

Dos 14 blogs auto-entitulados "de esquerda" que participam da lista, 8 citaram norte-americanos, Estados Unidos ou EUA nos seus textos sobre a Independência do Brasil.

That must mean something.

***

A Leila disse num comentário recente (e já tinha ouvido de outros) que só tenho leitores "da panelinha" (olavetes e outros reacionários nas palavras dela).

Fiz uma lista do pessoal que vira e mexe passa por aqui que não são conservadores: Fernando, Marcus, Andre, Smart, Pedro, Edson, Roger, Solon e Alex. Posso ter esquecido alguém, mas acho que esses são os mais frequentes.

Considerando o número de visitas e comentários, acho que a diversidade por aqui é bem melhor que a média. Dei uma passada no blog da Leila, e sinceramente só vi pessoal de um lado conversando. Enfim.

***

Enquanto isso na Ucrânia, a lua de mel acabou. O Presidente Yushchenko despediu o primeiro ministro Tymoshenko e toda a sua equipe. Os dois lados acusam o outro de corrupção.

Como 99.9% das revoluções, as coisas pareciam bem mais bonitas (e fáceis) no papel.

Not so stingy...

"O espírito de solidariedade desse povo está me deixando soterrado. Acho que não posso mais voltar pro Brasil porque da próxima vez que um marxista festivo vier torcer o nariz pros EUA, eu vou querer dar porrada. Só num raio de 50 milhas do CEP da universidade haviam 878 pessoas oferecendo hospedagem às vítimas do Katrina. 878! Isso é lindo demais."

LLL, um brasileiro que viveu o drama do Katrina.

Wednesday, September 07, 2005

Reality check

O que os americanos acham, de acordo com a pesquisa da CNN/USA Today/Gallup:

O Katrina foi o pior desastre natural da historia dos EUA?
Sim: 93%
Não: 7%

New Orleans deveria ser reconstruída?
Sim: 63%
Não: 34%
Ind: 3%

Classifique a resposta de cada um para o desastre:

Otima

Boa

Média

Ruim

Péssima

Indeciso

%

%

%

%

%

%

Bush

10

25

21

18

24

2

Federal agencies

8

27

20

20

22

3

State and local officials

7

30

23

20

15

5



Quem foi o maior culpado pelos problemas de New Orleans depois do furacão?
38% - No one is really to blame.
25% - State and local officials.
18% - Federal agencies.
13% - Bush.

Hmm. Acho que essa não é bem a imagem que a maioria da imprensa passa sobre a resposta da população americana...

MR again

Correndo o perigo de soar mais baba ovo ainda, aqui vão mais dois ótimos posts do Marginal Revolution:

- 'The public choice economics of crisis management'.
* Fernando, confira em especial o motivo 1 ('BELIEF IN THE LAW OF SMALL NUMBERS').

- 'Not Just Low Prices'.

In Tyler Cowen we trust :-)

Tuesday, September 06, 2005

Alguns números importantes

Sobre a evacuação:
- An article in 2002 in the New Orleans Times-Picayune explored the hurricane-induced flooding scenario and estimated that 200,000 residents of the city would be stranded by such an event. A Houston Chronicle article from 2001 estimated that 250,000 residents would be stranded. That is over 40% of the population of the city, which stood at 484,000 in 2000.

A recent poll of New Orleans residents revealed that an even higher percentage, 60%, would remain in the city even if ordered to evacuate with a major storm on the way. The Mayor New Orleans, Ray Nagin, estimated that at least 80% of his city's residents were out before the hurricane hit Monday. In retrospect, this must be considered a major positive achievement.

Sobre a raça das vítimas:
- According to the 2000 census, New Orleans' population of 484,000 included approximately 136,000 whites, and 326,000 blacks. The white figure includes 7,000 Hispanics who classify themselves as white on the census forms. If 80% of New Orleans residents got out early – and this is the Mayor's number – then only about 97,000 residents remained. Assume all of them were black, (which of course they were not). That would mean that 229,000 blacks got out early, and 136,000 whites along with them. In other words, the successful mass evacuation substantially benefited black residents of the city.

The three Mississippi counties that were hardest hit - Hancock (home to Pass Christian), Harrison (home to Biloxi and Gulfport), and Jackson (home to Pascagoula and Ocean Springs) are among the whitest counties in Mississippi, the state with the highest African American percentage of the population in the country (36.3% in 2003). But in these three counties, the white population in 2003 was estimated at 280,311, and the black population was 71,070, a white to black ratio of 4 to 1, much higher than the overall ratio in the state of about 5 to 3.

Four of the five parishes worst hit in the New Orleans area flooding, Jefferson, Plaquemines, St. Bernard and St. Tammany, are majority white (ranging from 67% to 88%). Only Orleans Parish (New Orleans) is majority black (67%).

Sobre a criminalidade:
- New Orleans is always at or near the top in the national ranking for murder rate. The rate of murders per thousand residents there has been ten times the national average in recent years. This high murder rate cannot be explained by poverty, and demographics. New Orleans’ murder rate is also ten times as high as New York City’s, a city once thought ungovernable, which also has a large majority of non-white residents. But New York Citt has managed to reduce its murder rate by 75% in 12 years, and now has overall crime rates much lower than most European cities (where sophisticates spent the week sneering at America’s incompetence and racism).

New Orleans has a small police force, only 1,400, and they were unable or unwilling to deal with the outbreak of looting, shootings, and rape, while at the same time trying to help with rescue operations and move people to safety. But the city, in which corruption and crime has always been rampant, was unusually ill equipped to deal with the kind of catastrophe.

Fonte: The American Thinker.

Katrina Freakonomics

Eu gostei muito do Freakonomics. Não é um livro extremamente inovador como eu esperava, mas é muito interessante. Acima de tudo, é um trabalho que consegue algo muito difícil: toca em assuntos delicados (como aborto e racismo) sem ser politicamente correto, e analisa dados com isenção e objetividade.

Fui dar uma olhada no blog do Levitt, procurando algum post sobre o Katrina. Achei alguns, mas nada extremamente interessante. O que é lógico, já que os dados sobre a situação continuam aparecendo. Querer tirar conclusões definitivas nessa altura do campeonato seria bobagem.

Mas acho que no futuro, esse deve ser um assunto perfeito para os estudos do Levitt. E se eu pudesse palpitar, esses seriam os tópicos que eu sugeriria:

- O que leva as pessoas a não deixar uma cidade em risco? Mesmo agora, quando a enorme maioria das pessoas já saiu de NO, 10 mil pessoas não querem sair de lá. Seriam somente motivos econômicos, ou algo mais?

- Porquê as mudanças de temperaturas atribuidas ao Global Warming não estão causando o efeito esperado em fenômenos como furacões?

- Será que a cobertura de um desastre natural varia dependendo de qual partido está no poder?

- E talvez a maior pergunta de todas (e provavelmente a primeira a ser completamente ignorada): Será que New Orleans deveria ser reconstruída no mesmo lugar?

Monday, September 05, 2005

Someone who understands me

Or should I say, I understand him?

Marginal Revolution, o melhor blog da atualidade.

Direita, esquerda, e nunca para frente

Interessante como às vezes acabo levando pancadas de todos os lados.

Tive que ouvir nesses últimos dias dos progressistas que não me importo com as vítimas do Katrina, e que estou defendendo o governo (leia-se Bush). Mas também tive que ouvir de conservadores que estou caindo na armadilha democrata de admitir a incompetência do governo Bush, e que se fosse o Clinton a situação seria muito pior, que a Blanco é incompetente, que eu estou em cima do muro, etc.

Oras, eu devo escrever muito mal mesmo.

O governo atual é tão competente/incompetente quanto os anteriores, com diferenças mínimas. O FEMA é sempre criticado, no matter what (ouvi gente elogiando a reação ao 9/11 agora! Só quem viveu aquilo diariamente lembra como xingaram o FEMA naquela época). O congresso é praticamente 50/50, e no caso de NO, os governos locais eram democratas. Essa responsabilidade imaginária que os democratas atribuem ao Bush (e que os Republicanos atribuem à Blanco) é parte de um joguinho tão pobre, tão repetitivo, que eu não tenho paciência de jogar por 5 minutos.

Até mesmo o enviroment people eu ando ofendendo, só porque eu conclui (e até agora ninguém provou o contrário) que não existem provas que o global warming aumentou o número e a intensidade de furacões. What a thing to say! Eu sabia que você não era pró-environment porra nenhuma!

Lógico que não estou me fazendo de coitadinho. Eu tenho a opção de falar o que eu quero, e a reação dos outros não importa quase nada. O meu objetivo é receber feedback e quem sabe entender outros argumentos. Mas parece que isso não funciona muito bem quando o assunto é delicado como esse (com poucas exceções).

Falar que o povo tem culpa juntamento com o governo? Lembrar que muitas pessoas dificultam a evacuação da cidade? Discutir se o governo federal é realmente quem deveria fornecer seguro contra enchentes? Que desrespeito com os milhares de vítimas! Sera que você não vai falar mal do(a) Bush(Blanco) não??

É como quando alguém morre, e todos começam a falar bem da pessoa "por respeito". Claro que muitas vezes o fazem por interesse próprio, como os que estão elogiando o Rehnquist só para dificultar a aprovação do Roberts.

Eu posso errar e acertar nas minhas opiniões, mas tá ai uma coisa que eu não faço. Quando eu tenho algo a dizer, podem ter certeza que eu digo na cara. Não fico inventando subterfúgios complicados só para parecer politicamente correto ou para avançar uma causa.

Muitos dizem que tem mente aberta, e que estão sempre dispostos ao dialogo, mas no fim das contas só querem repetir sua receitinha de bolo e xingar quem quer que "jogue no outro time". Os posts poderiam ser copiados de um blog para outro, não existe diferença nenhuma.

Eu estou fora.

Sunday, September 04, 2005

O barato que sai caro

Ainda sobre os motivos que levaram o sistema de barragens a não ser atualizado, John Tierney do NYT tem uma teoria bem interessante:

"Starting in the 1960's, the federal government took over the business of insuring against floods. It offered subsidized insurance to people in flood-prone areas, encouraging seaside homes that never would have been built otherwise. Even at bargain rates, most people went without flood insurance - only about a third of the homes in New Orleans carried it.

People don't bother to protect themselves because they figure - correctly - that if disaster strikes they'll be reimbursed anyway by FEMA. It gives out money so freely that it has grown into one of the great vote-buying tools of the modern presidency. Bill Clinton set a record for declaring disasters, and then President Bush set the single-state spending record in Florida before last year's election.

Now it's New Orleans's turn. Since Washington didn't keep its promise to protect the city, the federal government should repair the damage and pay for a new flood-control system. But New Orleans and other coastal cities will never be safe if they go on relying on Washington for protection. Members of Congress will always have higher priorities than paying for levees in someone else's state."


A saída que ele propõe? Deixar os governos locais tomarem conta das represas, e acabar com o subsídio para seguros contra enchentes. Quer dizer, tratar o assunto da mesma maneira como incêndios são tratados.

Duvido que aconteca, apesar do sistema atual já ter provado ser falho. Tirar um benefício estatal, mesmo quando acaba não sendo benefício no fim das contas, é sempre uma batalha ingrata.

Teimosia e estupidez

Teimosia:
"'They may have to shoot me to get me out of here,' he said. 'I'm much better off here than anyplace they might take me.'"

Estupidez:
"Amid the tragedy, about two dozen people gathered in the French Quarter for the Decadence Parade, an annual Labor Day gay celebration. Matt Menold, 23, a street musician wearing a sombrero and a guitar slung over his back, said: 'It's New Orleans, man. We're going to celebrate.'"

Saturday, September 03, 2005

Katrina, Global warming, e as represas de New Orleans

Será que o global warming realmente aumentou o número de furacões nos EUA?

Vejamos os dados do NOAA National Weather Service:



Claramente o número e a intensidade não vem aumentando. Além disso, nota-se uma grande variação no total furacões por décadas (24 entre 1941-1950 e 12 entre 1971-1980). A conclusão é que existe algum fator, talvez cíclico, que influi o número de furacões. Muito provavelmente o mesmo é independente da ação humana.

Outro número a se considerar, especialmente quando se discute o caso de New Orleans, é a porcentagem total de furacões nível 4 e 5. Os de nível 4 totalizaram 6.5% do total (média de 1.2 por década nos últimos 150 anos), e os de nível 5 contaram por apenas 1% do total (média de 0.2 por década nos últimos 150 anos).

Além disso, apesar de New Orleans estar em uma área altamente propensa a furacões, só foi atingida por outro nível 4 uma vez, em 1915.

Usando esses dados, não deve ser difícil computar a probabilidade de New Orleans ser atingida da maneira que foi. O número deve ser extremamente baixo.

Quer dizer, é compreensível que as barragens de New Orleans tenham sido construidas para aguentar furacões de nível 3.

Friday, September 02, 2005

O Governo

Outra coisa interessante que podemos observar quando uma tragédia acontece é a idéia que as pessoas tem de governo.

Não estou falando de política econômica, social, nada disso. O que me impressiona é a fantasia que certas pessoas tem de que o governo é uma organização mágica, sobre-humana, que de alguma forma consegue controlar e até mesmo mudar a natureza humana.

Muita gente culpa o governo por motivos políticos, mas muitos outros realmente acreditam que tudo que está acontecendo poderia ter sido prevenido. Eles acham que a violência só surgiu porque o governo não colocou policiais suficientes, que a enchente só aconteceu porque o governo resolveu deixar as represas de lado, etc.

A mesmíssima coisa aconteceu depois de 9/11, e até mesmo no Iraque pós-guerra.

Acho que parte da origem desse tipo de ilusão vem da falta de compreensão sobre certos conceitos técnicos, como administração, economia, etc. Mas sobretudo, acho que esta é uma muleta psicológica.

Ninguém gosta de imaginar que uma cidade, tão civilizada, possa regredir ao caos por causa de uma enchente. Nem imaginar que sua casa, seu carro, e até mesmo sua vida, possam depender mais de uma seguradora, ou de um vizinho, do que do poderoso governo.

Esta não é necessariamente uma crítica à esquerda, apesar de ser muito mais fácil achar esse tipo de mentalidade na mesma. Eu ando ouvindo muitos conservadores fazendo mil planos mirabolantes por aqui, dizendo que se isso ou aquilo tivesse sido feito aqui e ali a tragédia não seria assim tão grande. Mais populista impossível.

O povo de New Orleans sabia do risco dessa catástrofe da mesma maneira que o governo sabia. Não era nenhum segredo do pentágono, mantido à sete chaves para evitar um escândalo de corrupção.

Não estou de maneira nenhuma dizendo que "a culpa" é da população e não do governo. O que eu quero dizer é que, da mesma maneira que o povo não via motivos urgentes o suficiente para mobilizar a cidade e exigir reforços nas represas, o governo também achava que existiam obras mais urgentes a serem feitas.

E tudo isso não é ruim por definição, ou exclusivo de New Orleans. Quando Los Angeles sofrer o terremoto devastador que todos sabem ser uma questão de tempo, a cidade vai ser destruida em grande parte. Será que se todos os prédios fossem reforçados mortes poderiam ser prevenidas? Provavelmente. Será que esses trilhões de dólares seriam melhor usados em outras coisas?

Por mais elitizado que seja, O Governo é parte do povo. As motivações, prioridades, erros e acertos, são diretamente ligadas aos governados.

Scapegoating não deixa de ser uma forma de covardia.