Tuesday, November 30, 2004



Terça, 30 de novembro, 2004

   Todo problema acabou

O tradutor maluco do UOL voltou!!!

Manchete fictícia do UOL:
"EUA não sabem mais separar Estado de religião"

Manchete original do NYT:
"Blood Is Thicker Than Gravy"

Engraçado que eu tinha comentado com um amigo meu que eles andavam traduzindo direitinho... Até tive a incrível audácia de pensar que o meu email tinha surtido algum efeito!

Silly boy...

Monday, November 29, 2004



Segunda, 29 de novembro, 2004

   A falácia da janela quebrada

Para quem quiser saber mais sobre a falácia da janela quebrada (citada pelo Raimundo Arão) e porquê a minha teoria do Lixo não funcionaria , confira esse texto da Wikipedia.

Aliás, se puderem percam um tempo navegando pela Wikipedia. It's Bloody great, como diriam os brits.

Sunday, November 28, 2004



Domingo, 28 de novembro, 2004

   Rapidinhas

Falando no Furtado, esta foi a última entrevista que ele deu. Foi um cara batalhador, pena que suas teorias estivessem tão erradas.

E para alegrar o domingo, que tal saber que agora o PT está gastando nosso dinheiro montando um partido de esquerda no Haiti? (via Se Liga)

Como foi mesmo que o Heinlein disse? "Never underestimate the power of human stupidity."

Never.

Saturday, November 27, 2004



Sábado, 27 de novembro, 2004

   Lula e a minha teoria Furtadiana sobre o lixo

O Alexandre não gostou, mas venho aqui defender minha teoria desenvolvimentista da utilidade do lixo na sociedade brasileira. A idéia é a seguinte: o Presidente Lula estava nada mais nada menos promovendo o tão esperado crescimento econômico quando jogou um papel no chão na frente da imprensa.

Como você pergunta? Simples. Com o aumento da quantidade de lixo nas ruas, o governo tem a responsabilidade de contratar mais lixeiros. Como se sabe, os lixeiros são trabalhadores que vem da classe mais pobre, e quem produz mais lixo é a classe alta (aqui o conceito do “mimetismo cultural” de Furtado se mostra claro). Logo, a mensagem do Presidente é clara: Ricos (e o presidente reconhece seu novo status social) devem ajudar os pobres jogando lixo nas ruas.

Lógico que a reconstrução social não acaba ai. Os impostos de coleta de lixo (implementados pela inovadora Marta) são a consequência natural dessa reengenharia social através do lixo. Com essa taxa, o governo assume o lixo como legítimo meio de redistribuição de riqueza, e assume a dimensão histórica do papel do lixo nas sociedades subdesenvolvidas. Nunca aceitaremos a exportação do nosso lixo. A indústria do lixo precisa ser defendida e expandida pelo governo.

Ouvi dizer que o Lula ia propor na ONU uma taxa mundial sobre o lixo. Ou mesmo a exportação de lixo dos países ricos para os pobres.

Enfim, o gesto do Presidente foi claro e simbólico. Só não entende quem não quer.

Thursday, November 25, 2004



Quinta, 25 de novembro, 2004

   Give Thanks for Immigrants

Interessante como os imigrantes aqui adotam o thanksgiving, talvez o feriado mais 'local' dos americanos.

O que me parece é que, Pilgrims à parte, o atual thanksginving é mais um dia de celebração individual do que um ritual patriota como o 4th of July. É o dia que, independente da ideologia política, religião, raça, ou o que for, se pode comemorar a sorte de se ter uma vida melhor, mais liberdade, mais possibilidades para os seus filhos, mais controle do seu futuro. Enfim, ser parte do 'American Dream', que pode soar corny, mas é bem real.

Happy thanksgiving!

Wednesday, November 24, 2004



Quarta, 24 de novembro, 2004

   Reorg

Dei uma reorganizada nos links e no visual. Tentei deixar poucos links, senão vira zona. Sorry para o pessoal que saiu, mas é bom variar. Quem tiver alguma dica, é só mandar.

Tuesday, November 23, 2004



Terça, 23 de novembro, 2004

   Maps, maps, cool maps

Black Demographics

Hispanic Demographics

Asian Demographics

White Demographics

Monday, November 22, 2004



Segunda, 22 de novembro, 2004

   30 de Janeiro

Eleições no Iraque: 30 de janeiro. Quem viver verá (no kidding).

Será a paz do Norte e Sul vindo para o triângulo, ou o oposto?

Será finalmente a hora em que aumentarão o número de tropas ou o começo da retirada?

Se quem conhece a área está confuso, imagine nós pseudo-pundits.

Na dúvida, continuo acreditando. Ou como descreve o Friedman:

"Readers regularly ask me when I will throw in the towel on Iraq. I will be guided by the U.S. Army and Marine grunts on the ground. They see Iraq close up. Most of those you talk to are so uncynical - so convinced that we are doing good and doing right, even though they too are unsure it will work. When a majority of those grunts tell us that they are no longer willing to risk their lives to go out and fix the sewers in Sadr City or teach democracy at a local school, then you can stick a fork in this one. But so far, we ain't there yet. The troops are still pretty positive."

Friday, November 19, 2004



Sexta, 19 de novembro, 2004

   Divórcio no Chile

Maria Victoria Torres, 48, se tornou a primeira mulher a se divorciar oficialmente no Chile ontem. A nova lei obriga um periodo de "espera" de 3 anos caso um dos envolvidos não aceite o divórcio, e susbtitui uma lei que vigorava desde 1884.

Wow. E pensar que se discute o casamento gay nos EUA como se fosse algo obviamente aceitável e natural no mundo atual.

Lógico que eu compreendo o papel dos EUA como exemplo, etc, etc, mas fico aqui pensando se as vezes as pessoas não se esquecem da verdadeira realidade pelo mundo.

Infelizmente, se espera muito de poucos, e pouco de muitos.



Sexta, 19 de novembro, 2004

   Diversidade

Como bem lembra o Andrew Sullivan, se fosse um Presidente democrata que tivesse promovido uma mulher negra a um posto tão importante, todos estariam celebrando como os democratas são abertos e inclusivos.

O mesmo se aplica ao Alberto Gonzalez, que será o primeiro descendente de mexicanos a chegar num cargo tão alto.

E depois ainda dizem que os Republicanos que são bons de propaganda...

Thursday, November 18, 2004



Quinta, 18 de novembro, 2004

   Here they go again

Ah, nada melhor do que uma manchete inventada do UOL para animar um dia cinzento de inverno.

"Pior da religião deve contaminar política dos EUA"

Título original do NYT:
"Slapping the Other Cheek"

Pelo menos dessa vez eles não inverteram o sentido do original... Somente inventaram uma versão do que é, na opinião deles, o espirito do artigo.

Consigo até imaginar o tradutor lá, sentadinho e pensando "Ah, a brasileirada não vai entender um título subjetivo como esse... Deixa eu melhorar essa coisa!"

E o mais engraçado (ou triste, dependendo do ponto de vista) é que tem gente que não liga. Gente que não entende inglês, e que mesmo assim não se importa que os tradutores estão mentindo!

No kidding.

No fim das contas, faz sentido. Não é possível que eu seja o único a perceber essas mentiras. A conclusão lógica é que o UOL não faria isso se a maioria dos brasileiros realmente se importassem. As pessoas acreditam que os EUA são basicamente ruins e qualquer confirmação disso, verdadeira ou não, é bem recebida.

E nesse caso, o UOL está somente cumprindo seu papel.

Monday, November 15, 2004



Segunda, 15 de novembro, 2004

   Ayn Rand for kids

Como diz a review do NY Times: "At last, a computer-animated family picture worth arguing with, and about!"

Realmente esse "The Incredibles" foi uma surpresa. Uma ótima caricatura dessa sociedade politicamente correta em que vivemos. Imperdível.

"If everyone's special, nobody is."

Friday, November 12, 2004



Sexta, 12 de novembro, 2004

   It's the war, stupid!

John Hood, Presidente da John Locke Foundation, disseca no seu artigo para a Reason as diferenças entre as pesquisas de boca de urna de 2000 e 2004, e mostra que se realmente houve um assunto em particular que ajudou Bush foi a política internacional. Segundo ele:

"In 2000, only 12 percent said that "foreign affairs" was the most important issue in the presidential race, and they broke 54 percent to 40 percent for Bush over Gore. In 2004, a combined 34 percent identified foreign policy (either Iraq or the war on terrorism) as the most important, and they appear to have broken for Bush by 59 percent to 40 percent. Put it all together, and the increase in salience and small increase in Bush preference for foreign policy constitutes a gain of 13.5 percentage points in the Bush vote in 2004."

É bom lembrar que a pesquisa de boca de urna é o único fato que teoricamente suporta o argumento do tal "voto religioso/moral". Todas as pesquisas durante a campanha apontavam para o Iraque como fator decisivo, e não é atoa que Kerry passou suas duas últimas semanas batendo no assunto.

Pior ainda, essa pesquisa de boca de urna de 2004 foi muito mal formulada. Como explica Charles Krauthammer:

"The way the question was set up, moral values was sure to be ranked disproportionately high. Why? Because it was a multiple-choice question and moral values cover a group of issues, while all the other choices were individual issues. Chop up the alternatives finely enough, and moral values is sure to get a bare plurality over the others.

Look at the choices: education 4%, taxes 5%, health care 8%, Iraq 15%, terrorism 19%, economy and jobs, 20%, moral values 22%. "Moral values" encompasses abortion, gay marriage, Hollywood's influence, the general coarsening of the culture and, for some, the morality of pre-emptive war.

The way to logically pit this class of issues against the others would be to pit it against other classes: "war issues" or "foreign policy issues" and "economic issues."

If you pit group against group, moral values comes in dead last: war issues at 34%, economic issues at 33% and moral values at 22%."


Quer dizer, os dados estão ai para serem analisados. Se alguem achar algo que prove o contrário, por favor me mande.

Mas não usem os 'tradutores' do UOL. Please.

Thursday, November 11, 2004



Quinta, 11 de novembro, 2004

   Episódio 3: A revolta das marmotas

Invenção de hoje no UOL:
"Fallujah prova que os EUA fracassam no Iraque"

Título original da matéria do NY Times:
"'Groundhog Day' in Iraq"

Para quem não sabe, Groundhog Day é uma tradição americana aonde uma marmota (chamada 'Phil') faz uma 'previsão' se o inverno vai ser curto ou longo. É também o nome de um filme com o Bill Murray (traduzido como 'Feitiço do Tempo' eu acho) aonde ele fica preso no Groundhog Day até achar um sentido para vida dele. Parece que o Friedman se refere justamente ao filme, já que ele acaba o artigo dizendo "This time, let no one claim victory, or defeat, in Iraq until we have the answers to these six questions."

Enfim, a manipulação continua. Nenhuma novidade.

Wednesday, November 10, 2004



Quarta, 10 de novembro, 2004

   Parece brincadeira

Continuando a série "realidade alternativa":

Manchete de hoje no UOL:
"Crescem teorias de que fraudes reelegeram Bush"

Manchete original do mesmo artigo no Boston Globe:
"Internet buzz on vote fraud is dismissed"

A minha pergunta é a seguinte: como é que isso é permitido? Será que não existe algum tipo de lei que proíba esse tipo de desonestidade com os leitores? Fraude? Copyright? Something??

Eu sei que já devia ter me acustumado, mas não tem jeito. É revoltante.

Tuesday, November 09, 2004



Terça, 9 de novembro, 2004

   A verdadeira terra da ignorância

Como diz um Professor conhecido meu, "Facts are facts. Perception is reality."

Quando eu digo aos meus amigos brasileiros que não é possível se informar sobre os EUA pela imprensa brasileira muitos acham que eu estou exagerando.

Mais um exemplo para provar meu ponto:

Na primeira página do UOL, uma das manchetes diz "Bush venceu devido à ignorância dos americanos". O link é para um editorial do NY Times. Achei meio estranho e fui procurar o artigo no site original. O título em ingles é: "Voting Without the Facts".

Porquê isso? O resto do texto parece traduzido normalmente, então porquê eles inventaram esse título que simplesmente não tem nada a ver com o original?

Simplesmente porquê o conteúdo do NY Times no UOL é pago. A maioria das pessoas vão ver a manchete, ver que a matéria é do NY Times (o que passa credibilidade) e pronto. Perception has become reality my friend. E tudo isso no maior site da América Latina.

O brasileiro simplesmente não tem opção. Os americanos que leram esse texto no site do NY Times (que aliás é de graça), tem alí mesmo na página de editoriais algumas opiniões opostas. Apesar do bias do Times, o leitor tem pelo menos a chance de formar sua própria opinião.

Qual é o contraponto que o brasileiro recebe? Isso aqui???

É por essas e outras que não é possível ser realmente informado atualmente sem saber pelo menos ler inglês. É a unica saída. And that's a fact.

Monday, November 08, 2004



Segunda, 8 de novembro, 2004

   O fator decisivo

Passada a revolta inicial pela derrota do Kerry, a imprensa vai aos poucos maneirando o discurso e a realmente procurar os motivos da vitória do Bush.

Certos fatos parecem claros:
-A porcentagem de votos "morais" de agora foi praticamente a mesma de 2000.
-A economia está quase que completamente recuperada, e o resultado de Ohio (um dos mais atingidos pela crise de 2001) mostra que não foi um fator maior.
-As diferenças ideológicas entre os candidatos são exatamente as mesmas.

O que parece mais evidente é que a guerra ao terrorismo, apesar de não ser o único, foi o fator mais decisivo. Nada mais lógico. Comparando a situação de 2000 com a atual, é a maior mudança.

Toda essa polêmica sobre casamento gay é quase que uma tempestade artificial. O próprio Kerry se dizia contra, e a grande maioria da opinião pública é contra. Tanto que o Oregon, que votou democrata, passou a emenda que define casamento como sendo a união de um homem e uma mulher.

Enfim, toda essa história de que o voto moral ganhou a eleição é puro marketing. Para os democratas, admitir que foram vencidos por algo tão vago (e irracional para muitos) como a religião é muito mais nobre do que admitir a derrota na luta contra o terrorismo. E no mais, esse discurso de que "a direita religiosa" é a culpada encaixa melhor no movimento Anti-Bush que comecou em 2000 com a confusão na Flórida.

Pessoalmente, acho que os democratas continuam errando. Todos esses ataques contra o Bush criaram um backlash que no fim das contas prejudicou ainda mais o Kerry. Até acredito que internamente eles entendam tudo isso, mas preferem espalhar para o povão a teoria de que o Bush é o culpado pelos problemas do mundo. Como bem mostra esse texto, (via LLL, num breve momento de pausa na sua estranha cruzada pró-Kerry), acho que o tiro pode sair pela culatra. De novo.

Friday, November 05, 2004



Sexta, 5 de novembro, 2004

   Impostos nos EUA

Estudar a história do sistema de impostos é uma ótima maneira de compreender a evolução dos EUA. Desde as raízes do capitalismo e livre iniciativa, passando pelo dueto guerra/impostos, até os dias de hoje aonde o governo alterna entre grande e enorme, fica claro que a intenção dos "founding fathers" nunca foi essa sociedade atual. Como bem descreveu Thomas Jefferson:

"To take from one, because it is thought his own industry and that of his father has acquired too much, in order to spare to others who (or whose fathers) have not exercised equal industry and skill, is to violate arbitrarily the first principle of association, to guarantee to everyone a free exercise of his industry and the fruits acquired by it."

Até 1913 o governo federal não cobrava impostos sobre salários (com pequenos períodos de exceção). Tudo mudou depois da Primeira Guerra mundial, e principalmente depois da crise de 1929. Esse período, de aumento de programas socias (e consequentemente de impostos) é também o período de estagnação econômica e fortes crises, como o ápice na década de 70.

A tendência virou para o outro lado com o governo Reagan, e ganhou novo impulso com Bush. Os ganhos econômicos dessa época, principalmente quando comparados com os outros países ricos, é um dos maiores motivos da subida dos Republicanos ao poder.

Uma das propostas do atual presidente é efetivar permanentemente os cortes de impostos dos últimos 4 anos. Outra é simplificar o código de impostos, que com o tempo se transformou num emaranhado de tecnicalidades e buracos.

Para que tudo isso funcione, é preciso também que os gastos sejam cortados. Essa é a parte mais difícil. Financiar o governo com deficits é totalmente inviável.

Mas cortar gastos significa menos poder para o governo federal, e convencer alguém que tem poder a abdicar o mesmo é o maior desafio de qualquer governo democrático.

O governo Bush fez bem uma metade do trabalho, mas foi péssimo na outra. É esperar que agora as coisas melhorem. Pelo menos existe uma chance. Se o Kerry tivesse sido eleito, nem isso teríamos.

Thursday, November 04, 2004



Quinta, 4 de novembro, 2004

   Sobre a divisão dos votos

Toda essa discussão sobre estados azuis e vermelhos desvia a atenção do fato de que quase todos os estados tiveram resultados equilibrados. Isso significa milhões de republicanos nos estados azuis, e milhões de democratas nos estados vermelhos.

Por exemplo:
New York teve 40% de votos Republicanos (2.7 milhões de votos)
California teve 44%(!) de votos Republicanos (4.4 milhões de votos)
Illinois teve 45% de votos Republicanos (2.3 milhões de votos)

E do outro lado:
Texas teve 38% de votos Democratas (2.8 milhões de votos)
Carolina do Norte teve 43% de votos Democratas (1.5 milhões de votos)
Virginia teve 45% de votos Democratas (1.4 milhões de votos)
Tennessee teve 42% de votos Democratas (1 milhão de votos)

Claro que a falácia de que os inteligentes votaram de um lado e os ignorantes do outro pode ser aplicada de qualquer forma, mas os números mostram o quão ilógica é essa noção de que o grupinho do sul é de um jeito e o do norte é completamente o oposto.

Enfim, just another FYI.

Wednesday, November 03, 2004



Quinta, 4 de novembro, 2004

   Condescendência

William Saletan, da Slate, escreveu hoje que o segredo do sucesso do Bush é baseado na "simplicidade" (leia-se simplismo) da sua mensagem. Ele continua dizendo basicamente que Kerry perdeu porque é inteligente e eleborado demais, e que da próxima vez os democratas devem procurar alguem mais populista, como o Edwards, para combater os republicanos.

Achei uma bobagem a idéia toda e deixei para lá. Porém, logo depois descobri que o LLL e o David tinham embarcado na mesma onda.

Então vamos ver se eu entendi bem: Mais de 59 milhões de americanos, de todas idades, níveis sociais e econômicos, votaram somente em quem acham mais simplista, e/ou em quem segue os seus princípios religiosos, enquanto os outros 55.5 milhões votaram com inteligência e bom senso?

É o cúmulo do estereótipo. Pior, é um abuso de condescendência, claramente definida nesse argumento do Saletan de que os democratas precisam "dumb it down" para ganhar a próxima eleição. That's how those ignorant Republicans are doing it!

Oras, quer dizer que Clinton era um idiota simplista? E aonde estavam esses fanáticos religiosos, esse bloco político super-poderoso, quando esse mesmo malandro ganhou duas vezes seguidas?

Esse tipo de teoria panfletária de que os Republicanos (ou o "americano médio" como li por outros cantos) são os ignorantes-religiosos-rednecks realmente é pífia.

Primeiro, não vou discutir o valor dessa associação de religião com ignorância. Não sou religioso, mas sei o bastante para saber que não sei o bastante. Segundo, posso garantir pela minha experiência pessoal que essa divisão intelectual não existe. Eu moro num Estado vermelho. Muitas das pessoas mais brilhantes que já trabalharam comigo são republicanas, algumas religiosas, outras não. E mesmo eu não sendo Republicano de carteirinha, apoiei o Bush nas duas eleições. E posso ser muita coisa, mas burro eu não sou. Nem de longe.

E para quem não quer acreditar em mim, que tal dar uma olhada com calma no mapa eleitoral dos EUA? Será que esse mundo vermelho, que cobre mais de 70% do País mais rico e avançado do mundo, da Flórida ao Alaska, é somente um bando de atrasados que deu certo somente por causa dessa minoria esclarecida azul?

I don't think so.



Quarta, 3 de novembro, 2004

   Oh, the Humanity!

Quem sou eu para saber mais que todos pundits, advogados e especialistas metidos nessa nova confusão... Mas sinceramente, duvido que o resultado de Ohio, e consequentemente da eleição, seja mudado.

São mais de 120 mil votos de vantagem em Ohio, e mesmo que as cédulas temporárias sejam muito numerosas, a vantagem democrata teria que ser enorme (mais ou menos 75%) para que o resultado mudasse. E diferente da crença popular, esses votos não são geralmente democratas. Tendem a seguir a mesma proporção do resto do estado, com pequenas variações.

No fim das contas, Bush vai levar essa, e de uma maneira decisiva: 3.5 milhões de vantagem no voto popular, e com Ohio, New Mexico e Iowa, 290 votos no colégio eleitoral. Muito maior do que 2000. Na verdade, a maior semelhança entre 2000 e 2004 é o vencedor. Não temos nenhum estado com 500 votos de diferença dessa vez.

Aliás, Bush se tornou o presidente a receber o maior número de votos da história americana.

O mais interessante disso tudo é a atitude democrata. O mantra de que "todos votos devem ser contados" é usado como escudo para qualquer coisa. Como se a norma fosse contar somente votos republicanos. Toda aquela história de que um número maior de votos ajudaria os democratas dessa vez, ou de que os votos dos jovens faria a diferença, foi tudo pela janela.

Quem diria que existiam tantos republicanos entre os que não votavam? Oh, the Humanity!

Enfim, o carnaval continua. É so olhar as manchetes dos jornais para perceber o tom da imprensa: "Presidente Bush parece ter ganho. Mas continuamos procurando votos para mudar isso!"

Ouvi ontem que o Michael Moore tinha enviado centenas de empregados seus com câmeras para fiscalizar as urnas de Ohio. Podem esperar enormes documentários sobre como pobres sem documentos não puderam votar, como os computadores quebraram mais nas seções democratas, como Bin Laden deu uma festa para celebrar a vitória de Bush, etc.

Same old, same old.

Será que os Republicanos não fariam o mesmo? Não sei. Só sei que o povo já deu seu veredicto. Agora é só esperar.