Sunday, May 28, 2006

Aparecer para crescer

Carlos Heitor Cony responde a minha pergunta na Folha de hoje:

RIO DE JANEIRO - Nenhuma surpresa para mim a "pole position" de Lula na próxima eleição. Não havendo fato novo, ele vai encaçapar mais um mandato. Isso está longe de significar que fez por merecer uma nova investidura.
Sabemos que Lula não é inocente nos casos de corrupção que vieram à tona recentemente. Nelson Rodrigues diria que até as cotias do Campo de Santana, aqui no Rio, sabem que ele é o responsável principal por tudo o que houve em matéria de corrupção. Como explicar, então, o seu favoritismo, que tende a crescer, entre outros motivos, por falta de concorrentes categorizados? A explicação é simples. Nos últimos quatro anos, não houve brasileiro com maior índice de exposição nas diversas mídias do que o presidente da República.

Para o eleitorado esclarecido, 25% ou 30% da população, a exposição pode ter sido até negativa. Mas, para o grosso do eleitorado, a exposição é tudo, torna determinado cidadão conhecido de outros ou de todos os cidadãos. Uma regra não-escrita garante que a relação candidato-eleitor se apóia basicamente no conhecimento.

E Lula vem de longe. Desde o tempo das lutas sindicais, passando pelas eleições que perdeu e pelos três anos e meio em que apareceu na mídia mais do que Ronaldinho Gaúcho ou qualquer outro artista da TV. Não há brasileiro que não o conheça ou o confunda com outros personagens de nossa vida pública. Bom ou mau, não importa.

Tenho experiência no assunto. Há tempos fui entrevistado no programa de Roberto D'Avila sobre literatura e amenidades. No dia seguinte, fui abordado por um desconhecido que declarou que votaria em mim para o que fosse, vereador, deputado, senador, governador, o escambau. O programa durou 30 minutos. Se demorasse mais, até para papa ele votaria em mim.

Quickies

60 milhões em ação

Ando sem muito tempo para o blog. O que não deve importar nada, principalmente se você é chegado num blog chinês.


Slave to the grind

O motivo para a minha falta de tempo é meu emprego. E para desespero geral dos malemolentes, procrastinadores e bon-vivants em geral, tenho que dizer que estou adorando.

Qual a diferença do meu emprego atual para os anteriores? Não é o salário, status, ou qualquer outro tipo de benefício material. Muito menos alguma afinidade especial com as pessoas ou com a filosofia da empresa.

A diferença é o tamanho do desafio.

Só mais uma prova empírica de que dinheiro sozinho não traz felicidade.


Uribe

Nem toda a AL esta indo para o lixo. Apesar dos pesares (não é chato ter que escrever isso sempre?) a lista de sucessos do Uribe não é pequena:
- Homicídios caíram de 36 mil por ano em 2002 para pouco mais de 17 mil em 2005 (24% menos do que em 2004).
- Seqüestros caíram de 3 mil para menos de mil anuais no mesmo período uma queda de 72% em relação a 2003.
- O país cresceu no ano passado 5,2% e duplicou as exportações em quatro anos, para US$ 24 bilhões. Ainda em 2005, o crescimento dos investimentos privados atingiu 15%.
- Desempego caiu para 11,8%, enquanto a taxa de pobreza caiu de 60% a 49%

Todos esses números são os melhores dos últimos 20 anos.

Thursday, May 25, 2006

Ajudem um exilado ignorante

Preciso da ajuda de vocês.

Não estou sendo irônico, nem querendo criar polêmicas do nada. Mas eu preciso entender como, depois de tudo que aconteceu, o Lula vai ser reeleito.

Please, quem for comecar com a história de que eu não sou democrático, que o Bush é pior, e que o Corinthians não ganha de times argentinos não precisa responder.

Eu quero entender de verdade qual é a lógica desses milhões de pessoas que ainda preferem votar no Lula.

É porque eles acreditam que ele era o único honesto num grupo de corruptos? Ou é porque eles acham que a situação do pais está melhor do que na era FHC? Pura ideologia? Masoquismo?

Da onde vem esse poder, esse força politica e popular que faz uma crise muito pior do que a do Collor parecer brincadeira?

I must be missing something.

Monday, May 22, 2006

He is the man!

Toda vez que eu fico meio desanimado e penso em dar um tempo no blog, aparece algo que me anima novamente.

E quem mais poderia ter o poder de mudar meu humor de forma tão rápida? Meu novo herói, a maior descoberta da imprensa dos últimos anos: JOÃO SAYAD.

Vejam a última dele (novamente, é impossível não postar o texto todo):

"Major Sertório com Vila Nova

NO SENTIDO leste-oeste, as ruas de Washington têm nomes de letras. No sentido norte-sul, são numeradas. O Banco Mundial está na 19 com a M. As ruas formam um quadriculado cortado diagonalmente por avenidas com nomes dos Estados: a Casa Branca está na av. Pensilvania. Mas o desenho cartesiano das ruas é perturbado por vias expressas que obedecem à lógica do excesso de carros irracional e poluente.

Localizar-se em Washington, com a expectativa de racionalidade dos nomes das ruas, acaba-se tornando difícil. Algumas ruas se contorcem diante de praças e rotatórias apenas para manter a regra geral. A avenida Pensilvânia faz uma pirueta para continuar com o mesmo nome num outro lugar.

Mais fácil se localizar na Paris romântica, que pensou mais na beleza do que na razão. Ou no Rio, marcado pela natureza, com mar e montanha. Porque não há expectativa de racionalidade no desenho das ruas dessas cidades.

Washington reflete o espírito liberal americano, que pretende difundir a "racionalidade" no mundo inteiro. A razão transformará o mundo num Estados Unidos imenso e racional. Teremos todos a mesma ética. O Oriente Médio adotará o regime democrático. E a América Latina adotará práticas de mercado. Como se todos nós, americanos, brasileiros e palestinos fôssemos seres que, se iluminados pela razão, faríamos as mesmas escolhas. Ganhar a Copa do Mundo? Morrer pelo paraíso de leite e mel prometido pelo Islã? Ou apenas ganhar dinheiro? .

O espírito liberal americano é o discurso do mundo inteiro. Na semana passada, o governo de São Paulo foi criticado por ter negociado com os bandidos do PCC. Qual o critério ético para escolher entre justiça e paz? Justiça a qualquer preço, como querem os terroristas? Ou paz a qualquer preço, como decidiu Chamberlain ao entregar a Tchecoslováquia ao nazismo?

Punição e vingança? A punição é apenas um mal necessário para evitar a privatização da vingança. Não diminui a criminalidade.

A decisão foi negociar-paz agora, justiça depois. Está certo do ponto de vista ético? E se houve negociação, deveríamos mentir? Qual a escolha ética -mentir ou comprometer a imagem de implacabilidade da Justiça?

Vinte anos atrás, a criminalidade não era problema grave. Há 20 anos o Brasil cresce devagar. A trégua com os bandidos é tão irracional ou racional quanto a política de combater a inflação agora para crescer depois.

Foi a única alternativa para podermos sair de casa para um cafezinho na esquina da Major Sertório com a doutor Vila Nova e para uma conversinha sem sentido."


Mais uma vez, um clássico. A completa confusão ideológica. A falta de conexão de idéias. A total ausência de estrutura gramatical.

Amazing.

Thursday, May 18, 2006

O último apaga a luz

Essa entrevista do tal Cláudio Lembo não poderia ser mais reveladora. Um exemplo clássico dessa retórica socialista que vem destruindo países pelo mundo todo.

Quando eu lí Atlas Shrugged achei que aquela história de "greve dos produtivos" era meio maluca. Mas conforme o tempo foi passando a idéia foi fazendo mais e mais sentido.

Não seria lindo se a "burguesia", a "elite branca" brasilera simplesmente sumisse?

Bom, de certa forma isso já acontece e esse pessoal nem percebe. Eu nunca fui rico, principalmente quando morava no Brasil. Mas de acordo com a ideologia doente desse pessoal, era parte da burguesia, da "minoria branca muito perversa". E ai eu pergunto: Será que o país se beneficiou com a minha saída?

Não. E pior de tudo, agora esse mesmo pessoal que me mandou embora me critica dizendo que eu fui covarde e não fiquei até o fim para "ajudar" o país a sair do buraco (leia-se, trabalhar o resto da minha vida e dar uma parte cada vez maior do meu dinheiro para os outros).

E vale sempre lembrar que o sujeito é do PFL, o partido "liberal de direita" do Brasil.

Como eu já tinha dito várias vezes, uma situação extrema tem sempre seu lado bom. É uma "wake up call", uma prova concreta que o esquema atual não está funcionando. Mas qualquer possibilidade de melhora é diretamente dependente da capacidade de se entender qual é o esquema atual. E isso so é possivel com lógica e bom senso.

E é isso que falta ao Brasil.

Wednesday, May 17, 2006

You know you're getting older when...

Everything hurts, and what doesn't hurt doesn't work...

You fell like the morning after, and you didn't go anywhere the night before...

Your knees buckle and your belt won't...

You can only burn the midnight oil until 9 o'clock...

The twinkle in your eyes is the sun hitting your bifocals...

Your back goes out more often than you do...

And another sure-fire way to know you're getting older is when...

Cards like this start showing up on your birthday!

Saturday, May 13, 2006

Mancha no carpete

Só mais uma coisinha rapida:

"É nessas horas que até entendo Lula quando ele parece demonstrar muito mais irritação com a esquerda, da qual é originário (ainda que uma esquerda jamais perfeitamente definida), do que com o centro ou a direita, apesar das insinuações de conspiração contra ele (uma rematada tolice, mas tem gente que acredita em tolices com extrema facilidade).
Quando Evo diz que os contratos de empresas como a Petrobras não foram rompidos, porque eram "ilegais e inconstitucionais", você pode concordar ou discordar. Mas como é que você pode concordar com alguém que diz uma coisa num dia e outra inversa no dia seguinte?"

Moral da história: Nunca leiam Clóvis Rossi e bebam café ao mesmo tempo.

Profecia

Holy Cow! I mean, horse!

Só peço uma coisa: Lembrem que a profecia é minha.

Friday, May 12, 2006

Clóvis Rossi

Estou escrevendo para comentar seu editorial “Cadê os profetas?” para Folha de SP, 11 de maio.

Apesar de começar dizendo que a carta do Mahmoud Ahmedinejad é assustadora, o seu texto acabou sendo um exemplo perfeito das falácias que o presidente iraniano usa e abusa na carta.

Isso fica claro quando se analisa os exemplos usados para mostrar que a democracia “está excluindo grande e até crescente número de pessoas”. Aqui vão algumas considerações sobre seus argumentos:

- Entre 1915 e 1997, a taxa de mortalidade infantil nos EUA caiu mais de 90% (fonte)
- O maior motivo por trás do recente aumento citado não é um suposto aumento da pobreza ou diminuição da qualidade no sistema de saúde nos EUA, e sim o aumento do número de prematuros. Recém-nascidos com menos de 32 semanas contaram por 41% dessas mortes em 2002. Isso só acontece porque a tecnologia melhorou e muitos casos complicados não são abortados como antes. (fonte)
- A proporção de imigrantes nos EUA comparado com outros países desenvolvidos é muito maior. Esses grupos tem uma taxa de mortalidade infantil muito maior, o que leva a média para cima (o número entre brancos americanos é 5.65 por mil).
- Mesmo quando se analisa o estudo citado, 99% das mortes no nascimento vem de países em desenvolvimento. Você resolveu usar os EUA porque foi conveniente. Mas se o assunto é o liberalismo e democracia, seria melhor ter comparado os paises desse grupo com os outros, como o próprio Irã.

Resumindo, você usou a forma mais comum de manipulação: a seleção enganosa dos dados. Por exemplo, veja só alguns dados recentes muito mais relevantes que você resolveu ignorar:

- New Record for U.S. Life Expectancy - CDC: Babies Born in 2004 Have Life Expectancy of 77.9 Years
- 2004 U.S. death rate shows biggest decline in decades

Eu poderia listar discrepância igualmente absurdas sobre a estatística citada sobre a pobreza nos EUA. Mas o tempo é limitado.

Eu não sou jornalista. Perdi 30 minutos do meu tempo para pesquisar esses fatos. Acho irresponsável usar sua posição de formador de opinião de forma tão tendenciosa (anti-liberal, anti-americana, é difícil saber exatamente). Nesse caso em especial, suspeito que seu texto ajudou muito mais a causa do Ahmedinejad do que a da democracia e progresso.

Thursday, May 11, 2006

Thanks Barton

Estava pronto para escreer um post sobre a carta do presidente mujadinho alguma coisa para o Bush, quando lembrei da minha cena preferida de Barton Fink. É quando o agente (Garland) está falando sobre a proposta de Hollywood, e o Fink começa a discursar sobre como o trabalho dele é sobre o 'homem comum', e que ele queria criar um teatro do povo para o povo, etc, etc. De acordo com o imdb, o resto do dialogo é assim:

Garland: The common man will still be here when you get back. Who knows, there may even be one or two of them in Hollywood.
Barton: That's a rationalization, Garland.
Garland: Barton, it was a joke.

Se você não toma cuidado, começa a levar tudo à sério demais.

Tuesday, May 02, 2006

Here we go

"When opposite basic principles are clearly and openly defined, it works to the advantage of the rational side; when they are not clearly defined, but are hidden or evaded, it works to the advantage of the irrational side."

Ontem foi um ótimo dia para o capitalismo.

Coca Morales cumpriu suas ameaças e oficializou a volta do comunismo à América Latina. Em grande estilo, com exército e tudo mais. Muito mais eficiente do que o Chávez e seus "diplomatas". Bem de acordo com o May day. E logicamente esse foi só o começo folks.

Como diz a frase citada acima da Ayn Rand, o extremismo às vezes é bom. Quando um insano do calibre do Morales realmente faz o que diz que vai fazer, pelo menos estamos lidando com conceitos claros. Ele é isso ai. O povo da Bolivia escolheu esse caminho (Que não é novo btw, já que esta é a terçeira vez nos últimos 100 anos).

Eu quero mais é que ele continue com o plano e estatize tudo. Quero que eles finalmente consigam fazer o oligopólio vermelhinho que o Che sonhava, e que dessa vez a coisa chegue num extremo em que as pessoas vejam o que é que esta em jogo. Como lembrou o Tiago, quem sabe a bola da vez não será o Acre?

Só assim vai acabar o romanticismo doente desse pessoal. Foi assim com o Leste Europeu, e será assim com a América Latina. As pessoas só aprendem na porrada.