Sunday, May 28, 2006

Aparecer para crescer

Carlos Heitor Cony responde a minha pergunta na Folha de hoje:

RIO DE JANEIRO - Nenhuma surpresa para mim a "pole position" de Lula na próxima eleição. Não havendo fato novo, ele vai encaçapar mais um mandato. Isso está longe de significar que fez por merecer uma nova investidura.
Sabemos que Lula não é inocente nos casos de corrupção que vieram à tona recentemente. Nelson Rodrigues diria que até as cotias do Campo de Santana, aqui no Rio, sabem que ele é o responsável principal por tudo o que houve em matéria de corrupção. Como explicar, então, o seu favoritismo, que tende a crescer, entre outros motivos, por falta de concorrentes categorizados? A explicação é simples. Nos últimos quatro anos, não houve brasileiro com maior índice de exposição nas diversas mídias do que o presidente da República.

Para o eleitorado esclarecido, 25% ou 30% da população, a exposição pode ter sido até negativa. Mas, para o grosso do eleitorado, a exposição é tudo, torna determinado cidadão conhecido de outros ou de todos os cidadãos. Uma regra não-escrita garante que a relação candidato-eleitor se apóia basicamente no conhecimento.

E Lula vem de longe. Desde o tempo das lutas sindicais, passando pelas eleições que perdeu e pelos três anos e meio em que apareceu na mídia mais do que Ronaldinho Gaúcho ou qualquer outro artista da TV. Não há brasileiro que não o conheça ou o confunda com outros personagens de nossa vida pública. Bom ou mau, não importa.

Tenho experiência no assunto. Há tempos fui entrevistado no programa de Roberto D'Avila sobre literatura e amenidades. No dia seguinte, fui abordado por um desconhecido que declarou que votaria em mim para o que fosse, vereador, deputado, senador, governador, o escambau. O programa durou 30 minutos. Se demorasse mais, até para papa ele votaria em mim.

57 comments:

Cláudio said...

Apresentação do Uribe feita no Globo (grifos meus)

"BOGOTÁ. Alvaro Uribe é o protótipo do caudilho moderno, como ficou provado nos últimos quatros anos e na campanha eleitoral que hoje vai lhe garantir a reeleição como presidente da Colômbia — salvo ocorra um milagre. A expectativa é de que seus opositores não conseguirão sequer obrigá-lo a um segundo turno."

Anonymous said...

Como eu disse antes:

"No Brasil existe um único critério a ser considerado na hora de votar: simpatia ou antipatia com o candidato. Como ninguém entende mesmo o que diabos está acontecendo ou do quê aquele povo todo está falando nas campanhas, o voto é por afetos irracionais e subjetividades mil".

Lula consolidou uma imagem simpática ao povo. Não interessa do que o acusem, o povo entende e acredita é na linguagem dele, todo bonachão, sorrindo e contando piada.

E, emendando como o que o Cony disse, quanto mais colocarem o microfone na frente dele mais o povo se delicia.

Essa é pra desistir do Brasil...

Anonymous said...

Exposição sozinha não elege ninguém, pelamor. Ê simplismo.

Anonymous said...

Ok, ok.. Eh somente mais uma possibilidade. Se junto com a critica viesse alguma teoria alternativa a conversa fluiria melhor, nao acha?

[]

Anonymous said...

O Arranhaponte e o Matamoros deram algumas dicas naquela outra caixa de comentários, mas vamos lá:

Você tem uma economia que cresce. Aos trancos, mas cresce e gera empregos.

Você tem uma política de transferência direta que o beneficiado percebe imediatamente o efeito.

Você tem um efeito de constraste que favorece o Lula: a comparação imediata do eleitorado é com o segundo mandato do FHC, um período de dificuldade.

Você tem um presidente que tem uma capacidade excepcional de comunicação. O sujeito é um craque, reconheça. Não é questão de exposição só, não: é habilidade.

Você tem uma série de denúncias em curso que são empoladas demais, pouco apreensíveis. O dinheiro na cueca é apreensível. A bandalheira com os fundos, não - ao ponto que ninguém guarda nada pra comentar no dia seguinte.

Tem mais, depois eu continuo.

abs

Anonymous said...

Lula seguramente tinha uma exposição à mídia muito maior do que Collor quando o enfrentou em 89. E muito maior que FHC quando o enfrentou em 1994.

Quanta bobagem do Cony, ou melhor, quanto esforço para não ter que admitir que o povão está gostando do governo do cara.

Bem, o David matou a pau.

Anonymous said...

Vocês já repetiram tanto, mas tanto, que o aumento de benefícios assistênciais e sua conseqüente distribuição de renda, aquecimento da economia nortista, etc, influencia na populariadade de Lula, que vou ser obrigado a dizer uma coisa:

1) O povão não faz a menor idéia se aumentou ou diminuiu a verba pra assistência;

2) O sujeito não faz essa ligação direta que vcs estão querendo entre benefício recebido e presidente Lula. Vai por mim, quando o sujeito vai, por exemplo, a uma agência do INSS, requerer um benefício LOAS, ele em momento algum lembra do Lula. Exceto se for pra reclamar da fila, é claro. A burocracia é bem eficiente nessa despersonalização, como aliás tem mesmo que ser;

3) O povo nem vislumbra o conceito de distribuição de renda ou a idéia de aquecimento nas vendas do comércio.

Enquanto vocês não pararem de pensar como pessoas inteligentes e esclarecidas que somos e não começarem a pensar como povo, não vão admitir que o voto pra presidente (ao contrário do voto pra vereador ou prefeito) não está ligado a ações diretas de autoria identificável. Pessoas esclarecidas votam pra presidente com base no que conhecem do governo, o povo vota por simpatia ou antipatia. PONTO.

Anonymous said...

Não é tão branco e preto assim. Existem muitos tons de cinza: diferentes graus de apreensão da ação do governo, numa escala que não corresponde exatamente aos níveis de educação.

E tem mais: as pesquisas indicam que os beneficiados pelo Bolsa Família votam em massa no Lula. Se vc quiser afirmar o contrário, que prove.

Cláudio said...

Mas isso não pode ser uma correlação em vez de causa/efeito?

Anonymous said...

Roger,

Para aceitar essa sua hipótese teríamos que aceitar também que o povo não teve nenhuma consciência do impacto do Real sobre seus bolsos, com o fim da inflação, e que votou em FHC por causa de sua simpatia.

Sua opinião reflete provavelmente o fato de que você não tem muita intimidade com a "gentinha". Mas bastava ler as pesquisas:

"Os dados levantados pelo Datafolha no final de fevereiro compõem o cenário favorável que o Bolsa Família deve produzir nas urnas. A pesquisa mostra que entre população com renda mais baixa, a aprovação da política social do governo é citada por 45% dos entrevistados. Esse índice é bem menor (33%) no caso de quem têm renda superior a R$ 3 mil. Os dados também revelam que no período de outubro a fevereiro deste ano, a avaliação positiva do presidente cresceu de modo expressivo entre os atendidos por programas sociais. O índice que mede a intenção de votos dos eleitores de baixa renda apontou um crescimento favorável ao presidente de 37% para 48%, maior do que quando se considera a média geral da população."

http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=257417

Anonymous said...

E tem o salário mínimo, que aumentou pacas em termos reais no governo Lula. Deu pra aumentar, porque a economia, com um cenário externo extremamente positivo, ficou super tranqüila. É claro que está ferrando as contas da Previdência, mas para isto o povão de fato não está nem aí enquanto o dinheiro dos cartõezinhos estiver fluindo. Não tenho as contas de cabeça, mas o FH deu seu único aumentão do mínimo no início do primeiro mandato, e a partir de 97, com crise externa ou interna ano sim, ano não, o mínimo subiu pouco em termos reais. E o mínimo eu acho que o povão associa ao Papa Doc que estiver no Planalto. Ou não?

Anonymous said...

Bem, senhores, tudo isso é muito compreensível, mas uma das conclusões que daí se tira, senão a única, é a de que o povo vota com o bolso ou com a barriga. À parte o excessivo do estilo e abrindo a palheta com todos os tons de cinza, reais ou imaginários, não é nada muito diferente disso o que vocês estão dizendo. Claro que, para aqueles que não estão informados dos acontecimentos, não há razão alguma para que deixem de votar no Lula. E o homem já está em campanha faz tempo. Mas a minha experiência direta e indireta - e a de outras pessoas também - é a de que grande parte do povo está sabendo sim dos fatos e simplesmente não está nem aí. Evidentemente, a campanha ainda não esquentou e muita coisa pode mudar. Mas o quadro hoje, pelo menos pra mim, é este: a redução da política à economia, o sonho de muito totalitário disfarçado de democrata por aí.

Anonymous said...

Smart,

Eu quase falei do FHC quando comentei, quase. Mas apostei comigo mesmo que alguém falaria e vc falou.

Considero ele uma exceção, pois o impacto do Real e o fim da inflação foi um marco tão nítido que até as pedras sentiram.

A primeira eleição de FHC foi a única exceção desde Collor, que foi eleito sem que o povão soubesse realmente quem era, apenas por simpatia pelo dito e antipatia pelo Lula, naquela época.

Na 1ª eleição de FHC havia algo de incrível impacto como dito, e Lula ainda gozava do medo e antipatia do povo. Situação que se repetiu em menor escala na reeleição, mas que aliada ao medo de arriscar e a inércia teve efeito. Fatores bastante subjetivos, pois não?

Quanto a imagem de Lula, não se esqueça que ela mudou substancialmente nesse processo todo. Foi justamente quando ele adotou uma casquinha de FHC, ou seja, barba e cabelos bem aparados, fala mansa, ao invés de discurso inflamado, terno pra visitar favela, etc., que ele conseguiu a confiança da parcela do povo que faltava pra se eleger.

FHC tinha sim seu apelo. O povo também gosta e confia em gente que parece doutor e fala bonito. A fórmula fantástica para a inabalável popularidade de Lula foi adotar um quê de FHC sem perder a identificação de origem com o povo.

Duas coisas sobre a interpretação dada aos dados da pesquisa:

1º - Lula cresce entre os beneficiários de políticas sociais porque é onde ele tem que crescer mesmo e não determinantemente por causa delas.

Não se esqueça que estes mesmos beneficiários são a parcela menos esclarecida da população e mais sujeita a votar por afetos.

2º - Pergunte a qualquer um que recebe bolsa família, LOAS ou qualquer outro benefício social se aprova a política de benefícios sociais. Você acha que ele vai responder o quê? Que não aprova receber o benefício? Quem disser que está insatisfeito é porque acha que tinha que ganhar mais ou não gostou do atendimento.

Enfim, o que eu digo é que não existe essa vinculação entre benefício recebido e figura do presidente sentado na cadeira do Planalto. Vocês acham que isso é determinante, que o sujeito associa diretamente e inevitavelmente uma coisa a outra. Eu digo que não, que quando o benefício chega lá na ponta, a burocracia tornou essa imagem distante demais.

De resto, eu reconheço todas essas matizes de cinza que vocês falam, só não acho que sejam determinantes como vcs acham. Pra mim, dado ao real desconhecimento do povo, determinantes são os afetos pelos candidatos. Se generalizo é pra não perder tempo explicando as exceções. Acho que posso contar com a inteligência de todos pra entender isso, não é mesmo?

Anonymous said...

P.S. O salário mínimo, este sim, é um fator que o povo associa diretamente ao presidente. Concordo. Só não sei em que grau isso acaba influenciando.

Anonymous said...

"Capacidade excepcional de comunicação"?

Alguem mais concorda com isso???

Na meu mundinho ingenuo eu achava o Lula um bronco. Tao "excepcional" quanto o orador Bush, isto eh, not in a good way!

Cláudio said...

Além de habilidade excepcional de comunicação, há também o fato dele ser um excelente negociador. Só falta fazer chover.

Anonymous said...

Bem, o Bush se comunica bem também. E não é um mau orador, não.

Anyway, se vc só discorda disso, imagino que subscreva o resto.

abs

Anonymous said...

David,

Discordo totalmente desse ponto. Acho o Bush pessimo orador e comunicador (eh provavelmente o ponto mais fraco dele!) e quanto ao Lula, acho ele no minimo tosco.

Na verdade eu nao tenho como discordar ou concordar com o resto. Eu nao estava de brincadeira quando disse que sou ignorante no assunto Lula. Acompanho pouco os escandalos, tenho pouca exposicao ao povo brasileiro, enfim, minha unica fonte sao os jornais.

Por isso escrevi o post. E tirando a ideia absurda do Smart de que "todos roubam e isso nao importa", aceito as outras como bons indicadores do porque dessa popularidade tao alta apesar de escandalos que, pela descricao, parecem tao absurdamente comprometedores.

[]s

Anonymous said...

Paulo,

A idéia de que "todos roubam e isso não importa" não é minha. Essa é a imagem que o povo faz dos governantes.

O que EU acho, particularmente, é que alguém que acha que o futuro de um país depende exclusivamente de que se coloque este país na mão de santos se arrisca a não ter futuro, por W.O.

Permita-me uma coisa: apesar de não conhecer seu apetite por ciência política, recomendaria que um dia você tirasse suas férias para ler um livro chamado "The Machiavellan Moment", do J. A. Pocock. É baratinho na Amazon e apesar de ser uma leitura não muito fácil vai te mostrar que essa lenga lenga sobre ética, moral e governo vem de longa, longuíssima data.

Além disso, a comprovação empírica proporcionada belo benefício da perspectiva histórica costuma nos mostrar que os governantes do passado, todos, em maior ou menor escala, mesmo aqueles que levaram seus países a êxitos retumbantes, tiveram ali e aqui sua mácula. Daí meu ponto: procurar a explicação para a popularidade de um governante exclusivamente na visão que uma parcela (minoritária, ainda por cima) da sociedade tem da sua moralidade é caminho rempe para o fracasso da análise.

Por falar nisso, você não me respondeu ainda sobre Bush e o mal menor; até quando você vai continuar exigindo dos outros a aparência branca e imaculada dos homens puros ? Até se ver no espelho ?

Anonymous said...

A conclusão a qual cheguei sobre a pergunta do Paulo é que simplesmente ainda não temos dados suficientes para obter uma resposta.
Me lebrei daquela propaganda do governo federal " onde tem essa marca tem governo federal" tentando, ao meu ver, educar as pessoas sobre a origem daquele beneficio ou daquela obra atraves de uma propaganda televisada a qual a maioria das pessoas de todas as faixas de renda tem acesso.
A porcentagem de pessoas , entre elas a de renda baixa, que conseguem fazer a associação não se sabe, até agora eu pelo menos nunca li uma pesquisa onde se pergunta " vc associa essa obra ou essa beneficio a um politico e se associas qual politico?"
Seria uma pesquisa interesante acredito. Não sei pq ainda não foi feita.
Lembro-me de ter um vez conhecido numa cidade do interior uma assesora de um politico petista local, politico que tbm era padre. Essa assesora ajudava as bases do partido dos trabalhadores num municipio ainda menor e governado por um petista e onde todas as pessoas aptas a receber o bolsa familia haviam sido ja contempladas. As reuniões aconteciam na igreja desse pequeno municipio , reunião onde tbm participavam os representantes dos moradores. Sera que a combinação entre a igreja catolica comandada por padres simpaticos ao pt , assesores dos politicos petistas e moradores da cidade tem alguma influencia em fazer chegar aos beneficiarios do Bolsa familia bem como a população geral que aquele beneficio provem do governo federal personificado na imagem de Lula?
Eu não sei, não descartaria essa posibilidade da mesma forma que não acreditaria nela logo de cara.
Para chegar a uma conclusão sobre a pergunta do Paulo talvez deveriamos tbm admitir que temos preconceitos e talvez esses preconceitos posto a prova de analise sejam desmentidos.
De repente as pessoas de baixa renda que recebem os beneficios não tenham tanta dificuldade em os associar ao governo federal e associar esse ao presidente.
É uma posibilidade.

Anonymous said...

Paulo,

O Lula é péssimo comunicador sim, mas aos nossos olhos. Agora, para falar com seus eleitores não há linguagem melhor.

Todo mundo quer julgar o que o povo pensa utilizando seus próprios padrões mínimos de entendimento, aceitação, etc. Assim, perde-se o ponto, julguem as pessoas pelas mensagens objetivas que eles enviam sobre si mesmas, seu conhecimento e forma de pensar. Aí dá pra chegar mais perto da realidade.

É muito errado achar que o povo está precupado com o câmbio, dívida pública, superávit comercial ou o que quer que seja. Eles nem sabem ao certo o que é isso nem como influencia a vida deles.

Também considero errado, aqui por insight meu, compre a idéia quem quiser, achar que existe essa vinculação de benefício da assistencia federal com a pessoa do presidente.

A assitencia já existia antes do Lula e continuará existindo após ele. O povo já associa isso muito mais ao estado em sí do que a pessoa do presidente.

Pro povo quem dá o LOAS, por exemplo, é o INSS não o presidente. Aliás, eles acreditam que esse benefício é uma aposentadoria e que eles tem direito de qualquer forma.

Sem falar que, pra quem já recebia benefícios, Lula não fez nada demais.

Também não me convence a idéia de que a super-popularidade dele está baseada nos que não recebiam e passaram a receber.

Em algumas projeções, como na falta de candidato do PMDB, existe até a possibilidade de vitória no 1º turno!!! Vocês sinceramente conseguem atribuir isso à essa parcela de aumento de beneficiários? Essa gente representa metade do eleitorado por acaso?

Recorrendo aos números da tal pesquisa, a aprovação da política social dentre a população de renda baixa não é de apenas 45%? Isso é pouco sim, considerando que são eles que recebem e que, entre quem ganha mais de três mil e não recebe, o índice é de 33%. Apenas 12% de direrença...

Vocês acham que existe essa super aclamação popular por conta disso? Tenha dó... No máximo o efeito de soltar benefícios é não criar rejeição, já que a vida do sujeito dá uma melhorada. Mas não creio que o aumento nas intenções de voto (que deve existir) seja tão substancial como vcs pensam.

E agora, chega de falar! hehehe

Abraços

Anonymous said...

Roger,

Eu não estava tentando desenvolver aqui uma teoria geral das derrotas e vitórias eleitorais, e sim tentando responder à pergunta do Paulo, originada em um debate mais abaixo. Mas vamos lá:

A arte de vencer uma eleição é, em parte, a arte de entender qual tema está sendo importante para os eleitores em determinado momento histórico, e montar nele _ se possível se beneficiando da sorte de ter uma história de vida coerente com essa postura.

Por isso foi fácil para Collor, que se beneficiava de um momento histórico onde o povão estava cansado da inflação e da roubalheira do governo Sarney, empunhar a bandeira do caçador de marajás.

FHC cavalgou na fama do Real, tendo como pano de fundo um eleitorado cansado das experimentações anti-inflacionárias. E ganhou a reeleição porque essa memória ainda durava _ o povo preferiu não mexer no time que estava ganhando, não trocar o certo pelo incerto.

Tudo isso é engraçado porque ao final do segundo governo FHC eu me perguntava como é que os tucanos conseguiram perder a eleição, como é que conseguiram ser tão incompetentes a ponto de não perceber que suas políticas eram mais que impopulares, eram insensíveis aos anseios do eleitorado. O fim do governo tucano foi um caso crônico de insensibilidade e pretensão arrogante.

Eis porque fico pasmo com a incapacidade que muita gente tem de admitir que o Lula está fazendo um governo que é admirado pela maioria da população. Fico pasmo porque este é um filme que eu já vi, e me espanta ver que essa incapacidade é mais difundida do que eu imaginava. Vocês, se fossem conservadores minimamente inteligentes, poderiam ao menos estar se perguntando se a política do Lula é virtuosa no curto prazo mas desastrosa no longo prazo. Mas não, vocês estão aqui lutando contra a realidade, dando murro em ponta de faca, apenas para não terem que admitir a ruína de seus modelos mentais.

Bem, é fácil ver onde essa discussão vai acabar na lógica interna desta caixa de comentários: "o Lula vai vencer a eleição não porque esteja fazendo um governo que agrade à maioria da população ( "it´s NOT the economy, stupid" ), mas sim porque "tem empatia", "é popular"."

Como se ele tivesse ficado empático e popular de uma hora pra outra. Como se ele não estivesse sendo considerado derrotado na eleição há poucos meses atrás, pela maioria dos analistas, quando as denúncias estavam no auge e Serra ganhava no primeiro turno.

Mas a saída é simples, estou apenas aguardando o post do Paulo sobre o assunto: "Lula é bronco e primário, agradando assim à maioria da população brasileira que é bronca e primária, e é por isso que eu saí daquele país". Pronto: poupa-se uma explicação racional, debita-se a "culpa" no eleitorado, "que não sabe o que é melhor pra ele, enquanto eu que estou aqui nos EUA sei."

E de repente me dou conta que contemplo exatamente a postura que garantirá uns 20 anos de PT no poder, se ele não for tão burro quanto os tucanos foram.

Anonymous said...

Smart,
Seus adjetivos sao um show a parte. Eu dou muita risada.

Acho interessante como vc de uma hora para outra resolveu achar o povo tao esperto (no pun) e eficiente na avaliacao de um governo.

E mais: Vc (e alguns outros) so citaram medidas que teoricamente agradaram aos pobres. Imagino que os dados do Roger sobre a % de aprovacao nas classes pobres seja algo a se considerar. Quais medidas agradaram a classe media? (Acho que a alta dos juros so beneficia o 1% rico, nao?)

Sobre o Bush, eu pedi para deixar a comparacao de lado porque eh uma discussao separada in itself. Nao sei daonde vc tira essa fantasia de que eu apoio o Bush, e que acho ele uma maravilha. Acho que eh o trauma da guerra do Iraque. Se me perguntassem "Vc aprova o governo Bush" minha resposta seria nao, porque no geral, acho que ele anda fazendo mais coisas erradas do que certas.

Sobre moralidade, vc esta sendo muito contraditorio. Eu nunca disse (pode procurar) que um governo tem que ser santo. Acho que ninguem eh. O ponto eh que existem niveis de corrupcao, e na minha opiniao o nivel atual do PT seria suficiente para que a eleicao fosse perdida (afinal, a maioria dos 'caciques' tiveram que sair por causa desses escandalos).

A teoria de que o povo nao liga para corrupcao ate um certo ponto, ou de que a ineficiencia estatal leva a um certo nivel de corrupcao eu aceito. A teoria de que todo governo eh corrupto and therefore corrupcao nao importa, ou de que nao existe padrao moral para se julgar quem eh corrupto e quem nao eh, eh ridicula. E eu nao preciso de livros de ciencia politica para me convencer otherwise.

[]s

Anonymous said...

Paulo, mas e se o eleitor acha, com certa razão, que todos os partidos políticos têm algum grau de envolvimento em corrupção? Alguém pode dizer que não deveriam votar no PT por este ter se revelado "muito" corrupto, ou "um dos mais" corruptos. O problema é que, por definição, a corrupção é uma atividade oculta. Não há uma medição objetiva, transparente e perfeitamente comparável do grau de corrupção de cada partido. Assim, é natural que o simpatizante do PT tenda a dizer para si mesmo que provavelmente o PSDB é tão ou mais corrupto que o PT, e que, se veio menos coisa à tona, isto decorre de questões fortuitas, e não do fato dos tucanos terem praticado menos corrupção. Eu acho isto bastante natural e compreensivo. Todo torcedor tende a achar que o juiz roubou muito mais contra o seu time do que contra o do seu adversário. Assim, me parece que o fato de a população achar, provavelmente com razão, que a corrupção permeia todo o sistema político brasileiro é uma das razões para o enigma da alta intenção de votos para Lula depois do mensalão. A única alternativa seria um voto nulo maciço e majoritário. Mas é meio esotérico imaginar que, sei lá, haverá 80 milhões de votos nulos por causa da corrupção. Aliás, todo mundo sabe que, desde quase sempre, quase todo político brasileiro tem algum grau de envolvimento com corrupção, e as pessoas sempre votaram em fulano ou beltrano mesmo assim. É a vida. Não me parece um comportamento repulsivo, insano ou depravado. É mais uma adaptação realista a uma situação estruturalmente ruim

Anonymous said...

Arranhaponte

Bom, vc pode extrapolar essa logica para qualquer governo de qualquer pais. Ate entendo que o caso do Brasil pode ser particularmente mais grave que outros, mas tentar justificar a cegueira popular a corrupcao atual numa falta de fe no sistema eh preocupante.

Pode ate ser verdade... Mas entao ai o problema eh muito mais grave. Sim porque ai o incentivo para que se acabe com a corrupcao eh zero.

A outra opcao eh que o povo julga q a corrupcao nao eh algo grave. O que tecnicamente da na mesma.

De tudo que eu ouvi ate agora, tendo a acreditar que a falta de conhecimento popular da oposicao seja o fator mais determinante. Eu acho que os tais programas assistenciais podem ate ser importantes, mas duvido que na hora H vao fazer a diferenca (ate porque a oposicao deve prometer mais e melhor).

Agora, talvez vcs estejam certos sobre a eficiencia da labia do Lula. Talvez no meio de toda a zona e de toda a incompetencia, ele continue com o apelo de homem do povo que faria o Alckmin parecer um "branco maldoso".

[]s

Anonymous said...

"De tudo que eu ouvi ate agora, tendo a acreditar que a falta de conhecimento popular da oposicao seja o fator mais determinante."

Já que você não se importa de ser jocoso com seus comentaristas, Paulo, permita-me:

BWAHAHAHAHAHAHAHA

O eleitorado teve 8 anos de PSDB/pefêlê. Sim, eles têm conhecimento sobre a oposição.

Anonymous said...

Eles nao conhecem o Alckmim espertao. Ou vai dizer que agora o eleitorado nao somente eh essa maquina racional como vc diz, mas tambem vota por legenda?

Cada uma...

Anonymous said...

Smart,

São tantas as contradições no seu pensamento, que vou ter que ir por partes.

Explique-me uma coisa: como é que você pode responder ao Paulo dizendo que

"A idéia de que 'todos roubam e isso não importa' não é minha. Essa é a imagem que o povo faz dos governantes"

para, em linhas abaixo do mesmo comentário, recomendar um livro mostrando que

"essa lenga lenga sobre ética, moral e governo vem de longa, longuíssima data"?

Não é sua? Bem, se você, pessoalmente, recomenda um livro mostrando que ética e moral no governo são "lenga lenga" de longuíssima data, é óbvio para mim que ética e moral no governo não importam para VOCÊ, ou não seriam lenga-lenga. Portanto, pare de esconder o que pensa usando o pseudômino "povo". Você não tem autoridade alguma para falar em nome do povo.

Anonymous said...

Ah, uma coisinha: em favor do oponente, advirto que estou ciente da separação entre as duas espadas (moral x direito, direito natural, etc etc). Não é esse o ponto, evidentemente.

Anonymous said...

Podemos deixar o neoudenismo do lado de fora, né? Estamos entre amigos, ou não?

abs

Anonymous said...

Sim, David, compreendo a sua preocupação, mas você também deveria compreender que nem toda discussão sobre ética, moral e política é uma cruzada pela santa indignação. Calma lá. Ninguém aqui, exceto na cabeça de quem quer desqualificar o debate, acredita em anjos no poder ou está propondo uma caça aos pecadores, aliás expediente fartamente usado pelo PT no passado recente. E não me lembro de ninguém acusar o PT de neo-udenista ou coisa que o valha.

Anonymous said...

Raul,

Assim...leia o livro. Ou pelo menos procure uma resenha, um resumo, sei lá. Vai ver na Amazon tem até o índice.

Depois a gente conversa.

Paulo,

Seu desconhecimento sobre o grau de politização popular é admirável. Não sei se o povo vota em legendas, é até provável que não. Mas se alguém se identifica como "tucano", isso é o suficiente.

No Estadão, hoje, Alckimin fala que uma "ira santa" se abaterá sobre Lula em outubro. Ele também diz que detesta carnaval. Se é esse o tipo de informação que está faltando sobre o candidato do PSDB para o grande público, isso me parece o suficiente para começar a cavar sua cova.

Anonymous said...

Smart,
Que tal vc responder um argumeno sem uma qualificacao pessoal? As vezes ajuda viu?

Vc sabe tanto quanto eu que a campanha ainda nao comecou de verdade. Se o paremetro para julgar a competencia do Lula eh realmente a popularidade, acho que falar agora sobre absolutos eh arriscado. E como vcs mesmos disseram por meses e meses, a diferenca do PT atual e do PSDB eh pequena. Se alguem se indetifica tucano eu queria perguntar exatamente qual eh a logica. Se vamos comecar a analisar coisas minutas como essas que vc citou, acho que o proximo candidato tucano deveria ser o Ronaldinho.

[]s

Anonymous said...

Eu lembro. O Brizola chamava o PT de UDN da esquerda.

Quanto à "frágil correlação" entre programas sociais e intenção de voto no Lula, alguém viu o Datafolha? Quem leu a Folha de hoje sabe que o caixão deste debate está fechado.

Anonymous said...

"Segundo o levantamento, 25% dos entrevistados citaram os programas sociais como razão do voto em Lula."

Vc achou muito? Por tudo que vcs estavam falando eu esperava muito mais...

Anonymous said...

Paulo,

Taí, essa discussão é uma que não vai levar a nada. Cansei se ser pessoalmente qualificado das mais diversas formas, algumas muito menos respeitosas da que empreguei, por você em meu blog e aqui mesmo, então, deixe de ser reclamão. Principalmente porque nesta eu tenho um ponto que você não pode negar: você está fora do Brasil e não pode pretender que sua percepção da voz das ruas seja melhor que a minha.

No mais, a razão pela qual o PSDB adotou a ave como símbolo e seus partidários e próceres se chamam de tucanos era justamente para facilitar a conquista de um mind-share na cabeça do povão. Taí o resultado, funciona. :)

Finalmente, lembre-se de que seu objetivo neste post era saber o motivo pelo qual o Lula é popular e lidera as pesquisas. Não é preciso nenhuma adivinhação pra isso. Pessoalmente, acho difícil, mas não impossível, que ele perca a eleição. No entanto não é isto que estamos discutindo aqui, portanto não entendi essa sua história de que "o jogo está começando". Tem sempre um jogo de um time da primeira divisão vs. o XV de Jaú começando por aí, porém.

Anonymous said...

Paulo,

Taí, essa discussão é uma que não vai levar a nada. Cansei se ser pessoalmente qualificado das mais diversas formas, algumas muito menos respeitosas do que a que empreguei, por você em meu blog e aqui mesmo, então, deixe de ser reclamão. Principalmente porque nesta eu tenho um ponto que você não pode negar: você está fora do Brasil e não pode pretender que sua percepção da voz das ruas seja melhor que a minha.

No mais, a razão pela qual o PSDB adotou a ave como símbolo e seus partidários e próceres se chamam de tucanos era justamente para facilitar a conquista de um mind-share na cabeça do povão. Taí o resultado, funciona. :)

Finalmente, lembre-se de que seu objetivo neste post era saber o motivo pelo qual o Lula é popular e lidera as pesquisas. Não é preciso nenhuma adivinhação pra isso. Pessoalmente, acho difícil, mas não impossível, que ele perca a eleição. No entanto não é isto que estamos discutindo aqui, portanto não entendi essa sua história de que "o jogo está começando". Tem sempre um jogo de um time da primeira divisão vs. o XV de Jaú começando por aí, porém.

Anonymous said...

xi, entraram dois comentários. Apaga este e um dos dois aí, faiz favoire !

Anonymous said...

Uma última perguntinha:

Quando Lula foi eleito, o único mandato eletivo que constava do seu currículo era o de deputado nos anos oitenta.

Ainda assim, sem ter qualquer obra a apresentar, nenhum aumentozinho de benefícios assitenciais, medida administrativa, ou o que quer que seja de concreto, sua popularidade já era imensa. Como ainda é hoje.

Bom, pra mim, isso é resultado de uma imagem pública construída ao longo de mais de 25 anos. Imagem de homem do povo, que luta pelo povo, que quer o bem do povo, etc. Quase um líder religioso, contando com a fé dos seguidores.

Essa imagem agradava a muitos, entretanto, o pulo do gato para conquistar outra parcela dos corações, foi o verniz aprendido com FHC. Afinal, como eu já disse aqui, o povo também gosta de barba e cabelos bem aparados, ternos bem cortados e fala mansa.

Além disso tudo, Lula era do PT, o único partido que gozava do mito da honestidade absoluta.

Bem, a minha pergunta é:

Onde diabos, nisso tudo, Lula precisou de outra coisa que não uma IMAGEM consolidada após mais de duas décadas de propaganda pessoal para ser eleito?

Em que parte desse raciocínio o povão, que votou em massa, estudou ou questionou as propostas petistas? Isso de forma concreta, real, e não apenas depositando sua FÉ que Lula iria cuidar deles.

Em que momento esse mesmo povo julgou Lula pelas iniciativas administrativas já tomadas? Ora, ele só tinha sido deputado...

Resposta: Em lugar algum.

Aí vocês me dirão que o povo conhecia outras administrações petistas e se baseou nisso...

Mentira. O fato da imagem do PT ter ido para a lama com os escandalos, mas a de Lula estar firme e forte, prova que a popularidade de Lula é pessoal e não depende do partido.

Pra mim é claro feito água. Lula é o maior fenômeno de propaganda que esse país já viu. Ele surfa até hoje na popularidade que já tinha na primeira eleição, e a qualidade de seu governo tem muito pouco a ver com isso.

É duro de acreditar, eu sei. Mas no Brasil o que decide eleição ainda são fatores muito mais subjetivos do que objetivos.

Simpatia é tudo. O povo já decidiu que não vota em Alckmim porque ele é um "chuchu". Não tem apelo de personalidade. Isso basta.

Anonymous said...

Roger,

Lula está comendo o pão que o diabo amassou nas mãos da oposição e da imprensa há bem mais de um ano, primeiro com Valdomiro Diniz, depois com as consequencias dos depoimentos de Roberto Jefferson. Ele chegou a amargar derrota no primeiro turno para Serra nas pesquisas de dezembro de 2005.

Ele não era um primor de simpatia então. A percepção popular era de corrupção.

E ele virou o jogo, basicamente, fazendo frutificar sua estratégia de tudo pelo social. Que o povo sentiu no bolso, como o demonstram as pesquisas qualitativas.

Anonymous said...

smart,
Meu objetivo continua sendo de ouvir opinioes sobre uma situacao que nao sei muito.

Isso nao me obriga a concordar com tudo que eh dito.

E sobre as qualificacoes, se vc ler as msgs acima vera que vc usa disso muito mais que os outros. Nao digo que ninguem mais faca (as vezes), o problema eh que vc faz toda hora.

[]s

Chantinon said...

Eu não duvido que Dom Dirceu Corleone, tenha comprado todos os institutos de pesquisa.
Mas nas ruas ainda vejo o povo defendendo Lula.
E para ser sincero, cancei de tentar abrir os olhos dessa classe menos favorecida...
E acho que esse é o problema, maioria já se rendeu, e agora estamos a merce da sorte!

Alguém ai já ganhou na mega sena?

Anonymous said...

Smart,

Eu acho essa idéia absurda. Vc diz que em dezembro de 2005 Lula perdia pro Serra no primeiro turno e, agora, apenas cinco meses depois, ele ganha de Alckmim também no primeiro turno e isso é porque nesse fantástico espaço de apenas cinco meses o povo descobriu que houve distribuição de renda "como nunca antes na história deste país".*

Ai ai, desse jeito até parece que minha doméstica passou a andar de BMW, quando a única coisa que ela sentiu de verdade no bolso foi o aumento de R$ 50,00 no salário mínimo que saiu este mês e não mudou a vida de ninguém.

1º - Serra gozava daquela memória residual de popularidade, oriunda da última campanha, na qual ele foi bem votado. Associada, é claro, ao fato dele também estar na mídia exercendo um mandato na cidade mais importante do país.

2º - Ano passado, no auge dos escândalos, o povo ainda não tinha cansado da novelinha da CPI e estava um pouquinho mais revoltado. Hoje a poeira assentou o suficiente para prevalecer a boa e velha imagem do Lula gente boa. Afinal, essa marca está no mercado a mais de 25 anos e não é tão fácil derrubá-la.

3º - Alckmim não é Serra.

Olha, sinceramente, por tudo que eu já argumentei aqui e vi ser argumentado, continuo achando que personalismo é o fator determinante nas eleições brasileiras. Desde, é claro, que o sujeito não faça besteiras homéricas como confiscar a poupança ou o país não esteja no fundo do poço de uma crise econômica que leve todos ao desespero. Crise política o povo releva.

E ninguém me explicou ainda:

Se Lula já era um fenômeno de popularidade sem ter nenhuma ação concreta para apresentar na primeira eleição, por que, agora, sua popularidade seria devida a um governo maravilhoso?

*palavras de Lula.

Anonymous said...

Estava lembrando de uma pesquisa, não lembro os números (me socorra quem souber), na qual a maioria disse que o programa fome zero era muito bom.

Como todos sabem, o fome zero é uma marca, uma campanha publicitária que, na prática, mal saiu do papel.

Ainda assim querem me convencer que o povo conhece o governo e fala com conhecimento de causa, por sentir na própria pele e bolso, o efeito positivo das políticas sociais... Ai ai.

Viva a América Latina! Com seus políticos personalistas, eleitos por propaganda pessoal.

Anonymous said...

Smart, assim ... faz de conta que você me respondeu. Ou melhor, você já respondeu muito mais do que imagina.

David, Ok. Realmente, Brizola é uma autoridade e tanto no assunto. "O neo-udenismo retroativo de Platão, de Marco Túlio Cícero etc etc". Gênio, esse Leonel. Mas gênio mesmo é você, se acha que ninguém aqui percebeu qual é a sua. Você não passa de um neo-udenista de sinal trocado.

Paulo,

Acho que já deu para perceber a quantas andam as coisas por acá. O Roger fez alguns pontos. Não é à-toa que o Lula quis se desligar da imagem do PT. Mas o resumo da ópera continua sendo que o brasileiro é um forte, mas não resiste a um prato de lentilhas (udenista! udenista!). Quem vai se importar com o exercício do poder e com a democracia neste país, se o assistencialismo vai muito bem, obrigado? Pra quê, se é muito mais fácil entender a corrupção APENAS como ladroagem e que, em maior ou menor grau, todos já praticaram? Cada um que defenda o seu, desde que sobre um pouco pra mim - não é assim no país dos neobobos? E tudo pelo social, mas tudo mesmo, e quem for contra é porque é um miserável sovina que não quer abrir mão de uma migalhinha em favor dos pobres.
Obrigado pela acolhida, mas fiquei com preguiça.
Um grande abraço.

Anonymous said...

Roger,

De novo, estamos perdendo o norte. Lembre-se que a discussão começou com Paulo querendo saber porque Lula está liderando as pesquisas. Ele está liderando as pesquisas por causa do mesmo motivo que já as liderava ANTES da eclosão dos escândalos Valdomiro e Jefferson: porque essencialmente faz uma política de transferência de rendas para os mais pobres. Que são a maioria dos eleitores.

SE Paulo ou você estivessem interessados em saber (aí sim) porque Lula caiu nas pesquisas no fim do ano passado, é claro que a história seria outra: ele caiu nas pesquisas, então, devido à exposição desfavorável cumulativa devido aos escândalos.

O que assistimos agora é justamente a debacle do nível simbólico (que eu não nego que exista) perante o nível do real (sem trocadilhos). O "efeito teflon" do Lula é isto: para o público alvo das políticas de renda do governo, a memória dos escândalos, que realmente pode até causar indignação no primeiro momento, passa _ entre outros motivos porque para eles todo político é corrupto. Mas a percepção de uma realidade mais folgada no orçamento dura. Essa é a realidade _ independente de se essa política é um truque insustentável ou um pré-requisito para mudanças estruturais maiores em um segundo momento.

Lembre-se que o Brasil cunhou a frase "Rouba mas Faz", e essa frase não foi gerada para alcunhar o PT.

Paulo,

Entendo perfeitamente que o fato de você ter aberto o tópico de discussão não significa que você vá ter que aceitar todos os pontos de vista expostos (o que seria até impossível dado que eles são contraditórios). Reconheça, porém, que eu não estou indo armado até sua casa para fazer você aceitar à força minha opinião; apenas a estou defendendo aqui, usando a única arma que sei manejar, o raciocínio lógico. Não imaginei que isso fosse proibido, dada a abertura demonstrada em discutir o tema _ e muito menos que a Lógica tivesse já tivesse sido guindada, em certos arraiais, ao nível de qualificação ofensiva e desqualificação pessoal. Ó tempora, ó mores.

Anonymous said...

O David já deu a dica, mas não custa repetir:

http://datafolha.folha.uol.com.br/po/razoes_voto_pres_30052006.shtml

"Lula tem em seu desempenho na área social seu maior trunfo: um quarto (25%) dos eleitores que declaram que votariam no petista justificam sua opção citando propostas, projetos e iniciativas na área social, como o Bolsa Família (mencionado por 14%), o Bolsa Escola (10% de menções) e o Fome Zero (4%), entre outros."

"Referências à imagem pessoal do presidente como razões para o voto em Lula somam 12%. São citados, entre outros atributos pessoais, honestidade e sinceridade (3%), simpatia (2%), coragem e humildade (1%, cada)."

"Cerca de um terço (32%) dos que votariam em Geraldo Alckmin (PSDB), segundo colocado na disputa pela Presidência, apontam como motivos para seu voto atributos pessoais do ex-governador paulista. Desses, 12% afirmam que Alckmin é honesto, sincero, transmite confiança e credibilidade e 4% o descrevem como seguro, sério, responsável. Atingem 3% de menções, cada, a simpatia pelo peessedebista, o fato de achá-lo culto e inteligente, além de competente e de não estar envolvido em casos de corrupção."

Parece que os argumentos do Roger têm um pingo de razão. Ele apenas os aplicou ao candidato errado.

abçs

Anonymous said...

Smart,

Eu vou dar o assunto por encerrado da minha parte.

Agora, em momento algum eu perdi o norte da discussão não. Estou o tempo todo discutindo a origem da popularidade de Lula.

Vc diz que essa popularidade é resultado do reconhecimento popular por um governo que distribui renda.

Eu digo que a popularidade de Lula nunca dependeu da qualidade do governo dele. Basta não fazer nenhuma grande besteira, pois a imagem dele já está consolidada no imaginário popular e provou ser capaz de resistir a abalos de natureza política, como os escândalos.

Esse é nosso ponto de discondância.

Anonymous said...

Roger,

Tudo bem, no entanto é preciso reconhecer que você está dando murros em ponta de faca, segundo os dados da pesquisa que acabo de transcrever _ e que demonstram que para o eleitor de Lula, suas características pessoais são menos importantes do que as realizações de seu governo.

Assim, a menos de alguma teoria da conspiração, acho que até mesmo _ aliás, principalmente _ um liberal tem que reconhecer (se quiser mesmo respeitar caros valores liberais como o primado da soberania do indivíduo e de sua capacidade de escolha) que o eleitorado de Lula o apóia pelas razões que expus, não por questões de empatia.

Aliás, no Brasil, historicamente o argumento de que o povo votava nos candidatos conservadores por causa do cabresto dos coronéis ou por causa da Rede Globo era bandeira esquerdista, não liberal.

Anonymous said...

Smart,
Please. Quando vc argumenta a coisa vai bem. Quando comecam os HAHAHAHAHA nao tem como nao gerar atrito inutil.

Eu nao censurei sua opiniao de jeito algum. Pelo contrario, te dei corda o maximo possivel, e so discordei de principios que nao sao especificos ao assunto Lula.

Quanto aos numeros do Datafolha, eu tinha respondido ao David que 25% dos pro-Lula citando os programas sociais me parece pouco. Como eh que isso pode explicar uma vantagem de 20 pontos percentuais?

E tambem achei interessante como a % de eleitores que nao citam nem programas sociais nem personalidade eh grande. Talvez exista algo mais a ser considerado.

Anonymous said...

Paulo,

Quanto ao tema das provocações etc, continuo dizendo: o tipo de ironia que faço (e que é defensiva) não tem nada a ver com o tipo de bílis que aqui se distila facilmente, da parte de alguns de seus convivas. Se você não percebe é porque você é parcial, ponto. Seu direito, aliás.

Quanto às estatísticas, cabe notar que os itens não são exclusivos, ou seja, podem somar mais de 100%. Mas o motivo social desponta com 25%, seguido pelo desempenho da economia com 14, a preocupação com os pobres também com 14, a empatia pessoal com 12, a questão salarial com 11, o "bom governo" com 7, a continuidade das políticas de governo (pasme) com 6, e a educação com mais 6. Ou seja, os outros motivos estão todos aí, e nenhum deles supera a preocupação social isoladamente (embora outros como desempenho da economia, o emprego, o salário, a educação etc também possam ser facilmente contabilizados entre realizações de governo e não, é claro, entre os itens de empatia pessoal).

Será que é preciso mais ?

Anonymous said...

Nao tinha olhado os numeros totais, so os que a noticia mostrava.

Talvez vc esteja certo e esses hand outs tenham um efeito maior que os escandalos na situacao atual. Eu continuo achando incrivel, ate porque os programas sociais teoricamente nao atingiram tanta gente assim...

Sobre a eleicao em si, eh interessante ver que as promessas de mais hand outs da oposicao ainda nao comecaram. Como o artigo dizia, pouquissimos eleitores citaram ideologia ou partido como fatores decisivos.

Vamos ver no que da.

Cláudio said...

Não sei mas acho que essa pesquisa deveria ter sido melhor elaborada:

"É importante ressaltar que foi solicitado aos entrevistados para dizer por quais motivos votariam no candidato escolhido, e não apenas a principal razão, ou seja, ela permitia mais de uma resposta."

É muito provável que quem acha que o governo vá bem na área social também pense assim em relação à educação e distribuição de renda (mesmo que não saiba avaliar exatamente como).

Anonymous said...

A discussão é de fato, não de valor. Se vcs não estão satisfeitos, olhem todas as decomposições por renda, escolaridade e região do Datafolha e do Ibope. Deve ser uma "fraca correlação", né?

Anonymous said...

David,

Mas e aquela historia de 'shades of grey'? Se a pesquisa foi mal formulada, os resultados podem dar uma falsa impressao. O Claudio tem razao, imagine se te perguntam todos os motivos porque vc votaria num candidato X, e dao mesmo peso para todos esses. Fica meio estranho, nao?

[]s

Anonymous said...

Paulo,

Não dou um tostão pela minha capacidade de analisar pesquisas. Deixo isso por conta dos experts mesmo. Mas há um "dado" que me parece negligenciado. Se a memória não falha, Lula sempre teve um piso ao redor de um terço do eleitorado. São pessoas que votariam nele "duela a quien duela". Se isso for assim mesmo, só podemos considerar os "motivos" das pesquisas para o plus. Dentro da faixa de 30%, não seriam propriamente "motivos", senão uma justificativa nominal para a reeleição. Mas posso estar enganado.

Anonymous said...

Smart,

Eu não tenho intenção nenhuma de dar murro em ponta de faca. O que às vezes questiono é se consigo me fazer entender como gostaria.

Bom, pelo menos por hora, e por não ter conhecimento suficiente sobre a forma que essa pesquisa foi realizada, dei o assunto por encerrado.

Ou seja, o rei é seu. ;-)

Mas confesso que, pessoalmente, não estou engolindo muito essa história não. Pra mim, as pessoas responderem que o motivo de votar em Lula gira em torno de programas sociais, ainda tem mais relação com a idéia de que ele "cuida dos pobres" do que com o fato dele estar mesmo cuidando. Isso mesmo admitindo que ele está mesmo fazendo o que se propôs e ampliando programas sociais.

Questiono muito a real profundidade da resposta, se foi dada por real conhecimento ou por aceitação de um consenso, uma propaganda, etc.

Será que se a imagem de Lula fosse outra, suas ações, mesmo existindo de fato, seriam lembradas e influenciariam nas respostas?

Acho, por exemplo, que se Alckmim fosse o presidente e amplia-se os programas sociais mais do que Lula fez, ainda assim sua imagem não seria associada a isso.

Já a imagem de Lula, fazendo ou não fazendo tanto, seria sempre associada ao defensor dos pobres. Por isso dou mais crédito à imagem já construída como fator determinante.

Veja a Venezuela, empobreceu enormemente, e ainda assim as pessoas acham que Chavez luta pelos pobres e melhora suas vidas...

Quando se pensa nessa questão da propaganda, da imagem construída, em oposição à realidade numa pesquisa, basta lembrar aquela pesquisa sobre a aprovação do fome zero. O programa praticamente não existiu e, ainda assim, a maioria disse que ele é muito bom. Ora, qual efeito concreto que essas pessoas sentiram pra dizer isso?

Lula já era popular quando da 1ª eleição sem ter nada de concreto a apresentar e continua sendo popular hoje. Pra mim, os motivos são os mesmos: ele é o campeão dos pobres.

Mas, como eu disse, isso é insight meu. Por ora vou engolindo a tal pesquisa e deixo o rei pra ti.

Abraços