Katrina, Global warming, e as represas de New Orleans
Será que o global warming realmente aumentou o número de furacões nos EUA?
Vejamos os dados do NOAA National Weather Service:
Claramente o número e a intensidade não vem aumentando. Além disso, nota-se uma grande variação no total furacões por décadas (24 entre 1941-1950 e 12 entre 1971-1980). A conclusão é que existe algum fator, talvez cíclico, que influi o número de furacões. Muito provavelmente o mesmo é independente da ação humana.
Outro número a se considerar, especialmente quando se discute o caso de New Orleans, é a porcentagem total de furacões nível 4 e 5. Os de nível 4 totalizaram 6.5% do total (média de 1.2 por década nos últimos 150 anos), e os de nível 5 contaram por apenas 1% do total (média de 0.2 por década nos últimos 150 anos).
Além disso, apesar de New Orleans estar em uma área altamente propensa a furacões, só foi atingida por outro nível 4 uma vez, em 1915.
Usando esses dados, não deve ser difícil computar a probabilidade de New Orleans ser atingida da maneira que foi. O número deve ser extremamente baixo.
Quer dizer, é compreensível que as barragens de New Orleans tenham sido construidas para aguentar furacões de nível 3.
18 comments:
Paulo, você parte de fatos concretos, mas tira conclusões equivocadas. Como sei que você trabalha com finanças, e não é cientista, eu recomendo que procure uma análise de expert nos links fornecidos pela bióloga Lucia Malla (nos links ao fim do último post dela):
http://www.umamallapelomundo.blogspot.com/
O número deve ser extremamente baixo.
Paulo, tb acho que as conclusões estão fora de foco no que se refere à probabilidade. Todo estudo de Reliability ou Hazard Analysis lida com probabilidades entre 10e-3 e 10e-5 dependendo do que se trata (terremoto, furacao, etc). No caso de furacoes Cat3-5 que atingiram a Lousiana, há pelo menos 5 nesta tabela: http://www.nhc.noaa.gov/gifs/table2.gif. Um valor de 5/150 por ano (mesmo que aproximado) não é baixo de forma alguma em qualquer análise estatísca. Especialmente porque a possibilidade condicional aumenta a cada ano que passa desde o último furacão significativo (Camille, Cat5, 1965). Ou seja, quando Bush falou que ninguém poderia ter previsto isso na tv, falhou grotescamente, como vc mesmo comprovou no post abaixo. Veja bem, não digo que sua análise esteja viciada, apenas que a lógica sobre o número baixo não bate com os datos apresentados.
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Leila,
Os dados sobre global warming mostram que a temperatura da agua aumentou alguns graus. Esse aumento nao eh comprovadamente ligado a fenomenos como furacoes, e se fosse, teriamos essa relacao demonstrada nos numeros que postei (que alias, sao cientificos).
Fernando,
Nao acho que possa se calcular o risco de New Orleans levando a Louisiana inteira como parametro. E o unico nivel 4 que acertou NO foi o de 1915. Um furacao que passe perto traz estragos muito menores, como foi provado no caso do Camile (um furacao mais forte que o Katrina que trouxe um estrago muito menor a NO).
1/150 eh bem baixo, principalmente quando estamos falando de uma obra gigantesca como essa. Fica facil dizer agora que o risco nao valeu a pena, mas devemos pelo menos entender que os dados eram pelo menos justificaveis.
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Mas Paulo, se é para salvar uma única vida que seja todo o investimento já terá sido justificado!
"Nao acho que possa se calcular o risco de New Orleans levando a Louisiana inteira como parametro."
Ao contrário. Eu não disso isso explicitamente no meu comment, mas é justamente parte do que eu quis apontar. Uma vez que um furacão se direciona à TX/LA/MS, ele tem o potencial de atingir qualquer cidade naquele pedaço de costa. É só ver os track paths nesse mesmo site. A razão pela qual escolher apenas o furacão de 1915 é incorreto é porque a própria Katrina será definida como um furacão que afetou LA/MS/AL, ou seja, não atingiu NO em cheio. O que obviamente não preveniu a quebra dos levees.
"1/150 eh bem baixo,"
Igualmente incorreto. Tanto 1/150 quanto 5/150 não são números baixos de forma alguma. Qualquer design que se preze considera 1-in-100 years events, isso é o mínimo que é exigido de qualquer instalação importante.
"principalmente quando estamos falando de uma obra gigantesca como essa."
Mas quando vc considerar, no fim das contas, tanto o custo em vidas quanto em termos financeiros que um evento já anunciado como um dos 3 mais prováveis de acontecer no futuro imediato produziu, verá que é exatamente ao contrário. Qualquer tentativa de enxugar o estado através desses cortes foi por água abaixo. Foi uma aposta mais do que arriscada da elite política atual. Time to pay.
Abraços
Cheguei tarde, mas o Fernando está certíssimo.
Ainda mais se considerarmos os aspectos específicos da localização de NO: muito abaixo do nível do mar, junto à costa e a um grande lago.
Fernando,
Nao acho que a Katrina sera listada como indirect hit. Foi direto, com a diferenca que o furacao em si era enorme e atingiu varias outras areas.
Quanto a porcentagem, podemos discutir teoria a noite toda, mas 1 hit em 150 anos eh e sempre sera uma estatistica pequena, alias, a menor possivel nesse quesito.
Alias, hoje ouvi o Chekoff e ele explicou bem que apesar dos levees terem sido feitos para aguentar um cat3 o total rompimento deles nao era tido como provavel consequencia. Eles experavam um overflow, e talvez minor breach, mas nao um copalso de uma secao como aconteceu.
Enfim, vai haver todo tipo de monday morning qurterback daqui para frente. Minha mensagem eh que antes de tudo isso acontecer, todos sabiam dos riscos. Fatalidades acontecem, e por tudo que eu li e vi, quere achar que o super governo poderia ter evitado tudo isso eh uma ilusao.
Como eu disse ao Samrt, logico que nenhum politico vai dizer o que eu estou dizendo. Eles querem uma FEMA maior, um DOF, DOD, DO whatever cada vez maior, e uma das melhores promessas que eles podem fazer eh que eles sao nossos paladinos contra a natureza.
Eu acho isso impossivel. Mas pelo jeito, a maioria discorda. Fazer o que , nao eh?
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Paulo,
"podemos discutir teoria a noite toda, mas 1 hit em 150 anos eh e sempre sera uma estatistica pequena, alias, a menor possivel nesse quesito."
Eu não estou discutindo teoria. Estou discutindo a prática. Tb não estou querendo ser pedante, eu vejo esses números no dia-a-dia do meu trabalho. E, mesmo considerando o número que vc cita (que eu insisto: não é correto), 1 em 100 jamais em nenhuma análise de hazard será pequeno. Nem aqui, nem na China. A probabilidade de um furacão Cat3-5 atingir o estado do Nevada, por exemplo, é 10e-8 por ano. Isso é pequeno.
"Chekoff e ele explicou"
Chekoff vai explicar o que lhe convém, Paulo. Um dos presidentes que o Bush colocou na FEMA, e que não tinha experiência nenhuma no assunto, tb está dizendo o mesmo. Se uma obra está projetada para um Cat3, dizer que eles assumiram o cenário mais otimista possível para algo pior é, no mínimo, irresponsabilidade.
"Enfim, vai haver todo tipo de monday morning qurterback daqui para frente."
Dar palpite no que não nos afeta é certamente uma perda de tempo. A diferença é que, se um furacão do mesmo tipo atingir o Texas, eu não quero esperar 4 dias pra ser resgatado no caso de não poder sair da cidade. Novamente, se fala muito de responsabilidade do estado por aqui, mas quando o assunto não convém, viramos todos monday morning quarterbacks?!?
"Eles querem uma FEMA maior"
Pois eu não quero nada disso. Não estou falando em evitar o inevitável, em parar furacão. O problema não foi o Smart aqui, mas sim aqueles que queriam uma FEMA a menor possível. Eu quero uma FEMA que funcione.
[]s
Fiz uma busca rápida no site do senado e não encontrei na lista de issues dos senadores de LA nenhuma referência ao reforço dos diques.
Fernando,
Nao estou discutindo que pura e estatisticamente 1/150 (que nao minha opiniao eh o numero correto) seja desprezivel. Estou dizendo que na pratica, isto eh politicamente, eh pequeno o sufieciente.
Alias, vc ja leu o Freakonomics do Steven Levitt? Ele fala muito sobre esse tipo de situacao, ate define essa 'equacao':
risk = hazard + outrage
Eu dei o exemplo da California, e ele da muitos outros. NO claramente se encaixa nessa situacao, tanto que as represas so foram aumentadas para segurar Cat3 depois de um Cat3 atingir a cidade...
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Ah, so outra coisa que eu lembrei quando li o LLL agora. Essa falsa seguridade que a baixa probabilidade de risco de vida traz eh que leva milhares de pessoas a nao sair de area de furacao.
Muitos nao saem por motivos medicos, logico, mas muitos escolhem nao sair. Eu ja passei por essa situacao, e eh isso mesmo. A enorme maioria das vezes os danos nao sao suficientes para que as pessoas deixem tudo para traz. Na NPR mesmo eles contaram varios casos, de gente que queria proteger a casa de lootings, de gente que se tranca no basement, e por ai vai.
Quer dizer, o trabalho do governo eh alem de tudo prejudicado pela falta de logica das pessoas. Querer que exista uma estrutura que simplesmente cubra esse tipo de situacao no matter what eh irreal na minha opiniao. Se quem pudesse tivesse realmente saido, as mortes teriam sido muito menores...
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Seria bacana pra certa gente se as leis de probabilidade seguissem a lógica tortuosa da política, Paulo. Mas se vc linkar o artigo, eu derei uma olhada. A minha impressão até agora tem sido que tanto o hazard quanto o outrage foram incrivelmente subestimados pelo governo.
O número é incorreto por causa de algo chamado probabilidade condicional. Na roleta russa, a probabilidade de levar uma bala na cabeça aumenta a cada rodada. Quanto ao número em si, eu não inventei os dados Paulo, as tabelas estão todas nessa mesma fonte que vc linkou:
http://www.aoml.noaa.gov/hrd/Landsea/deadly/Table9.htm
E continuo insistindo, eu não estou falando de estatística. Estou falando de Reliability, que é o tipo de análise que o governo americano usa para construir bases militares, usinas nucleares, etc; incluindo aí os riscos financeiros. Parece que esqueceram de usar isso em NO.
Por fim, é sem dúvida natural questionar a racionalidade de parte da população que ficou na região por decisão própria sabendo dos graves riscos. Mas é irracional imaginar que uma evacuação dessas sairia perfeitamente, como vc mesmo falou. Da mesma forma, não vejo como é possível achar que TODO mundo que ficou pra trás o fez pq queria cuidar da casa. E, no fim das contas, essa discussão é legal entre nós, que estamos secos. Espero que nunca cheguemos ao ponto de achar natural que bombeiros demorem ou desistam de salvar gente nos prédios em chamas só porque todo mundo deveria ter ouvido os alarmes.
[]s
Sei apenas que se, logo no dia em que surgiu o primeiro buraco nos diques, eles tivessem mandado "todos" os ônibus dos EUA para as entradas da cidade, a gente só estaria agora falando em prejuizo financeiro.
Semi-off-topic.
Tambem do NOAA, esse artigo fala do aumento da temperatura dos oceanos:
http://www.nodc.noaa.gov/OC5/PDF/PAPERS/grlheat05.pdf
Sou leiga em climatologia, e posso estar equivocada, mas me parece q os graficos sao claros.
Fica apenas a questao cientifica: aumento de temperatura dos oceanos leva ou nao leva a um aumento da intensidade de furacoes? (Nao da frequencia.)
Soh um especialista pode responder com mais clareza, de posse de dados e fatos.
Fernando,
Vamos entao concordar em discordar da estatistica. Ate porque esse era apenas parte do post, nao vou ficar dissecando as diferencas entre 1/150 e 5/150, principalmente porque politicamente os 2 numeros nao foram suficientes. Alias, vc entendeu errado a equacao do Levitt. O outrage eh da situacao anterior ao desastre. O governo nao interpretou mal, a populacao nao estava outraged o suficiente para motivar alguma mudanca, o que tambem acontece em outras situacoes.
Bear, sem duvida deriam ter respondido mais rapido. Mas veja que mesmo agora muitas pessoas se recusam a sair de la. Nao eh algo simples.
Lucia, eu nao duvido que os dados sobre a temperatura da agua sejam corretos. Foi o que eu disse para a Leila, o que nao esta provado (e seria ate mesmo facil provar, eh so ver o numero de furacoes e a intensidade dos mesmos no NOAA) eh que isso ja esta influenciando os furacoes. No futuro pode influenciar, ainda nao se sabe.
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Fernando,
So mais uma coisa importante: Logico que estamos falando de tudo isso porque nao estamos la, lutando pela sobrevivencia. Sinceramente, acho que eh desnecessario falar essas coisas. Eu nao estou aqui assistindo tudo isso e ignorando a tragedia humana que aconteceu. Fiquei tristissimo, e se algo pudesse ser feito a mais do que esta sendo, eu faria minha parte.
Mas cair em discussoes politicas inocuas eh uma solucao cheap demais para o meu gosto. A esquerda culpa o Bush, a direita culpa a Blanco. Nessa eu nao caio.
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Paulo, discordar numa discussão é normal. Discordar os dados é meio suspeito. Gostaria de encontrar a referência direta, mas no meio tempo vai aí um dos artigos mais mencionados nesses últimos dias:
Some scientists suggests there's a roughly one in six chance that a killer hurricane will strike New Orleans over the next 50 years.
http://americanradioworks.publicradio.org/features/wetlands/hurricane1.html
Querer acreditar que o risco (estatístico ou político) era baixo, com a avalanche de provas contra isso não faz sentido.
[]s
"O governo nao interpretou mal" ?!?
Imagino (espero) que isto seja um typo. O outrage certamente depende de quem e quantos se levantarem para pedir mudanças. Alguns tem a idéia equivocada que ninguém pediu por melhoras no sistema de levee nestes últimos 4 anos. Na verdae, o governo é que preferiu escolher quem escutava. E conseguiram. Então que assumam o erro.
"A esquerda culpa o Bush, a direita culpa a Blanco."
Beleza, então não vamos culpar nunca ninguém de nada daqui pra frente. Eu entendo defender o governo das críticas injustas, mas não vejo como deixá-lo isento do que é um enorme e grotesco erro. Desde colocar dois idiotas no controle da FEMA até esperar 4, 5, 6 dias para mandar qualquer tipo de ajuda. Se vc quiser, vamos concordar em discordar, porque eu simplesmente não consigo aceitar a intocabilidade do governo (ou a transferência de culpa) nisto tudo.
[]s
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