Harriet Miers
A nomeação da Harriet Miers foi provavelmente o maior erro do governo Bush até agora.
Só existem dois motivos para uma escolha dessas:
- Querer evitar uma disputa com os democratas.
- Colocar alguém que, por ser tão desconhecido (e desqualificado), vai considerar a nomeação como um presente e vai ser um "amigo" do presidente no judiciário.
O caso do Roberts meio que seguiu o motivo número um, mas com uma diferença enorme: O Roberts é super qualificado. Tanto que até mesmo os super loonies como o Schumer admitiram isso (obviamente, no fim das contas votaram contra anyway).
O desastre dessa nomeação pode ser sentido no coração dos conservadores americanos: nenhum dos talk radio programs que eu ouço foi à favor da decisão do Bush, e muitos estão pedindo que ele volte atrás.
E se engana quem pensa que tudo isso tem a ver com o quão conservadora a tal Miers realmente é. Ninguém duvida que, no fim das contas, ela seja mais próxima do Scalia e Thomas do que um Souter da vida. O problema é que o Bush arregou. E isso é ruim do ponto de vista ideológico e partidário. Os republicanos no geral não querem "have their way" de maneiras obscuras. A grande maioria quer um debate aberto de idéias, e provar na prática que juízes devem seguir as leis e não inventá-las. Mesmo que a Miers vote contra Roe vs Wade* (o que nunca acontecerá), a sensação de injustica com os juizes abertamente conservadores não será esquecida facilmente.
A mensagem foi: shut up and be friends with the boss.
*Obs: Um esclarecimento sobre Roe vs Wade: Uma eventual mudança na decisão da suprema corte não proibiria o aborto nos EUA, como já li muitas vezes pela imprensa brasileira. A decisão sobre a legalidade ou não seria transferida para cada estado. E a idéia de que todos estados diriam não é abusrda. Tanto que antes desse rolo todo, vários estados como NY, California, etc, já tinham legalizado o aborto.
12 comments:
"Tal como expliquei aqui semanas atrás, o presidente George W. Bush, embriagado por altos planos para o Oriente Médio, levou até o limite da imprudência a aposta no unanimismo bipartidário. Suas concessões ao partido adversário, que começaram com uma política fiscal inversa à prometida em campanha e culminaram na nomeação de uma contribuinte de Al Gore para a Suprema Corte, passando por uma tolerância quase suicida para com os imigrantes ilegais, receberam finalmente um “basta” da base conservadora. Isso já era esperado aqui desde muito tempo. Só é novidade para a mídia brasileira, que, após ter pintado Bush com as cores do conservadorismo radical, não podia mesmo enxergá-lo com suas dimensões reais de conciliador compulsivo. Vista daqui, a mídia brasileira é uma infindável comédia de erros."
Claudio,
Link?
[]s
Eu até hoje li dois autores que acham que Bush não está tão errado assim: Daniel McCarthy e Thomas Sowell.
O primeiro vem com essa: “Miers may or may not be anti-abortion. But she's sure to be a "conservative" in the Bush mold: pro-torture, in favor of detention without trial, and utterly supine before the imperial executive. ”
Ou seja: no que interessa a Bush, que é conduzir o país à guerra, pode contar com Harriet Miers. O Daniel McCarthy é contra a política de Bush, principalmente quanto à guerra, e se ele está certo nisso ou não é outro assunto, mas aparentemente ele acha que se Bush quer juízes que apóiem sua política foi uma boa escolha - para Bush, claro!
E Thomas Sowell admite que Bush assumiu uma posição de fraqueza, mas que no final das contas ele realmente está enfraquecido. Que a maioria republicana no senado não é tão forte assim e que não seria bom Bush enfrentar um partido democrata “mordido” por ter permitido a aprovação de Roberts sem grande resistência. Somando tudo, ele acha uma boa escolha:
“The bottom line with any Supreme Court justice is how they vote on the issues before the High Court. It would be nice to have someone with ringing rhetoric and dazzling intellectual firepower. But the bottom line is how they vote. If the President is right about Harriet Miers, she may be the best choice he could make under the circumstances.”
Os links são esses: http://blog.lewrockwell.com/lewrw/archives/009015.html e http://www.townhall.com/opinion/columns/thomassowell/2005/10/07/159683.html
Tenho um assunto a tratar com você, Paulo. Mas preferia fazer isso por e-mail. Se você tiver tempo, me mande uma mensagem: jorge_nobre@mixmail.com
E quanto a isso de Harriet Miers ter contribuído para a campanha de Gore, foi quando Gore era contra o aborto, estava (ou parecia estar) à direita da maioria do partido democrata e estava disputando com poucas chances à indicação para candidato a presidente.
Depois disso Harriet Miers teria contribuido 12 vezes para os republicanos e nenhuma para os democratas. Quer dizer, isso o que descobri pesquisando pela internet (infelizmente perdi o link), e posso muito bem estar errado. Mas é um exagero chamar ela "contribuinte de Al Gore".
Paulo, não postei o link pois achei que o estilo seria facilmente reconhecido. :-)
http://www.olavodecarvalho.org/semana/051010dc.htm
Láaaa no finalzinho.
By hte way, mudou de área ou apenas de emprego? Tá fazendo o que agora?
Não achei seu e-mail na página...
[]s
Eu até sinto simpatia por Harriet. Nunca casou, nunca teve filhos e ainda por cima vai levar a maior surra de sua vida. Sacanagem do Bush.
[]s
Claudio,
Mudei de emprego, mas continua trabalhando com computacao. Mas agora mais na parte gerencial.
Preciso criar um novo email pro blog, ja ja faco isso.
[ ]s
Excelente observação. Impossível falar de Roe vs. Wade se as pessoas se esquecem desse "pequeno" detalhe.
Em primeira mão, Paulo Mode: Harriet Miers desistiu da vaga garantida para a Suprema Corte nos EUA.
Uma surpresa: Eu achava que ela iria até o fim, seria facilmente confirmada e se revelaria uma mediocridade bem intencionada.
Mas bom mesmo é o que o Bush disse depois (destaques meus):
"It is clear that senators would not be satisfied until they gained access to internal documents concerning advice provided during her tenure at the White House -- disclosures that would undermine a president's ability to receive candid counsel," Bush said.
"Harriet Miers' decision demonstrates her deep respect for this essential aspect of the constitutional separation of powers -- and confirms my deep respect and admiration for her."
Quer dizer que o próprio Bush não levou em conta o príncipio da separação dos poderes quando a indicou? É um ato falho, um confissão de suas intenções de interferir no poder judiciário? Se a renuncia a nomeação é sinal de respeito a separação de poderes, sua nomeação foi um desrespeito, para começar, não? Ou eu entendi errado o que Bush falou? Não acredito nessa ultima hipotese...
Bem, é off-topic, admito, mas gostaria que você, que vive aí nos EUA e sabe mais do que eu sobre o assunto, escrevesse algo.
Devo dizer ainda que meu respeito por Harriet Miers aumentou e muito com sua renuncia. Até acho agora que ela daria um presidente melhor do que Bush. Pelo menos ela sabe melhor que o Bush o que é bom para os EUA.
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