Thursday, August 26, 2004



Quinta, 26 de agosto, 2004

  Estatosul

Colaboração especial do Marcelo Tavares, que mandou esse ótimo post ready to go. Ai vai:

David Ricardo, há alguns séculos atrás, já compunha a sua obra exaltando as virtudes das especializações de sistemas econômicos inteiros para que os sistemas pudessem atingir sua máxima eficiêcia. Paretto fez uma análise voltada para a microeconomia. Livre-comércio permitiria que duas pessoas melhorassem sua situação juntas, sem que prejudicassem a ninguém. Historicamente, podemos observar que as nações que possibilitam o comércio, o intercâmbio de bens de qualquer tipo, garantem às suas populações um melhor nível de vida. Recentemente, trombei com (este artigo aqui), e ví que definitivamente,o Brasil inventara outra jabuticaba. Um bloco de livre-comércio que serve pra tudo menos pra... livre-comércio! O recente movimento da Argentina em direção ao protecionismo econômico acabou com o mínimo que restava de dignidade para o bloco. Ao invés de discutir livre-comércio intra-bloco, ou então como será a integração do bloco na economia mundial, as reuniões agora discutem quais barreiras INTRA-BLOCO serão permitidas, e quais não serão. É o absurdo dos absurdos. Um bloco que não consegue fazer bens econômicos circularem dentro do próprio bloco não merece credibilidade alguma.

O artigo também expõe claramente o comportamento do produtor argentino. Obrigar o governo a abrir o setor bancário? Menos impostos? Menos regulamentação? Modernização da administração? Claro que não. Quem precisa disso tudo? O importante é a proteção do Estado. Esse foi o mesmo modelito estatista que garantiu ao Brasil os produtos de ultima geração usados na década de 80.

Um detalhe que passa batido para a diplomacia brasileira (ou pelo menos eles fazem vista grossa a esse detalhe) é que o governo argentino, desde a sua moratória, tem adotado uma estratégia de uso intenso de retórica e medidas "decoys" pra testar até onde a outra parte está disposta a ceder, para então sentar e negociar. Foi assim com o FMI na primeira negociação (na segunda o FMI endureceu, tanto que a Argentina teve que aprovar uma lei de responsabilidade fiscal e hoje o mesmo país ameaça com uma segunda moratória), está sendo assim com os credores e também está sendo assim
com o Estado brasileiro. A diferença, é que o Estado brasileiro engoliu TODA a retórica argentina, e não conseguiu uma única vitória nas negociações com o país.

Simplesmente lamentável.

A única atitude descente que o Brasil poderia tomar seria se retirar do Mercosul e deixar a Argentina ser feliz no seu mundinho protecionista. Mas como o Brasil também é governado também por um populista (ainda pior do que Kirchner, pois o Lula tem uma visão de mundo com a profundidade de um pires) e agora inventou de virar o lider dos pobres no mundo. Não dá para esperar muita coisa.

Vou enviar uma cartinha pro Celso Amorim. Como tudo no governo Lula, o Mercosul deveria mudar de nome pra dar uma imagem mais jovial - e também render manchetes de jornal - ao bloco e mudar o nome para Estatosul. É esse o melhor nome que consigo pensar para um bloco em que os Estados nacionais são os mais interessados em sua manutenção.

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