Thursday, December 30, 2004



Quinta, 30 de dezembro, 2004

The Fountainhead (A Nascente)



Acabei de ler The Fountainhead (A Nascente) e ainda estou atordoado. O livro é impressionante. Um pouco longo (694 páginas) e over the top aqui e ali, mas ainda assim fantástico.

Ayn Rand nasceu em 1905 na Rússia e imigrou para os EUA em 1926. Escreveu somente quatro romances: The Fountainhead, Atlas Shrugged, Anthem e We the Living.

Além do The Fountainhead, o único outro livro traduzido para o português foi Atlas Shrugged (Quem é John Galt?). Os dois livros são bem difíceis de achar no Brasil. O Instituto Liberal parece ser a única fonte garantida. No Submarino o Quem é John Galt? aparece como "NÃO DISPONÍVEL".

Como disse o Alexandre, a falta de tradução e atenção aos livros da Ayn Rand explica e muito a situação do Brasil.

Não conheço melhor defesa da liberdade e individualismo do que o The Fountainhead. Mais efetivo que qualquer livro de economia, mais provocador que a maioria dos livros de filosofia, e tão interessante quanto as melhores ficções que eu já li. O livro foi publicado em 1943, mas continua assustadoramente atual. Ellsworth Toohey seria um ótimo substituto para o Gushiken, poderia ser o melhor amigo do Michael Moore, ou forte candidato à sucessor do Kofi Annan.

O universo do livro é baseado na filosofia criada por Ayn Rand, o Objetivismo. Ela define a mesma como "the concept of man as a heroic being, with his own happiness as the moral purpose of his life, with productive achievement as his noblest activity, and reason as his only absolute."

Enfim, adoraria dar uma cópia de Fountainhead como presente para todos meus amigos. E duas para todos os outros.

Quem tiver a chance de ler, leia. Hoje.

Tuesday, December 28, 2004



Terça, 28 de dezembro, 2004

"Stingy" americans

Ah, os sábios da ONU são realmente um patrimônio mundial.

Quer dizer então que os EUA são "stingy"?

O velho double-standard de sempre. O governo dos EUA já contribuiu com 35 milhões de dólares para essa tragédia na Ásia, além de pessoal e equipamento. E obviamente doarão mais. Por ano, o governo americano doa 10 bilhões de dólares em ajuda humanitária. E mais importante, as doações privadas chegam a 34 bilhões.

Qual foi a contribuição até agora dos governos combinados da União Europeia? 4 milhões.

E novamente só estamos falando de números do governo. Outras tantas instituições privadas estão se movimentando e muitas pessoas contribuem com o desenrolar da história. O Amazon.com por exemplo, está recolhendo doações pela Net. Quando escrevi esse texto, o valor já chegava aos 500 mil dólares. My donation included.

Então Mr.Jan Egeland, aqui vai uma dica: shut the fuck up.

Monday, December 27, 2004



Segunda, 27 de dezembro, 2004

Intelligent design

O distrito de Dover na Pennsylvania será o primeiro a incluir a "teoria do design inteligente" no currículo de biologia das escolas de segundo grau. Essa experiência está gerando muito barulho porquê alguns consideram que o ensino da mesma viola a separação do Estado e Igreja definida na constituição americana.

Pelo que eu lí sobre essa tal teoria, não vejo motivo para tanta revolta. Afinal, nenhum Deus ou religião específica é usada como explicação para criação do universo. A teoria simplesmente diz que o universo é complexo demais para ter sido criado ao acaso, e que os evolucionistas não conseguem provar o contrário. Enfim, um argumento que merece ao menos ser conhecido e debatido.

Me parece que esse é mais um caso aonde o medo da religião está falando mais alto que a lógica. Na verdade, parece que a confiança desses intelectuais no discernimento dos alunos é tão pequena que a única maneira que eles vêem para que não tenhamos um exército de jovens cegos pela religião é a total exclusão de qualquer assunto relacionado ao tema nas escolas.

E isto não é separação de Estado e Igreja. É censura.

Wednesday, December 22, 2004



Quarta, 22 de dezembro, 2004

Natal aqui, e Natal ali

Um dos trabalhos que fiz durante o ano para minha pós-gradução foi sobre a Dell. Descobri que o principal centro de distribuição deles para a América Latina fica no Brasil, na cidade de Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul.

Pensei comigo que pelo menos assim as taxas de importação desses computadores devem ter caido. Ah, se pelo menos o Brasil funcionasse na base da lógica... Vejam a diferença de preços do mesmo computador, um Dell Dimension 3000, em diferentes países (em dólares):

- EUA = $499
- Hong Kong = $572
- México = $656
- Chile = $675
- Irlanda = $734
- Brasil = $780

Alguma dúvida sobre o porquê das nossas empresas não conseguirem competir no mercado global?



Quarta, 22 de dezembro, 2004

Uma cartinha de Lula Noel

ELIO GASPARI para Folha de SP

Um teste para curiosos:
Os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, na defesa do progresso de suas sociedades, escreveram cartas a alguns milhões de cidadãos.

Um escreveu aos jovens que conseguiram as melhores notas nos colégios onde estudavam: "Vejo com satisfação que estudantes excepcionais como você vão nos ajudar a conduzir o país (à). Fique com o meu estímulo para continuar buscando altos objetivos, acreditando em você".

O outro presidente escreveu aos aposentados e pensionistas da Previdência avisando-os de que foi criada uma linha de crédito que lhes oferece empréstimos a juros camaradas: "Esperamos que essa medida possa ajudá-lo a atender melhor às necessidades do dia-a-dia. Por meio de ações como essa o governo quer construir uma Previdência Social mais humana, justa e democrática".

O país onde o presidente oferece dívidas para o "dia-a-dia" (a juros de 1,75% ou 2% ao mês) é o Brasil. Nos Estados Unidos, onde os juros dos carros novos estão a 6% ao ano, o presidente não é doido de aparecer na casa dos outros oferecendo empréstimos como se eles fossem uma realização do seu governo. Na carta do presidente americano não há referência ao tal de "governo".

À custa da Viúva, Lula e o ministro Amir Lando, do PMDB e da Previdência, escreveram aos aposentados de todo o país informando:
"Em maio passado o governo federal encaminhou ao Congresso um projeto de lei para permitir aos aposentados da Previdência Social acesso a linhas de crédito com taxas de juros reduzidas.

Agora, o Legislativo aprovou o projeto e acabamos de sancioná-lo. Com isso, você e milhões de outros beneficiários(as) passam a ter o direito de obter empréstimos cujo valor da prestação pode ser de até 30% do seu benefício mensal".
O cidadão que recebe um benefício de R$ 360 por mês (10% da aposentadoria de vítima da ditadura que a Viúva paga a Lula) pode tomar cerca de R$ 100 emprestados. Amortizando-os em dez prestações, desembolsará pelo menos R$ 119. Nos juros da banca que não lhe empresta dinheiro pagaria pelo menos R$ 170. É bom negócio. Pena que esse mesmo dinheiro colocado na poupança do andar de baixo paga apenas R$ 7, enquanto rende o dobro nos fundos do andar de cima.

Há na carta de Lula o cheiro da propaganda. Esse é o aspecto mais velho e menos relevante da questão. Que o PT Federal faça o que criticava em Paulo Maluf (condenado a ressarcir a Viúva por uma emissão de cartas à custa da prefeitura) não chega a ser surpresa. O verdadeiro problema está no teste lá de cima. Foi fácil intuir qual presidente estimula estudantes bem sucedidos.

Um felicita o jovem cidadão pelos seus êxitos. O outro comporta-se como se fosse o construtor da Previdência. Dirige-se ao contribuinte como se estivesse a "ajudá-lo" emprestando-lhe dinheiro. Um lidera uma sociedade. O outro patrocina-a. Depois Lula oferece lições de moral à patuléia, dizendo que é preciso deixar de ver no Estado uma espécie de Paizão que vai resolver todos os problemas. Tudo bem se Lulão não se apresentasse no papel de Paizinho para oferecer emprestado um dinheiro que não é dele.

Friday, December 17, 2004



Sexta, 17 de dezembro, 2004

Privatização do Social Security americano

A quantidade e disparidade do que vem sendo falado sobre essa proposta de privatização do Social Security americano é incrível.

A primeira impressão é que esta é só mais uma disputa entre o pessoal a favor do Estado paizão e o pessoal do cada um por sí. Um diz que o retorno nos investimentos privados seria de no máximo 4%, o e outro diz que seria no mínimo 6.5%. Um diz que o modelo chileno é um fracasso, e o outro diz que é um sucesso.

O interessante é que eu acho que os dois lados estao certos, dependendo de como se analisa a situação. Antes de mais nada, vale lembrar o que o Social Security realmente é: um esquema de redistribuição de renda eterno. Os trabalhadores atuais pagam quase 13% do que ganham e esperam que os trabalhadores do futuro farão o mesmo. A possibilidade de se privatizar esse esquema é uma falácia.

O que o governo Bush está querendo fazer é acabar com essa redistribuição. Porém, para manter a tal "seguridade", o governo continuará metido no sistema. A contribuição será forçada, os investimentos limitados para evitar perdas, e os aposentados atuais continuaram no sistema antigo.

Uma privatização de verdade seria simplesmente devolver o dinheiro para os trabalhadores e deixar que os mesmos decidissem aonde e como investir, criando incentivos aqui e ali, e só. Exatamente como já acontece nos planos 401k. O perigo de perda seria maior, a possibilidade de ganhos maior, e sobretudo a responsabilidade seria individual.

Tal proposta nunca seria aceita. Uma parcela grande da população americana ainda prefere que o papai Estado cuide das decisões. Acham o ser humano muito fraco e sem controle. E se alguém resolvesse gastar todo dinheiro em Las Vegas? Coitadinho!

O plano de Bush é somente um band-aid. O governo dá uma impressão de liberdade mas continua calling the shots. A maior vantagem é eventualmente acabar com esse esquema de pirâmide atual, que tem como único destino o aumento continuo de impostos e diminuição de retorno.

Não é nenhuma maravilha, but I'll take it.

Wednesday, December 15, 2004



Quarta, 15 de dezembro, 2004

Comunismo e racismo: a dupla de sucesso no Zimbábue

Quem é que disse que o comunismo morreu? Quem é que acha que cor da pele não importa mais?

Não no Zimbábue meu amigo! Lá o governo resolveu tomar na força 4500 fazendas que pertenciam a brancos. Com direito a ratificação da "suprema corte" e tudo mais!

Isso talvez ajude a explicar porquê eles são um dos países mais miseráveis e atrasados do mundo, com inflação de 149.3% no mês passado (209% em Outubro) e milhares passando fome.

Se pelo menos tivessemos uma Organização das Nações Unidas que pudesse fazer algo... Nah, eles estão ocupados demais analisando como os EUA administram o Iraque.

Afinal, prioridades são prioridades.

Tuesday, December 14, 2004



Terça, 14 de dezembro, 2004

Preciso de um rótulo

Depois de ler sobre esse filósofo ateu que concluiu que deus Existe (via LLL), descobri um novo "problema": Eu não me encaixo em nenhuma visão filosófica ou teológica no que diz respeito a Deus.

Achava que eu era agnóstico. Afinal, eu considero a existência de Deus simplesmente inacessível e incomprovável. Porém, por motivos totalmente pessoais e subjetivos (o que me exclui dos deístas), acho que um Deus existe (tchau ateísmo). Pelo que lí recentemente, os agnósticos são totalmente contra qualquer tipo de opinião subjetiva sobre essa questão. Algo que não faz o menor sentido, mas isso já é outro problema. Me chutaram para fora do grupinho agnóstico e that's it.

Voltando a minha situação, essa suposta existência de Deus não muda nada meu dia a dia. Não acredito que esse Deus fique nos espiando e micro-managing. Tudo que eu faço ou deixo de fazer é baseado na minha própria consciência. Talvez esse Deus concorde com as coisas que fiz e faço, talvez não. Talvez o esquema todo seja completamente fora da nossa compreensão e nada do que fazemos por aqui importe. Pode-se dizer então, que eu não tenho "fé" per se, o que me exclui de toda e qualquer religião existente.

Afinal, o que sou eu?

Sunday, December 12, 2004



Domingo, 12 de dezembro, 2004

Prova de Geografia da USP

Não sei se é verdade, mas se for, estamos realmente perdidos. Transformar uma prova de vestibular em propaganda ideológica, com direito a mapa falso, é o fim do mundo. Ah, e com o seu e o meu dinheiro financiando tudo isso.

Alguém ouviu algo mais sobre isso?

Friday, December 10, 2004



Sexta, 10 de dezembro, 2004

"Os Incríveis" e os tradutores do UOL

Hoje estréia no Brasil "Os Incríveis". Vale a pena, confiram.

Mas lendo a crítica da Folha sobre o filme, achei que estavam falando de outro filme:

"Por trás da aparente ingenuidade, a animação de Brad Bird, espécie de "os Simpsons encontram o Quarteto Fantástico", propõe uma reflexão sobre a natureza do discurso liberal em que, mais que os mesmos direitos, todos devem ter a mesma postura em relação ao mundo. Diferenças? Que diferenças? Somos todos filhos de Deus, acreditamos na democracia e quem estiver contra que vá viver numa ilha distante bem longe dos nossos olhos..."

A dúvida é se o tal Diego Assis traduziu algum texto americano (já que em inglês liberal significa algo como socialista) ou se realmente ele não sabe do que está falando.

Maybe both.



Sexta, 10 de dezembro, 2004

Brasil para principiantes

"NELSON MOTTA para Folha de SP

RIO DE JANEIRO - No Brasil, empresários nunca estão preocupados em ter lucros, mas em "gerar empregos".
Aqui os partidos políticos não querem cargos e vantagens, mas apenas "garantir a governabilidade".
Há sem-terra, com-casa e com-carro. E clientes do Bolsa-Escola que não vão às aulas.
Aqui, a Igreja Católica se mete em tudo, divórcio, aborto, gays, Aids e sexo e até promove plebiscito para "o povo" escolher se devemos pagar ou não a dívida externa, mas, se evangélicos também falam em nome de Deus, logo gritam para não misturar política e religião.
Um pastor-deputado carioca propôs uma lei para usar dinheiro público na "recuperação" de gays arrependidos.
Aqui as indenizações às vitimas da ditadura são pagas pelos impostos dos que a sofreram, não dos que perseguiram, torturaram e mataram.
Em compensação, os pagadores de impostos são chamados de "contribuintes", quase como se fosse facultativo. O senhor poderia contribuir? Liga no mês que vem, minha filha.
Nesta terra abençoada, o jogo do bicho e os cassinos são proibidos e todos os outros -quase todos bancados pelo Estado- liberados.
Aqui, um governo de esquerda, sério e honesto, implora para se aliar a Jader Barbalho, Orestes Quércia, Newton Cardoso, ACM, Paulo Maluf e Joaquim Roriz.
Neste rincão, políticos ficam indignados quando não são previamente avisados de ações da Polícia Federal.
É aqui que, depois reeleito triunfalmente, o prefeito Cesar Maia deu uma banana ao eleitorado e apresentou Otávio não-sei-o-quê como futuro prefeito do Rio.
Aqui acusaram Tom Jobim de americanizado, de vendido a Tio Sam, de cantar para o imperialismo ianque. E ele disse aos invejosos e ressentidos que no Brasil sucesso é ofensa pessoal.
Tudo faz sentido, já que no Brasil traficantes cheiram, policiais assaltam e prostitutas gozam."

Wednesday, December 08, 2004



Quarta, 8 de dezembro, 2004

Alhos e bugalhos

Outro dia li um texto, não lembro bem aonde, em que o sujeito estava revoltado com as comparações feitas entre a violência no Brasil e no Iraque. "Alhos e bugalhos", ele gritava.

Point taken. Toda situação é única.

Mas depois que lí esse texto do La Nacion (via Alto Volta) não pude deixar de lado minha balança virtual... Afinal, 3.470 homicídios, 80.506 roubos, e menos de 7 porcento de investigações com sucesso em um ano, somente no Rio, é assustador mesmo para quem esperava números ruins. E pelo que conheço de São Paulo, Vitória e outras, os dados não devem ser muito diferentes.

É de colocar o sunni triangle no chinelo.

Como é que esse nosso País pode se dizer em "Paz"? Não seria a hora de "Wake up and smell the Coffee" e assumir oficialmente essa guerra que grita diariamente por reconhecimento?

Será que essa fantasia de que somos um "povo pacífico" não está custando caro demais?

Tuesday, December 07, 2004



Terça, 7 de dezembro, 2004

Free State Project e o Federalismo



"The Free State Project is a plan in which 20,000 or more liberty-oriented people will move to New Hampshire, where they may work within the political system to reduce the size and scope of government. The success of the Free State Project would likely entail reductions in burdensome taxation and regulation, reforms in state and local law, an end to federal mandates, and a restoration of constitutional federalism, demonstrating the benefits of liberty to the rest of the nation and the world."


Uma idéia fantástica, e parece que está dando certo.

É por essas e outras que o Federalismo é muito melhor que um sistema centralizado. No Brasil seria completamente impossível criar algo parecido. Esse novo Partido Federalista se propõe a mudar a situação atual. No papel parece muito bom, mas não tenho certeza da viabilidade desse tipo de movimento no Brasil.

Afinal, ninguém vai querer largar a mamata que é nosso monstro de Brasília.

Sunday, December 05, 2004



Domingo, 5 de dezembro, 2004

Some Reason

Três artigos muito interessantes da Reason:

Primeiro, será que chocolates e doces são tão viciantes quanto heroína? E será que isso signifa que deveriamos regular os doces ou liberar as drogas?

Segundo, a polêmica sobre o desenvolvimento de órgãos humanos em animais. Seria um chimpanzé com cérebro humano algo moralmente aceitável?

Por último, um artigo sobre como as falsas verdades democratas (como o a lenda do "roubo" da eleição de 2000) são tão ou mais infundadas que as republicanas.

Friday, December 03, 2004



Sexta, 3 de dezembro, 2004

Air And Space Museum



Finalmente um site de imagens que eu gostei: Flickr
A foto é da shuttle Enterprise, do novo Air And Space Museum que foi inaugurado há poucos meses e que fica bem perto de casa

Thursday, December 02, 2004



Quinta, 2 de dezembro, 2004

   "Rico dinheirinho"

Essa eu ouvi na Jovem Pan SP, no programa "Rico dinheirinho" (brasileiro não se leva a sério mesmo...)

Enfim, estavam falando que o Lula está considerando diminuir os impostos ou aumentar o salário mínimo. No meio do blablabla de sempre, a repórter me solta essa pérola:

"O aumento do salário mínimo seria mais justo, pois beneficiaria 14 milhões de pessoas, enquanto que a diminuição dos impostos somente ajudaria 4 milhões. E além disso, os que pagam impostos não precisam tanto do dinheiro como os que recebem salário mínimo."

Esse é o meu Brasil neoliberal...

Wednesday, December 01, 2004



Quarta, 1 de dezembro, 2004

   A transformação

Manchete original do NYT:
"Italy's Church and State: A Mostly Happy Union"

Parte do artigo:
"No resto da Europa, essa mistura de Igreja e Estado é freqüentemente vista com ceticismo. Paradoxalmente, a Itália, de muitas maneiras, tem menos zelo religioso que os EUA, onde os limites entre a Igreja e o Estado são muito mais claros, mas a convicção religiosa pessoal pode ser mais forte."

Manchete do UOL na página de artigos do NYT:
"Itália separa bem os papéis de Estado e religião"

Página principal do UOL de hoje:
"Ao contrário dos EUA, Itália separa bem Estado e fé"

E o nariz do pessoal do UOL já está maior que o Empire State...

Tuesday, November 30, 2004



Terça, 30 de novembro, 2004

   Todo problema acabou

O tradutor maluco do UOL voltou!!!

Manchete fictícia do UOL:
"EUA não sabem mais separar Estado de religião"

Manchete original do NYT:
"Blood Is Thicker Than Gravy"

Engraçado que eu tinha comentado com um amigo meu que eles andavam traduzindo direitinho... Até tive a incrível audácia de pensar que o meu email tinha surtido algum efeito!

Silly boy...

Monday, November 29, 2004



Segunda, 29 de novembro, 2004

   A falácia da janela quebrada

Para quem quiser saber mais sobre a falácia da janela quebrada (citada pelo Raimundo Arão) e porquê a minha teoria do Lixo não funcionaria , confira esse texto da Wikipedia.

Aliás, se puderem percam um tempo navegando pela Wikipedia. It's Bloody great, como diriam os brits.

Sunday, November 28, 2004



Domingo, 28 de novembro, 2004

   Rapidinhas

Falando no Furtado, esta foi a última entrevista que ele deu. Foi um cara batalhador, pena que suas teorias estivessem tão erradas.

E para alegrar o domingo, que tal saber que agora o PT está gastando nosso dinheiro montando um partido de esquerda no Haiti? (via Se Liga)

Como foi mesmo que o Heinlein disse? "Never underestimate the power of human stupidity."

Never.

Saturday, November 27, 2004



Sábado, 27 de novembro, 2004

   Lula e a minha teoria Furtadiana sobre o lixo

O Alexandre não gostou, mas venho aqui defender minha teoria desenvolvimentista da utilidade do lixo na sociedade brasileira. A idéia é a seguinte: o Presidente Lula estava nada mais nada menos promovendo o tão esperado crescimento econômico quando jogou um papel no chão na frente da imprensa.

Como você pergunta? Simples. Com o aumento da quantidade de lixo nas ruas, o governo tem a responsabilidade de contratar mais lixeiros. Como se sabe, os lixeiros são trabalhadores que vem da classe mais pobre, e quem produz mais lixo é a classe alta (aqui o conceito do “mimetismo cultural” de Furtado se mostra claro). Logo, a mensagem do Presidente é clara: Ricos (e o presidente reconhece seu novo status social) devem ajudar os pobres jogando lixo nas ruas.

Lógico que a reconstrução social não acaba ai. Os impostos de coleta de lixo (implementados pela inovadora Marta) são a consequência natural dessa reengenharia social através do lixo. Com essa taxa, o governo assume o lixo como legítimo meio de redistribuição de riqueza, e assume a dimensão histórica do papel do lixo nas sociedades subdesenvolvidas. Nunca aceitaremos a exportação do nosso lixo. A indústria do lixo precisa ser defendida e expandida pelo governo.

Ouvi dizer que o Lula ia propor na ONU uma taxa mundial sobre o lixo. Ou mesmo a exportação de lixo dos países ricos para os pobres.

Enfim, o gesto do Presidente foi claro e simbólico. Só não entende quem não quer.

Thursday, November 25, 2004



Quinta, 25 de novembro, 2004

   Give Thanks for Immigrants

Interessante como os imigrantes aqui adotam o thanksgiving, talvez o feriado mais 'local' dos americanos.

O que me parece é que, Pilgrims à parte, o atual thanksginving é mais um dia de celebração individual do que um ritual patriota como o 4th of July. É o dia que, independente da ideologia política, religião, raça, ou o que for, se pode comemorar a sorte de se ter uma vida melhor, mais liberdade, mais possibilidades para os seus filhos, mais controle do seu futuro. Enfim, ser parte do 'American Dream', que pode soar corny, mas é bem real.

Happy thanksgiving!

Wednesday, November 24, 2004



Quarta, 24 de novembro, 2004

   Reorg

Dei uma reorganizada nos links e no visual. Tentei deixar poucos links, senão vira zona. Sorry para o pessoal que saiu, mas é bom variar. Quem tiver alguma dica, é só mandar.

Tuesday, November 23, 2004



Terça, 23 de novembro, 2004

   Maps, maps, cool maps

Black Demographics

Hispanic Demographics

Asian Demographics

White Demographics

Monday, November 22, 2004



Segunda, 22 de novembro, 2004

   30 de Janeiro

Eleições no Iraque: 30 de janeiro. Quem viver verá (no kidding).

Será a paz do Norte e Sul vindo para o triângulo, ou o oposto?

Será finalmente a hora em que aumentarão o número de tropas ou o começo da retirada?

Se quem conhece a área está confuso, imagine nós pseudo-pundits.

Na dúvida, continuo acreditando. Ou como descreve o Friedman:

"Readers regularly ask me when I will throw in the towel on Iraq. I will be guided by the U.S. Army and Marine grunts on the ground. They see Iraq close up. Most of those you talk to are so uncynical - so convinced that we are doing good and doing right, even though they too are unsure it will work. When a majority of those grunts tell us that they are no longer willing to risk their lives to go out and fix the sewers in Sadr City or teach democracy at a local school, then you can stick a fork in this one. But so far, we ain't there yet. The troops are still pretty positive."

Friday, November 19, 2004



Sexta, 19 de novembro, 2004

   Divórcio no Chile

Maria Victoria Torres, 48, se tornou a primeira mulher a se divorciar oficialmente no Chile ontem. A nova lei obriga um periodo de "espera" de 3 anos caso um dos envolvidos não aceite o divórcio, e susbtitui uma lei que vigorava desde 1884.

Wow. E pensar que se discute o casamento gay nos EUA como se fosse algo obviamente aceitável e natural no mundo atual.

Lógico que eu compreendo o papel dos EUA como exemplo, etc, etc, mas fico aqui pensando se as vezes as pessoas não se esquecem da verdadeira realidade pelo mundo.

Infelizmente, se espera muito de poucos, e pouco de muitos.



Sexta, 19 de novembro, 2004

   Diversidade

Como bem lembra o Andrew Sullivan, se fosse um Presidente democrata que tivesse promovido uma mulher negra a um posto tão importante, todos estariam celebrando como os democratas são abertos e inclusivos.

O mesmo se aplica ao Alberto Gonzalez, que será o primeiro descendente de mexicanos a chegar num cargo tão alto.

E depois ainda dizem que os Republicanos que são bons de propaganda...

Thursday, November 18, 2004



Quinta, 18 de novembro, 2004

   Here they go again

Ah, nada melhor do que uma manchete inventada do UOL para animar um dia cinzento de inverno.

"Pior da religião deve contaminar política dos EUA"

Título original do NYT:
"Slapping the Other Cheek"

Pelo menos dessa vez eles não inverteram o sentido do original... Somente inventaram uma versão do que é, na opinião deles, o espirito do artigo.

Consigo até imaginar o tradutor lá, sentadinho e pensando "Ah, a brasileirada não vai entender um título subjetivo como esse... Deixa eu melhorar essa coisa!"

E o mais engraçado (ou triste, dependendo do ponto de vista) é que tem gente que não liga. Gente que não entende inglês, e que mesmo assim não se importa que os tradutores estão mentindo!

No kidding.

No fim das contas, faz sentido. Não é possível que eu seja o único a perceber essas mentiras. A conclusão lógica é que o UOL não faria isso se a maioria dos brasileiros realmente se importassem. As pessoas acreditam que os EUA são basicamente ruins e qualquer confirmação disso, verdadeira ou não, é bem recebida.

E nesse caso, o UOL está somente cumprindo seu papel.

Monday, November 15, 2004



Segunda, 15 de novembro, 2004

   Ayn Rand for kids

Como diz a review do NY Times: "At last, a computer-animated family picture worth arguing with, and about!"

Realmente esse "The Incredibles" foi uma surpresa. Uma ótima caricatura dessa sociedade politicamente correta em que vivemos. Imperdível.

"If everyone's special, nobody is."

Friday, November 12, 2004



Sexta, 12 de novembro, 2004

   It's the war, stupid!

John Hood, Presidente da John Locke Foundation, disseca no seu artigo para a Reason as diferenças entre as pesquisas de boca de urna de 2000 e 2004, e mostra que se realmente houve um assunto em particular que ajudou Bush foi a política internacional. Segundo ele:

"In 2000, only 12 percent said that "foreign affairs" was the most important issue in the presidential race, and they broke 54 percent to 40 percent for Bush over Gore. In 2004, a combined 34 percent identified foreign policy (either Iraq or the war on terrorism) as the most important, and they appear to have broken for Bush by 59 percent to 40 percent. Put it all together, and the increase in salience and small increase in Bush preference for foreign policy constitutes a gain of 13.5 percentage points in the Bush vote in 2004."

É bom lembrar que a pesquisa de boca de urna é o único fato que teoricamente suporta o argumento do tal "voto religioso/moral". Todas as pesquisas durante a campanha apontavam para o Iraque como fator decisivo, e não é atoa que Kerry passou suas duas últimas semanas batendo no assunto.

Pior ainda, essa pesquisa de boca de urna de 2004 foi muito mal formulada. Como explica Charles Krauthammer:

"The way the question was set up, moral values was sure to be ranked disproportionately high. Why? Because it was a multiple-choice question and moral values cover a group of issues, while all the other choices were individual issues. Chop up the alternatives finely enough, and moral values is sure to get a bare plurality over the others.

Look at the choices: education 4%, taxes 5%, health care 8%, Iraq 15%, terrorism 19%, economy and jobs, 20%, moral values 22%. "Moral values" encompasses abortion, gay marriage, Hollywood's influence, the general coarsening of the culture and, for some, the morality of pre-emptive war.

The way to logically pit this class of issues against the others would be to pit it against other classes: "war issues" or "foreign policy issues" and "economic issues."

If you pit group against group, moral values comes in dead last: war issues at 34%, economic issues at 33% and moral values at 22%."


Quer dizer, os dados estão ai para serem analisados. Se alguem achar algo que prove o contrário, por favor me mande.

Mas não usem os 'tradutores' do UOL. Please.

Thursday, November 11, 2004



Quinta, 11 de novembro, 2004

   Episódio 3: A revolta das marmotas

Invenção de hoje no UOL:
"Fallujah prova que os EUA fracassam no Iraque"

Título original da matéria do NY Times:
"'Groundhog Day' in Iraq"

Para quem não sabe, Groundhog Day é uma tradição americana aonde uma marmota (chamada 'Phil') faz uma 'previsão' se o inverno vai ser curto ou longo. É também o nome de um filme com o Bill Murray (traduzido como 'Feitiço do Tempo' eu acho) aonde ele fica preso no Groundhog Day até achar um sentido para vida dele. Parece que o Friedman se refere justamente ao filme, já que ele acaba o artigo dizendo "This time, let no one claim victory, or defeat, in Iraq until we have the answers to these six questions."

Enfim, a manipulação continua. Nenhuma novidade.

Wednesday, November 10, 2004



Quarta, 10 de novembro, 2004

   Parece brincadeira

Continuando a série "realidade alternativa":

Manchete de hoje no UOL:
"Crescem teorias de que fraudes reelegeram Bush"

Manchete original do mesmo artigo no Boston Globe:
"Internet buzz on vote fraud is dismissed"

A minha pergunta é a seguinte: como é que isso é permitido? Será que não existe algum tipo de lei que proíba esse tipo de desonestidade com os leitores? Fraude? Copyright? Something??

Eu sei que já devia ter me acustumado, mas não tem jeito. É revoltante.

Tuesday, November 09, 2004



Terça, 9 de novembro, 2004

   A verdadeira terra da ignorância

Como diz um Professor conhecido meu, "Facts are facts. Perception is reality."

Quando eu digo aos meus amigos brasileiros que não é possível se informar sobre os EUA pela imprensa brasileira muitos acham que eu estou exagerando.

Mais um exemplo para provar meu ponto:

Na primeira página do UOL, uma das manchetes diz "Bush venceu devido à ignorância dos americanos". O link é para um editorial do NY Times. Achei meio estranho e fui procurar o artigo no site original. O título em ingles é: "Voting Without the Facts".

Porquê isso? O resto do texto parece traduzido normalmente, então porquê eles inventaram esse título que simplesmente não tem nada a ver com o original?

Simplesmente porquê o conteúdo do NY Times no UOL é pago. A maioria das pessoas vão ver a manchete, ver que a matéria é do NY Times (o que passa credibilidade) e pronto. Perception has become reality my friend. E tudo isso no maior site da América Latina.

O brasileiro simplesmente não tem opção. Os americanos que leram esse texto no site do NY Times (que aliás é de graça), tem alí mesmo na página de editoriais algumas opiniões opostas. Apesar do bias do Times, o leitor tem pelo menos a chance de formar sua própria opinião.

Qual é o contraponto que o brasileiro recebe? Isso aqui???

É por essas e outras que não é possível ser realmente informado atualmente sem saber pelo menos ler inglês. É a unica saída. And that's a fact.

Monday, November 08, 2004



Segunda, 8 de novembro, 2004

   O fator decisivo

Passada a revolta inicial pela derrota do Kerry, a imprensa vai aos poucos maneirando o discurso e a realmente procurar os motivos da vitória do Bush.

Certos fatos parecem claros:
-A porcentagem de votos "morais" de agora foi praticamente a mesma de 2000.
-A economia está quase que completamente recuperada, e o resultado de Ohio (um dos mais atingidos pela crise de 2001) mostra que não foi um fator maior.
-As diferenças ideológicas entre os candidatos são exatamente as mesmas.

O que parece mais evidente é que a guerra ao terrorismo, apesar de não ser o único, foi o fator mais decisivo. Nada mais lógico. Comparando a situação de 2000 com a atual, é a maior mudança.

Toda essa polêmica sobre casamento gay é quase que uma tempestade artificial. O próprio Kerry se dizia contra, e a grande maioria da opinião pública é contra. Tanto que o Oregon, que votou democrata, passou a emenda que define casamento como sendo a união de um homem e uma mulher.

Enfim, toda essa história de que o voto moral ganhou a eleição é puro marketing. Para os democratas, admitir que foram vencidos por algo tão vago (e irracional para muitos) como a religião é muito mais nobre do que admitir a derrota na luta contra o terrorismo. E no mais, esse discurso de que "a direita religiosa" é a culpada encaixa melhor no movimento Anti-Bush que comecou em 2000 com a confusão na Flórida.

Pessoalmente, acho que os democratas continuam errando. Todos esses ataques contra o Bush criaram um backlash que no fim das contas prejudicou ainda mais o Kerry. Até acredito que internamente eles entendam tudo isso, mas preferem espalhar para o povão a teoria de que o Bush é o culpado pelos problemas do mundo. Como bem mostra esse texto, (via LLL, num breve momento de pausa na sua estranha cruzada pró-Kerry), acho que o tiro pode sair pela culatra. De novo.

Friday, November 05, 2004



Sexta, 5 de novembro, 2004

   Impostos nos EUA

Estudar a história do sistema de impostos é uma ótima maneira de compreender a evolução dos EUA. Desde as raízes do capitalismo e livre iniciativa, passando pelo dueto guerra/impostos, até os dias de hoje aonde o governo alterna entre grande e enorme, fica claro que a intenção dos "founding fathers" nunca foi essa sociedade atual. Como bem descreveu Thomas Jefferson:

"To take from one, because it is thought his own industry and that of his father has acquired too much, in order to spare to others who (or whose fathers) have not exercised equal industry and skill, is to violate arbitrarily the first principle of association, to guarantee to everyone a free exercise of his industry and the fruits acquired by it."

Até 1913 o governo federal não cobrava impostos sobre salários (com pequenos períodos de exceção). Tudo mudou depois da Primeira Guerra mundial, e principalmente depois da crise de 1929. Esse período, de aumento de programas socias (e consequentemente de impostos) é também o período de estagnação econômica e fortes crises, como o ápice na década de 70.

A tendência virou para o outro lado com o governo Reagan, e ganhou novo impulso com Bush. Os ganhos econômicos dessa época, principalmente quando comparados com os outros países ricos, é um dos maiores motivos da subida dos Republicanos ao poder.

Uma das propostas do atual presidente é efetivar permanentemente os cortes de impostos dos últimos 4 anos. Outra é simplificar o código de impostos, que com o tempo se transformou num emaranhado de tecnicalidades e buracos.

Para que tudo isso funcione, é preciso também que os gastos sejam cortados. Essa é a parte mais difícil. Financiar o governo com deficits é totalmente inviável.

Mas cortar gastos significa menos poder para o governo federal, e convencer alguém que tem poder a abdicar o mesmo é o maior desafio de qualquer governo democrático.

O governo Bush fez bem uma metade do trabalho, mas foi péssimo na outra. É esperar que agora as coisas melhorem. Pelo menos existe uma chance. Se o Kerry tivesse sido eleito, nem isso teríamos.

Thursday, November 04, 2004



Quinta, 4 de novembro, 2004

   Sobre a divisão dos votos

Toda essa discussão sobre estados azuis e vermelhos desvia a atenção do fato de que quase todos os estados tiveram resultados equilibrados. Isso significa milhões de republicanos nos estados azuis, e milhões de democratas nos estados vermelhos.

Por exemplo:
New York teve 40% de votos Republicanos (2.7 milhões de votos)
California teve 44%(!) de votos Republicanos (4.4 milhões de votos)
Illinois teve 45% de votos Republicanos (2.3 milhões de votos)

E do outro lado:
Texas teve 38% de votos Democratas (2.8 milhões de votos)
Carolina do Norte teve 43% de votos Democratas (1.5 milhões de votos)
Virginia teve 45% de votos Democratas (1.4 milhões de votos)
Tennessee teve 42% de votos Democratas (1 milhão de votos)

Claro que a falácia de que os inteligentes votaram de um lado e os ignorantes do outro pode ser aplicada de qualquer forma, mas os números mostram o quão ilógica é essa noção de que o grupinho do sul é de um jeito e o do norte é completamente o oposto.

Enfim, just another FYI.

Wednesday, November 03, 2004



Quinta, 4 de novembro, 2004

   Condescendência

William Saletan, da Slate, escreveu hoje que o segredo do sucesso do Bush é baseado na "simplicidade" (leia-se simplismo) da sua mensagem. Ele continua dizendo basicamente que Kerry perdeu porque é inteligente e eleborado demais, e que da próxima vez os democratas devem procurar alguem mais populista, como o Edwards, para combater os republicanos.

Achei uma bobagem a idéia toda e deixei para lá. Porém, logo depois descobri que o LLL e o David tinham embarcado na mesma onda.

Então vamos ver se eu entendi bem: Mais de 59 milhões de americanos, de todas idades, níveis sociais e econômicos, votaram somente em quem acham mais simplista, e/ou em quem segue os seus princípios religiosos, enquanto os outros 55.5 milhões votaram com inteligência e bom senso?

É o cúmulo do estereótipo. Pior, é um abuso de condescendência, claramente definida nesse argumento do Saletan de que os democratas precisam "dumb it down" para ganhar a próxima eleição. That's how those ignorant Republicans are doing it!

Oras, quer dizer que Clinton era um idiota simplista? E aonde estavam esses fanáticos religiosos, esse bloco político super-poderoso, quando esse mesmo malandro ganhou duas vezes seguidas?

Esse tipo de teoria panfletária de que os Republicanos (ou o "americano médio" como li por outros cantos) são os ignorantes-religiosos-rednecks realmente é pífia.

Primeiro, não vou discutir o valor dessa associação de religião com ignorância. Não sou religioso, mas sei o bastante para saber que não sei o bastante. Segundo, posso garantir pela minha experiência pessoal que essa divisão intelectual não existe. Eu moro num Estado vermelho. Muitas das pessoas mais brilhantes que já trabalharam comigo são republicanas, algumas religiosas, outras não. E mesmo eu não sendo Republicano de carteirinha, apoiei o Bush nas duas eleições. E posso ser muita coisa, mas burro eu não sou. Nem de longe.

E para quem não quer acreditar em mim, que tal dar uma olhada com calma no mapa eleitoral dos EUA? Será que esse mundo vermelho, que cobre mais de 70% do País mais rico e avançado do mundo, da Flórida ao Alaska, é somente um bando de atrasados que deu certo somente por causa dessa minoria esclarecida azul?

I don't think so.



Quarta, 3 de novembro, 2004

   Oh, the Humanity!

Quem sou eu para saber mais que todos pundits, advogados e especialistas metidos nessa nova confusão... Mas sinceramente, duvido que o resultado de Ohio, e consequentemente da eleição, seja mudado.

São mais de 120 mil votos de vantagem em Ohio, e mesmo que as cédulas temporárias sejam muito numerosas, a vantagem democrata teria que ser enorme (mais ou menos 75%) para que o resultado mudasse. E diferente da crença popular, esses votos não são geralmente democratas. Tendem a seguir a mesma proporção do resto do estado, com pequenas variações.

No fim das contas, Bush vai levar essa, e de uma maneira decisiva: 3.5 milhões de vantagem no voto popular, e com Ohio, New Mexico e Iowa, 290 votos no colégio eleitoral. Muito maior do que 2000. Na verdade, a maior semelhança entre 2000 e 2004 é o vencedor. Não temos nenhum estado com 500 votos de diferença dessa vez.

Aliás, Bush se tornou o presidente a receber o maior número de votos da história americana.

O mais interessante disso tudo é a atitude democrata. O mantra de que "todos votos devem ser contados" é usado como escudo para qualquer coisa. Como se a norma fosse contar somente votos republicanos. Toda aquela história de que um número maior de votos ajudaria os democratas dessa vez, ou de que os votos dos jovens faria a diferença, foi tudo pela janela.

Quem diria que existiam tantos republicanos entre os que não votavam? Oh, the Humanity!

Enfim, o carnaval continua. É so olhar as manchetes dos jornais para perceber o tom da imprensa: "Presidente Bush parece ter ganho. Mas continuamos procurando votos para mudar isso!"

Ouvi ontem que o Michael Moore tinha enviado centenas de empregados seus com câmeras para fiscalizar as urnas de Ohio. Podem esperar enormes documentários sobre como pobres sem documentos não puderam votar, como os computadores quebraram mais nas seções democratas, como Bin Laden deu uma festa para celebrar a vitória de Bush, etc.

Same old, same old.

Será que os Republicanos não fariam o mesmo? Não sei. Só sei que o povo já deu seu veredicto. Agora é só esperar.

Sunday, October 31, 2004



Domingo, 31 de outubro, 2004

   Previsão esportiva

Desde 1936, a tradição diz que quando os Redskins (time de futebol americano de Washington DC) ganham o seu último jogo em casa antes das eleições, o presidente buscando segundo termo vence. Quando os Redskins perdem, o desafiante vence.

Placar do jogo de hoje: Washington Redskins 14 x 28 Green Bay Packers.

Saturday, October 30, 2004



Sábado, 29 de outubro, 2004

   Jane Galt

É sempre bom achar um texto que diga o que você queria dizer.

Essa explicação da Jane Galt (do ótimo Asymmetrical Information) do porquê ela apoia o Bush bate quase 100% com os meus motivos. E serve bem para responder os comentários sobre o meu post anterior, especialmente sobre a economia e a guerra do Iraque.

Vale a pena conferir.

Friday, October 29, 2004



Sexta, 29 de outubro, 2004

   Economist apoia Kerry

A surpresa maior desse apoio da Economist ao Kerry (via no mínimo) não foi ao meu ver o fato de que a revista foi a favor da guerra e agora apoia um candidato que é inconsistente sobre o que se fazer com o Iraque (como bem explica o Michael Young).

A maior surpresa é que a Economist, diferente do que o nome leva a pensar, não levou a economia muito em conta.

Claro que existem muitos fatos contra o Bush na área econômica: Ele aumentou o tamanho do governo, fez pouco pelo aumento do free trade pelo mundo, e até mesmo brincou com uma medida protecionista aqui e ali.

Mas diante do que Kerry propõe, principalmente no campo internacional (o infame "level the playfield") eu acho que Bush não é somente a opção menos ruim: Ele é a única opção. A escolha do Edwards para vice não foi por acaso, e deveria deixar bem claro que Kerry não é nenhum Clinton.

Irônicamente, a Slate mostra um exemplo contrário a da Economist (via LLL). O economista Steven Landsburg, que se considera politicamente de esquerda, vai apoiar Bush. Nas palavras de Landsburg:

"If George Bush had chosen the racist David Duke as a running mate, I'd have voted against him, almost without regard to any other issue. Instead, John Kerry chose the xenophobe John Edwards as a running mate. I will therefore vote against John Kerry…

Duke thinks it's imperative to protect white jobs from black competition. Edwards thinks it's imperative to protect American jobs from foreign competition. There's not a dime's worth of moral difference there. While Duke would discriminate on the arbitrary basis of skin color, Edwards would discriminate on the arbitrary basis of birthplace. Either way, bigotry is bigotry, and appeals to base instincts should always be repudiated
."

Enfim, é preciso lembrar que apesar dos mil defeitos de Bush, Kerry não é automaticamente uma solução para os mesmos. Pode ser um daqueles casos em que o remédio acaba fazendo mais estragos que a doença original...

Monday, October 25, 2004



Segunda, 25 de outubro, 2004

   Minha previsão

Faltando uma semana para a eleição, aqui vai meu chute:

Bush vence no colégio eleitoral: 271 x 267. Ele ganha novamente na Flórida, mas dessa vez a surpresa será Iowa e Winsconsin indo para os Republicanos. Kerry levará Ohio e Pennsylvania. O voto popular será muito, muito próximo, mas dessa vez o Bush leva por uma pequena vantagem.

Para quem quiser dar uma de palpiteiro como eu, confira o 'Electoral Vote Tracker' do LA Times. Você pode mudar a cor dos Estados como bem entender, e ver quem vence nos diversos cenários. Com direito a musiquinha da vitória e tudo.

Façam suas apostas.

Wednesday, October 20, 2004



Quarta, 20 de outubro, 2004

   no mínimo e as eleições dos EUA

O no mínimo lançou esse blog especial das eleições americanas, e ficou bem legal.

O Pedro (autor do blog) anda partidário demais para o meu gosto, but hey, ele pode dizer exatamente o mesmo sobre mim. No fim das contas, as diferenças é que fazem o debate interessante, e apesar de estar altamente outnumbered eu ponho uma briga boa.

Não deixem de conferir.

Friday, October 15, 2004



Sexta, 15 de outubro, 2004

   Percepções e a realidade

Analisando resultados anteriores, o Gallup conclui nesse artigo que debates nem sempre influenciam as eleições.

Mas será que os resultados dos debates simplesmente não importam ou será que esses resultados não estão sendo compreendidos ou medidos corretamente?

Por exemplo, a pesquisa "relâmpago" feita pela CNN/USA Today/Gallup especificamente sobre quem venceu o terceiro debate deu vitória do Kerry por 52%/39%. Mas as pesquisas sobre intenção de voto feitas logo após o terceiro debate mostram o Bush subindo: a Zogby mostra o Bush subindo 4 pontos, o TIPP mostra o Bush subindo 3 pontos, e a ABC/Washington Post mostra empate, mas com Kerry perdendo um ponto.

A mesma situação ocorreu após o segundo debate, apesar da maioria das pesquisas sobre o debate mostrarem um empate.

Como é que um candidato pode ter ganho o debate e perdido intenções de voto?

O que eu acho é que a maneira que esses debates vem sendo analisados é ilusória. A importância desproporcional dada a retórica, aparência e estilo é uma criação da imprensa. Obviamente, a influência da imprensa é grande e as pesquisas tendem a julgar quem ganhou os debates baseado nessas premissas. Mas quando chega na hora de responder a simples questão "Em quem você vai votar", a maioria das pessoas simplesmente ignora tudo isso.

E é por isso que as pesquisas não batem. Os debates valem, e isso fica claro pela mudança nos números de intenção de voto. Mas o que não importa muito é a maneira como a imprensa insiste em julgar os resultados! O que acaba influenciando os eleitores são as propostas e idéias apresentadas no debate.

E é assim que as coisas devem ser, não é mesmo?