Sexta, 4 de março, 2005
Morde e assopra
Eu sei que o assunto é sério, mas não deixa de ser engraçado ler certas análises sobre a situação atual do Oriente Médio. Estou falando daquele pessoal que foi completamente contra a guerra, e que agora com as irrefutáveis mudanças que acontecem na região, está completamente confuso.
O Clóvis Rossi ontem e o Boris Fausto hoje são ótimos exemplos.
Vejam a confusão que fez o Clóvis Rossi:
"É óbvio que, sem a determinação norte-americana de depor Saddam Hussein e ameaçar fazer o mesmo com outros ditadores da região, muito dificilmente a "ordem congelada" teria começado o seu degelo.
É ruim que esses fatos, positivos, tenham vindo na esteira de uma ação ilegal como foi a ocupação do Iraque. Mas, já que vieram, é torcer para que os movimentos rumo à democracia se consolidem -e que não apenas se substituam os ditadores de plantão por governantes títeres dos Estados Unidos ou por ditadores que estavam na oposição e, só por isso, se faziam passar por democratas.
Volto ao paradoxo inicialmente citado: no Afeganistão, uma eleição que não chegou a atender padrões aceitáveis conferiu poder aos "chefes de guerra", que são talibãs sem fé no Islã, nada democráticos.
No Iraque, o caos gerado pela invasão norte-americana é tudo menos avanço rumo à democracia."
Entenderam? As invasões causaram todo esse rebuliço na região mas em sí não tem nada de democráticas! Essas outras reações aconteceram por... Mágica! Pura coincidência.
O Boris Fausto não fica atrás. Vejam só:
"Não há por que tomar as eleições iraquianas, pelo que já se ressaltou, como exemplo de êxito da implantação da democracia pela força das armas. O que não quer dizer que a simples realização de eleições não tenha representado um trunfo ideológico do governo americano junto à cidadania interna e, até certo ponto, junto aos países europeus.
Já nos casos da Palestina e do Egito, em que o pragmatismo incide em maior dose do que no Iraque, é significativo o papel das pressões do governo Bush, seja sobre Israel, para permitir condições mínimas de realização das eleições após a morte de Arafat, seja no sentido da abertura do regime egípcio. Não por acaso, o anúncio de Mubarak seguiu-se a uma recusa da secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, em ir ao Egito, após a prisão de um jornalista adversário do governo."
Quer dizer entao que as eleições iraquianas foram um "trunfo ideológico junto à cidadania interna e, até certo ponto, junto aos países europeus"??? Novamente, a reação na região foi por pura coincidência!!! Must be some kind of magic, magic! Esses bobões no Oriente Médio entenderam tudo errado... Foram inspirados por algo que não existe!
Aliás, esse texto do Boris Fausto é um exercício de morde e assopra. Ele acha que a grande participação popular no Iraque foi boa, pero no mucho. Ele acha que o Egito dá sinais de democratização, mas pode ser armação. Que os Palestinos sempre quiseram a democracia, mas que pode dar tudo para trás.
Dar o braço a torcer não é fácil.
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