Sunday, June 05, 2005


Domingo, 5 de junho, 2005

Loucura

Essa foi uma dica do medialunas, um blog bem legal de um paulistano em Buenos Aires.

Coluna Análise do dia do Joelmir Beting:

" RECARGA NA OVERDOSE

E saiu a nova Selic: 19,75% ao ano. Trata-se da nova recarga da overdose. Overdose? Anote aí: a taxa real, descontada a inflação, está agora em 13,3% - versus 6,6% na Turquia, o segundo lugar. Ou versus 5,1% negativa, aqui ao lado, na Argentina.

A maior do mundo? Brasil! A menor do mundo? Argentina! A selic global está na média de apenas 1,2%. A dos 30 países mais desenvolvidos, 0,6% na média. A dos 30 maiores emergentes, sem o Brasil, 1,8%. Aqui, 13,3%.

Mais uma vez, o José Maria de Jesus, meu taxista favorito, acaba de me questionar pelo retrovisor: "Ué, se é assim, um dos dois deve estar com o juro errado: ou o brasil ou o mundo..."

Claro, só pode ser o mundo.


E A CULPA?
Mais uma vez está todo mundo discutindo os juros na base, esquecendo-se do problema maior, o dos juros na ponta.

Sim, na ponta do crédito bancário para produção e consumo. Vamos continuar pagando no Brasil até 67% ao ano para produzir e, em média, 144% ao ano para consumir.

Pior, a classe média paga, agora em maio, 156% no cheque especial e 218% no cartão de crédito. E a classe pobre, sem banco?

A classe pobre não tem banco, mas tem crédito. O crédito fácil das financeiras. E nas financeiras, ela está pagando, este mês, em média 275% ao ano. Em alguns casos, mais, até 500% ao ano. As financeiras não têm remorso - elas lavam as mãos, feito Pilatos, dizendo "A culpa é da Selic!"
"

Meio contraditório esse final, não acharam?

Primeiro diziam que a culpa de tudo era do FMI. Agora que "estamos livres", não pode mais ser, correto? Talvez seja culpa do capitalismo... Mas ai o Brasil tem que ser o unico pais capitalista do mundo. Ah, vamos então culpar os bancos e financeiras!

Até nossos bancos são especiais pelo jeito.

6 comments:

Delance said...

Essa taxa das financeiras é uma vergonha mesmo. Mas o que permite isso é o governo que gasta mais do que pode e tira todos os juros do mercado, e da morosidade judicial em cobrar dívidas.

Nao que as financeiras reclamem, e ainda lavam as mãos. A culpa é do Brasil mesmo. Belo artigo.

Anonymous said...

Paulo,

Nos anos 80 um grupelho de "economistas" heterodoxos teceu um bocado de teorias com base no principio de que no Brasil, as coisas seriam um pouquinho diferentes do resto do mundo. Mas esse costume não vem de hoje. A cavalgadura do Furtado já dizia mais ou menos isso nos anos 30.

Anonymous said...

A imprensa brasileira parece sofrer da síndrome do Élio Gaspari: fica comparando juros em real com juros em dólar.

Onde é que esse povo estuda economia, pelo amor de deus?!

Anonymous said...

Eiweiss,

Não entendí. O que tem a ver os juros serem em dolar?

Anonymous said...

Marcelo,

Uma taxa de juros de 3% ao ano em Dólar só pode ser comparada com taxas de juros durante o mesmo período e na mesma unidade de medida, ou seja, o Dólar.

Uma taxa de juros de 20% ao ano em Reais precisa ser convertida ao Dólar depois de um ano, para, então, ser comparada com a taxa de 3% ao ano em Dólar.

Além disso, não se pode dizer que a taxa de juros no Brasil é quase 7 vezes maior que nos EUA, sem olhar para as taxas de inflação em ambos os países. A inflação maior no Brasil corrói o poder de compra do Real de forma mais profunda que o poder de compra do Dólar é corroído pela inflação nos EUA.

Outro aspecto é a desvalorização esperada de uma moeda com relação à outra ao longo do ano em questão. Pode-se até dizer que nos últimos doze meses a taxa de juros no Brasil ficou muito acima da americana. Mais só se aproveitou disso o investidor ousado o suficiente para tirar o seu rico dinheirinho de um país como os EUA, onde o risco de confisco é zero, e por esse dinheiro em um certo país latino-americano, cujos políticos adoram falar em calote e cujo principal vizinho acabou de dar um calotão.

Mesmo se for ignorada a possibilidade de calote, é muito arriscado investir no Brasil. Quem investiu no Brasil no finalzinho de 1998 ou início de 1999, por exemplo, recebeu uma remuneração de uma taxa de juros de mais de 25% ao ano em Real na época. No mesmo momento a taxa de juros nos EUA estava em torno de 5%, muito menor que a brasileira portanto. Entretanto quem perdeu dinheiro foi quem investiu no Brasil por causa da desvalorização do Real com relação ao Dólar em janeiro de 1999.

Espero ter deixado claro o absurdo que é comparar duas taxas de juros em moedas diferentes sem que se levem em consideração outros aspectos.

Abraços,

Anonymous said...

O que é que aconteceu com o Joelmir? O Bradesco parou de pagar?