Friday, December 09, 2005

Esquerda vs Direita - Again

Essa discussão lá no SSB foi animada, mas talvez por causa da empolgação, o pessoal estava comparando apples and oranges a cada 2 frases. Aqui vão meus two cents:

Primeiro de tudo, é totalmente necessário se separar os três âmbitos em discussão: forma de governo, doutrina econômica e politica social.

Economicamente, o espectro de opções vai de comunismo (aonde o governo controla todos os aspectos) ao "laissez-faire puro", aonde o governo não tem envolvimento nenhum. Atualmente, todas as economias do mundo estão entre um extremo e o outro. Além disso, o intervencionismo estatal também pode ser classificado em níveis. O primeiro é o dos impostos, taxas e tarifas. Depois temos as intervenções diretas na produção privada, como as diversas formas de subsídio, quotas, banco central, controle de preços, etc. Por último, temos a estatização da produção, que é a mais grave. Quanto mais empresas estatais (em proporção ao PIB), mais perto do comunismo. Claro que essas regras são subjetivas. Os dois mais famosos índices de liberdade econômica (Heritage Foundation e Fraser Institute) são dois exemplos de modelos diferentes.

No lado social, as opções vão de libertários aos tradicionalistas. Os tradicionalistas sendo aqueles que pregam o respeito e obediência as regras morais pré-estabelecidas, enquanto os libertários são os que pregam a dissolução (ou mudança drástica) das mesmas.

Sobre a forma de governo, temos em um extremo a anarquia (nenhum governo) e do outro lado o totalitarismo (ou governo total).

Todas as diversas opções desses três grupos podem se misturar. Podemos ter uma ditadura tradicionalista comunista, uma democracia libertária socialista, uma monarquia conservadora capitalista, etc.

Na teoria, economias que se aproximam do comunismo promovem governos autoritários. Primeiro porque para controlar a atividade econômica é preciso de muita gente, o que cria mais incentivos para corrupção, abusos de poder, e consequentemente a manutenção do poder na base da força. Segundo, porque quando o governo se envolve na produção, os mecanismos de competição não funcionam como deveriam e a tendência é que quem está no poder tenha mais chances de se manter no topo a todo custo.

Porém, certos níveis de autoritarismo convivem temporariamente bem com sistemas capitalistas. O Chile é o exemplo mais famoso. Mas no geral, os governos autoritários que permanceram no poder por longos períodos tendem a intervir fortemente na economia.

Na área social, muitos defendem a tese de que abertura econômica leva a abertura social. Outros dizem que "equalização" econômica (socialização) leva a maior abertura social. Na prática, nenhum dos dois casos sempre acontece. Os países comunistas tinham (os que sobraram ainda tem) péssimo histórico de direitos humanos. Entretanto, alguns paises que abriram suas economias recentemente (China é o maior exemplo) ainda não tiveram melhora significativa nos direitos sociais.

Só mais algumas oservações sobre ditaduras: O Nazismo e Fascismo juntavam elementos de direita e esquerda. Eles se aliaram a iniciativa privada, mas aumentaram a influência do governo em diversos aspectos. Somente certas empresas privadas (com influência no governo) prosperavam, e muitos argumentam que essa situação se tornaria insustentável a longo prazo. O governo controlava aspectos financeiros, principalmente alocação de crédito. Além disso, ao mesmo tempo em que eles eliminaram os sindicatos privados, construiram um gigantesco sindicato estatal. Ao mesmo tempo em que não estatizaram empresas privadas (só as que pertenciam aos judeus), construiram gigantes como a Volkswagen.

Mesmo nos aspectos sociais, os nazistas e fascista misturavam conceitos de direita e esquerda. Todo o aspecto racial e militarista pode ser ligado ao tradicionalismo europeu, enquanto os idéias de aumento de renda da camada mais pobre e harmonização das crises globais (os nazistas achavam que a crise de 29 foi arquitetada pelos judeus) eram ligadas (mesmo que por vias tortas) aos progressistas da época.

A ditadura do Brasil segue mais ou menos o mesmo caminho. Foi criada para evitar um possível golpe comunista, mas passou longe de implantar qualquer sistema capitalista liberal. As reservas de mercado, restrições trabalhistas, aumento do número de funcionários públicos, eram todas medidas identificadas com a esquerda.

Enfim, acho bobagem tentar enquadrar sistemas totalitários com uma ideologia (com a possível e discutível exceção dos golpes comunistas do começo do século XX). Toda ditadura, por mais poderosa que seja, é mais refém do seu povo do que qualquer democracia. Numa democracia tudo que seu partido precisa é da maioria. Numa ditadura, a minoria pode criar muito mais problemas. Esses governos tendem a ser extremamente populistas, e dai vem essa mistureba de medidas.

Ditaduras sempre acabam. E por bem ou por mal, nunca tivemos tão poucas como atualmente, o que torna essa discussão um tanto ultrapassada.

8 comments:

Anonymous said...

brilhante

alex castro

Anonymous said...

ultrapassada só se a história não se repetir... bom texto.

[]s

Anonymous said...

Hi fyi, Out surfing for information on hyip & happened upon your site. While this post wasn't exactly spot on, it did strike a note with me. Thank you for the really good read.

Anonymous said...

Concordo com tudo que vc disse. Inclusive acho que a única forma de medir tudo que se passa, DE FATO, na cabeça das pessoas e governos é ver o que pensam separadamente sobre economia e liberdades individuais e o que isso vai resultar na prática. Afinal, idéias em essência divergentes, acabam coexistindo no mundo real. Gente muito liberal num aspecto é muito conservadora em outro, e vice-versa.

Agora, meu ponto é outro, mais filosófico talvez. Partindo da premissa que falta de liberdade, seja econômica ou individual é característica de uma opção pelo coletivismo (supressão de liberdades em nome de uma idéia de bem comum). E que, ao contrário, liberdade tanto econômica, quanto individual é característica de uma opção pelo indivíduo (sem que isso signifique necessáriamente que o bem comum foi pras cucuias).

Penso que o autoritarismo está intrinsecamente ligado à esquerda devido a necessidade de impor uma visão de bem comum (coletivismo). Já o liberalismo está intrinsecamente ligado a direita devido a opção pelo indivíduo.

Assim, na tentativa de definir pessoas como sendo apenas de direita ou esquerda, não há como não admitir que a autoridade puxa para a esquerda e a liberdade para a direita. Seja quando se fala de liberdades individuais ou economicas. Dessa forma acredito que exitem profundas incoerências no liberalismo de esquerda e no autoritarismo de direita. Que privilegiam um tipo de liberdade (econômica ou individual) sobre outra. Isso porque, em essência, não há como fazer uma fratura entre ambas.

Enfim, é uma questão mais filosófica mesmo... De coerência ideológica. Pois, na prática, falta de liberdade economica convive com liberdade individual e vice-versa. Convivência difícil e conflituosa, justamente pela incoerência filosófica, mas ocorre.

É mais ou menos por aí minha discução no post que fiz, só não sei se consegui ser claro nas colocações que fiz.

Agora, apesar da miscelania de posturas, tanto a ditadura brasileira como o nazismo, suprimiram tantas liberdades individuais e economicas, ao mesmo tempo, que não consigo classificá-los de outra coisa que não seja esquerda simplesmente, ou esquerda autoritária se usar o political compass. Essa é minha opinião.

Anonymous said...

viu, Paulo? foi só falar que já aparece um ultrapassado...

Cláudio said...

Uma ideologia pode não definir o sistema mas define claramente aqueles que o apóiam. Para não cairmos no confronto capitalismo vs. socialismo, vejamos o islamismo: é pouco provável que os líderes dos grandes movimentos terroristas acreditem no que pregam para os seus seguidores, mas é inegável que cada homem-bomba acredita cegamente na sua ideologia.

Eric Hoffer, em seu livro The True Believer, fez uma ótima análise de como as ideologias são fundamentais para fazer com que as massas se envolvam nos movimntos revolucionários.

Vamos a um exemplo local: é inegável que Lula e muitos no PT não acreditam em uma palavra da ideologia socialista, mas é inegável também que eles a utilizam muito bem para angariar simpatizantes que serão usado como buchas de canhão.

Ou seja, pode ser bobagem tentar enquadrar um sistema totalitário numa ideologia, mas acho igualmente perigoso descartá-la como um elemento catalizador.

Jorge Nobre said...

Para começar, questionemos a discussão (eu não fui ao blog linkado porque minha leitura de vários blogs é semanal e disso eu não abro mão, ainda não terminei as leituras de outubro): Porque o Nazismo e o Fascismo têm que ser de direita ou de esquerda?

Só vejo duas razões: 1) atribuir a uma facção ideológica a culpa por sistemas políticos impopulares; e 2) Analisar, depois de estudos sérios, os dois movimentos e suas origens, descobrir os elementos esquerdistas e conservadores em cada um e divulgar as conclusões, o que faz uma pessoa honesta.

Ora, aqui no Brasil eu praticamente só vejo preocupação com o primeiro motivo. Todos querem que o Nazismo seja da facção contraria como se tal mudasse alguma coisa na natureza do monstro! Como se fosse uma questão de classificação!

Cultura de botequim dá nisso.

Bem, falando sobre o assunto: Não há nada na atual política brasileira que possa conduzir ao Nazismo. Absolutamente nada. E quem diz o contrário é desonesto. A necessidade é de admitir, para começar, que "classificar o nazismo" não pode comprometer nenhuma facção ideológica no Brasil de hoje. Mas quem entra nesse tipo de discussão no Brasil de hoje (pelo menos nos blogs) quer simplesmente comprometer alguma facção ideologica do Brasil de hoje com o Nazismo! Quem entra nesse tipo de discussão, então, das duas uma: ou é ele próprio desonesto ou então é um bobo que discute com gente desonesta.

Ponto.

Jorge Nobre said...

"minha leitura de vários blogs é semanal e disso eu não abro mão, ainda não terminei as leituras de outubro"...

Ai ai ai!

o correto é "minha leitura de vários blogs é mensal e disso eu não abro mão, ainda não terminei as leituras de outubro".