Fukuyama, Kristol e eu
O debate sobre a guerra contra o terrorismo continua.
O Fukuyama escreve que os neoconservadores fizeram bobagem, que a guerra no Iraque basicamente foi um desastre e que a única solução para o fim do terrorismo é um lighter approach dos EUA, isto é, diplomacia internacional. Ele acha que os EUA não devem se isolar (i.e., continuem mandando dinheiro) mas devem parar de usar o exército como ferramenta de mudança.
O Kristol respondeu na mesma moeda, basicamente dizendo que os EUA tem que continuar na ofensiva, e que essa visão do Fukuyama que "democracias amadurecem sozinhas" é ingênua ao extremo.
Acho que os dois lados esquecem de analisar alguns fatores. Primeiro, o Fukuyama assume que o governo dos EUA trataram o Iraque como algum tipo de experimento para um plano militar maior. Nunca se sabe exatamente o que se passa na cabeça dos governantes e, se a invasão do Iraque tivesse sido muito fácil, não duvido que o incentivo para novas invasões seria maior. Porém, no contexto da época, o objetivo das guerras do Afeganistão e Iraque era muito mais tático do que estratégico. Os dois lados dão muito mais crédito ao governo Bush do que eu dou.
Outro problema da análise do Fukuyama é que ele dá a entender que a política atual é a regra e que a alternativa proposta seria a exceção. Na verdade, desde o fim da segunda guerra mundial, os EUA adotaram essa posição que ele propõe de soft power. Com a exceção do Vietnam, todas as outras guerras de 1950 a 2002 foram defensivas (Coréia) ou muito pequenas e rápidas (conflitos na América do Sul, Filipinas, etc). E também vale lembrar que a estratégia da época não era de intencionalmente apoiar ditadores. Era justamente fazer o que o Fukuyama diz ser o caminho certo, isto é, aceitar os governos em poder e formentar a democracia quando possível.
Os resultados dessa época não foram muito bons. E a forma em que a guerra fria foi ganha não foi somente uma desculpa para o movimento agressivo atual, foi também o maior exemplo de que aquela estratégia de soft power simplesmente não estava chegando à lugar nenhum.
Se o governo Bush é ingênuo como Fukuyama quer mostrar (toda vez que alguém cita um "plano secreto" para justificar uma teoria eu fico desconfiado) eu não sei. Mas inferir que o resultado atual mostra que a única solução é a volta ao passado me parece absurdo.
Já o Kristol não oferece muito, a não ser o velho discurso "stay the course". Até o Fukuyama concorda que atualmente não há muito o que se fazer, e daí já tiramos de lado todo esse bando de gente (esquerda desde sempre e extrema direita nos últimos meses) que querem simplesmente abandonar o Iraque como se fosse um experimento de ciências que deu errado.
Abandonar o Iraque seria um desastre por vários motivos. Porém, o maior deles é ignorado pelo Fukuyama, provavelmente porque vai contra uma das premissas que justificaria a volta à o velho lighter approach: A idéia de que os EUA são odiados por serem duros demais.
Na verdade, os EUA e o Ocidente no geral, são vistos como poderes fracos e corruptos pelos radicais islâmicos. Não se esqueçam que antes das 2 guerras, a possibilidade dos EUA perderem militarmente era considerada amplamente possível. Toda a idéia por trás de um império islâmico é baseada no conceito de que o Ocidente é um monstro barrigudo, que só não é derrotado porque os povos islâmicos não se unem.
Agora, se o Kristol acha que o Iraque pode ser considerado um modelo de como essa guerra contra o terrorismo tem que ser lutada, aí nós discordamos. Não acho que seja possível definir um "modelo" para esse conflito. Acho que diante das circunstâncias, o governo Bush agiu corretamente em 2002. Mas será que se o Irã continuar com seus planos nucleares a resposta Americana deveria ser a mesma?
Acho que não. Ironicamente, esse é um dos argumentos preferidos da esquerda: "Se atacaram o Iraque, então porque não atacam todos os ditadores?"
A resposta é óbvia, mas de alguma forma o argumento é considerado sério. Uma lógica maluca anode a força tem que ser a regra ou a exceção. O uso da força tem que ser uma alternativa. Não pode ser a última alternativa, como quer a esquerda (por vários motivos), e nem a primeira alternativa como querer alguns da extrema direita.
O último ponto que acho importante nessa discusão toda é o papel da democracia. Um dos argumentos do Fukuyama é que a democracia "promove o radicalismo".
Acho essa uma falácia tão absurda quanto a de que a democracia por si só promove o fim do radicalismo. A democracia somente expõe a situação, algo positivo na minha opinião.
O maior problema do radicalismo islâmico é justamente o seu aspecto informal. O nazismo pode ter sido terrível, mas foi derrotado de forma indiscutível. Enquanto o radicalismo islâmico se esconder por trás de "governos moderados" ele nunca será derrotado.
A subida ao poder desses radicais pode acabar em somente dois caminhos: Um deles é a decisão voluntária de se moderar, o que pode levar no curto prazo outros grupos radicais ao poder (caso da Palestina), mas que em algum ponto significaria a moderação da população no geral. O outro é a oficialização do radicalismo, que levaria ao caminho de sempre: punições da ONU, embargo e guerra.
Na minha opinião, essas duas opções são melhores do que a continuação do terrorismo atual.