Segunda, 17 de janeiro, 2005
Cultura e o Estado
Interessante essa discussão sobre cultura e o Estado iniciada por esse post do LLL.
Acho que existem dois lados a serem analisados: o econômico e o cultural.
O lado econômico é simples. Os que defendem o subsídio do cinema nacional acreditam que não teriamos a menor chance contra os filmes estrangeiros (leia-se americanos). Acham que o poder financeiro de Hollywood criou um monopólio que consegue, de alguma maneira, forçar os mercados a consumirem seus produtos.
A primeira prova de que essa idéia é um absurdo esta no próprio mercado americano. Todo ano filmes independentes fazem sucesso. Muitas vezes são filmes quase que caseiros, como Blair Witch, Supersize Me, e até mesmo os primeiros do Michael Moore.
Segundo, a noção de que Hollywood só chegou do tamanho atual baseado no poder econômico dos EUA é comprovadamente falsa. O mercado americano é tão rico quanto o Europeu, e os europeus produzem muito menos filmes, e na maioria dos casos com subsídio estatal. E assumindo que a Europa fosse a exceção, teríamos então que ter filmes japoneses e chineses por todo lado. Além disso, não seria possível que países como a Índia conseguissem produzir cinema privado.
Na minha opinião, o cinema americano domina simplesmente porque é eficiente.
Pior, as evidências mostram que os subsídios estatais são na verdade parte do problema e não da solução. Além desse dinheiro deixar de ser investido em outras áreas (e não importa que o dinheiro venha de descontos nos impostos das empresas, já que esses mesmos descontos poderiam ser usados para outras funções), esse tipo de incentivo acaba criando outras distorções negativas. Os critérios para que um filme A seja produzido ao invés do B nunca são claros, e quase nunca baseados em alguma forma eficiente de competição. Filmes que não deveriam nem ter sido feitos podem acabar 'roubando' os clientes que poderiam viabilizar o desenvolvimento de um cinema auto-sustentável, criando uma barreira ainda maior para que outros filmes sejam financiados pelo mercado.
E Hollywood agradece.
A segunda parte da questao é mais complicada.
Segundo o Houaiss, cultura é o "conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes etc. que distinguem um grupo social".
A minha pergunta então é: Exatamente como o cinema brasileiro ajuda a cultura brasileira? Seria o cinema no geral um formador da cultura ou simplesmente uma reflexão da mesma?
Se o povo brasileiro estivesse realmente querendo filmes brasileiros, que mostrassem aspectos específicos do nosso país, nossos padrões sociais ou preferências locais, os mesmos se pagariam. Nesse caso, o subsídio seria ultimamente desnecessário, e na melhor das hipóteses uma solução temporária, quem sabe para suprir uma falta crônica de financiamento. Esse não parece ser o caso.
Então como justificar o subsídio de um produto que o povo brasileiro mostra simplesmente não estar interessado? A resposta que eu encontro é: nacionalismo.
Vários governos (brasileiro incluso) acham necessário reverter o fato de que a cultura americana se espalhou pelo mundo. Esse pessoal acha que produzir filmes nacionais vai de alguma forma tornar o brasileiro mais brasileiro. Na verdade, é mais uma manifestação da velha teoria de que o Estado sabe mais sobre o que o povo quer e precisa do que o próprio povo. O brasileiro precisa de filmes brasileiros, mas tadinho, precisa de um tempinho para compreender as coisas.
E como sempre, não vai parar por ai. A Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav) está a caminho. Preparem seus bolsos.
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