Quinta, 10 de fevereiro, 2005
Imigração e patriotismo
Imigração. Poucos assuntos são tão mal entendidos e tão facilmente manipulados. É um dos poucos temas em que grande parte da esquerda e direita concordam: São todos contra.
Sinceramente eu não entendo tanta desinformação. As vantagens econômicas da imigração já foram explicadas detalhadamente pelos melhores da área. Von Mises publicou em 1922 um dos melhores textos no assunto. Antes dele, em 1848, John Stuart Mill já explicava o assunto e dizia que "The exportation of labourers and capital from a place where their productive power is less to a place where it is greater, increases by so much the aggregate produce of the labour and capital of the world."
Eu até entendo porquê os governos não gostem da idéia. Afinal, o Estado é totalmente dependente dos cidadãos. Uma das piores coisas que podem acontecer é o numero de contribuintes diminuir.
O que eu não entendo é como cada indivíduo não percebe o poder que tem nas suas mãos. Ou melhor, nos seus pés. Novamente, o pessoal da escola austríaca já tinha pensado em tudo isso e até mesmo usavam o termo "votar com os pés".
Quando eu decidi me mudar do Brasil, fui "acusado" de tudo: traidor, ingrato, anti-brasileiro, e até mesmo de não gostar de meus familiares e amigos.
Ninguém, ou muito poucos, entenderam que o culpado dessa mudança não era eu, e sim o Brasil!
Oras, ser imigrante não é nem um pouco fácil. É uma adaptação brutal. Toda essa lenda de que depois de alguns meses você aprende o idioma e a cultura e tudo vira automático é um absurdo. Eu já tinha um conhecimento razoável de inglês, e mesmo tendo facilidade para pronúncia, demorei anos para me sentir totalmente confortável antes de abrir minha boca para o que quer que fosse.
Junte a isso todas as outras mudanças, de comida ao frio, e você entenderá porquê tantas pessoas acabam voltando antes de completar um ano fora. Só quem passou por isso sabe o quão difícil é.
O fato de que as pessoas se sujeitam a tudo isso, e continuam imigrando, deveria ser a maior prova de incompetência de certos governos, em inúmeros níveis.
Fica fácil entender os imigrantes mexicanos que não tinham opção nenhuma de emprego, ou os cubanos que sofriam nas mãos do Fidel. Mas e os cientistas indianos? E os atores canadenses? E os analistas de sistemas brasileiros?
Economicamente, eu provavelmente teria uma vida confortável no Brasil. O meu gerente, um indiano, também não mudou por dinheiro. Segurança, estabilidade, maior número de oportunidades, maior controle sobre sua vida, e até liberdade de expressão, tudo isso faz cada vez mais diferença nesse tipo de decisão.
Eu tenho amigos que tem todas possibilidades e motivos para se mudar do Brasil, e preferem ficar simplesmente porque acham que é a coisa 'nobre' a ser feita. Esses são os mesmos que duvidam quando eu digo que se um dia as coisas mudarem nos EUA, e aqui não for mais um lugar que proporcione a vida que eu procuro, I'm out.
Como diz o Alexandre, o patriotismo realmente é uma prisão.
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