Sunday, February 13, 2005



Segunda, 14 de fevereiro, 2005

Prisão patriotismo???

Discussões online nunca acabam bem. Quando é por meio de posts então, a coisa só pode acabar em bate boca.

Dito isso, assumo minha teimosia e vou adicionar mais um capítulo a essa pequena polêmica.

Na verdade, vou falar sobre algo citado nesse post do Alexandre mas não exatamente sobre o ponto original da disputa. Primeiro, porquê acho que as diferenças entre as nossas opiniões nem são tão grandes, e foram exageradas sabe-se lá porquê. Segundo, acho que discutir se os Russos lutaram ou não pelo comunismo muito pouco relevante e interessante.

Muito mais interessante é a afirmação que o Alexandre fez mais adiante (grifos meus):
"Agora, quando o país está na defesa, ideologias e governos pouco importam." ... "Ocasionalmente acontece de grupos políticos marginalizados se unirem ao invasor, mas posso imaginar poucas opções mais canalhas." ... "Não existe exército invasor bonzinho, nem mesmo os mais bem-intencionados." ... "A decisão é difícil mas, numa situação dessas, a melhor coisa que você pode fazer é ou defender o regime, mesmo discordando dele, e depois vocês continuam a discussão política, ou então se exilar, observar a tragédia de longe e voltar depois pra ajudar na reconstrução."

Com todo o respeito ao Alexandre, this is a load of crap.

Se existe uma lição que foi (ou deveria ser) aprendida na Segunda WW foi que tudo isso que o Alexandre falou não é verdade. Aliás, foi essa mentalidade que propiciou a ascenção e destruição causada pelo Nazismo. Tanto isso é verdade que a criação da ONU foi uma das maneiras que o mundo achou para lidar com os futuros Hitlers da vida. Ficou claro que "a discussão política" muitas vezes não funciona, e que as consequências são terríveis para a população local e às vezes para o resto do mundo.

Obviamente qualquer guerra é algo brutal. Dizer que "Não existe exército invasor bonzinho, nem mesmo os mais bem-intencionados" é como dizer que a polícia vai prender e matar inocentes eventualmente. A escolha sobre aonde e como usar força é difícil, mas não é por isso que a solução é ficar quieto de longe olhando e esperando que tudo se resolva magicamente. O maior criticismo da ONU é justamente que eles esperam too much para usar força, e não que a usam em excesso.

Nessas 6 décadas desde o fim da 2WW, ficou claro que a solução é difícil mas existe. Casos como o da Iuguslávia e Afeganistão mostram que é possível mudar regimes na força com sucesso. Da mesma maneira, casos com os do Haiti e Etiópia mostram que nem sempre funciona. Mas exemplos como Ruanda e Sudão mostram que ficar paradinho olhando quase sempre acaba em desastre.

Agora, o maior absurdo de todos foi o Alexandre dizer que quem coopera com estrangeiros numa situação dessas é canalha. Eu espero que ele tenha se perdido no caso da segunda guerra, e estava pensando nos franceses que cooperaram com os Nazis ou algo do tipo. Duvido que ele realmente ache, por exemplo, que um judeu alemão que tenha cooperado com os EUA seja um canalha. Ou um muçulmano de Kosovo que ajudou na luta contra Milosevic seja um canalha. Ou que os milhões de iraquianos que votaram são realmente canalhas.

Acreditar nisso seria dar um valor ridículo à nacionalidade de quem você defende ou ataca, deixando o bem individual do povo em questão em último plano. Algo inconcebível vindo de alguém que considera o patriotismo uma prisão, não é mesmo?

Um dos exemplos que o Alexandre usou na sua diatribe foi uma teórica invasão à Amazônia, e de como os brasileiros tinham que defendê-la mesmo se não concordassem com o governo Lula. Obviamente o exemplo foi simplista. Se os EUA ou quem quer que fosse invadisse o Brasil atual eu seria o primeiro a tomar um avião e pegar num fusíl.

Uma situação mais complexa (e real) a se julgar seria aonde algum governo brasileiro tivesse envolvido o país numa guerra desnecessária com 1 milhão de mortos, matado outro milhão em perseguições políticas, inclusive com armas químicas, usasse tortura diariamente, jogando crianças para leões ou roubando noivas em dias de casamento, etc, etc.

Nesse caso, eu também estaria disposto a pegar num fusil, e lutar para acabar com esse regime de verdadeiros canalhas.

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