Sábado, 26 de Junho, 2004
Intervir ou não intervir?
Diferente dos 'pacifistas' em geral, que na maioria das vezes são somente anti-americanos enrustidos, muitos liberais (como o Alexandre do LLL e o pessoal do Causa Liberal) criticam a Guerra do Iraque no mérito de que os EUA "não tinham direito de se meter no Iraque" e que "esse tipo de intervenção nunca funciona".
Antes de mais nada, eu concordo com eles no primeiro ponto. Os EUA não tem "direito" de se meter em país nenhum, assim como nenhum outro país ou grupo de países tem, nem mesmo a ONU. O que temos atualmente são simplesmente convenções. Depois da Segunda Guerra mundial, os vitoriósos criaram a ONU (assim como tinham criado a Liga das Nações depois da primeira Guerra) e tentaram vender a idéia de que quem fizesse parte da ONU deveria obedecer certas regras para ganhar certos benefícios de entidades patrocinadas (FMI, Banco Mundial) e por ai vai. Militarmente, nunca tivemos (e nem acredito que teremos) um direito internacional de fato. A ONU sempre foi um fracasso nessa área. A enorme maioria dos conflitos desde a sua criação foram iniciados por um país ou grupo, independentemente da vontade geral dos outros não envolvidos. Quem acha que a Guerra do Iraque é novidade estava dormindo nos últimos 60 anos.
Ainda sobre o Iraque, o Alexandre tentou fazer uma distinção entre intervenções e ocupações. Ele disse que "o que os EUA fizeram com Japão e Alemanha (e nós com o paraguai, por exemplo) foi tomar e ocupar um país inimigo, ao final de uma guerra vitoriosa"..."é TOTALMENTE diferente de invadir, bombardear, intervir em um país independente que não lhe provocou (Iraque, Bósnia, etc) sob o pretexto de proteger uma parte do país da outra parte."
Aqui eu acho que o Alexandre se confundiu. Quem disse que a justificativa mais importante era o lado humanitário da guerra fui eu. Os EUA deixaram bem claro que a motivação para invadir o Iraque era primeiramente defender os EUA, no caso mais específico, das WMDs e do terrorismo, e como consequência livrar o povo do Saddam. Lógico que existem dúvidas nisso tudo agora, mas dizer que o Iraque "não tinha provocado os EUA" é um absurdo. Foram 12 anos de provocações. E não podemos esquecer de que nesses 12 anos, todos os países da ONU consideravam o Iraque perigoso, não somente os EUA.
O problema é que, por definição, nunca vemos o mal que foi evitado. Isso me lembra de um dos meus textos preferidos, o imperdível jornal de um universo paralelo. Melhor exemplo não existe.
E ainda sobre o conceito de "direito", sinceramente não vejo diferença nenhuma em ocupar o Japão e ocupar o Iraque. Afinal, muitos argumentam (com certa razão) de que o Japão só atacou Pearl Harbor porque os EUA já ajudavam a China há tempos, cortando a linha de abastecimento deles. "Wars frequently begin ten years before the first shot is fired.", como dizia o ditado.
E o que dizer sobre o caso do Hitler? Todos concordam que se alguém tivesse parado sua loucura quando invadiu a Polônia, não teria causado o estrago que causou. Porque não o fizeram? Primeiro porque achavam que ele não era esse problema todo, e segundo porque todos achavam que o problema era do vizinho (caso extremo foi o próprio EUA). Será que alguem tinha o "direito" de enfrentá-lo naquele momento?
Como eu disse, cada caso é um caso.
O segundo ponto das críticas liberais é que intervenção não funciona. Aqui eu também tenho que concordar que na maioria das vezes não funciona mesmo. Esse estudo da Foreign Policy por exemplo, diz que das últimas 15 tentaivas, somente 4 funcionaram.
Novamente, acho que cada caso é um caso. Citando ainda o Alexandre, ele lembra que uma intervenção na guerra civil americana não foi permitida e que não teria sido beneficial. Eu concordo. O problema é que simplesmente "deixar para lá" também comprovadamente não funciona! Uma intervenção nas guerras tribais da Ruanda e do Congo poderia ter salvo milhões de vidas. Analisando a situação atual desses países, é indiscutível que deixar eles se matarem foi uma covardice enorme dos países que tinham o poder para intervir.
Outros exemplos parecidos não faltam: Libéria (aonde algo deveria ter sido feito muito antes), Costa do Marfim (que estava numa situação muito melhor antes das tropas francesas deixarem o país), Haiti (as tropas americanas deveriam ter ficado por mais tempo), etc. Até mesmo a Guerra Hispano-Americana, citada pelo Alexandre como exemplo de péssimas consequências, mostra que nem tudo é 8 ou 80. Cuba foi um "worst case scenario", mas em Porto Rico as coisas foram bem diferentes. Além de ser um país próspero (PIB per capita é mais que o dobro do Brasil), foi feito um plebicito por lá alguns anos atrás e a população votou esmagadoramente pela permanência como território americano.
No comments:
Post a Comment