Thursday, June 17, 2004



Quinta, 17 de Junho, 2004

  Revisitando o Iraque



Quando eu me declarei à favor da Guerra do Iraque, citei todas as minhas razões detalhadamente. Nunca perdi tanto tempo escrevendo textos, respondendo emails de amigos raivosos, e principalmente me informando sobre os prós e contras da situação.

Não entendia como alguém poderia opinar objetivamente sobre algo tão complexo sem saber, por exemplo, dos detalhes da resolução 1441 ou sobre as milhares de crianças que morriam devido as insanidades de Saddam.

Nunca me iludi que tudo ocorreria sem problemas, já que nunca houve uma guerra assim. A guerra era e sempre será a última opção, alcançada no caso do Iraque depois de anos e anos de diplomacia, embargos e bombardeios.

Respeitava opiniões diferentes, principalmente no que dizia respeito à relevância do Iraque na guerra contra a Al-Qaeda. Porém, sempre repudiei as críticas baseadas na ilusão de que a guerra seria o começo de uma matança desnecessária. Pelo contrário, a matança já ocorria há anos, e a guerra era, na minha opinião, uma esperança para que o sofrimento iraquiano pelo menos diminuisse. Eu achava que para as pessoas de bom senso isto tudo seria compreendido tranquilamente.

Infelizmente, bom senso não era (e continua não sendo) tão comum assim. A maioria parece achar muito mais fácil jogar tudo pela janela, se apoiar em qualquer lugar comum (como a falácia da guerra por petróleo), e gritar "sou pela paz!", saindo pelas ruas com uma pombinha na lapela.

Obviamente, muitas coisas aconteceram de forma diferente do planejado. Algumas melhores, outras piores. A invasão foi rápida, não tivemos nada parecido com o banho de sangue previsto por muitos, a tomada de Bagdá foi completamente o oposto do que 99% dos analistas previam. Do outro lado, problemas pós-guerra estão sendo maiores do que antecipado. O maior problema foi sem dúvida a polêmica das WMDs. Apesar dos erros grosseiros de inteligência, temos que lembrar que nem tudo está determinado nessa história. Temos "o mistério" dos mísseis com sarin, o relatório de Demetrius Perricos que confirma o envio de armas e partes de fábricas para a Europa e outros países do Oriente Médio, etc.

Apesar dos pesares, o texto que eu escrevi meses atrás analisando a lógica da decisão sobre a guerra continua válido.

Os abusos em Abu gharib foram muito prejudiciais, assim como o endurecimento dos combates em Fallujah e nas cidades sagradas do Sul. Mas como se viu, essas crises são temporárias e eu considero que os maiores desafios ainda estão por vir.

Estamos chegando perto do começo da transferência de poder aos iraquianos. O aumento dos ataques, principalmente contra civís e infraestrutura, mostra o quanto essa fase é vital. Todos que são contra o novo governo, desde os terroristas como al-Zarqawi até os envolvidos nas disputas tribais, sabem que cada passo dado em direção ao controle interno faz sua causa mais difícil. Ao mesmo tempo, os meses de guerra urbana começam a surgir efeito na população iraquiana geral, como mostra essa pesquisa.

Mantendo sempre em mente que a grande maioria da imprensa só se importa com tragédias, acho importante ler os blogs de iraquianos. Eles são o que há de mais próximo de uma informação de primeira mão, e geralmente mostram um outro lado da história, aquele que não vende jornal. Eu recomendo o Healing Iraq, Iraq at a glance e (o meu preferido) Iraq the model.

O futuro do Iraque permanece indefinido. O criticismo intrasigente, que nunca realmente deu a mínima ao povo iraquiano, aposta na vitória do caos. Os americanos comuns continuam divididos, e os interesses internos são muitos e diversos. Mas eu continuo acreditando que, no fim das contas, as coisas ficarão melhores do que eram.

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