Sábado, 5 de Junho, 2004
Público x Privado
Quando se fala em aplicar conceitos de negócios no governo estatal, a grande maioria pensa em alguma teoria ultra-liberal aonde algum tipo de anarquia individualista acabaria se desenvolvendo.
Acho muito estranha essa noção, já que o mundo dos negócios é necessariamente hierárquico. E mais, vejo nos conceitos teóricos das empresas privadas inúmeras similaridades com os problemas enfrentados na administração pública. Decentralização de poderes, conflitos entre estratégias de curto e longo prazo, alocação de recursos, etc, são todos problemas quase que idênticos nas duas áreas. Porém, os mesmos são tratados de maneira totalmente diferente pelos dois grupos.
Enquanto a iniciativa privada se reformula e inova, os governos públicos funcionam hoje como funcionavam há centenas de anos atrás. Temos uma mudança ou outra em como a pessoa chega no poder, ou mesmo quantas pessoas detém o poder, mas o sistema é basicamente o mesmo.
Por exemplo, o Agency Problem, o conflito de interesses que surge quando uma parte representa interesses de outra, é estudado há tempos no mundo dos negócios. Foram desses estudos que surgiram profundas mudanças em como as empresas recompensam seus funcionários, como as famosas stock options.
Quais as ferramentas presentes para se cobrar eficiência dos governos? As piores possíveis. Paga-se relativamente pouco, o pagamento não é dependente de nenhum tipo de resultado, e ainda por cima limíta-se o tempo de governo de uma maneira inflexível, obrigando os bons governantes a sairem prematuramente, e mantendo incompetentes no poder por anos.
A raíz dessas diferenças parece estar em uma área específica: a inovação.
O livro que citei no titulo do post trata desse assunto. O autor, Clayton M. Christensen, explica as complicações e a importância da inovação nas empresas. Na verdade, pode-se ver como a inovação é a alma da evolução de qualquer empreitada humana.
Porque então, vivemos num mundo aonde qualquer mudança é totalmente sufocada na área pública? Obviamente existem diferenças entre uma e outra, mas nada que justifique essa situação atual.
Os EUA atualmente chegam perto de identificar esse paradigma na minha opinião. Luta-se para adaptar às regras da nova realidade, mas o medo das mudanças é enorme. Os "founding fathers", incrivelmente visionários, facilitaram o processo fazendo a constituição mais simples possível. Algo que nossos míopes políticos de 1988 não entenderam e continuão a não entender.
A modernização do Estado é vital para que os novos desafios, como o terrorismo decentralizado, não levem à falência o nosso mundo atual.
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