Thursday, June 24, 2004



Sexta, 25 de Junho, 2004

  Ah, esse é o meu Brasil liberal!

Aonde esta o Super Mangabeira para analisar essa daqui?

Estava procurando uma notícia sobre o salário mínimo quando achei essa pérola. Escrito pelo senhor Abram Szajman, presidente da Federação e do Centro do Comércio do Estado de São Paulo, o texto chega em algumas conclusões fantásticas:

"A elevação do salário mínimo estimula o mercado e pode gerar um aquecimento do consumo interno. Como para os cerca de 15 milhões de assalariados que ganham o mínimo temos outro tanto de pensionistas com ordenado idêntico, conclui-se que há 30 milhões de pessoas com rendimento vinculado ao salário mínimo. Daí resulta que, para cada R$ 1 de aumento no salário mínimo, R$ 30 milhões a mais são injetados no consumo. Esse aumento de renda favorece, inicialmente, a compra de produtos de primeira necessidade, geralmente alimentos. Em seguida pode ocorrer uma procura maior por bens duráveis, por meio do crediário."
"Outra medida que precisa ser estudada é o salário mínimo regional, que poderá ser muito mais flexível, porque a realidade das empresas do setor privado é muito distinta nos diferentes Estados. As necessidades de consumo também variam em cada Estado, facilitando a determinação de diferentes patamares para o mínimo."


Não poderia ter achado exemplo melhor para ilustrar o problema.

A premissa inteira do autor é: A iniciativa privada somente aumenta salários quando o governo obriga.

No meio de toda essa insanidade econômica, o único ponto sensato do artigo todo é que a vinculação do salario mínimo aos benefícios previdenciários é abusrda. Mas percebam que ele só acha isso um problema porque essa vinculação faz os reajustes do mínimo mais difíceis.

Já imaginaram se não existesse esse empecilho? Provavelmente teríamos propostas para aumento do mínimo todo mês, cada vez mais absurdas.

Porque não? Sem a desculpa de que o governo não tem dinheiro para aumentar as aposentadorias, ninguém se perguntaria da onde o dinheiro para aumentar os salários da indústria privada viria! O Sr. Szajman (que irônicamente trabalha pelo comércio) deve achar que o dinheiro viria de algum lugar mágico... Ou que os maldosos donos das empresas levam tudo para casa, e que agora seriam forçados a dar um pouquinho mais para os pobres empregados.

Aqui nos EUA se fala muito pouco de salário mínimo. Ainda existe, mas funciona mais como uma lembrança amarga dos tempos de "New Deal". De vez em quando, quase sempre em época de eleição, aparece alguém querendo explorar o apelo populista. Esse editorial do Wall Street Journal trata exatamente desse assunto, no caso criticando uma proposta do Kerry.

Como o artigo lembra, o salário mínimo é comprovadamente uma das manipulações econômicas mais furadas já inventadas. A única consequência comprovada é a eliminação de empregos com baixos salários, e não o aumento dos salários dos mesmos. Empregos são destruidos, e a informalidade aumenta.

Lógico que não esperava que o governo brasileiro ou a maioria do congresso tocasse nesse ponto. Mas o que irrita é que ninguém, nem imprensa, nem economistas, ninguém levanta esse problema. Assume-se que o salário minimo é bom e necessário, e o debate é somente sobre quanto e como "podemos pagar".

Ah, esse é o meu Brasil liberal!

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