Wednesday, June 30, 2004



Quarta, 30 de Junho, 2004

  Os brasileiros no Orkut

Por algum motivo que ainda não consigo compreender totalmente, o Orkut virou mania no Brasil.

Nada contra o site, eu também estou por lá, mas de uma hora pra outra só se fala disso. O negócio virou tão "pop" que até saiu uma matéria na Veja.

Mas até ai tudo bem. O pior mesmo é que grande parte desse mundo de gente que entrou no Orkut não está indo lá para conhecer pessoas, ou participar dos grupos de discussão. Estão indo somente para fazer picuinha.

Nem me perguntem exatamente como essa bobagem toda originou, mas de uma hora para outra começo a receber emails me convidando para "participar do movimento brasileiro no Orkut". Parece que a brilhante idéia era que deveríamos convidar outros brasileiros para entrar no site, e com isso fazer com que o número de brazucas cadastrados se tornasse maior do que o de americanos.

A troco de que você pergunta? Ah! Parece que um tal de Gary, suposto americano, reclamou dos brasileiros não sei aonde para não sei quem. Disse que éramos um bando de inúteis que ficavam falando português em grupos americanos, e por ai vai.

E para provar que nós não somos esses índios ignorantes, e sim pessoas educadas e inteligentes, qual resposta melhor do que... ultrapassarmos os EUA na tabelinha de estatísticas?

A saga continua, e dizem que o tal Gary foi expulso. Porém, começam a pipocar "seguidores do Gary". Uma das trocentas mensagens que eu recebi vinha de um desses seguidores. Achei interessante como o tal indivíduo tinha uma foto meio nazista, e o inglês era meio "quebrado". Seguindo umas mensagens do tal, qual foi minha surpresa em descobrir que ele falava português! Dizia que tinha estudado no Brasil (hein?) e por isso as coisas eram como eram.

Mas isso tudo foi so o começo! Agora, quando tomo coragem e logo meu usuário, recebo dezenas de mensagens sobre como eu deveria trocar minha foto por uma bandeira do Brasil no 7 de Setembro, ou como deveria trocar minha foto por uma bandeira do Iraque (?), ou como deveria trocar minha foto por uma figura das torres gêmeas no 4 de julho.

Falando sério, porquê será que a nossa concentração de idiotice é tão alta hein? Eu clico na profile do pessoal que fica mandando essas mensagenzinhas infantis, sempre esperando achar moleques de 15 anos, e acho marmanjos de 30.

Porque o pessoal do Irã, Japão, Eslovênia, Índia, etc, fica na deles enquanto nós entramos nessa bobagem?

Ah, essa nossa mania de grandeza. Ou melhor, ah, esse nosso complexo de inferioridade... And again, the joke is on us.

Tuesday, June 29, 2004



Terça, 29 de Junho, 2004

  O sucesso do Iraque mais perto

Muito interessante este artigo que compara a atual situação do Iraque com a invasão britânica do começo do século XX.

Na época o Iraque era parte do Império Otomano, e as tropas inglesas levaram 4 anos (1914-1918) para derrotar o exército do Sultão Mehmed V. A invasão foi um sucesso, mas o novo governo implementado acabou não funcionando e eventualmente levou a todo esse problema atual.

Jihads a parte, acho que a situação atual é muito mais favorável do que aquela de um século atrás. Apesar da rivalidade entre Xiitas, Sunitas e Curdos continuar evidente, os EUA estão fazendo mais para incluir os 3 grupos, e o povo iraquiano está reagindo.

Por exemplo, acho que a desistência do al-Sadr foi crucial, apesar de claramente subestimada pela imprensa no geral.

A composição do novo governo temporário também foi acertada na minha opinião. O fato do novo Primeiro Ministro Iyad Allawi ser um xiita é sem dúvida relevante. Apesar das clássicas acusações de ser um agente da CIA, o valor simbólico de representar o grupo mais populoso e radical existe. Assim como o fato do Presidente Ghazi Yawer ser Sunita também é importante.

Mas no fim das contas, a maior diferença entre a tentativa inglesa no passado e a atual americana é o objetivo da democracia. E esse objetivo continua no horizonte.

A transferência de poder atual é um importante passo intermediário, mais direcionado a melhorar a segurança, principalmente no que diz respeito a deixar as tropas americanas no "background".

A prova de fogo será mesmo em Janeiro. Se a eleição acontecer com sucesso, teremos dado o maior passo na direção de um Oriente Médio estável da nossa história moderna.

Sunday, June 27, 2004



Domingo, 27 de Junho, 2004

  O inferno é aqui



Alguns fatos sobre esse inferno na terra chamado Sudão:

- 21 years of war and more than 2 million deaths
- Over the past 16 months, more than 10,000 people have been killed and thousands driven from their homes by the Arab militiamen. Human rights and aid groups accuse the government of carrying out an ethnic cleansing campaign, targeting three tribes: the Fur, Massaleit and Zaghawa.
-The people in the camps were driven from their villages and farms by pro-government Arab militiamen, a ragtag collection of traditional tribal fighters and criminals known in Arabic as Janjaweed, which means "men who ride horses and carry G3 guns." The Janjaweed fighters have terrorized and killed, witnesses say, and are also accused of rapes and beatings.
- U.N. World Food Program will be able to reach only 800,000 of the 1.2 million displaced people because of continuing violence
- A U.N. report issued in May on conditions in the village of Kailek in western Darfur accused local government officials of ordering "a policy of forced starvation" by insisting that the villagers faced no problems, even as militias prevented food deliveries. Nine children in the area reportedly died of malnutrition every day.
- Rapes and attacks continue around the edges of the camp every night, women there said, as they rocked sickly babies with hollow eyes. Each week in Mornay, at least five women and girls as young as 12 have been raped when they left the camp, according to a report by Doctors Without Borders. The real number is thought to be far higher because many women are reluctant to report attacks.
- The U.S. Agency for International Development estimated that at least 350,000 people will die of disease and malnutrition over the next nine months.

E ai? É esse então o preço dessa incrível "Soberania Nacional"???

Já imaginaram as manifestações caso os EUA resolvessem intervir?

Manchetes pelo mundo:
"Americanos ocupam país miseravel da África. Árabes se revoltam e dizem que motivação é o petróleo."
"Imperialismo americano chega no Sudão e cria crise humanitária."

E nos bares da USP:
"Esses americanos se metem em tudo, filhos da puta!"

Alguém ai se lembra de Mogadishu??? Anyone?

Ah, seria terrível! Afinal, quem esses americanos pensam que são para interferir na liberdade de ver seu filho morrendo de fome?

Just fucking great!

Saturday, June 26, 2004



Sábado, 26 de Junho, 2004

  Intervir ou não intervir?

Diferente dos 'pacifistas' em geral, que na maioria das vezes são somente anti-americanos enrustidos, muitos liberais (como o Alexandre do LLL e o pessoal do Causa Liberal) criticam a Guerra do Iraque no mérito de que os EUA "não tinham direito de se meter no Iraque" e que "esse tipo de intervenção nunca funciona".

Antes de mais nada, eu concordo com eles no primeiro ponto. Os EUA não tem "direito" de se meter em país nenhum, assim como nenhum outro país ou grupo de países tem, nem mesmo a ONU. O que temos atualmente são simplesmente convenções. Depois da Segunda Guerra mundial, os vitoriósos criaram a ONU (assim como tinham criado a Liga das Nações depois da primeira Guerra) e tentaram vender a idéia de que quem fizesse parte da ONU deveria obedecer certas regras para ganhar certos benefícios de entidades patrocinadas (FMI, Banco Mundial) e por ai vai. Militarmente, nunca tivemos (e nem acredito que teremos) um direito internacional de fato. A ONU sempre foi um fracasso nessa área. A enorme maioria dos conflitos desde a sua criação foram iniciados por um país ou grupo, independentemente da vontade geral dos outros não envolvidos. Quem acha que a Guerra do Iraque é novidade estava dormindo nos últimos 60 anos.

Ainda sobre o Iraque, o Alexandre tentou fazer uma distinção entre intervenções e ocupações. Ele disse que "o que os EUA fizeram com Japão e Alemanha (e nós com o paraguai, por exemplo) foi tomar e ocupar um país inimigo, ao final de uma guerra vitoriosa"..."é TOTALMENTE diferente de invadir, bombardear, intervir em um país independente que não lhe provocou (Iraque, Bósnia, etc) sob o pretexto de proteger uma parte do país da outra parte."

Aqui eu acho que o Alexandre se confundiu. Quem disse que a justificativa mais importante era o lado humanitário da guerra fui eu. Os EUA deixaram bem claro que a motivação para invadir o Iraque era primeiramente defender os EUA, no caso mais específico, das WMDs e do terrorismo, e como consequência livrar o povo do Saddam. Lógico que existem dúvidas nisso tudo agora, mas dizer que o Iraque "não tinha provocado os EUA" é um absurdo. Foram 12 anos de provocações. E não podemos esquecer de que nesses 12 anos, todos os países da ONU consideravam o Iraque perigoso, não somente os EUA.

O problema é que, por definição, nunca vemos o mal que foi evitado. Isso me lembra de um dos meus textos preferidos, o imperdível jornal de um universo paralelo. Melhor exemplo não existe.

E ainda sobre o conceito de "direito", sinceramente não vejo diferença nenhuma em ocupar o Japão e ocupar o Iraque. Afinal, muitos argumentam (com certa razão) de que o Japão só atacou Pearl Harbor porque os EUA já ajudavam a China há tempos, cortando a linha de abastecimento deles. "Wars frequently begin ten years before the first shot is fired.", como dizia o ditado.

E o que dizer sobre o caso do Hitler? Todos concordam que se alguém tivesse parado sua loucura quando invadiu a Polônia, não teria causado o estrago que causou. Porque não o fizeram? Primeiro porque achavam que ele não era esse problema todo, e segundo porque todos achavam que o problema era do vizinho (caso extremo foi o próprio EUA). Será que alguem tinha o "direito" de enfrentá-lo naquele momento?

Como eu disse, cada caso é um caso.

O segundo ponto das críticas liberais é que intervenção não funciona. Aqui eu também tenho que concordar que na maioria das vezes não funciona mesmo. Esse estudo da Foreign Policy por exemplo, diz que das últimas 15 tentaivas, somente 4 funcionaram.

Novamente, acho que cada caso é um caso. Citando ainda o Alexandre, ele lembra que uma intervenção na guerra civil americana não foi permitida e que não teria sido beneficial. Eu concordo. O problema é que simplesmente "deixar para lá" também comprovadamente não funciona! Uma intervenção nas guerras tribais da Ruanda e do Congo poderia ter salvo milhões de vidas. Analisando a situação atual desses países, é indiscutível que deixar eles se matarem foi uma covardice enorme dos países que tinham o poder para intervir.

Outros exemplos parecidos não faltam: Libéria (aonde algo deveria ter sido feito muito antes), Costa do Marfim (que estava numa situação muito melhor antes das tropas francesas deixarem o país), Haiti (as tropas americanas deveriam ter ficado por mais tempo), etc. Até mesmo a Guerra Hispano-Americana, citada pelo Alexandre como exemplo de péssimas consequências, mostra que nem tudo é 8 ou 80. Cuba foi um "worst case scenario", mas em Porto Rico as coisas foram bem diferentes. Além de ser um país próspero (PIB per capita é mais que o dobro do Brasil), foi feito um plebicito por lá alguns anos atrás e a população votou esmagadoramente pela permanência como território americano.

Thursday, June 24, 2004



Sexta, 25 de Junho, 2004

  Ah, esse é o meu Brasil liberal!

Aonde esta o Super Mangabeira para analisar essa daqui?

Estava procurando uma notícia sobre o salário mínimo quando achei essa pérola. Escrito pelo senhor Abram Szajman, presidente da Federação e do Centro do Comércio do Estado de São Paulo, o texto chega em algumas conclusões fantásticas:

"A elevação do salário mínimo estimula o mercado e pode gerar um aquecimento do consumo interno. Como para os cerca de 15 milhões de assalariados que ganham o mínimo temos outro tanto de pensionistas com ordenado idêntico, conclui-se que há 30 milhões de pessoas com rendimento vinculado ao salário mínimo. Daí resulta que, para cada R$ 1 de aumento no salário mínimo, R$ 30 milhões a mais são injetados no consumo. Esse aumento de renda favorece, inicialmente, a compra de produtos de primeira necessidade, geralmente alimentos. Em seguida pode ocorrer uma procura maior por bens duráveis, por meio do crediário."
"Outra medida que precisa ser estudada é o salário mínimo regional, que poderá ser muito mais flexível, porque a realidade das empresas do setor privado é muito distinta nos diferentes Estados. As necessidades de consumo também variam em cada Estado, facilitando a determinação de diferentes patamares para o mínimo."


Não poderia ter achado exemplo melhor para ilustrar o problema.

A premissa inteira do autor é: A iniciativa privada somente aumenta salários quando o governo obriga.

No meio de toda essa insanidade econômica, o único ponto sensato do artigo todo é que a vinculação do salario mínimo aos benefícios previdenciários é abusrda. Mas percebam que ele só acha isso um problema porque essa vinculação faz os reajustes do mínimo mais difíceis.

Já imaginaram se não existesse esse empecilho? Provavelmente teríamos propostas para aumento do mínimo todo mês, cada vez mais absurdas.

Porque não? Sem a desculpa de que o governo não tem dinheiro para aumentar as aposentadorias, ninguém se perguntaria da onde o dinheiro para aumentar os salários da indústria privada viria! O Sr. Szajman (que irônicamente trabalha pelo comércio) deve achar que o dinheiro viria de algum lugar mágico... Ou que os maldosos donos das empresas levam tudo para casa, e que agora seriam forçados a dar um pouquinho mais para os pobres empregados.

Aqui nos EUA se fala muito pouco de salário mínimo. Ainda existe, mas funciona mais como uma lembrança amarga dos tempos de "New Deal". De vez em quando, quase sempre em época de eleição, aparece alguém querendo explorar o apelo populista. Esse editorial do Wall Street Journal trata exatamente desse assunto, no caso criticando uma proposta do Kerry.

Como o artigo lembra, o salário mínimo é comprovadamente uma das manipulações econômicas mais furadas já inventadas. A única consequência comprovada é a eliminação de empregos com baixos salários, e não o aumento dos salários dos mesmos. Empregos são destruidos, e a informalidade aumenta.

Lógico que não esperava que o governo brasileiro ou a maioria do congresso tocasse nesse ponto. Mas o que irrita é que ninguém, nem imprensa, nem economistas, ninguém levanta esse problema. Assume-se que o salário minimo é bom e necessário, e o debate é somente sobre quanto e como "podemos pagar".

Ah, esse é o meu Brasil liberal!

Wednesday, June 23, 2004



Quinta, 24 de Junho, 2004

  Histórias do Bubba



Podem falar o que quiserem do Bill Clinton, mas o cara é sempre interessante.

Não que eu planeje pagar 35 bucks pelo livro... Mas depois de 8 anos de governo, inúmeras crises e bombardeios da imprensa, só ele mesmo para me fazer ler esse "resumo" da Slate inteirinho.

Minhas partes favoritas:

Page 22: As a child, Clinton lived in a farmhouse without an indoor toilet. "Later, when I got into politics, being able to say I had lived on a farm with an outhouse made a great story, almost as good as being born in a log cabin."

Page 110: "In the ethics class [at Georgetown] I took good notes, and one day in August another student, who was smart as a whip but seldom attended class, asked me if I'd take a few hours and go over my notes with him before the final exam. ... [T]he guy got a B on the test. Twenty-five years later, when I became President, my old study partner Turki al-Faisal, son of the late Saudi king, was head of Saudi Arabia's intelligence service, a position he held for twenty-four years."

Page 172: "I had fantasized from time to time about being a doorman at New York's Plaza Hotel, at the south end of Central Park. Plaza doormen had nice uniforms and met interesting people from all over the world. I imagined garnering large tips from guests who thought that, despite my strange southern accent, I made good conversation."

Pages 220-221: While on the road campaigning for Congress against John Paul Hammerschmidt in 1974, Clinton loses five of his students' law-school exams. "I was mortified. I offered the students the option of retaking the exam or getting full credit without a specific grade. They all took the credit, but one of them was particularly upset about it, because she was a good student who probably would have made an A, and because she was a good Republican who had worked for Congressman Hammerschmidt. I don't think she ever forgave me for losing the exam or for running against her old boss. I sure thought about it when, more than twenty years later, that former student, federal judge Susan Webber Wright, became the presiding judge in the Paula Jones case."



Quarta, 23 de Junho, 2004

  De documentário a comédia em 1 semana

Essa parece ser a nova (e talvez única possível) tática do pessoal que não se conforma em admitir as mentiras do último filme do Moore:
"Era tudo brincadeirinha! Somente uma sátira!"

Ou nas palavras de A. O. Scott, para o NY Times:
"While his new film, awarded the top prize at the Cannes International Film Festival this year, has been likened to an op-ed column, it might more accurately be said to resemble an editorial cartoon."

Será que ele pelo menos vão ser consistentes e dar o Oscar de melhor comédia ao invés de melhor documentário para o filmeco? I DON'T THINK SO!

Tuesday, June 22, 2004



Terça, 22 de Junho, 2004

  Ninguém aguenta mais!



Nem mesmo a esquerda americana suporta mais o bobo da corte. Primeiro, Christopher Hitchens analisa o novo "documentário" e diz que "Descrever esse filme como desonesto e demagógico seria quase como promover essas palavras a um nível respeitável." ... "Fahrenheit 9/11 é um exercício desonesto, mal disfarçado como algo sério. É também um espetáculo político covarde e de baixo nível, mascarado como "oposição" corajosa."

E como se isso não fosse suficiente, Jack Shafer, ninguém menos que o editor geral da Slate, se revolta com a ameaça feita por Moore de processar quem quer que fale mal do seu novo filmeco e chama Moore para briga!

Nas palavras do próprio Shafer, "Claro, o multimilionário Moore pode sempre ameaçar de punir seus criticos financeiramente, entrando com esses processos legais idiotas e obrigando os acusados a pagar somas enormes de dinheiro para provar sua inocência. Mas Moore provavelmente não quer esse tipo de publicidade e preocupação - processar é tão ruim quanto ser processado. E uma pessoa com tanto dinheiro não deveria arriscar ser processado de volta. Não vai ser muito fácil Moore achar uma avaliação mais dura do que a feita por Christopher Hitchens aqui mesmo na Slate. Pode ler Mr. Moore. Nós esperamos pelo seu processo."

Monday, June 21, 2004



Segunda, 21 de Junho, 2004

  O absurdo das ideologias

Sempre achei um erro enorme seguir uma ideologia cegamente, seja ela qual for.

Acompanho o programa do Bill O'Reilly sempre que posso. Ele é um cara inteligente, e geralmente faz observações interessantes sobre diversos assuntos. Porém, já tinha criticado em outras ocasiões essa teoria dele que "os iraquianos não estão lutando". Ele continua insistindo, e agora o discurso todo chegou no limite do ridículo.

O problema é que quando um conservador como o O'Reilly fala uma bobagem como essa, lá vem os "ideológicamente opostos" dizendo que o problema não é o O'Reilly, e sim a "doutrina conservadora". E não pensem que são somente os de esquerda que compõe esse grupo... Os liberais "puros" se comportam da mesmíssima maneira.

Será que não é possivel que as pessoas analisem as coisas objetivamente? Eu discordo dessa "teoria" do O'Reilly simplesmente porque os fatos mostram que ele está errado. Eu acho ridículo que ele queira que os iraquianos sejam agradecidos aos EUA quando temos uma guerra urbana acontecendo. E mais, acho que está mais do que provado que grande parte dos iraquianos estão sim lutando pela implementação de um governo democrático, e o fato dos terroristas/radicais estarem atacando os centros de recrutamento e as novas tropas iraquianas é a prova mais evidente possível.

Será que isso me faz menos "conservador" do que antes? Sou então obrigado a concordar com o O'Reilly? Quem é que determina tudo isso by the way???

Assim como sou contra essa idéia fixa de certos liberais de que a guerra foi um erro porque todos os problemas do mundo poderiam ser sanados pacíficamente somente com o livre comércio. Pode até ser que teoricamente isso seja verdade, mas é históricamente impraticável e somente por isso deixa de ser uma alternativa. Será então que não sou liberal? Mesmo quando os fatos mostram que esse conceito simplesmente não funciona, tenho ficar quieto para ser aceito no "grupinho"? Tenho que jogar fora todos meus livros do Mises e Hayek???

É preciso muito cuidado para que a chamada "direita" não caia na mesma armadilha da esquerda. Isto é, querer forçar um mundo redondo num buraco ideológico quadrado. A grande vantagem do capitalismo, liberalismo, e até mesmo conservadorismo, sempre foi a capacidade de analisar os conceitos básicos do ser humano e aprender empiricamente com os mesmos. Mudar essa atitude é um grande passo rumo a alienação.

Saturday, June 19, 2004



Domingo, 20 de Junho, 2004

  Al-Qaeda 101

Nunca esperaria que as fotos da decaptação do americano Paul Johnson tivessem mais destaque do que as fotos dos abusos de Abu Ghraib, mas será que é correto a imprensa de massa simplesmente deixar essas imagens de lado? Qual é a lógica de se mostrar crianças sem braços e pernas e não mostrar um pobre coitado que sofreu uma das mortes mais estúpidas possíveis?

Acho que é necessario mostrar o que a Al-Qaeda é capaz. Essas fotos deviam estar na primeira pagina de todos os jornais do mundo. É completamente irresponsavel ignorá-las, e é justamente isso que a imprensa está fazendo.



Sábado, 19 de Junho, 2004

  Russian connection

Outra "pequena" notícia que não ganhou muita atenção da mídia foi a declaração do Putin que a Russia alertou os EUA diversas vezes sobre planos de Saddam de atacar os EUA depois de 9/11.

Agora, a Russia não tem a menor intenção de ajudar os EUA no caso do Iraque. Putin só confirmou essa informação porque um agente russo vazou um relatório para a imprensa e ele queria acabar com as especulações.

Está aí mais um exemplo de como o Saddam era perigoso, e como o Iraque não foi simplesmente uma "escolha ao acaso".

Friday, June 18, 2004



Sexta, 18 de Junho, 2004

  Far away, so close



Esses caras da Cox & Forkum são muito bons... Ah, e vale a pena clicar no link e ler o texto. É bem mais detalhado e preciso do que os "enlatados" do NY Times (que são sempre os traduzidos pela imprensa brasileira).

Thursday, June 17, 2004



Quinta, 17 de Junho, 2004

  Revisitando o Iraque



Quando eu me declarei à favor da Guerra do Iraque, citei todas as minhas razões detalhadamente. Nunca perdi tanto tempo escrevendo textos, respondendo emails de amigos raivosos, e principalmente me informando sobre os prós e contras da situação.

Não entendia como alguém poderia opinar objetivamente sobre algo tão complexo sem saber, por exemplo, dos detalhes da resolução 1441 ou sobre as milhares de crianças que morriam devido as insanidades de Saddam.

Nunca me iludi que tudo ocorreria sem problemas, já que nunca houve uma guerra assim. A guerra era e sempre será a última opção, alcançada no caso do Iraque depois de anos e anos de diplomacia, embargos e bombardeios.

Respeitava opiniões diferentes, principalmente no que dizia respeito à relevância do Iraque na guerra contra a Al-Qaeda. Porém, sempre repudiei as críticas baseadas na ilusão de que a guerra seria o começo de uma matança desnecessária. Pelo contrário, a matança já ocorria há anos, e a guerra era, na minha opinião, uma esperança para que o sofrimento iraquiano pelo menos diminuisse. Eu achava que para as pessoas de bom senso isto tudo seria compreendido tranquilamente.

Infelizmente, bom senso não era (e continua não sendo) tão comum assim. A maioria parece achar muito mais fácil jogar tudo pela janela, se apoiar em qualquer lugar comum (como a falácia da guerra por petróleo), e gritar "sou pela paz!", saindo pelas ruas com uma pombinha na lapela.

Obviamente, muitas coisas aconteceram de forma diferente do planejado. Algumas melhores, outras piores. A invasão foi rápida, não tivemos nada parecido com o banho de sangue previsto por muitos, a tomada de Bagdá foi completamente o oposto do que 99% dos analistas previam. Do outro lado, problemas pós-guerra estão sendo maiores do que antecipado. O maior problema foi sem dúvida a polêmica das WMDs. Apesar dos erros grosseiros de inteligência, temos que lembrar que nem tudo está determinado nessa história. Temos "o mistério" dos mísseis com sarin, o relatório de Demetrius Perricos que confirma o envio de armas e partes de fábricas para a Europa e outros países do Oriente Médio, etc.

Apesar dos pesares, o texto que eu escrevi meses atrás analisando a lógica da decisão sobre a guerra continua válido.

Os abusos em Abu gharib foram muito prejudiciais, assim como o endurecimento dos combates em Fallujah e nas cidades sagradas do Sul. Mas como se viu, essas crises são temporárias e eu considero que os maiores desafios ainda estão por vir.

Estamos chegando perto do começo da transferência de poder aos iraquianos. O aumento dos ataques, principalmente contra civís e infraestrutura, mostra o quanto essa fase é vital. Todos que são contra o novo governo, desde os terroristas como al-Zarqawi até os envolvidos nas disputas tribais, sabem que cada passo dado em direção ao controle interno faz sua causa mais difícil. Ao mesmo tempo, os meses de guerra urbana começam a surgir efeito na população iraquiana geral, como mostra essa pesquisa.

Mantendo sempre em mente que a grande maioria da imprensa só se importa com tragédias, acho importante ler os blogs de iraquianos. Eles são o que há de mais próximo de uma informação de primeira mão, e geralmente mostram um outro lado da história, aquele que não vende jornal. Eu recomendo o Healing Iraq, Iraq at a glance e (o meu preferido) Iraq the model.

O futuro do Iraque permanece indefinido. O criticismo intrasigente, que nunca realmente deu a mínima ao povo iraquiano, aposta na vitória do caos. Os americanos comuns continuam divididos, e os interesses internos são muitos e diversos. Mas eu continuo acreditando que, no fim das contas, as coisas ficarão melhores do que eram.

Wednesday, June 16, 2004



Quarta, 16 de Junho, 2004

  Samba do crioulo doido


Esta é uma conversa que tive com meu grande amigo Léo. Ele é um desses caras que ficou grande demais para o país. Vira e mexe, acaba batendo nos limites da burocracia e mediocridade que cerca nosso desenvolvimento.

Aqui vai um resumo da mensagem dele:

"Você falou a palavra-chave: meritocracia. A coisa que mais detesto no Brasil é que não vivemos numa meritocracia. Outro dia fizeram uma manifestação estudantil porque a USP abriu um cursinho pré-vestibular na zona leste de São Paulo que vai atender 5000 (!) estudantes da rede pública.

Os critérios para admissão são as melhores notas e maior assiduidade no 2º grau. Pô, fizeram um protesto porque consideraram os critérios injustos! Falaram que "assim vão selecionar apenas a elite da pobreza", segundo o líder do protesto, um frei que fundou o MSU, Movimento dos Sem Universidade. O que mais falta?

Esse Movimento dos Sem Universidade tem até site:
www.msu.org.br

Você vai ler e, provavelmente, vai ter a mesma reação que tive. Fiquei sem saber se era para rir ou para chorar.

Não sei se você sabe que os funcionários da USP estão em greve. Exigem aumento de salário, e dão até a fórmula:
- basta repassar mais ICMS.
- fim das fundações privadas dentro da USP (eu trabalho numa delas).
- o fim do vestibular e das relações com o Banco Mundial, FMI, Estados Unidos e etc.

Pronto, acabam-se os problemas. Simples, né? O chato é que não consigo descobrir quantos funcionários tem na USP e nem o porquê dos alunos também estarem em grave. Seria engraçado se as pessoas soubessem que aqui tem uns 25.000 funcionários e professores e pensassem: "Ué? Para quê tudo isso? É mais gente do que a população da cidade da minha mãe. Ah, é por isso que custa tão caro...".

Esta é provavelmente a única greve que não divulga a quantidade de grevistas.

Evidentemente, basta que uma reposição salarial seja concedida para que a "ideologia" seja posta de lado e os alunos voltem às salas para descobrirem que o ano letivo foi para o saco. Normal, afinal ninguém tá pagando mensalidade mesmo. Os outros é que pagam o ICMS. O chato é que uma baranga de megafone fica passado todo dia na frente da minha janela gritando: "Funcionários da USP! Vamos parar! Eles vão ver o que é bom para a tosse..."

É como você diz. Por quê as pessoas acham que o brasileiro vive sob a égide do liberalismo se a gente está muito mais próximo do pacto de varsóvia?

O Estado tem que prover tudo? Hoje em dia penso que proposta de retornar à monarquia que foi derrotada naquele plebicito de 1991 (ou 1990, por aí, sei lá) não era tão absurda. O brasileiro vive achando que é um "bom negrinho" cuja vida e provento deve vir do "sinhô". Pô, então vamos de monarquia absolutista socialista. Samba do crioulo doido é aqui mesmo, neste país "liberal"."

Tuesday, June 15, 2004



Terça, 15 de Junho, 2004

  Piada do dia

Essa do Mangabeira está simplesmente imperdível, me fez rir alto por aqui.

Aqui vão os melhores trechos para quem não é assinante da Folha:

"Escorraçado de quase toda a parte, o neoliberalismo refugiou-se no Brasil."..."O mundo repudiou esse ideário. Repudiou sem ainda ser capaz de demarcar, em termos universais, uma alternativa."..."O projeto neoliberal malogrou na região que o adotou com mais fervor -a América Latina. Só o Chile -país pequeno, dependente de exportações primárias e pronto a praticar algumas heresias pontuais- escapou ao fracasso geral, embora à custa de desigualdade crescente."..."Aí está a história do Brasil de hoje -caldeirão reduzido a marasmo, governado no regime tucano-petista por gente que junta a covardia com a falta de imaginação. Para sair disso, é preciso mudar, ao mesmo tempo, o poder e as idéias."

Em um texto só, numa explosão de criatividade e humor (involuntário), o Mangabeira nos esclareceu que:
- O Brasil é Neoliberal!
- (bonus) A América Latina é Neoliberal! (O Sudoeste da Ásia que deu certo deve estar se tornando comunista na cabeçinha dele!)
- O Chile "escapou do fracasso geral" porque é "pequeno e depende de exportações primárias"!!! (Diferente dos outros países da América Latina que exportam....PRODUTOS PRIMÁRIOS!)
- Temos que mudar, mas ninguém sabe como. Mas é preciso mudar "o poder e as idéias"!

Fantástico! E ainda pagam para ele escrever essas coisas!

Monday, June 14, 2004



Segunda, 14 de Junho, 2004

  Patriotismo




Para o Alexandre do LLL, o patriotismo é uma prisão. Ele escreveu hoje sobre isso, e em um trecho do post ele diz que "É muito triste não ter uma pátria, mas amá-la é mais triste ainda".

Concordo que o atual patriotismo brasileiro atrapalha (e muito), mas discordo que essa seja uma regra universal.

A maioria dos países mais desenvolvidos (França, Alemanha, Espanha, Japão, Itália, Suécia, EUA, etc) são bem patrióticos. O argumento de que exageros nacionalistas levaram esses mesmos a ter problemas (como guerras) é valido, mas também é evidente que esse mesmo sentimento ajudou na formação e desenvolvimento desses países.

Acredito que a diferença esteja na origem, e consequentemente nas expectativas, do patriotismo brasileiro.

Nos países desenvolvidos, o fato do cidadão dar valor ao país é consequência da sua própria valorização individual. Quer dizer, o francês acha a França melhor que os outros porque no fundo ele se acha melhor. E é por isso que quando voce conhece um francês, ou um alemão, ele não precisa mencionar o país de origem para se identificar. O Hans vai se apresentar, aonde quer que esteja, como Hans, e não como "Hans, da Alemanha".

O patriotismo dessas pessoas é somente uma exteorização do orgulho pessoal, e que acaba no fim das contas fortalecendo o próprio indivíduo.

Já no Brasil a lógica é oposta. O brasileiro quer acreditar que o Brasil é importante porque isso significa que ele, o brasileiro, é importante. Mais ainda, o brasileiro sempre espera que o desenvolvimento do país traga algum lucro individual, e nunca o contrário. Esse sentimento é extremamente improdutivo, já que não é baseado na confiança de cada um e sim na ilusória imagem do país como "paizão" (do céu).

O que falta ao Brasil é a consciência da responsabilidade individual. A noção de que o todo é simplesmente o reflexo das partes, e não o inverso. O resto é somente consequência.

Sunday, June 13, 2004



Domingo, 13 de Junho, 2004

  O cúmulo da burrocracia


Essa parece brincadeira. O novo parlamento da União Européia, símbolo da evolução e modernidade da nova europa, é um grande trem da alegria. Todo mês, todos os 732 representantes e suas respectivas equipes "mudam" de Bruxelas na Bélgica para Strasburgo na França. No fim da semana, todos de volta para Bruxelas para mais 3 semanas de trabalho. A UE paga tudo, e quem não usa as passagens embolsa o dinheiro. Um caixa-2 para brasileiro nenhum botar defeito.

Porque tudo isso? Para agradar aos nacionalistas franceses.

Não é surpresa que uma Euro-fatiga tome conta de grande parte do povo por lá. Muita bur(r)ocracia e dinheiro jogado fora (calcula-se mais de US$1 Bilhão por ano), e poucos resultados. A previsão é de que menos de 49% dos eleitores aparecam para votar.

Mas com certeza não devem faltar candidatos.

Saturday, June 12, 2004



Sábado, 12 de Junho, 2004

  Alexandre Soares Silva


Só existe uma coisa melhor que o atual blog do Alexandre: Os arquivos de 2002/2003 do mesmo.

Não que o atual não seja bom... Mas ele escreve um pouco menos (talvez ocupado escrevendo livros), e fala menos de política.

Acho que o que eu sinto falta mesmo é do witty humor político.

Meu post preferido:
"Definição (bocejo) de Direita

Gosto de rótulos, admito. Acho que rótulos são divertidos. Gosto de simplismos, também. Politicamente, adoto uma definição muito simples, ou simplista, ou simplória: Esquerda = + Estado, e Direita = - Estado. O divertido nessa definição é que ela coloca Hitler logo ali ao lado de Stalin, na mesma cela da extrema-esquerda, onde para sempre estão condenados a dançar um tango homoerótico no escuro. Nesse sentido, não me importo nem um pouco de ser chamado de direita. É claro que algumas pessoas que são chamadas de "de direita" têm todo o direito de não gostar. Os gregos antigos, li em algum lugar, andavam com moedas na boca; a esquerda vive com a palavra "direita" na boca. Isso fez (é natural) com que essa palavra ficasse um pouquinho pegajosa e até mesmo um pouquinho fedida. Mas uma vez limpa, ela brilha. Trago-a no bolso como uma moedinha da sorte."

Ah, e este aqui também.

Friday, June 11, 2004



Sexta, 11 de Junho, 2004

  Exagero ou reconhecimento?


Alguns amigos reclamaram que eu escrevi demais sobre o Reagan.

Talvez seja mais difícil entender o impacto da morte dele de longe. Quando você vê a multidão que veio ao funeral, incluindo um enorme grupo de líderes de todos os cantos, é impossível não sentir a importância que ele teve. Acabei de ouvir na TV (que está cobrindo ao vivo) que desde JFK não se via um enterro tão atendido.

Eu tinha mencionado na primeira mensagem que Reagan conseguiu em 1988 sair como o presidente americano mais popular da história. E isso esta fazendo a diferença agora.

Hoje muitos não foram trabalhar. Isso não é nem um pouco comum aqui. Washington DC está tomada por pessoas de todos os lugares dos EUA que foram ver o corpo nos últimos 3 dias, muitos tendo que passar a noite toda esperando na fila.

Pelo mundo, algumas pessoas entendem melhor o porquê de tudo isso, como o velho Lech Walesa. Outros, como o nosso querido comandante brazuca, não devem nem saber o que está acontecendo.

E tudo isso para uma pessoa que tinha 93 anos, uma doença terminal e que não aparecia em público há quase 10 anos.

Eu nunca tinha visto uma manifestação dessas por aqui, é realmente impressionante.

Wednesday, June 09, 2004



Quarta, 9 de Junho, 2004

  Reagan, liberalismo e a guerra fria


A história da era Reagan é das mais interessantes do século passado. Mas como toda história, deve ser analisada dentro do contexto da época, para que não se caia em generalizações vazias.

Depois de mais de 40 anos de "New Deal", "Great Society" e presidentes insossos como Ford e Carter, os 8 anos do governo Reagan foram uma injeção de ânimo na economia e na sociedade em geral dos EUA. Ele provocou uma mudança profunda em como os problemas deveriam ser encarados, até mesmo entre seus companheiros Republicanos. Antes dele, ninguém levava as idéias liberais realmente a sério. Depois dele, até os democratas (Clinton) entenderam sua eficiência e importância.

Vejam essa entrevista de 1975 publicada pela Reason. Reagan era antes de tudo um político que tinha uma visão definida do mundo, e sabia o que fazer para implementá-la. Liberal, mas não radical.

Obviamente Reagan não foi perfeito. Os mais empolgados comparam sua importância à de Lincoln e George Washington, o que é um absurdo. Nem mesmo a comparação com Roosevelt é apropriada na minha opinião. Mas também não foi o ignorante sortudo que outros malucos insistem.

É preciso entender o mundo da Guerra Fria e suas monstruosas complicações para entender porque Reagan fez o que fez. Aliás, muitos não entendem nem mesmo como os EUA conseguiram vencer a guerra. Vejam por exemplo esse editorial do WSJ. Enquanto isso, os conspiradores de plantão preferem acreditar que Gorbachev foi um santinho que entregou a vitória numa bandeja! Yeah right!

De qualquer forma, acredito que Reagan esteja entre os 10 presidentes mais importantes dos EUA. Tirou o país da segunda maior crise econômica de todos os tempos, e foi decisivo na vitória da segunda mais importante guerra do século XX.

E por último, conseguiu o quase impossível feito de sair como o Presidente americano mais popular de toda história. Isn't that enough?

Monday, June 07, 2004



Segunda, 7 de Junho, 2004

  Empreendedor pessoa física


O texto é somente para assinantes, então transcrevo uma parte da matéria escrita por Guilherme Afif Domingos aqui:

"O que se propõe é que o empreendedor faça uma inscrição simplificada em um único órgão, o que lhe asseguraria a formalização e lhe permitiria emitir nota fiscal simplificada, que serviria de base para a escrituração do livro-caixa e recolhimento do Imposto de Renda como pessoa física, o único tributo a que estaria sujeito. Recolheria a contribuição individual ao INSS e poderia ter empregados, que também recolheriam sua contribuição e teriam direito ao 13º, férias e aviso prévio.
O limite para o faturamento poderia ser de R$ 60 mil anuais (equivalente a R$ 5 mil mensais), a partir do qual seria criada a empresa enquadrada no novo Simples, previsto na emenda constitucional da reforma tributária.
Seria uma versão básica do SuperSimples aplicada às pessoas físicas e que teria o importante papel de trazer para a formalidade um imenso contingente de atividades, como serralheiros, marceneiros, artesãos, costureiras e muitas outras de produção de bens; o pequeno comércio, inclusive ambulantes regularizados; e uma vasta gama de prestadores de serviços, como barbeiros, encanadores, eletricistas, chaveiros, vendedores, corretores etc. Atividades essas que, hoje, ou são desenvolvidas por empresas, ou na total informalidade."


A idéia é boa, mais ou menos inspirada em um sistema aqui dos EUA. Infelizmente, é somente uma versão limitada e burocrática da lei americana. Aqui você pode abrir o seu pequeno negócio usando simplesmente o seu Social Security Number (algo como o RG e CPF juntos) e declara seus gastos e ganhos no imposto de renda de pessoa física. Não existe cadastro nenhum em qualquer tipo de orgão do governo. Além disso, vários gastos associados ao negócio, como por exemplo os juros da hipoteca pagos na parte da sua casa que é usada como escritório, são dedutíveis do imposto. A diferença é quase sempre significativa, e o incentivo para a abertura de pequenos negócios é muito efetivo.

O problema é que tudo no Brasil tem como objetivo aumentar arrecadação direta de impostos. Isto é, culpa-se a burocracia pela baixa receita, mas nunca a alíquota. Pode até ser que a criação dessa medida aumente a arrecadação, já que realmente muitos aceitariam a troca. Porém, se uma medida mais ampla fosse tomada, os benefícios seriam com certeza maiores.

Na verdade, acho difícil que mesmo essa medida proposta seja considerada. Afinal, o governo PT não tem se mostrado de forma alguma favorável à iniciativa privada. Muito pelo contrário, eles não devem ter nem tempo de analisar esse tipo de proposta. Devem estar ocupados demais com a dura tarefa de criar mais empregos públicos financiados por programas que nunca funcionam.

Saturday, June 05, 2004



Domingo, 6 de Junho, 2004

  O cowboy original



Reagan foi o primeiro Presidente conservador desde a implantação do "New Deal" por Roosevelt. Ele foi também o Presidente mais velho a ser eleito, com 69 anos em 1980. Ele quase havia conseguido a nominação republicana em 1976, mas acabou perdendo para Ford numa corrida equilibrada.

Tinha dois grandes objetivos: diminuir o governo americano e vencer a guerra fria. Conseguiu vencer a guerra, mas não conseguiu vencer totalmente o governo. Os republicanos na época eram minoria, e no fim das contas, Reagan conseguiu mais do que se esperava.

Além de grande comunicador, Reagan foi um grande inovador. Mudou o tom das negociações com as grandes Uniões de trabalhadores quando em 1981 despediu quase 12 mil controladores de vôo que se recusavam a sair de uma greve que paralisava o país. Também foi responsável pelo primeiro corte de impostos em décadas, que aos poucos recuperou a economia americana da crise e, na opinião de muitos, possibilitou a expansão dos anos 90.

Mas sem dúvida a maior conquista de Reagan foi a vitória sobre a União Soviética. Ele acreditava que a única maneira de vencer era aumentar os gastos com defesa de uma maneira drástica, forçando a economia soviética até seu limite. Gastou 1 trilhão de dólares no plano, incluindo o famoso projeto Star Wars, provavelmente o maior blefe da guerra toda. Além disso, soube negociar as pressões políticas européias, principalmente em relação ao posicionamento de mísseis nucleares na Alemanha em resposta aos mísseis da URSS no Leste Europeu.

Assim como Bush, Reagan era chamado de "Cowboy" pelos europeus, que o achavam sem a classe necessária. Também como Bush, Reagan enfrentou os "pacifístas" e conseguiu a paz de fato com sua tática de força. Ganhou algumas batalhas (como em Granada), perdeu outras (Líbano), e no fim venceu a guerra. Espera-se que o cowboy atual tenha a mesma sorte.

A história mostra o quão importante Reagan realmente foi, e tudo que devemos a ele.
Godspeed cowboy.