Sunday, July 31, 2005

Os radicais britânicos

Esse artigo do NYT sobre a origem dos radicais islâmicos no Reino Unido (traduzido aqui para assinantes do UOL) é bem interessante.

A lógica é a seguinte: Imigrantes do Sul da Ásia foram para Inglaterra durante o século passado em grande número. Eram na maioria pobres, e com baixa educação. Trabalharam nas indústrias, e conforme a economia inglesa foi mudando, foram dirigir taxis, montar suas lojas de conveniência, etc.

Essa primeira geração de imigrantes segue uma corrente islâmica de influência sufi, chamada Brelvi. São moderados, e gratos à Inglaterra por os ter recebido e dado oportunidade de trabalho e de liberdade religiosa.

Os filhos desses imigrantes formam a primeira geração educada na Inglaterra. São jovems que cresceram em bairros de classe média/média baixa, e que tiveram que lidar com oportunidades e problemas que seus pais não tiveram (drogas, gangues, sexualidade, ajuda do governo, etc).

Mas ao invés de considerar as causas desses problemas como sendo econômicas, esses jovens comecaram a achar que o faltava era espiritualidade. E quem é que veio salvar os jovens islâmicos das tentações da vida ocidental? O Super-islã! Não a versão civilizada dos seus pais, mas uma alternativa altamente rígida e ortodoxa, a escola Deoband (a mesma seguida pelo Talibã). Eventualmente esses jovens também desistiram da deoband, dizendo que sua abordagem para atrair mais seguidores era estreita demais, seu foco apolítico demais. Era preciso achar um Super-Islã mais poderoso.

A nova solução encontrada foi o salafismo, uma variação que se originou na Península Árabe no século 19 e ajudou a inspirar grupos como a Irmandade Muçulmana e a Al Qaeda. O salafismo exige pureza e rejeição de qualquer Islã exceto aquele dos primórdios, o que pode levar a profunda intolerância mesmo por outros muçulmanos como os xiitas.

Esses "novos convertidos" não somente viraram contra o seu país, mas também contra seus pais. Acham que eles foram subservientes e que sua versão do Islã é uma aberração. Do outro lado, os mais velhos acham que os jovens ficaram mal acustumados. Alguns vivem da ajuda do governo assim que viram adultos.

Enfim, essa é a idéia apresentada pelo artigo, e que na minha opinião, faz sentido. Lógico que a partir daí, pode-se chegar a inúmeras conclusões. A repórter meio que dá a entender que a culpa de tudo isso é da Inglaterra. O que não é novidade, já que muita gente acha que qualquer imigração é invariávelmente prejudicial, e sempre culpa das nações ricas que acabam recebendo esses mesmos imigrantes. E mais, acham que esses países deveriam criar enormes estruturas burocráticas para que os imigrantes se adaptassem 'culturalmente'.

Eu acho que essa é somente uma das muitas respostas fáceis, mas erradas. Primeiro de tudo, se problemas como esses imigrantes fossem tão enraizados na cultura islâmica, teriamos milhões de terroristas na Inglaterra, e não dezenas. Acho que choques culturais entre imigrantes é algo completamente normal, e nem sempre negativo. Essa fantasia explorada pelos radicais islâmicos pode até ter uma origem histórica, mas isso é só um disfarce de grandiosidade.

Oras, qualquer católico que veja seus amigos perdidos nas drogas pode dizer também que o problema é espiritual e não econômico. Essa noção de que o Islã tem um efeito mágico e radicalizador que outras religiões (ou culturas) não tem é um absurdo. E é um absurdo maior ainda achar que a única solução para uma eventual 'epidemia' desse extremismo é uma sensibilidade maior com qualquer islâmico.

Na verdade, vejo dois problemas distintos: o terrorismo patrocinado por estados, que precisa ser combatido no nível global (Talibã, Alqaeda, etc), e o terrorismo local, muitas vezes patrocinado pelos agente globais, mas em muitas outras levado a diante por simples malucos.

Esse último tem que ser combatido como crime, e como tal, corre perigo de cair na armadilha do relativismo exagerado. Querer achar explicações sociológicas para alguém que explode um ônibus com turistas para merecer suas 200 virgens no céu é um exercício de futilidade.

Thursday, July 28, 2005

CAFTA

O CAFTA (Central American Free Trade Agreement) foi aprovado ontem pelo congresso americano pela menor margem de votos possível: 217-215. Mês passado, o Senado tinha aprovado a medida também por uma diferença apertada: 54-45.

Dos 217 representantes que votaram sim, 202 são Republicanos e 15 Democratas. Dos 215 que votaram não, 187 são Democratas e 27 Republicanos (mais um independente). Vale lembrar que na votação do NAFTA, mais de 100 Democratas foram à favor, o que mostra como a rivalidade política domina os debates atuais em Washington.

Aumentaram o coro contra o tratado a insane left, os protecionistas e os sindicatos. Aliás, acho que os sindicatos dos países desenvolvidos são os maiores inimigos externos do terceiro mundo, ganhando de longe do lobby dos fazendeiros.

Tudo isso depois de um período aonde vários tratados como esse foram assinados (NAFTA, Austrália, Chile, Cingapura e outros) e a economia americana cresceu forte (entre 1993 e 2003 crescimento de 38% e quase 18 milhões de empregos criados).

Fica fácil entender porque as negociacões na WTO são tão difíceis. Mas, pelo menos agora existe uma chance.

Wednesday, July 27, 2005

Sudão: O elo perdido

Durante os anos Clinton, o Sudão era considerado um estado terrorista. Relatórios da CIA falavam sobre armas químicas e biológicas. Falavam também que o governo de Hassan al-Turabi teria contratado especialistas iraquianos para ajudar na construção dessas armas. Tudo isso culminou com o ataque de Al-Shifa, em 20 de Agosto de 1998.

Agora, as conexões do Sudão com a Alqaeda são indiscutíveis. Muitos acham que Hassan al-Turabi foi o mastermind por trás do surgimento do terrorismo atual, trabalhando com Bin Laden, Saddam e muitos outros. Ele até ganhou o carinhoso apelido de "O Papa do terrorismo" (ler aqui e aqui).

Tudo isso leva à seguinte pergunta: Porquê o governo Bush mudou de idéia sobre o Sudão?

Teria sido somente mais um erro que a CIA tenta encobrir? Quem sabe algo relacionado com a famosa viagem de Joe Wilson ao Níger? Pode ser.

Outra alternativa seria que o governo americano quer desviar a atenção do público de um problema mais do que complicado. Afinal, entre os massacres de Darfur e todo o backlash da crise das WMDs iraquianas, o governo Bush provavelmente quer ficar bem longe do Sudão.

Pelo menos por enquanto.

Tuesday, July 26, 2005

Gestão pela incitação!

Querem saber como o liberalismo e a individualidade prejudicam o ambiente de trabalho do brasileiro?

Leonardo Mello e Silva, professor de sociologia do trabalho do departamento de sociologia da Universidade de São Paulo explica direitinho: (grifos meus)

...
"A primeira, mais evidente, tem a ver com a adversidade do mercado de trabalho: quanto mais frágeis as condições de contratação, mais difícil fica para o empregado fazer com que seus direitos sejam respeitados. Melhor preservar o emprego realmente existente do que "cutucar a onça com vara curta".

Como o mundo do trabalho tem sido fortemente golpeado pelas políticas neoliberais de ataque aos sindicatos, é lícito projetar que demandas como a do assédio moral ficarão circunscritas a poucos casos e que o medo e a insegurança dos assalariados deverão recalcar a situação real, levando a uma sub-representação de ocorrências. É por isso que o sofrimento no trabalho tem uma explicação objetiva.

A segunda tendência retira sua força, paradoxalmente, da maior abertura proporcionada pelos novos métodos de gestão, que carregam um forte componente de individualização.

É cada vez maior o número de empregados -chamados, muito a propósito, de "colaboradores"- interpelados por seus superiores. Isso eleva em muito a carga de responsabilização e até mesmo de culpa. Se a meta não foi obtida ou a performance esperada não foi alcançada, não é mais o coletivo que assume a falta, mas o trabalhador: ele é quem não foi capaz de conseguir. Moralmente, isso tem um efeito tremendo, pois ninguém vai querer recuar diante de um desafio nem assumir a incapacidade de enfrentá-lo. É o que eu chamo de "gestão pela incitação".

Ainda que tal estratégia seja uma forma marota encontrada pelas empresas para extrair maior produtividade de seus subordinados, as organizações não assumem esse fato, pois o efeito é deixar cada funcionário com uma espécie de pulga atrás da orelha, desconfiado de si mesmo: "Será mesmo que não posso conseguir?".

A regulamentação do assédio moral no trabalho é um passo muito importante para a democratização das relações entre patrões e empregados, mas a lei, por si só, não é suficiente para produzir os efeitos pretendidos pelos legisladores. São as relações sociais de poder e subordinação que vão orientar o sentido que esses importantes marcos regulatórios vão ter na realidade."


Essa foi impagável.

Monday, July 25, 2005

Mensagem clara

O Egito não participou da "Coalition of the willing". Não participou nem mesmo da guerra no Afeganistão.

A justificativa para esse ataque que matou dezenas de pessoas (diferente do ataque de 97, a maioria dos mortos são egípcios) foi que "o Egito é pró-Ocidente".

Esse pessoal que acha que a guerra do Iraque é a mãe do terrorismo mundial devia pelo menos tentar conhecer a história da Alqaeda. E não estou falando somente sobre o tão comemorado financiamento americano dos mujahideen, mas sim dos objetivos da mesma.

É preciso entender que a bronca de Bin Laden and the boys não é com as falsas acusações das WMDs, ou com as disputas internas de Sunitas e Xiitas. Muito menos com o fato de que civis iraquianos são collateral damage do processo (até porque eles continuam matando civis iraquianos propositalmente).

Também se enganam aqueles que pensam que o objetivo é a retirada de tropas ocidentais das "terras sagradas". As tropas americanas já sairam da Arabia Saudita há anos, e nada mudou.

A Alqaeda tem como único objetivo a destruição do Ocidente e a criação de um império islâmico mundial. Qualquer governo que não coopere com a causa, é um inimigo. Pode ser engraçado como esse tipo de declaração lembra o Bush, mas a semelhança está só na superfície. Os EUA não vão bombardear a França, ou qualquer outro país que não ajude na luta contra esse pessoal. Pode-se até criticar a falta de tato, mas a retórica americana nada mais é do que um pedido de ajuda. Já a Alqaeda não é muito chegada em double entendre. Ela vai explodir o que puder e quem quer que fique na sua frente.

Pensem bem: Se o Egito, aonde pessoas são presas por "insulting heavenly religions", é considerado pró-ocidente, todos outros países minimamente civilizados deveriam entender que são alvos.

Infelizmente, certas pessoas só vão entender isso quando começarem a ver o seu quintal pegar fogo. Literalmente.

Sunday, July 24, 2005

Desgraça típica

Será esquecido rapidamente pela sábia opinião pública brazuca que o brasileiro morto em Londres pulou a catraca sem pagar e que não atendeu às ordens da polícia numa cidade que teve 2 atentados nas últimas duas semanas. Só será lembrada a tremenda falta de sorte do pobre coitado, a incompetência da polícia londrina, e o fato de que foram 5 tiros. C-i-n-c-o!

Anotem ai: Ainda vão fazer a conexão de que a morte dele foi culpa da guerra do Iraque. (Blair ou Bush, pick your choice).

E se bobear, também vão falar que eu e os outros gatos pingados que lembramos dessas coisas estamos defendendo o erro da policia, ou que condenamos o coitado do brasileiro à morte.

E a típica desgraça brasileira: uma união de irresponsabilidade com uma completa falta de consideração por tudo que te cerca.

Friday, July 22, 2005

Só a psicologia salva

A polícia londrina geralmente anda desarmada. Ontem, um suspeito terrorista foi morto pela mesma com cinco tiros. Todos à queima roupa.

***

A paternidade deveria ser pré-requisito para qualquer político, seja para o legislativo, executivo ou judiciário. Uma alternativa para os que não pudessem/quisessem ter filhos seria lecionar por 18 anos numa escola pública, passando por todas classes, do maternal à universidade.

Claro que não bastaria ser pai(mãe) ou professor. O público teria que ter acesso aos resultados, e julgaria a eficiência de cada um pelos filhos/alunos de cada um.

Na campanha eleitoral, o desempenho de cada família/classe seria um dos temas principais. "Vejam como eu lidei com a primeira crise escolar do Joãozinho. Notem como o meu plano de controle de mesadas e estudos no verão foram muito mais efetivos do que os castigos lenientes e falsas ameaças do meu adversário."

Seria o fim da loony left e crazy right as we know it.

***

Num mundo globalizado, o terrorismo pode se tornar muito parecido com uma guerra civil. Os 4 homens-bomba de londres eram londrinos.

No seu livro All the Laws but One : Civil Liberties in Wartime, o juiz da Suprema Corte americana William H. Rehnquist fala sobre como certos direitos, incluindo habeas corpus e liberdade de imprensa, foram restringidos durante a guerra civil americana, e de diferentes maneiras e graus, durante a primeira e segunda guerras.

É facil citar Ben Franklin ("They who would give up an essential liberty for temporary security, deserve neither liberty or security"), mas o fato é que essa situação já aconteceu na história de todas democracias modernas. Fingir que isso é algo novo ou inconcebível só piora o problema.

O que parece ser o real desafio é entender o quanto pode-se trocar, como e quando.

***

Já perceberam como as mesmas pessoas que confundem satisfação com nacionalismo parecem sempre querer camuflar ódio como insatisfação?

O que me incomoda, lá no fundo dos meus ossos, é phoniness.

Aussies are no sissies

Via Filisteu

PRIME MIN. HOWARD: Could I start by saying the prime minister and I were having a discussion when we heard about it. My first reaction was to get some more information. And I really don't want to add to what the prime minister has said. It's a matter for the police and a matter for the British authorities to talk in detail about what has happened here.

Can I just say very directly, Paul, on the issue of the policies of my government and indeed the policies of the British and American governments on Iraq, that the first point of reference is that once a country allows its foreign policy to be determined by terrorism, it's given the game away, to use the vernacular. And no Australian government that I lead will ever have policies determined by terrorism or terrorist threats, and no self-respecting government of any political stripe in Australia would allow that to happen.

Can I remind you that the murder of 88 Australians in Bali took place before the operation in Iraq.

And I remind you that the 11th of September occurred before the operation in Iraq.

Can I also remind you that the very first occasion that bin Laden specifically referred to Australia was in the context of Australia's involvement in liberating the people of East Timor. Are people by implication suggesting we shouldn't have done that?


When a group claimed responsibility on the website for the attacks on the 7th of July, they talked about British policy not just in Iraq, but in Afghanistan. Are people suggesting we shouldn't be in Afghanistan?

When Sergio de Mello was murdered in Iraq -- a brave man, a distinguished international diplomat, a person immensely respected for his work in the United Nations -- when al Qaeda gloated about that, they referred specifically to the role that de Mello had carried out in East Timor because he was the United Nations administrator in East Timor.

Now I don't know the mind of the terrorists. By definition, you can't put yourself in the mind of a successful suicide bomber. I can only look at objective facts, and the objective facts are as I've cited. The objective evidence is that Australia was a terrorist target long before the operation in Iraq. And indeed, all the evidence, as distinct from the suppositions, suggests to me that this is about hatred of a way of life, this is about the perverted use of principles of the great world religion that, at its root, preaches peace and cooperation. And I think we lose sight of the challenge we have if we allow ourselves to see these attacks in the context of particular circumstances rather than the abuse through a perverted ideology of people and their murder.

PRIME MIN. BLAIR: And I agree 100 percent with that. (Laughter.)

Wednesday, July 20, 2005

China, China, China

Ah, China. Cada dia uma bagunça nova.

Ontem li sobre a revolta dos fazendeiros. Posso estar enganado, mas já já vão começar a distribuir borrachada nesse pessoal.

E olha que eles tem motivos de sobra para estarem bravos. Mas na People's Republic, comunista ou não, o buraco costuma ser bem mais embaixo.

Já o pessoal com grana continua firme na briga pela Unocal. O que tem deixado certos políticos americanos de cabelo em pé. O que não deixa de ser um tanto ingênuo.

Ah, e também tem o rolo da moeda. E nesse caso, vale a pena ler o Friedman: The Tiananmen-Texas Bargain.

Eita lugarzinho complicado.

Kanitz

Descobri o site do Stephen Kanitz através do Nemerson.

O site parece muito bom, e por coincidência o Smart escreveu hoje um ótimo post comentando uma proposta do Kanitz de implementar uma democracia direta no Brasil. Depois do post do Smart, qualquer comentário meu sobre esse assunto será supérfluo.

Mas um outro artigo dele que já tinha me chamado a atenção foi este, escrito em 2002, sobre o FMI.

Eu sempre esperei pelo dia em que o Brasil não precisasse mais do FMI, para que toda aquela fantasia de que "o pais não dá certo porque o FMI nos manipula" fosse por água abaixo. Pelo jeito eu não era o único.

Tanto estavamos certos que atualmente ninguém fala mais no malvado FMI. Lógico que esse tipo de satisfação é efêmera. Hoje em dia os fantasmas são outros: investidores estrangeiros, PT(?!?), Bush...

O que me leva a outro ótimo artigo dele: Qual é o Problema?

Talvez o problema desse pessoal seja esse. Precisam aprender a formular as perguntas certas antes de sair por ai disparando respostas.

Tuesday, July 19, 2005

Links, posts, etc

Dois blogs que eu não conhecia que linkaram para cá: Charles Pilger e Caos Urbanus. Ah, tem também a Gaiola da LOka.

***

Ele deve ter passado uma pré-temporada em Quaresmeiras Roxas, ou quem sabe comprou uma nova cartola. Só sei que o Soares Silva anda on fire, baby.

Já o LLL entrou numa fase trash que não é brincadeira. Henry Miller is so overated...

***

Eu não ia falar nada, mas... Quem sabe alguém aqui me ajuda a entender este post. Eu não sei qual EUA esse cara vive, mas não pode ser o mesmo que eu. "O norte-americano é um ser que caminha olhando para um horizonte vazio."??? Holy cannoli...

Cabe aqui uma observação sobre como as pessoas escolhem o lugar aonde moram. Acho totalmente compreensível que alguém ache o seu país natal uma porcaria e continue morando por lá, por simples necessidade. Também entendo os que imigram puramente por dinheiro, ficam um tempinho e vão embora. Agora, como é que um sujeito educado, que provavelmente tem a opção de morar em outros países, faz a escolha consciente de morar por tanto tempo em um lugar tão mal educado, tão insensivel, tão sem classe, enfim, tão ruinzinho?

Numa dessas a pessoa corre o risco de ter gente não olhando no olho e ainda achar que o problema é com os outros...

Sunday, July 17, 2005

China

Outro dia, perdido no sono de uma classe um tanto repetitiva, comecei a contar a nacionalidade dos alunos. São 3 chineses, 3 do oriente médio, 1 maláisio, 1 russo (o falante da classe), 1 irlandês, 1 francesa, uma que eu não identifiquei mas parece ser latina, um brasileiro (eu), e 10 americanos.

Chegou uma hora em que o professor (indiano) perguntou exemplos de produtos marcantes de cada país, meio que procurando de uma maneira politicamente correta mostrar como cada um é especial de uma maneira diferente. Um falou sobre os vinhos franceses, outro sobre os relógios suíços, café colombiano, quando de repente o russo gritou "comunismo chinês".

O professor, meio chocado, disse "Não, o comunismo chinês é uma circunstância política, não um produto".

O russo, visivelmente irritado, retrucou "Eu discordo. Qualquer povo que aceita viver num regime ridículo como o comunismo o faz por opção. Eu digo isso porque eu sei como o meu povo fez essa mesma escolha, e sei que quando se cansaram, a coisa toda desmoronou. Os chineses continuam aceitando o produto vendido pelo governo, apesar desses recentes 'upgrades'. Se isso não te diz algo sobre um povo, não sei o que dirá."

Abaixei minha mão rapidinho. Depois dessa, Roberto Jefferson virou brincadeira de criança...

***

O futuro comunista da China já foi condenado há tempos. Todo esse falatório sobre o "modelo híbrido chinês" é coisa de saudosistas do politburo. A tendência é que a China se consolide no velho fascismo, com um governo autocrático, pró-business, e militarista.

Outra grande diferença do cenário atual para o da guerra fria é a escala da integração entre EUA e China. As ligações econômicas entre ambos são complexas, e a tendência é que esses interesses tornem a perspectiva de uma guerra menor.

Os maiores problemas devem vir de disputas locais, como Taiwan e o Japão.

Mas pelo menos por enquanto, acho que o perigo é pequeno.

Thursday, July 14, 2005

Já vai tarde

Parece que o judiciário americano resolveu jogar duro com os criminosos de colarinho branco. Depois de mandar os Rigas para o xilindró, agora foi a vez do maldito Bernnie.

Eu trabalhei 2 anos e meio na Worldcom. Graças as cagadas do dito cujo, perdi meu emprego na pior hora possível (minha esposa estava grávida de 9 meses).

O caso da Worldcom foi tão sério que as consequencias afetam o dia a dia de outras empresas até hoje. No meu atual emprego, perdemos horas e horas aderindo a lei Sarbanes-Oxley, criada para evitar esse tipo de desastre.

Espero que esses dois ladrões tenham o mesmo destino.

Tuesday, July 12, 2005

Just another day

Se eu fosse filósofo (o que atualmente parece ser um tanto impopular), escreveria sobre o bom senso.

Quando digo bom senso, penso em equilíbrio, no que deveria ser óbvio. Essa atração aos extremos que vejo em cada esquina sempre me surpreende... O que não deixa de ser uma falta de bom senso. Afinal, a única coisa em comum entre relativistas, subjetivistas, objetivistas e todos os outros "istas" é a rendição à volúpia do exagero.

Acho que quem chegou mais perto de definir o espírito da coisa foi Ortega y Gasset. But I am not sure.

Considerando tudo isso, me contento com as minhas observações dos absurdos diários. A BBC, por exemplo, não chama terroristas de terroristas. O escritório deles não deve ser em Londres, ou talvez eles tenham mudado de idéia nos últimos dias. Who knows.

Já o SSoB escreveu sobre o "Império americano". É sempre interessante ver como as pessoas usam certas palavras para fins tão distintos. Os leitores do Smart me alertam que os EUA são um "império não-territorial" (algo como uma escola de samba?), e sobre como as bases militares pelo mundo são um horror (só precisam explicar isso para o pessoal que vive nesses lugares), e até me explicaram que a origem do império foi a tomada das terras dos índios. Faltou um comentário sobre como a democracia não é para todos... Fica para a próxima.

Enquanto isso no Iraque, os terroristas (sim, eu uso o termo) continuam massacrando quem vier pela frente. Obviamente, esse pessoal só mata crianças porque os EUA provocaram. Se não fosse pelo Iraque, esse pessoal estaria criando ovelhas no Iêmen, ou rezando pacificamente na Jordânia. Quem mandou os EUA se meterem? Não vai me dizer que voce acredita nessa história de que o Iraque era um país terrorista, não é mesmo?

Ah, essa mania de tentar achar bom senso nas coisas não faz o menor sentido.

Monday, July 11, 2005

Vamos falar de algo realmente importante

Nada como ganhar deles.


Gustavo Nery faz a dança da galinha enquanto Marquito vai buscar a pelota no fundo do gol

Friday, July 08, 2005

Poderia ser verdade...


Mas não é.

Meu post preferido sobre este conundrum foi o A mentalidade servil, do Passa o sal (um dos meus novos favoritos).

O Fernando destacou o discurso do Ken Loonystone, Prefeito de Londres. Eu fico um pouco mais otimista quando vejo partes da esquerda acordando para a insanidade desses radicais islâmicos.

Mas ainda falta muito chão. O Friedman, para variar, matou na mosca : "When jihadist-style bombings happen in Riyadh, that is a Muslim-Muslim problem. That is a police problem for Saudi Arabia. But when Al-Qaeda-like bombings come to the London Underground, that becomes a civilizational problem." Ele ainda tem esperança de que os muçulmanos consigam controlar o problema de dentro, mas eu sinceramente duvido.

Uma hora ou outra vamos ter que encarar essa guerra do jeito que ela se apresenta. Vamos ter que parar com essa loucura de ficar dizendo que o Bush foi um demônio por ter atacado um país terrorista X e não um Y, que ele só queria petróleo, ou que ele queria vingar o papaizinho dele. Vamos ter que parar de achar que radicais islâmicos são culpa exclusiva do Ocidente e que o problema tem que ser resolvido burocraticamente por aqui, e não na fonte (e muitas vezes utilizando violência).

Poucos concordaram sobre o que eu falei sobre o Iraque, e hoje com a cabeça mais fria eu digo o seguinte: o Iraque é a segunda grande batalha dessa guerra. Pode ter sido mal escolhida, por ter sido mal executada, mas é o que é. A primeira grande batalha, 9/11, foi perdida depois de anos de pequenas derrotas (Cole, embaixadas na Africa, etc) e reações covardes.

É provavelmente a última chance de acabarmos com essa guerra num periodo relativamente curto e com um número relativamente baixo de vítimas. Uma guerra no Irã ou Arábia Saudita será um Iraque multiplicado por 100.

A hora tem que ser agora.

UPDATE

Vale muito a pena ler este post do 'O Insurgente' sobre a política e a economia do terrorismo.

Thursday, July 07, 2005

Londres

Sabe o que eu realmente queria que acontecesse?

Que hoje no fim do dia, todos os líderes do G8 anunciassem que estão mandando 20 mil tropas de cada país para o Iraque. Sim, 160 mil tropas chegando em Bagdá nos próximos meses. Um mar de italianos, canadenses, chineses e franceses saindo do vespeiro.

Ah, lá vem você com suas idéias reacionárias e violentas! Violência leva a mais violência! A resposta não é essa!

You know what? Podem chamar do que quiser. E eu até concordo que mandar mais tropas não ia resolver coisa nenhuma a curto prazo. Também concordo que no fundo o problema é econômico e cultural, que os países ricos tem que se mexer mais, etc, etc, etc.

Mas o negócio é o seguinte: Esse pessoal quer briga. A pior coisa que qualquer um pode fazer é mostrar medo. Eles não estão atacando a Europa por necessidade, e sim porque acham que lá está o elo mais fraco. A retirada espanhola foi talvez o evento mais prejudicial dos últimos tempos. É psicologia 101, coisa que qualquer criança aprende nos primeiros anos de escola.

Esses radicais que matam civis inocentes não vão ser convencidos a mudar. Essa geração toda de 'militantes' já está perdida e precisa ser combatida e destruída.

A não ser que estejamos dispostos a morrer antes.

Wednesday, July 06, 2005

Life, Liberty and the Pursuit of Happiness

Andrew Sullivan, para a série "this I believe" da NPR:

"I believe in the pursuit of happiness. Not its attainment, nor its final definition, but its pursuit. I believe in the journey, not the arrival; in conversation, not monologues; in multiple questions rather than any single answer. I believe in the struggle to remake ourselves and challenge each other in the spirit of eternal forgiveness, in the awareness that none of us knows for sure what happiness truly is, but each of us knows the imperative to keep searching. I believe in the possibility of surprising joy, of serenity through pain, of homecoming through exile.

And I believe in a country that enshrines each of these three things, a country that promises nothing but the promise of being more fully human, and never guarantees its success. In that constant failure to arrive -- implied at the very beginning -- lies the possibility of a permanently fresh start, an old newness, a way of revitalizing ourselves and our civilization in ways few foresaw and one day many will forget. But the point is now. And the place is America."

Tuesday, July 05, 2005

O amigo da África

Kristof, para o NYT hoje:

- Bush já aumentou os gastos com ajuda à África em 2/3 comparado com Clinton.
- Ele foi decisivo para o fim da guerra entre Norte x Sul no Sudão.
- Contribuiu para a criação de entidades como o Addis Ababa Fistula Hospital, aonde missionários ajudam mulheres com problemas obstétricos.
- Criou o Millennium Challenge Account, que apesar de um começo lento, já ajudou países que reformaram seus sistemas positivamente, como Madagascar.

Lógico que no fim ele pede para que os republicanos deixem de ser mão-de-vaca, but hey, se ele não falasse isso eu desconfiaria que o Rush Limbaugh tinha hacked a página do NYT...

Saturday, July 02, 2005

Pobre Brasil

Esse é o líder do partido mais poderoso do Brasil.

Essa é a nossa elite, nosso crème de la crème...

Titia Rand já dizia que "I don't like people who speak or think in terms of gaining anybody's confidence. If one's actions are honest, one does not need the predated confidance of others, only their rational perception. The person who craves a moral blank check of that kind, has dishonest intentions, whether he admits it to himself or not".

Mas ela partia do princípio de que existiriam pessoas racionais para decidir em quem confiar.

Às vezes eu me esqueço que o Brasil tem a liderança que merece.

Follow the Leprechaun

Nas duas últimas semanas, o Friedman escreveu artigos sobre a situação econômica da Europa. Semana passada ele falou sobre o famoso "milagre da Irlanda", e ontem sobre o dilema político entre o sucesso dos países que seguem um modelo "less protected but more innovative, high-employment" (Irlanda, Inglaterra e Leste Europeu) comparado com a crise dos que seguem o modelo "shorter-workweek-six-weeks'-vacation-never-fire-anyone-but-high-unemployment" (França, Alemanha, Bélgica).

Além de falar as coisas de sempre, ele cita uns dados interessantes sobre a Irlanda:
- Ela recebeu mais investimento americano em 2003 do que a China.
- 9 das 10 maiores companhias farmacêuticas tem fábricas por lá, assim como 16 das 20 maiores companhias de aparelhos médicos e 7 das 10 maiores empresas de software.
- O ministério da educação criou um programa para dobrar o número de Ph.D.'s em ciências e engenharia até 2010.
- A Dell é a maior exportadora 'irlandesa'.
- A Intel tem 4 fábricas, e emprega 4.700 pessoas.

O Friedman também cita entre os fatores que levaram ao sucesso irlandês o alto subsídio à educação: de graça até o 2.o grau, e com preços baixos nas universidades.

É interessante ver como esse sistema irlandês parece conseguir unir o melhor dos dois mundos: economia liberal (impostos baixos, pouca legislação trabalhista, alto investimento externo) e rede social extensa (educação e seguro saúde de graça).

Mas não podemos esquecer que a Irlanda tem somente 4 milhões de habitantes. Não sei se para um país com centenas de milhões de pessoas esse sistema seria viável.