Sunday, May 22, 2005


Domingo, 22 de maio, 2005

Sobre o artigo "Adeus às armas", de Hélio Schwartsman

Aqui vai uma cópia do email que mandei para o Hélio Schwartsman, em referência ao editorial "Adeus às armas".

Caro Hélio Schwartsman,

Gostaria de comentar alguns pontos do seu editorial "Adeus às armas", publicado na Folha Online do dia 19/05/2005.

Primeiramente, fico contente que o seu argumento à favor da proibição não caiu na falácia tradicional de que "a criminalidade irá diminuir". Um dos maiores problemas sobre esse assunto é justamente essa falsa expectativa que o governo passa à população. Isso não somente torna a discussão um tanto maniqueísta (o que pode viabilizar exageros, como a recente proibição de porte de armas para guardas metropolitanas) como também esconde certas consequências não-intencionais de tal medida. A pergunta do referendo pode parecer capciosa, mas não podemos deixar de lado a possibilidade que é somente um aviso do que estaria por vir.

Voltando então ao seu texto, o primeiro problema que achei foi quanto aos possíveis benefícios do controle de armas. Você mesmo diz que "(o controle de armas) tende a afetar apenas três estatísticas: homicídios por causas fúteis e acidentes e suicídios com armas de fogo. No caso dos suicídios, o "ganho" deve ser muito pequeno. Presume-se que a pessoa de fato disposta a dar cabo da própria vida encontrará os meios de fazê-lo quer tenha ou não acesso a revólveres. Já em relação às outras duas categorias, os resultados podem ser bastante bons."

O detalhe que faltou aqui é que o suicídio é o uso mais comum das armas de fogo. Nos EUA, por exemplo, a porcentagem chega a 57% de todas mortes involvendo armas de fogo (fonte: CDC National Center for Health Statistics mortality report online, 2005). No Canadá, aonde o controle de armas é forte, a mesma porcentagem chega a 80% (fonte: Canada Safety Council).

Quer dizer, a maior parte das mortes do grupo que você citou em teoria não seria afetada, já que fica difícil imaginar que no Brasil essa proporção seja muito diferente. Consequentemente, fica difícil acreditar nessa estatística de que "60% das mortes por armas de fogo na grande São Paulo sejam causadas por conflitos intersubjetivos". Para que isso fosse verdade, a porcentagem de suicídios teria que ser muito baixa, e a taxa de assassinatos criminosos e acidentes mais baixa ainda.

Ainda sobre os benefícios do controle de armas, alguns dados não foram analisados. Você cita a Austrália e Canadá, mas se esquece do Reino Unido. Por lá, de acordo com o Centre for Defence Studies no Kings College de Londres, o número de crimes com armas aumentou 40%, de 2.648 em 1997/98 (ano em que a proibição foi introduzida) para 3.685 em 1999/2000.
(fontes: Telegraph e BBC)

Mesmo na Austrália, aonde a restrição de 1996 foi bem menos severa (não incluiu pistolas e semi-automáticas) os resultados são melhores, mas não muito conclusivos. Os crimes cairam acentuadamente em 1998 mas depois voltaram a subir. Os números atuais são próximos aos de 1994. (fonte Australian Bureau of Statistics)

Já nos EUA, de acordo com o Departamento de Justiça, os crimes violentos e com armas de fogo vem caindo consideravelmente nos últimos 10 anos (50% no caso de crimes violentos). E o número de armas de fogo continua crescendo, com algumas pesquisas indicando que quase metade da população civil possui pelo menos uma arma em casa. Atualmente, os EUA tem proporcionalmente menos crimes violentos que o Reino Unido e Austrália, e menos suicídios que o Japão.

Por último, no quesito de uso defensivo de armas, apesar de realmente existirem poucos estudos, nem tudo se resume ao John R. Lott. Gary Kleck e Marc Gertz, do Instituto de Criminologia da Universidade da Flórida, fizeram um estudo que estimou que 2.5 milhões de americanos usam armas defensivamente por ano. Outro estudo, bem mais pessimista (ou menos otimista), do David Hemenway de Harvard, estimou o número entre 55.000-80.000 casos por ano. Considerando que em 2003 16.503 pessoas foram assasinadas nos EUA, mesmo o número de 55.000 por ano é considerável.

Concordo que esses estudos à favor da posse e porte de armas de fogo são realmente poucos, e com certos problemas (uma boa análise de alguns desses foi feita por Daniel Webster, da Johns Hopkins University). Entretanto, os estudos sobre os perigos das armas de fogo também são problemáticos (um bom exemplo é o famoso argumento sobre o número de crianças mortas por armas de fogo). As manipulações são constantes em ambos lados, e a diferenciação entre correlação e causa é muitas vezes difícil. Os meus argumentos (assim como os seus) não são exceções, e por isso mesmo, acredito que devemos analisar o máximo de informações possíveis antes que uma decisão seja tomada.

Enfim, não concordo que "as forças da civilização" deveriam apoiar tão rapidamente a total proibição de posse de armas por civis, especialmente no caso domiciliar. Quem sabe em uma sociedade mais estável, o controle de armas seja um 'trade-off' aceitável de segurança por um menor risco de acidentes. Mas considerando a situação atual do Brasil, que tem uma taxa de crimes altíssima e uma polícia com graves problemas de corrupção e ineficiência, o resultado pode ser um caos ainda maior do que o atual.

Thursday, May 19, 2005


Quinta, 19 de maio, 2005

Folha

A Folha Informática de ontem publicou uma série de artigos sobre 'Nova mídia', e para minha surpresa (ninguém da Folha me contactou) na seção 'Política' lá estava um link para este blog.

Eu nunca saberia dessa referência se não fosse pelo Nedstat, que mostra da onde os visitantes vem redirecionados.

De qualquer forma, sou oficialmente parte da 'Nova mídia'! Um revolucionário formador de opinião! Jerôoooonimooooo!

Próxima parada: NYT. Depois quero minha sitcom.

Como a página é só para assinantes, aqui vai o texto completo: (percebam que estou fazendo companhia para o Moore. Something is not right here.)

POLÍTICA

Relatos dos conflitos no Iraque e
em Israel chegam via internet.
Defensores de governos conservadores, ativistas ecológicos e
pessoas com todos os tipos de
orientação política podem encontrar blogs a favor ou contra suas
ideologias.

A female soldier - fala da rotina das
mulheres na guerra:
www.afemalesoldier.com

A Fist of Euros - movimentações da
União Européia:
fistfulofeuros.net

A Line in the Sand - um sargento fala
das dificuldades das batalhas:
www.missick.com/warblog

Alto Volta - criticas ao governo e aos
políticos do Brasil:
altovolta.blogspot.com

Antiwar.com - notícias sobre movimentos pacifistas:
www.antiwar.com/blog

Blog-Iran - pela liberdade de expressão no país:
www.activistchat.com/blogiran

Blogs for Bush - reúne sites de apoio
ao presidente dos EUA:
www.blogsforbush.com

Boycott Riaa - contra a associação da
indústria fonográfica dos EUA:
www.boycottriaa.com

Crisis Papers - comentários feitos por
dois especialistas em relações internacionais:
www.crisispapers.org

Davos Newbie - acompanha reações
políticas e econômicas da globalização:
www.davosnewbies.com

Europhobia - contra o bloco econômico dos países europeus:
europhobia.blogspot.com

Free Will Blog - comentários sobre os
acontecimentos políticos:
www.freewillblog.com

Fyi - comentários políticos de um
brasileiro que mora nos EUA:
fyiblog.blogspot.com

Mário Kertész - notícias e opiniões
sobre a política brasileira:
blog.radiometropole.com.br

Merde in France - contra Bush e
Blair. Tem versões em inglês e
francês:
merdeinfrance.blogspot.com

Michael Moore - dá dicas sobre outros sites de ativismo:
www.michaelmoore.com

My War - relatos de um soldado que
está em Mossul:
www.cbftw.blogspot.com

Iraq The Model - a favor da democratização do país:
iraqthemodel.blogspot.com

Just another soldier - histórias em
primeira pessoa:
www.justanothersoldier.com

O Barnabé - a rotina de um funcionário público em Brasília contada
com muito bom humor:
alfredneuman.blogspot.com

Occupation Watch - acompanha a
rotina de conflitos no Iraque:
www.occupationwatch.org

Siberian Light - sobre manifestações
políticas e conflitos na Rússia:
www.siberianlight.net

The Fishbowl - sobre o governo da
África do Sul:
www.jontyfisher.blogspot.com

Yabbai - análises bem-humoradas
sobre o panorama nacional:
yabbai.blogspot.com

Wednesday, May 18, 2005


Quarta, 18 de maio, 2005

Newsweek, a liberdade da imprensa e os radicais islâmicos

O rolo do momento por aqui é essa matéria da Newsweek do dia 9 de maio, que entre outras coisas, acusa um soldado americano em Guantanamo de ter jogado um alcorão na privada durante um interrogatório.

A notícia espalhou (alguns dizem que tudo começou com o ex-jogador de criket Imran Khan, famoso crítico Presidente do Paquistão Pervez Musharraf), e no fim da história 17 pessoas morreram em protestos no Afeganistão.

A coisa se complicou quando alguns dias depois a revista voltou atrás, dizendo "Based on what we know now, we are retracting our original story that an internal military investigation had uncovered Quran abuse at Guantanamo Bay".

A revista diz que a fonte da matéria é um "insider" do Pentágono, e que o erro foi dele. Entretanto, eles não querem revelar o nome do sujeito.

Quem lê a Newsweek sabe do bias da revista. Essa não foi a primeira vez que notícias duvidosas, baseadas em fontes anônimas um tanto suspeitas, foram publicadas.

Porém, a reação de alguns Republicanos nesse caso está sendo completamente oportunista. Declarações como esta, da Rep. Deborah Pryce (Ohio). Obviamente, os doidos do outro lado respondem à altura e dizem que a Newsweek não tem culpa nenhuma. Para esse pessoal, a culpa é sempre do Bush.

Mas de qualquer forma, perguntar "How many more lives have to be sacrificed until credibility can be returned to our newsrooms?" é um absurdo. Como culpar uma noticia, ainda que errada, numa revolta tão estupida? Afinal, os 'manifestantes' entraram num transe tão irracional que destruiram tudo ao seu redor. Inclusive mesquitas.

O 'Ministro de Informação' do Paquistão, Sheikh Rashid Ahmed, declarou que "Just an apology is not enough. They should think 101 times before publishing news that hurts hearts".

Quer dizer, o problema aqui é a total incompatibilidade dessa irracionalidade religiosa com um sistema de imprensa livre. Erros sempre aconteceram, e são um preço calculado do sistema. "Não ofender o coração" não é responsabilidade da imprensa.

O governo Bush deveria deixar de lado essa oportunidade de pisar na imprensa do contra e mostrar o absurdo da situação, por mais politicamente incorreto que seja.

Um bom exemplo a ser seguido é a coluna de hoje da Claudia Rosset, no Wall Street Journal.

Tuesday, May 17, 2005


Terça, 17 de maio, 2005

Books and loones

Calculei mal o quanto eu conseguiria ler na viagem de ida para o Hawai, e acabei ficando sem livro para ler na volta. Resolvi comprar algo por lá mesmo, e acabei escolhendo o The Book Nobody Read: Chasing the Revolutions of Nicolaus Copernicus.

O livro é meio pesado, mas bem interessante. Conta a história de Owen Gingerich, um astrofísico/historiador científico da Harvard, que resolveu montar um 'mapa' com a localização e detalhes de todas as cópias originais do De Revolutionibus Orbium Coelestium - On the Revolutions of Heavenly Spheres (livro de 1543 aonde Copérnico descreve a sua teoria cosmológica do sistema heliocêntrico) ainda existentes, para provar que este não foi o "livro que ninguém leu" (frase dita por Arthur Koestler no best-seller The Sleepwalkers).

Owen passou quase 30 anos pesquisando, e achou 601 cópias (1 e 2 edição) do De revolutionibus. Através das anotações nas margens, ele foi capaz de traçar muitos dos donos desses livros (de Kepler e Galileo à George II e Adam Smith) e muitos outros detalhes sobre como o livro influenciou a Revolução cientifica do século XVII.

Enfim, para quem estiver interessado no assunto, vale a pena.

Eu quase comprei o novo livro do Friedman, The World Is Flat: A Brief History of the Twenty-first Century. Parece muito bom, mas estava caro. Vou ter que esperar por uma promoção da Amazon.



E falando sobre The World being flat, e vendo essa ilustração dos barquinhos caindo no abismo, me lembrei de dois exemplos recentes da epidemia ideológica que eu falava num post anterior: Do lado direito, Michael Savage e seu Liberalism is a Mental Disorder. Do lado esquerdo, Leila (citando um artigo da Slate): Conservadorismo como problema psicológico.

And down they go!


Terça, 17 de maio, 2005

2 tests

How Liberal / Conservative Are You?

Meu resultado:

Your Political Profile

Overall: 75% Conservative, 25% Liberal
Social Issues: 50% Conservative, 50% Liberal
Personal Responsibility: 75% Conservative, 25% Liberal
Fiscal Issues: 75% Conservative, 25% Liberal
Ethics: 75% Conservative, 25% Liberal
Defense and Crime: 100% Conservative, 0% Liberal

The 3-Line Quiz

Meu resultado:
Libertarian - Republican - Free marketeer

Monday, May 16, 2005


Segunda, 16 de maio, 2005

Afinal, o que é um Blog?

Depois de ler os comentários do meu post sobre a longevidade dos blogs e especialmente após ler a resposta do Iraldo a este post do LLL, cheguei a conclusão de que a discussão precisa ser reformulada.

A real questão é: O que é um blog?

A maioria dos dicionários ainda não tem ainda uma definição. O Merriam-Webster, o meu preferido, não tem. A wikipedia define blog como sendo "A weblog (usually shortened to blog, but occasionally spelled web log) is a web application presented as a webpage consisting of periodic posts, normally in reverse chronological order. The term blog came into common use as a way of avoiding confusion with the term server log."

Isto é, uma descrição da funcionalidade técnica de um blog. Ainda assim, é uma definição errada na minha opinião. Blog não é uma Web application. É somente uma web page tradicional, que usualmente é publicada por uma web app especializada (como Blogger). Nada impede um usuário comum de criar seu próprio blog manualmente. Eu mesmo fazia isso na primeira versão do meu site. A única vantagem de usar um serviço como o do Blogger é praticidade.

Essa falta de entendimento das características técnicas pode ser a origem da confusão sobre o conteúdo e objetivo de um blog.

Blog é simplesmente uma convenção. Uma convenção bem flexível por sinal, e que vem mudando rapidamente. Inicialmente eram websites com conteúdo pessoal (diários online), onde os autores falavam sobre seu dia a dia. Depois começaram a surgir sites que tratavam de assuntos específicos, como política, esportes, etc, e que mantinham como principais características em comum com os blog pessoais a atualização frequente e estilo amador.

A partir daí, criou-se o meme de que blogs eram um meio revolucionário, e qualquer profissional (especialmente jornalistas) que não tivesse um blog estava ficando para trás.

A confusão ficou tão grande que hoje em dia, quase qualquer site pode ser chamado de blog. A diferença entre um blog como o Instapundit e um site como o Drudge Report é mínima.

Voltando a discussão do LLL, o Alex disse "Quanto mais eu ficar conhecido como blogueiro, menos ficarei conhecido como escritor. Mais tarde, ainda é capaz de algum boçal dizer "o blogueiro e dublê-de-escritor Alex Castro".

Ele reconhece que a tática atual não está funcionando, mas não identifica o porquê.

Na minha opinião, o problema maior é que ele partiu da premissa que leitores do blog seriam potenciais leitores do seu livro. Ele acreditou que o blog seria um passo intermediário que no fim levaria a publicação do seu livro.

Eu concordo 100% com a resposta do Iraldo. Blog e livros são duas coisas completamente diferentes. Acreditar que um levaria ao sucesso do outro seria como acreditar que somente o sucesso de um blog sobre política levaria a eleição de algum cargo público (Como ficou provado no caso Dean).

Esse tipo de associação está ficando tão comum que quando eu digo que eu sou um analista de sistemas e que o meu blog é somente um hobby (algo que deveria ser óbvio) algumas pessoas acham que estou buscando uma justificativa para o suposto "fracasso" da minha carreira de jornalista/comentarista/ou seja lá o que for!

A confusão aumenta quando o Alex quer criar mecanismos para profissionalizar o site. Afinal, qual é o produto sendo vendido? O conflito de objetivos é claro. Tanto que os poucos jornalistas que tem "blogs profissionais" se dedicam ao blog da mesma maneira que se dedicavam ao jornal ou revista que trabalhavam antes. Esses blogs só se tornaram profissionais justamente porque eram o meio para um fim específico.

Resta ao Alex definir se quer ser um "blogueiro profissional" (nada mais que um escritor que publica pequenos artigos online) ou um escritor de livros que usa um website como instrumento de marketing. Ou quem sabe um escritor que usa o blog como hobby.

De qualquer forma, querer fazer tudo ao mesmo tempo é um grande erro. Definir bem um objetivo é o primeiro passo para o sucesso.

Saturday, May 14, 2005


Sábado, 14 de maio, 2005

Longevidade dos Blogs

Depois desses dias longe da Net, resolvi rever meus bookmarks e dar uma limpada geral. Fiquei espantado com a quantidade de blogs que não me interessam mais, e tentei racionalizar a origem do problema. Acabei chegando a três fatores que eu considero essenciais à longevidade de um blog. Eles são:

- O fator cabresto:
Rush Limbaugh é um cara interessante. Ele é o icone atual dos Republicanos, e muitos creditam a atual dominância politica dos conservadores em Washington a ele.

Sem dúvida ele é inteligente, e o programa de rádio dele é bem feito. Mas eu não consigo ouví-lo por mais de 10 minutos sem mudar de estação. O problema é que não importa qual for o problema, os Republicanos estão sempre certos para o Rush. Sempre! Claro que por tabela, os democratas estão sempre errados.

Esse tipo de comportamento é muito comum pela blogsphera. Parece que o conforto proporcionado por uma ideologia, ou partido, ou grupinho de amigos, é muito mais poderoso que a curiosidade de se discutir e descobrir fatos, ou mesmo tentar elaborar soluções aos problemas que aparecem pela frente.

Eu simplesmente não entendo como uma pessoa pode ser tão ingênua ao ponto de achar que alguém, ou algum grupo, esteja sempre certo. Não é nem uma questão de ceticismo (que em exagero também é completamente inútil) mas sim de bom senso.

*obs: Eu citei o Rush so para mostrar que essa característica não é exclusiva da direita ou esquerda. Citar algum Bush-hater seria fácil demais.

- O fator educação:
Certas pessoas acham que a anonimidade da internet é um passaporte para que se deixe toda e qualquer convenção social de lado. Não que eu seja um puritano ou que me ofenda facilmente. Mas quando alguém te diz que "tomar no cu é o melhor argumento do mundo", algo está errado.

Eu acho isso nonsense. Eu tento escrever online exatamente como se estivesse falando no telefone com alguém, ou no bar com amigos. Certas pessoas, muitas vezes interessantes e inteligentes, parecem mais interessadas em chocar e provar que podem ser artificialmente diferentes, inventado personalidades que funcionam no máximo como um entretenimento temporário.

- O fator ego:
Muitas pessoas se iludem com o significado e importância dos blogs.

Eu sempre achei que o appeal dos blogs era justamente o fato de 'pessoas comuns' poderem escrever sobre tudo e todos. O 'poder' era justamente o individualismo e falta de corporativismo que acaba limitando quem escreve profissionalmente.

Quando blogueiro comeca a falar em "função social do blog", ou "o poder de mudança do blog" o negócio está preto.

O fato de que 150 pessoas passaram os olhos sobre o que você escreveu não te torna um expert.

Mas é só algum blog chegar num certo nível de popularidade que a ego trip toma conta. Escrevem posts como se estivessem palestrando, ou propondo uma lei ao congresso. Pior, comecam a escrever o que acham que os outros querem ler e não o que acham interessante.

Lógico que alguns desses blogueiros devem ser assim no mundo real também. Gente que parece interessante, mas no fim das contas não é. Nesse caso, eu não teria o menor interesse de conversar com esses, assim como não consigo mais ler seus blogs.

Thursday, May 12, 2005


Quinta, 12 de maio, 2005

So Long, and Thanks for All the Fish

Yes, I'm back.



A viagem foi curta (tive que voltar um pouco mais cedo), mas muito boa. Acho que vai render vários posts. Da inesperada escala no ground zero à Pearl Harbor; do Arizona à Mighty Mo; do Diamond Head à suspeita ocupação oriental do Hawaii.

Mas preciso de um tempo. Alguns dias sem internet é algo quase inconcebível atualmente.

Meu time entrou em crise, perdi ótimos posts, recebi centenas de emails, e por ai vai. Até descobri 'gente' me xingando em posts antigos (Nenhuma surpresa vindo de alguém que declaradamente "Rebaixa debates à segunda divisão"). Non compos mentis, como diriam meus amigos advogados.

Isso sem falar naquela coisinha chamada trabalho, que recomeça na segunda.

Enfim, bare with me people.

Wednesday, May 04, 2005


Quinta, 5 de maio, 2005

Aloha!



Volto dia 13. Don't panic!


Quarta, 4 de maio, 2005

Corrente

Lets relax a bit.
1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Quem é que não queria ser o Roark, do The Fountainhead?

2. Já alguma vez ficaste caidinho(a) por um personagem de ficção?
A Wyoh do The Moon Is a Harsh Mistress é super cool.

3. Qual foi o último livro que compraste?
De acordo com a Amazon, foi One Hundred Years of Solitude. Mas só vou poder comecar ele daqui uns meses. Comprei livros demais e estou tendo tempo de menos.

4. Qual o último livro que leste?
The Art and Discipline of Strategic Leadership, que foi bem chato. Ficção foi The Complete Stories do Kafka. Esperava mais, já que tinha gostado do Metamorfose quando era mais novo. Escrevi esse post sobre isso.

5. Que livros estás a ler?
History As a System, Why Terrorism Works, The Ultimate Hitchhiker's Guide to the Galaxy.

6. Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
The Fountainhead, Job: A Comedy of Justice, A Concise History of the World, e provavelmente algum do Ortega Y Gasset.

7. A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e por quê?

A todos os 3 leitores desse blog.

Via Filisteu

Tuesday, May 03, 2005


Terça, 3 de maio, 2005

Toasting Bush

Essa foi boa. Laura Bush tirando um sarro do Dubya no White House Correspondents' Association dinner. Melhores partes:

"George always says he's delighted to come to these press dinners. Baloney. He's usually in bed by now.

I'm not kidding.

I said to him the other day, 'George, if you really want to end tyranny in the world, you're going to have to stay up later.'

But George and I are complete opposites — I'm quiet, he's talkative, I'm introverted, he's extroverted, I can pronounce nuclear —

The amazing thing, however, is that George and I were just meant to be. I was the librarian who speant 12 hours a day in the library, yet somehow I met George.

Speaking of prizes brings me to my mother-in-law. So many mothers today are just not involved in their children's lives — Not a problem with Barbara Bush. People often wonder what my mother-in-law's really like. People think she's a sweet, grandmotherly, Aunt Bea type. She's actually more like, mmm, Don Corleone.

Now, of course, he spends his days clearing brush, cutting trails, taking down trees, or, as the girls call it, The Texas Chainsaw Massacre. George's answer to any problem at the ranch is to cut it down with a chainsaw — which I think is why he and Cheney and Rumsfeld get along so well.

It's always very interesting to see how the ranch air invigorates people when they come down from Washington. Recently, when Vice President Cheney was down, he got up early one morning, he put on his hiking boots, and he went on a brisk, 20- to 30-foot walk."


Já pensaram qualquer outra primeira dama fazendo essas piadinhas? Hummm.

Mas melhor que essa dos Bush só a resposta do Jeff Gannon, o novo escândalo que ninguém dá a mínima, no último programa do Bill Maher:

"MAHER: --if there was someone who had this in his past who was now working in the Clinton White House, with rather dubious credentials under a false name, don't you think they would have made a bigger thing of it under a Democratic administration? Don't you think the Republicans would have been—[applause]—[to audience] Stop it!! Don't you think the Republicans would have been all over that?

GANNON: Well, I don't know the answer to that, but usually the way it works is, people become reporters before they prostitute themselves.

MAHER: [laughs] [laughter] Touché, Mr. Jeff Gannon."


O Maher é loony left, mas muito interessante. Não dá para deixar de assistir o programa dele. Ele é tão bom que vou por a mão no bolso e ver ele ao vivo em Junho. Depois eu conto como foi.

Monday, May 02, 2005


Segunda, 2 de maio, 2005

Ranking da globalização 2005

A Foreign Policy publicou esse mês o novo Ranking da globalização 2005.

Nos top 10, nenhuma surpresa. Cingapura roubou o primeiro lugar da Irlanda, a Suécia voltou a subir (oitavo lugar) e a Nova Zelândia saiu do grupo caindo para a décima primeira posição.

A "surpresa" é que o nosso Brasil neoliberal conseguiu a façanha de cair de posição. Não satisfeitos com o 53.o lugar de 2004, agora somos 57 de um grupo de 62 países. Só estamos a frente de Bangladesh, Egito, Indonésia, Índia e Irã. Estamos 23 posições atrás do melhor latino americano, o Chile. E olha que estar em 34 nem é tão impressionante assim.

Para ser justo, não acho esse ranking um primor de critérios. Porque eles triplicam o índice do valor de investimento estrangeiro, por exemplo, é um mistério. E também contar contribuição de tropas para ONU como prova de globalização é um tanto discutível.

Mas enfim, é um estudo que merece atenção. Principalmente em casos como o do Brasil, aonde existe essa crença maluca de que somos realmente globalizados e que nossos problemas vem do 'excessivo liberalismo'.

Se alguém achar alguma notícia de algum jornal brasileiro sobre isso me avise. Eu não achei nenhuma.

Thursday, April 28, 2005


Quinta, 28 de abril, 2005

Dados sobre a eleição de 2000

Cinco anos depois, e a choradeira continua. Se a minha natureza permitisse, eu pararia de responder essas mensagens Moorianas sobre "o roubo" de 2000. Mas não consigo.

Para pelo menos facilitar minha vida, resolvi listar nesse post um resumo da história e os links sobre a recontagem dos votos de 2000.

Resumo:
Depois do fim das eleições, foi formado um grupo particular chamado NORC. Os integrantes do NORC foram: The New York Times, The Wall Street Journal, The Washington Post, Tribune Publishing (Chicago Tribune, Los Angeles Times e vários outros), CNN, Associated Press, St. Petersburg Times e The Palm Beach Post.

Esse grupo teve como objetivo recontar os votos novamente (duas recontagens oficiais já haviam sido feitas) e confirmar se o resultado havia sido correto ou não. O grupo se reuniu na Flórida em Janeiro de 2001. Ficou em treinamento até Fevereiro, e realizou várias recontagens que duraram até Maio.

Os resultados mostram que a recontagem pedida por Gore e as recontagens pedidas pela Suprema Corte da Flórida (modelo 'simples' e 'complexo') continuariam mostrando Bush como vencedor.

Outros 6 tipos de recontagem foram feitas usando diversos parâmetros, como inclusão de votos de acordo com as regras de Palm Beach, votos duplicados, etc. Nesses cenários, Gore seria vencedor em 5. O único que ele não venceria é no "maior inclusividade de votos".

Como nenhum desses resultados foi idêntico, e considerando que o resultado oficial também não bate com nenhuma das recontagens, temos 12 diferentes possibilidades. Cada um dos candidatos seria vencedor em 6, e perdedor nas outras 6.

Em ordem de importância, isto é, considerando primeiro os resultados 'preferidos' pelas Suprema Cortes, Bush e Gore, o Bush venceria nos 4 primeiros (oficial, recontagem Gore, e 2 recontagens da Suprema Corte da Flórida).

Este é o PDF completo do estudo, incluindo a metodologia de recontagem e todos os possíveis cenários.

Estas são as reportagens dos principais jornais sobre a recontagem:

Washington Post: Florida Recounts Would Have Favored Bush
New York Times: EXAMINING THE VOTE: THE OVERVIEW; Study of Disputed Florida Ballots Finds Justices Did Not Cast the Deciding Vote
CNN: Florida recount study: Bush still wins

Enfim, quem acreditava nas teorias de conspiração vai provavelmente continuar acreditando. Mas esses são os dados.

Wednesday, April 27, 2005


Quarta, 27 de abril, 2005

Minuteman Project e a reforma na imigração americana

As leis de imigração americanas precisam de mudanças urgentes. Quem não entende isso, ou acha que esse tipo de conclusão é de alguma forma racista, não tem a menor idéia do potencial explosivo da situação atual.

Uma prova concreta de que estamos chegando num limite é o Minuteman Project . 750 voluntários se revezam em turnos de oito horas e patrulham um pedaço de 23 milhas na fronteira do Arizona e México.

Os organizadores dizem que o programa é um sucesso. De acordo com o organizador Jim Gilchrist, esse ano a guarda da fronteira prendeu 2,500 ilegais na área coberta pelos Minuteman, comparado com 7,700 no mesmo período do ano passado.

Os críticos dizem que os ilegais simplesmente mudaram de área. Mas isso pouco importa. O que é importante é notar que essa atitude de "tomar a justiça nas próprias mãos" não vai parar até que algo seja feito. Quem acha que os americanos vão ficar somente fazendo passeatas com pombinhas na lapela não conhece nada daqui.

O Bush propôs a criação de vistos para "trabalhadores manuais". Atualmente, os vistos de trabalho são para profissionais especializados. A proposta está dividindo o congresso de uma maneira bem estranha. Alguns Republicanos querem uma lei mais branda, enquanto outros democratas querem uma lei mais dura.

E a divisão vai além dos políticos. O Sierra Club é contra. Moradores do Arizona são à favor.

No fim das contas, é uma decisão difícil. A anistia de 1986 não funcionou. O número de ilegais subiu de 2.7 millhões da época para 8 a 12 milhões atualmente. A única saída é criar uma alternativa legal, já que fechar totalmente a fronteira seria um esforço caríssimo e prejudicaria a economia.

Na teoria, o fato de um presidente Republicano estar propondo um programa desses deveria ser positivo. A oposição da ala 'ultra-conservadora' Republicana já era esperada. Mas essa estranha revolta de certos democratas, como a senadora Boxer, me cheira oportunismo. Não querem deixar o Bush (ainda mais ele!) receber o crédito por algo que eles sabem que é correto e inevitável.

Tuesday, April 26, 2005


Terça, 26 de abril, 2005

Changes

O CommentThis morreu.

Estou tentando usar o nativo do Blogger. So far so good.

Mas todos os brilhantes comentários passados foram pro espaço. Uma perda intelectual irreparável.

Estou pensando em processar. Alguém topa? (Aonde está a ACLU quando se precisa?)

Monday, April 25, 2005


Segunda, 25 de abril, 2005

Readability Test

Readability Results for http://fyiblog.blogspot.com/

SummaryValue
Total sentences409
Total words5,268
Average words per Sentence12.88
Words with 1 Syllable2,738
Words with 2 Syllables1,421
Words with 3 Syllables673
Words with 4 or more Syllables436
Percentage of word with three or more syllables 21.05%
Average Syllables per Word1.77
Gunning Fog Index13.57
Flesch Reading Ease43.72
Flesch-Kincaid Grade10.36

Interpreting the Results

Typical Fog Index Scores
6TV guides, The Bible, Mark Twain
8Reader's Digest
8 - 10Most popular novels
10Time, Newsweek
11Wall Street Journal
14The Times, The Guardian
15 - 20Academic papers
Over 20 Only government sites can get away with this, because you can't ignore them.
Over 30 The government is covering something up

Saturday, April 23, 2005



Sábado, 23 de abril, 2005

Irresponsabilidade Republicana

Essa semana, no dia 17 de Abril, foi comemorado o "Tax Freedom Day". Isto é, proporcionalmente, até esse dia tudo que foi ganho pelos trabalhadores foi para o governo. Daqui em diante, vai para quem trabalhou.

Já parece muito ter trabalhado até o meio de Abril para os outros, mas na verdade poderia ser muito pior. Vejam como o Tax Freedom Day mudou de ano a ano:


Se não fosse pelos tax cuts do Bush, ainda estaria trabalhando para o governo.

Porém, os Republicanos estão longe de serem responsáveis nos dois lados da equação. Os gastos continuam crescendo, não somente militares mas no geral. Pior ainda, o governo Bush está adotando enormes medidas populistas antes exclusivas dos democratas.

Um ótimo exemplo é a proposta do ASPIRE, ou America Saving for Personal Investment, Retirement, and Education.

Inspirado nas Baby Bonds do Blair, esse programa depositaria pelo menos 500 dolares numa poupança especial para cada criança nascida nos EUA. Além disso, o governo contribuiria com 1 dolar para cada dolar depositado até o limite de 500 por ano, até a criança completar 18 anos.

Na teoria parece uma ótima idéia. Na prática, serão 35 bilhões de dolares nos primeiros 10 anos de programa (mais detalhes no Marketplace do dia 21 de Abril).

Esse tipo de programa social é o que existe de mais perigoso. Depois de implantado, é um pesadelo de controlar gastos e quase impossível de se cancelar. Qualquer cidadão achará que tem o direito de receber $500 quando tem um filho, and that's it.

E daonde os Republicanos acham que virá esse dinheiro?

Friday, April 22, 2005



Sexta, 22 de abril, 2005

Progressistas, pero no mucho

Através da dica de um amigo (obrigado Marcelo), cheguei nesse grupo do Yahoo chamado "blogprog - Reuniao virtual de blogueiros e internautas progressistas."

E para minha surpresa, não é que os progressistas estão bravos comigo?

Com a palavra o Marcus, que por sinal eu tinha nos meus favoritos até pouco tempo atrás:

"O Paulo "FYI" não é um olavete clássico, pois aparentemente se porta dentro dos limites da civilidade. Seu blog tem assuntos interessantes e até já o linkei uma época, quando tínhamos constantes quebra-p...digo, debates nas caixas de comentários do LLL, do meu blog e do dele.

Comecei a ficar puto quando ele manifestou alguns sintomas olavistas, principalmente o de mentir descaradamente sobre fatos óbvios, tipo: negar que a tortura era algo institucionalizado dentro do exército americano, dizer que os presos de Guantánamo estão sendo tratados de acordo com as Convenções de Genebra, que o Design Inteligente não é uma doutrina religiosa, etc.

Tirei o link, assim como de todos os blogs de direita, inclusive do "Alto Volta", um cara que eu até defendi uma vez, e que depois me ofendeu gratuitamente na caixa de comentários do Pedro Doria. Apesar de tudo, eu achava o FYI apenas um bobo alegre deslumbrado com sua vidinha norte-americana, até que leio um post dele de poucos dias atrás. Textuais: "A prisão do argentino gerou os piores posts do ano até agora. Principalmente naqueles pompous and patronizing blogs de 'doutores' que adoram falar sobre tudo sem falar exatamente nada. Aqueles que já nascem unânimes".

Seu ataque covarde ao Idelber (sem link nem referência direta) é típico dos piores wunderbloggers -- aqueles que usam o apelido "Idelburro" e afirmaram que o Idelber ganhou sua cátedra num gesto politicamente correto da Universidade de Tulane, uma espécie de "cota para sul-americanos coitadinhos". Percebo uma profunda inveja nessas aspas, um despeito que não tem cura, pois nem dizer que ele é um "apenas um professor da fefeléchi" podem, na medida que o Idelber conseguiu seu título na "matriz intelectual" deles, na "terra prometida do saber e do trabalho". O fato do Idelber ter se tornado uma celebridade instantânea na blogolândia, enquanto eles só recebem comentários de sua panelinha direitista, deve fazer bastante mal à auto-estima deles.

Também existe muita inveja nos ataques torpes de alguns wunderbloggers à ótima iniciativa da Casa das Mil Portas, do Nemo Nox. Começo a concordar com o André, é perda de tempo polarizar com esse pessoal. São anões intelectuais e insetos morais."


Uau.

O mais interessante dessa história toda, é que o Marcus me acusa de um "ataque covarde" e escreveu essa diatribe numa comunidade que eu nunca saberia que existe, se não fosse a coincidência de ter um amigo entre os membros. Aliás, eu nem sabia que ele tinha essa ou qualquer tipo de grudge comigo.

E depois o "anão intelectual e inseto moral" sou eu!

Sem contar que nessas discussões citadas, não houve falta de respeito nenhuma da minha parte. O Marcus simplesmente abandonou a conversa assim que eu comecei a mostrar provas a favor dos meus argumentos. Ele nem sabia ,por exemplo, que havia mais de uma convenção de genebra. Tudo que eu fiz foi citar o artigo que explicava a legalidade por trás da proposta feita pelo Gonzales.

E falando sobre o tal "ataque" que irritou tanto assim o corajoso Marcus, não acredito que tenha sido covarde. Acho que era óbvio que eu estava falando do Idelber, tanto que se eu não quisesse deixar isso bem claro, não teria usado o 'Doutor'. Não é segredo nenhum que eu não gosto do blog dele e não concordo com suas opiniões. Já disse isso inúmeras vezes no LLL. Deixar de citar o nome ou colocar um link é algo muito comum entre blogs, e até mesmo no jornalismo em geral. O mesmo Alexandre fez isso outro dia. No big deal.

E para ser mais específico, decidi usar essa referência indireta inspirado em um comentário do próprio Idelber para esse post, em que ele diz:
"O que mais me impressionou no nível da discussão aqui no Biscoito foi que em nenhum ou quase nenhum momento ouviu-se aqui o argumento fraco e preguiçoso de que "queria ver se alguém chamasse alguém de branquelo de merda seria preso", esse clássico e odioso pseudo-argumento de comparar o que não pode ser comparado, abusando da nossa inteligência e dos nossos ouvidos sempre que uma vítima de racismo ousa gritar e ir atrás dos seus direitos. Exemplos dessa total falta de noção e de sensibilidade não aconteceram aqui nenhuma vez. Apareceram em outros blogs, em caixas de comentários ou em tristíssimos posts."

Enfim, pode ser que tenha sido escrito para mim, pode ser que não. Eu deixei claro no meu post que meu comentário era "uma observação subjetiva e naturalmente incomprovável". That's it.

Por último, só lembro ao Marcus, Idelber, Leila e o resto dos "progressistas" que me xingaram lá no grupinho o seguinte: Seria bom vocês manterem a discussão num nível mínimo de civilidade. Criticar o que eu escrevo é uma coisa. Querer inferir se eu sou bem sucedido ou mal sucedido, ou fazer comparações com esta ou aquela pessoa pelo número de leitores do meu blog não é somente ridículo, mas também perigoso. Lembrem-se que o blog para mim é um hobby, que dedico algumas poucas horas por semana. Se for para entrar no mundo real e comparar méritos, qualificações e conquistas pessoais, acho que a grande maioria vai ser dar mal.

Isso sem falar nos ataques à moral. Mas ai eu já desconsidero totalmente. Afinal, quem realmente acha ser possível julgar o quão moral alguém é ou deixa de ser lendo um blog não deve ter capacidade mental de entender o que é moralidade. Esse julgamento eu deixo aos meus amigos e minha familia.

Monday, April 18, 2005



Terça, 19 de abril, 2005

Noruega e o limite do modelo escandinavo

Drogados perambulando pelo centro. Falta de policiamento nas ruas. Escolas sem os materiais apropriados e bibliotecas desatualizadas.

Essa é a Noruega que Bruce Bawer,um escritor free lance que mora em Oslo, descreve para o NYT.

Além desses problemas sociais, Bawer fala sobre o altíssimo custo de vida em Oslo: Uma pizza grande custa de $34 a $48 dolares ($10 nos EUA), um galão de gasolina custa $6 ($2 nos EUA), e um gim-tônica custa $15.

De acordo com um estudo da KPMG, essa situação não deveria ser surpresa para ninguém. Quando a renda disponível foi ajustada em relação ao custo de vida, os países escandinavos são os mais pobres da Europa Ocidental: Dinamarca o mais pobre, Noruega segundo e Suécia o terceiro. Espanha e Portugal, dois países mais 'liberais', lideram a lista dos mais ricos.

Falando sobre a europa no geral, Bawer cita um estudo do Johan Norberg, um escritor sueco, que mostra que o crescimento econômico dos EUA nos últimos 25 anos foi de 3%, comparado com 2.2% na União Européia. Apesar de parecer próxima, essa diferença fez com que a economia americana quase dobrasse, enquanto a européia cresceu pouco mais de 50%. O poder de compra nos EUA é de $36.100 per capita, e na E.U. é de $26.000.

O artigo completo do Norberg é bem interessante, e pode ser lido aqui. Vale notar como a evolução da Suécia se deu quando a proporção dos gastos do governo em relação ao PIB eram bem menores... Exatamente como no caso da Irlanda.

Algun tempo atrás eu li In Defense of Global Capitalism, também do Johan Norberg. O livro é um paraiso de estatísticas, e um dia desses quando tiver tempo postarei algumas das mais interessantes.

Mas a mensagem é simples: A partir do momento em que um País deixa seus custos governamentais passarem da barreira de 35, 40%, a coisa vai pro brejo. Os escandinavos conseguiram uma melhora fantástica quando abriram suas economias, e atualmente estão sacrificando suas riquezas e infraestrutura em nome da "igualdade social". O processo é sempre insustentável, e a escolha é sempre a mesma: cortar benefícios ou aumentar impostos. Os impostos europeus, principalmente na Escandinávia, já estão no limite. A reforma do sistema é somente uma questão de tempo.

Sunday, April 17, 2005



Domingo, 17 de abril, 2005

Moore's Top 5

Assisti Fahrenheit 9/11 ontem. Maldito Netflix deixou as coisas muito fáceis, e você acaba cometendo esse tipo de erro.

Eu já tinha lido sobre o festival de mentiras há muito tempo, mas ver aquela cara gorda e aquela voz de ator B frustrado foi mais irritante do que eu imaginava.

Aqui vai a minha lista das Top 5 mentiras mais descaradas (ou veja todas as 59 mentiras aqui, ou ainda uma tradução de várias delas aqui):

5: A manipulação sobre as férias do Bush. O filme diz que ele passou 43% do tempo sem trabalhar. Tirando os fins de semana e os dias que ele trabalhou no rancho dele no Texas, o numero real é 13%.

4: Bush não apoia os soldados. Moore diz que Bush "tentou cortar os salários de soldados em 33%". O que realmente foi proposto foi a não renovação de um bônus de $75 dolares dado aos soldados que já recebiam um bônus de "perigo eminente" de $150 dolares. Considerando que o salário de um soldado raso com 4 meses de experiência é de $27.000 o corte seria de no máximo 3%. Na verdade Bush aumentou os salários dos soldados 3.7% em 2003.

3: Oregon abandonado por Bush. O filme mostra que os State Troopers do Oregon tiveram cortes de fundos e diz que somente um guarda seria o responsável pela proteção de toda costa do Estado. Primeira mentira é culpar os cortes de fundos no governo federal. Esse dinheiro vem do Estado, que por sinal está numa crise fiscal por ser um dos mais dominados pelos democratas. Segunda mentira, não é responsabilidade dos State Troopers defender a costa. Quem cuida disso é a Guarda Costeira e a marinha. Na costa do Oregon e Washington, a Guarda Costeira tem 1287 funcionários na ativa, 459 na reserva, e 1600 auxiliares voluntários.

2: A clássica mentira sobre a eleição de 2000, que por incrível que pareca, ainda engana muita gente inteligente . O Moore diz no filme que "a recontagem de votos daria a vitória a Gore em todos os cenários". A verdade é que se a recontagem fosse feita apenas onde Gore a solicitou, a vitória seria de Bush. Se a recontagem fosse geral - o que Gore jamais solicitou - a vitória iria para Gore, se alguns critérios fossem seguidos, e para Bush, se os critérios fossem outros.

1: A guerra do Afeganistão e a construção de um gasoduto. Moore diz a guerra do Afeganistão tinha como objetivo abrir o caminho para que a Unocal construísse um gaseoduto. Primeiro, o projeto do gaseoduto era dos tempos do Clinton. Segundo, nunca saiu do papel. As imagens mostradas no filme não são de nenhum gaseoduto no Afeganistão. Uma sequência de mentiras relacionadas diz que Bush recebeu representantes do Talibã quando era governador do Texas, e que Hamid Karzai, atual presidente do Afeganistão, foi consultor da Unocal. Novamente, tudo falso. Os Talibãs visitaram a Unocal para conhecer aquele projeto de gasoduto do Clinton abandonado em Agosto de 98, e não existe prova alguma que Karzai trabalhou para a Unocal.

Enfim, esse tipo de mentira não é erro de pesquisa. É manipulação intencional. Como certas pessoas ainda levam essa cara à sério, eu sinceramente não sei.

Saturday, April 16, 2005



Sábado, 16 de abril, 2005

Rapidinhas

Substituição na ala esquerda: Sai Velho do Farol (contundido desde fevereiro) e entram Leila e Smart.

Nos blogs em inglês, entra o meu novo favorito: Marginal Revolution. É assim que eu quero ser quando crescer.

Outra novidade é a mudanca de nome do Alexandre. Agora é Alex Castro. Sei, sei. Agora só falta mudar o blog para "Socialista, Reacionário, Beato".

E por último, uma observação subjetiva e naturalmente incomprovável: a prisão do argentino gerou os piores posts do ano até agora. Principalmente naqueles pompous and patronizing blogs de 'doutores' que adoram falar sobre tudo sem falar exatamente nada. Aqueles que já nascem unânimes.

O mais engraçado é como o pessoal (maioria da loony left) fica completamente descontrolado quando alguém tenta pensar out of the box e questionar as unintended consequences de um assunto políticamente correto.

A veia autoritária desse pessoal nunca deixa de me impressionar. Pulsa firme e forte por trás desse populismo descarado, por mais que eles queiram disfarçar.

Friday, April 15, 2005



Sexta, 15 de abril, 2005

Racismo...

A prisão desse jogador argentino por ato racista me deixou encucado.

Eu acompanho futebol há quase 20 anos. Se ganhasse 1 dolar para cada vez que já ouvi jogadores negros reclamando que foram ofendidos, estaria rico. Isso em jogos entre times brasileiros.

Mas então porque raios resolveram prender esse argentino?

Eu nem sou tão contra assim contra a teoria de que uma prisão como essa pode ser um bom exemplo. Acho muito complicado controlar um ambiente como um jogo, aonde os jogadores se xingam de todas as maneiras possíveis, mas esse não é o maior problema nesse caso. O que eu não entendo é essa "escolha" do argentino. Porque não um brasileiro?

Seria uma vingança contra o tal preconceito histórico dos argentinos contra os 'macaquitos' brasileiros?

Se foi, então estamos combatendo racismo com racismo e xenofobismo. O que é ridículo.

Wednesday, April 13, 2005



Quarta, 13 de abril, 2005

Republicanos vs Democratas

De todos os estereótipos criados nessa última eleição americana, o que me parecia mais absurdo era o de que os Democratas tinham mais votos da "elite" da população, i.e. intelectuais e gente bem sucedida do Nordeste e Costa Oeste, e que os Republicanos tinham os votos dos rednecks ("Nascar Republicans") e do bible-belt, a maioria gente pobre vinda do Sul.

Quatro pesquisadores do Departamento de estatística da Columbia University confirmaram essa minha suspeita nesse estudo (dica do ótimo Marginal Revolution). Apesar de termos os democratas vencendo nos estados mais ricos, os republicanos continuam tendo uma porcentagem de votos maior de pessoas mais ricas, e os democratas das mais pobres.

Anteriormente, um dos pesquisadores (David Park) já tinha postado no Statistical Modeling, Causal Inference, and Social Science que a distribuição individual de renda por partido não seguia os resultados dos estados:

Income %R %D
<$15K 36% 63%
$15-30K 41% 58%
$30-50K 48% 51%
$50-75K 55% 44%
$75-100K 53% 46%
$100-150K 56% 43%
$150-200K 57% 43%
>$200K 62% 37%

De acordo com o estudo, as diferencas não são grandes. Principalmente porque a grande maioria dos eleitores se concentra na faixa de 30k - 200k, aonde os numeros são bem próximos.

Obviamente, esses números podem ser usados de muitas maneiras. A renda do eleitor não é algo bom ou ruim per se para cada partido. Certos republicanos adoram se denominar "from the people" e dizer que a elite democrata não entende o povão americano. Do outro lado, certos democratas sempre disseram que representavam as minorias pobres, e que os republicanos eram os representantes das grandes corporações.

O que eu achei realmente irritante foi esse meme que os democratas lançaram, querendo justificar sua derrota numa grande conspiração de pessoas pobres e mal informadas.

E pior que um perdedor chorão, só um perdedor chorão mentiroso. Deviam pelo menos ter falado que foi uma conspiração de um bando de classe média/alta mal informados. Seria ao menos uma propaganda estatísticamente plausível.

Monday, April 11, 2005



Segunda, 11 de abril, 2005

Propriedade privada?

A falta de noção desses políticos brasileiros é algo inacreditável. Agora os cariocas que forem a qualquer shopping e gastarem dez vezes o valor cobrado pelo estacionamento não precisam pagar. Ah, não podemos esquecer que essa "promoção" só vale se o cliente não ficar mais de seis horas no estabelecimento. Ou então tem que ficar menos de 30 minutos. Senão tem que pagar!

Será que esse pessoal tem a menor idéia do que uma lei dessas realmente significa? Empreendimentos de milhões de reais são feitos, rendas e despesas calculadas, e de repente se descobre que o estacionamento tem que ser de graça. Quem é que vai querer investir num lugar desses?

E mais, quem diz que os estacionamentos do Shopping são diferentes de qualquer outro estacionamento? Será que eles vão criar uma regrinha maluca para cada tipo de estabelecimento?

Se o governo tem o poder de decidir quem precisa e quem não precisa pagar estacionamento de um estabelecimento privado, baseado num critério totalmente arbitrário e sem relação nenhuma com segurança ou legalidade do local, é melhor dizer que o estacionamento é do governo e pronto!

Eu não sou advogado, e não sei como funciona o conceito de jurisprudência no Brasil, mas nos EUA uma lei dessas colocaria em risco o conceito de propriedade privada.

Friday, April 08, 2005



Sábado, 9 de abril, 2005

O "milagre" da Irlanda

Em 1984 a Irlanda era o segundo pais mais pobre da Europa. Em 2002 se tornou o segundo país mais rico. Um crescimento da renda per capita de 167% em menos de meia geração.

O grupo WorkForAll fez um estudo sobre essa incrível evolução. A análise é baseada em regressões múltiplas sobre 25 fatores, usando dados públicos da OECD - Organisation for Economic Co-operation and Development , e usando como parâmetro de comparação a Bélgica.



Os números são impressionantes. Dos 25 fatores analisados, os 2 com maior influência foram Porcentagem de gastos do governo em relação ao PIB e Estrutura de impostos sobre mão de obra, renda e lucros. Os gráficos abaixo mostram claramente essa correlação:


Mais impressionante ainda foram as consequências dessa diferença em crescimento. A Irlanda não somente criou muito mais empregos que a Bélgica (31,2% contra 7,6%) e consequentemente diminuiu a taxa de desemprego (16.81% para 4.59% contra 10.14% para 7.95%), como também aumentou gastos sociais em todas as áreas (118% contra 43%), diminuiu a dívida pública em relação ao PIB (111% para 30% contra 124% para 98%), aumentou os benefícios familiares (262%! contra -1%), gastou mais em saúde pública (67% contra 40%), e aumentou os benefícios por desempregado ($6,274 para US$11,401 contra US$11,594 para $11,459).



Esses resultados mostram como certos conceitos, como a curva Armey e Laffer, funcionam na prática. Outro gráfico interessante é o que compara os gastos públicos em relação ao PIB de outros países e grupos como EUA, Japão e EU:



Será que o Brasil está mais para Irlanda ou Bélgica?

Wednesday, April 06, 2005



Quarta, 6 de abril, 2005

Make him watch

O parlamento iraquiano escolheu ontem o seu presidente, Jalal Talabani. Um curdo. Também foram eleitos 2 vice presidentes, Adel Abdul-Mahdi, um Xiita, e o ex-Presidente interino Ghazi al-Yawer, um Sunita. Apesar do primeiro-ministro (a ser eleito nas próximas semanas) deter a maior parte do poder, a escolha dos cargos tem grande importância política. Mostra sobretudo, que os 3 diferentes grupos étnicos estão dispostos a cooperar e fazer concessões.

O representante do parlamento Hajim al-Hassani, outro sunita nomeado recentemente, disse "Esse é o novo Iraque, onde nenhum grupo controla o país inteiro."

O Ministro dos Direitos Humanos Bakhtiyar Amin disse a Associated Press que o parlamento pediu que Saddam e os seus comparsas assistissem a cerimônia. Ele garantiu que todas as TVs da prisão estavam ligadas quando chegou a hora.

Make him watch.

Monday, April 04, 2005



Segunda, 4 de abril, 2005

Iraque update

As reportagens sobre o Iraque andam diminuindo a cada dia por aqui. Considerando que raramente se falou sobre os dados positivos (com exceção da eleição, e sabe-se bem porquê) a falta de notícias é um bom sinal.

Resolvi dar uma pesquisada rápida, e descobri que março foi o mês com o terceiro menor número de mortes americanas. Morreram 40 soldados, comparado com 60 mortes em Fevereiro e 127 em Janeiro (o pior mês foi Novembro de 2004, com 141 mortes).

Isso não significa que os problemas acabaram, mas mostra uma mudança significativa na situação. O que era chamado de "resistência à ocupação" está diminuindo, e o que sobrou é uma tentativa de grupos minoritários (incluindo estrangeiros) de desestabilizar o governo democrático e iniciar uma guerra civil. Isso explica o porquê em março 440 Iraquianos morreram, sendo 240 civís e 200 policiais/militares iraquianos.

Mortes são mortes, e muitos dos civis sendo mortos são mulheres e crianças. Mas essa mudança de alvos tem um lado positivo. O principal risco à estabilidade iraquiana (na minha opinião, obviamente) seria a retirada prematura das tropas americanas. Isso acabaria sem dúvida numa guerra civil. Mas esses ataques contra os iraquianos nesse estágio atual significa que os terroristas estão desesperados. Com os americanos ainda fornecendo força militar, a população tem motivos para ajudar o governo oficial contra os terroristas. Fatores como esse fazem toda diferença.

O desespero dos terroristas é tão evidente que agora eles estão atacando em grupos maiores, algo que vai contra a tática mais eficaz de guerrilha de pequenos ataques com bombas de controle remoto.

Se o processo político continuar evoluindo e as tropas iraquianas continuarem sendo treinadas a situação pode ser estabilizada. E em pouco tempo.

Tuesday, March 29, 2005



Terça, 29 de março, 2005

O problema das múltiplas escolhas

Estava para escrever sobre isso há tempos mas as coisas andam muito corridas por aqui.

O problema de se ter opções demais. Será que aquelas pessoas que vivem dizendo que a vida era mais fácil 30 anos atrás estão mesmo certas? Será que o ser humano não está "equipado" para lidar com a vida moderna? Ou será que tudo isso é somente uma tentativa de justificar erros pessoais na sociedade?

Esse artigo do Orson Scott Card fala exatamente sobre isso. Mais especificamente, fala sobre o livro O Paradoxo das escolhas, de Barry Schwartz.

A tese de Schwartz é que o aumento de opções em todas as áreas, das mais simples como comida e roupas até as mais complicadas como planos de saúde e investimentos financeiros, deixou a vida complexa demais para um certo grupo de pessoas.

Como diz o Orson Card, essa idéia parece absurda. Afinal, o aumento de alternativas somente reflete as diferenças entre cada indivíduo. Os avanços da sociedade sempre vão nessa direção. Como é que esse aumento de conforto pode ser prejudicial?

O problema está na maneira que os diferentes grupos tomam decisões. Segundo Schwartz, as pessoas estão divididas basicamente em dois tipos: Maximizers e Satisficers (algo como maximizadores e satisfazíveis).

Satisfazíveis são aqueles que, apesar de terem necessidades e gostos específicos, conseguem decidir o que querem e se contentam com sua decisão.

Já os Maximizadores são aqueles que sempre vivem procurando o melhor negócio. O melhor preço, a melhor qualidade, a maior conveniência. Sempre. Por definição, Maximizadores nunca estão satisfeitos.

Resumindo a história (o artigo dá vários exemplos), um maximizador nunca está feliz porque nunca está "done". Ele nunca para num emprego porque sempre acha que o emprego do vizinho é melhor. Nunca mantém um carro (e consequentemente nunca acaba de pagar o mesmo) porque um novo modelo, melhor e mais moderno, está sempre disponível. Muitos não conseguem escolher nem mesmo uma profissão, ou manter um relacionamento estável. A possibilidade do que eles não tem vale mais do que qualquer coisa.

O maior problema dos maximizadores é que seus objetivos sempre se tornam irreais. O Card não fala muito sobre isso (talvez o livro fale) mas os maximizadores que eu conheço nunca tem um plano definido. O plano é sempre implícito: achar (ser, estar) o melhor em tudo. Diferente de um perfeccionista, que busca ser o melhor em alguma área específica, o maximizador nunca está focalizado em nada.

Obviamente, a solução não é eliminar as opções, e sim diciplinar o universo de escolhas. O que pode ser muito difícil, já que esse tipo de conceito não é ensinado em lugar nenhum. Pelo contrário, nossa sociedade incita essa ilusão de "tudo ao mesmo tempo agora". E é talvez por isso que as religiões continuem fazendo tanto sucesso.

Enfim, vale a pena ler o artigo todo. O Orson Scott Card escreve muito bem. A última coluna dele, sobre Global warming, também esta ótima.

Thursday, March 24, 2005



Quinta, 24 de março, 2005

America!

Eu não tenho a Globo por aqui (custaria $50 por mês, mais do que eu pago por 110 canais) mas fiquei sabendo pelo pessoal do Brasil sobre essa nova novela, "America", e resolvi conferir o website deles. Logo que ouvi o nome já sabia que boa coisa não viria, mas eu me surpreendi. Para o pior, claro.

Tudo bem que novela é novela, mas esses esteriótipos são ridículos. A personagem que quer imigrar ilegalmente é uma tadinha (até ficharam ela!). Outros que conseguiram imigrar para os EUA não gostam, e tem muitos problemas. Bônus para a professora malvada. Vejam esse parágrafo:

"Se no Brasil é comum as crianças chamarem suas professoras de tia, nos Estados Unidos esse hábito é malvisto. Abraçar a professora? Nem pensar! Beijar a professora? Tudo bem, mas a cota de beijo é limitada a um por dia. Também não pode andar de mãos dadas com os coleguinhas. Contatos físicos, por mais inocentes e banais que sejam, devem ser evitados a todo custo."

Eu dei muita risada com essa da cota de beijos! E já imaginaram uma criança aqui chamando a professora de "aunt" e achando que a professora não atende por não ser carinhosa?? Esse pessoal tem uma imaginação incrível.

Engraçado também foi a opinião do Titio Sader. Ele também parece não ter gostado, mas como sempre, for all the wrong reasons. Afinal, é sempre mais fácil achar que certos países são mais ricos que outros por causa da "lógica do capital" do que por eficiência ou mérito.

Enquanto isso, no mundo real, os países do terceiro mundo continuam se beneficiando com a imigração do seu povo, especialmente para os EUA. Em 2004, o dinheiro enviado por imigrantes ultrapassou o investimento estrangeiro direto. Foi um total de US$ 46 bi, US$ 5,6 bi para o Brasil, e US$ 16,6 bi para o México.

Por último, vale lembrar que apesar de grave (especialmente para a segurança interna dos EUA) o problema dos imigrantes ilegais é exagerado pela mídia. Afinal, dos 35.7 milhões de estrangeiros nos EUA, 10.3 milhões são ilegais, ou seja, menos de 30%.

Sunday, March 20, 2005



Domingo, 20 de março, 2005

Schiavo e o "direito" à morte

Não sei como o caso Schiavo está sendo retratado pelo mundo, mas aqui nos Estados Unidos temos uma batalha jurídica de grandes dimensões. Muitos acreditam ser o Roe vs. Wade da eutanásia.

Argumentos de cada lado não faltam, mas uma coisa é certa: Não poderíamos ter uma decisão mais hipócrita e infeliz do que a atual.

Hipócrita e infeliz porque os que defendem o direito de que Schiavo morra são os mesmos que acham execuções de assassinos algo desumano e ilegal. Muito pior, aceitam que ela morra lentamente de fome, algo bárbaro. Do outro lado, a hipocrisia está na negação da rápida e indolor morte dada aos condenados à morte, e na obrigação da escolha entre vida assistida ou morte "natural" (ela vai estar sedada, mas isso não é garantia de que não vai sentir nada durante o longo processo).

De muitas formas essa disputa é descendente direta da questão do aborto. Ninguém quer pensar (ou admitir) que o Estado controla algo tão precioso como a decisão entre vida e morte. Prefere-se inventar subterfúgios (como não admitir a vida de um feto ou tentar adivinhar os desejos da Schiavo) do que tentar lidar com essa triste realidade de uma forma racional.

Só resta torcer para que ela realmente não sofra mais do que já sofreu.

Friday, March 18, 2005



Sexta, 18 de março, 2005

Liberal ou libertino?

Poucos sabem que o candidato do Partido Liberal americano, Michael Badnarik, ficou em terceiro na eleição do ano passado. Não é por menos, afinal ele recebeu somente 0.3% dos votos.

Eu acho que o potencial do PL no cenario político americano é enorme. Maior do que em qualquer outra época. Uma parte enorme dos republicanos não está satisfeita com a guinada populista da ala dos neocons, e uma parcela maior ainda dos democratas não aguenta mais ver o partido na mão da esquerda radical.

Esse editorial do WSJ ajuda a entender o porquê do PL não ter se aproveitado dessa situação, especialmente no que diz respeito aos republicanos. A imagem atual é uma das piores possíveis. E a culpa é só deles.

O problema maior é que eles focam no social e não no econômico. Como diz o editorial, passam a imagem de Partido Libertino. Talvez isso até funcionasse na década de 60, mas hoje em dia é suicídio.

Se o lado econômico fosse ressaltado, acho que eles seriam capazes de roubar uma parcela grande dos votos republicanos e independentes. É dali que viria a maior parte do poder. E com uma base de influência maior, as propostas sociais poderiam trazer alguns democratas moderados e até quem sabe outros desiludidos com os partidos menores como os verdes. Mas eles precisam entender que esses seriam uma minoria.

O Free State Project deveria ter dado a dica. Pelo que eu notei, a grande maioria das pessoas que está se mudando para New Hampshire vai atrás primeiramente de maior liberdade econômica. O lado social fica em segundo plano. Até porquê, por bem ou por mal, o povo americano é na maioria de centro/direita. Tanto é que os referendos sobre casamento gay falharam em todos os Estados, incluindo centros democratas como California e Oregon.

Como diria George Bush (pai): It's the Economy, Stupid!

Wednesday, March 16, 2005



Quarta, 16 de março, 2005

Deskafkainado

O livro desse mês do Clube de leituras do LLL na verdade foram dois: O Processo e A Metamorfose.

Eu já tinha o The Complete Stories (que inclui A Metamorfose) e planejava comprar o Processo. Não deu. Então minha opinião será somente sobre o primeiro, com o background de ter lido também a maioria das outras histórias do livro, como "The Penal Colony", "The Judgment" e "A Country Doctor".

Eu tinha lido A Metamorfose há muitos anos atrás, e tinha gostado muito. Eu lembro que achei a idéia da transformação em inseto algo bizarro, mas que de alguma forma poderia ser real. Talvez por ainda estar perto da minha adolescência, uma fase bizarra mas também bem real, tudo fazia sentido. Na época achei que Kafka conseguia passar essa situação de uma maneira única, com todo aquele clima de desespero, tensão e ao mesmo tempo complacência. Fiquei chateado quando o livro acabou.

A minha sensação ao reler A Metamorfose agora foi bem diferente. Não sei se é somente porque já conhecia a história, mas tudo me pareceu repetitivo. Ao invés de achar o livro curto como da primeira vez, me via contando as páginas até o final. Até mesmo a metáfora de estar preso no corpo do inseto me pareceu menos interessante. Não consegui ficar fantasiando sobre como ele poderia estar fugindo disso ou daquilo. Parecia claro demais que Kafka estava descrevendo alguém que fugia da vida em sí, do emprego, da família, de tudo. Querer identificar uma razão específica me pareceu ser um exercício de futilidade. A morte no final foi o fim perfeito para um enredo que me pareceu mais uma fantasia de suicídio do que qualquer outra coisa.

Pela primeira vez entendi como certas pessoas acham Kafka chato. Apesar de eu ter gostado de alguns dos outros contos, não fui até o final do livro. Todo aquele clima de sofrimento e reclamação estava me deixando louco.

Enfim, o que mais me chamou atenção nessa (re)leitura foi como podemos mudar tanto de opinião com o passar do tempo. Eu que me acho um cara estável, the same old fella, devo ter mudado muito e nem percebi. Será que eu gostaria dos outros livros que lí a cinco, dez anos atrás? E aqueles que lí no ano passado?

Ter percebido isso depois de ler A Metamorfose não deixa de ser irônico.

Friday, March 11, 2005



Sexta, 11 de março, 2005

Força vs Diplomacia

Interessante essa notícia de que o conselho islâmico da Espanha declarou uma "Fatwa" contra o Osama bin Laden.

A existência de Fatwas em sí é um absurdo. Mas considerando que essa é nossa realidade, essa reação contra o bin Laden pode ser algo positivo. Obviamente ele representa uma minoria radical, mas é uma minoria ativa. E além disso, a passividade da maioria muitas vezes soa como apoio. E nesse mundo de fantasias e símbolos religiosos, esse tipo de aceitação passiva faz muita diferença.

E considerando a divisão interna da Espanha depois do 3/11 (que matou 191 pessoas e feriu mais de 1,800), essa declaração do conselho islâmico chega a ser surpreendente.

O governo e o povo espanhol não se entendem em quase nada relacionado ao ataque. Alguns acham que foi tudo culpa do Aznar e seu apoio ao Bush, enquanto outros dizem que a Espanha sempre foi um alvo, e pagou pela sua falta de atenção. Quanto as reações ao ataque, alguns acham que a eleição do Zapatero, a retirada do Iraque e ineficiência da polícia (somente 28 dos 75 acusados foram presos) mostram o despreparo do País para lidar com o terrorismo. Outros, acham que todo cuidado é pouco para que a Europa não se transforme num campo de batalhas. Eles seguem o tal consenso de Madrid, definido por ninguém menos que Mr. Soros.

É a eterna briga entre os que acham que o terrorismo tem que ser combatido com força, e os que acreditam em soluções diplomáticas. Bem ou mal, o conselho islâmico da Espanha pelo menos escolheu seu lado.

Tuesday, March 08, 2005



Terça, 8 de março, 2005

O melhor programa americano sobre política

A minha lista de coisas em comum com o Bill Maher é bem curta: Somos vegetarianos, pró-environment, e brancos. And that's about it.

Apesar disso, o Real Time é um dos 3 programas que eu assisto religiosamente na TV. E o único sobre política.

A diferença entre o Maher e os outros apresentadores/pundits é que apesar de tudo, ele consegue colocar o programa na frente da ideologia. Ele tem lá suas teorias malucas e não pensa duas vezes antes de defender o seu lado, mas na maioria do tempo não parece estar tentando convencer ou converter ninguém. Ele é opinionated mas não obnoxious.

E com isso ele consegue dar mais espaço para os convidados. Apesar de manter no mínimo 2 dos 3 lugares para gente de esquerda, o representante da direita consegue quase sempre expor seu ponto de vista (um exemplo clássico foi quando o Andrew Sullivan detonou o Maher sobre Chomsky. Vejam o transcript aqui). Programas como o do Bill O'Reilly, com quem concordo 80% do tempo, caem muito rápido no 'preaching mode'. Os entrevistados passam muito tempo se degladiando ou concordando totalmente com o Bill, e no fim parece sempre a mesma história.

Sempre penso que o Real Time é um dos melhores exemplos de como o free speach ainda reina nos EUA. Quem acha que por aqui não se tem liberdade para falar sobre qualquer assunto precisa conferir.

Tentei descobrir se passa no Brasil mas não achei informação nenhuma. Alguém sabe?

Monday, March 07, 2005



Segunda, 7 de março, 2005

Guia de Blog do SobreSites

Meus agradecimentos ao Alexandre pela inclusão do seu humble correspondent (como diria Bill O'Reilly) no Guia de Blog do SobreSites , mais especificamente na página de Blogs Sobre Política.

O Guia é bem interessante, vale a pena conferir.

Friday, March 04, 2005



Sexta, 4 de março, 2005

Morde e assopra

Eu sei que o assunto é sério, mas não deixa de ser engraçado ler certas análises sobre a situação atual do Oriente Médio. Estou falando daquele pessoal que foi completamente contra a guerra, e que agora com as irrefutáveis mudanças que acontecem na região, está completamente confuso.

O Clóvis Rossi ontem e o Boris Fausto hoje são ótimos exemplos.

Vejam a confusão que fez o Clóvis Rossi:
"É óbvio que, sem a determinação norte-americana de depor Saddam Hussein e ameaçar fazer o mesmo com outros ditadores da região, muito dificilmente a "ordem congelada" teria começado o seu degelo.
É ruim que esses fatos, positivos, tenham vindo na esteira de uma ação ilegal como foi a ocupação do Iraque. Mas, já que vieram, é torcer para que os movimentos rumo à democracia se consolidem -e que não apenas se substituam os ditadores de plantão por governantes títeres dos Estados Unidos ou por ditadores que estavam na oposição e, só por isso, se faziam passar por democratas.
Volto ao paradoxo inicialmente citado: no Afeganistão, uma eleição que não chegou a atender padrões aceitáveis conferiu poder aos "chefes de guerra", que são talibãs sem fé no Islã, nada democráticos.
No Iraque, o caos gerado pela invasão norte-americana é tudo menos avanço rumo à democracia."


Entenderam? As invasões causaram todo esse rebuliço na região mas em sí não tem nada de democráticas! Essas outras reações aconteceram por... Mágica! Pura coincidência.

O Boris Fausto não fica atrás. Vejam só:
"Não há por que tomar as eleições iraquianas, pelo que já se ressaltou, como exemplo de êxito da implantação da democracia pela força das armas. O que não quer dizer que a simples realização de eleições não tenha representado um trunfo ideológico do governo americano junto à cidadania interna e, até certo ponto, junto aos países europeus.
Já nos casos da Palestina e do Egito, em que o pragmatismo incide em maior dose do que no Iraque, é significativo o papel das pressões do governo Bush, seja sobre Israel, para permitir condições mínimas de realização das eleições após a morte de Arafat, seja no sentido da abertura do regime egípcio. Não por acaso, o anúncio de Mubarak seguiu-se a uma recusa da secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, em ir ao Egito, após a prisão de um jornalista adversário do governo."


Quer dizer entao que as eleições iraquianas foram um "trunfo ideológico junto à cidadania interna e, até certo ponto, junto aos países europeus"??? Novamente, a reação na região foi por pura coincidência!!! Must be some kind of magic, magic! Esses bobões no Oriente Médio entenderam tudo errado... Foram inspirados por algo que não existe!

Aliás, esse texto do Boris Fausto é um exercício de morde e assopra. Ele acha que a grande participação popular no Iraque foi boa, pero no mucho. Ele acha que o Egito dá sinais de democratização, mas pode ser armação. Que os Palestinos sempre quiseram a democracia, mas que pode dar tudo para trás.

Dar o braço a torcer não é fácil.