Wednesday, August 31, 2005

Mitos do inglês

Resolvi escrever sobre certas características do inglês depois de ler esse texto do André sobre cursos de inglês no Brasil. Na verdade, esse é um tema que sempre achei interessante e mal compreendido. O assunto é longo, para mais de um post. Mas vamos por partes.

Primeiro, o mito de que o inglês é uma língua fácil. Comparativamente, isso pode até ser verdade para os brasileiros. Afinal, o alfabeto é o mesmo, e apesar de não ser uma língua latina, o inglês tem algumas palavras parecidas e regras gramaticais não muito difíceis.

Mas essa facilidade do inglês é muito, muito exagerada. Principalmente quando seu objetivo é fluência.

O problema principal para os brasileiros é a pronúncia.

Geralmente, as pessoas acham que o som mais difícil (e muitos acham que esse é o único fonema do inglês que não existe no português) é o "Th". Sem dúvida esse é um dos problemas, já que falar "Thanks" sem o th vira "Tanks".

Mas existem muitos outros casos que causam grande confusão para os brazucas. Por exemplo, a diferença entre m e n. Em português, m e n tem basicamente o mesmo som. Tombo, tonto, também, tanto, todos usam o m com som de n. Ou então tem som do ão, como em foram e encontraram.

Em inglês o m tem sempre som de m, e a diferença com o n é bem importante. A pronúncia não é muito simples, principalmente no meio de frases. Can e Cam, Pan e Pam, Den e Dem por exemplo, são claramente diferentes. Ou então palavras como item (pronunciado como airam), que tem um som fechado no fim que é completamente estranho ao português.

Outro problema muito comum para os brasileiros é o ed no final das palavras. Tende-se a usar o som de i depois do d, ou então pronunciar o d mudo em todas situações. Em inglês, o ed no final da palavra varia de som. Às vezes, o e não é pronunciado (played, called), e outras vezes o d mudo soa como t mudo (hooked). Ficar pior ainda quando a consoante anterior tem um som parecido, como em k (choked), ch (patched), etc.

Pelo que eu lembro, os cursos de inglês no Brasil perdem muito tempo com gramática e vocabulário, e muito pouco com pronúncia. E na prática, um americano irá entender muito melhor uma pessoa que tenha um vocabulário pequeno e que cometa um erro aqui e ali de gramática do que alguém que não saiba a diferença ao falar shit e sheet.

Saturday, August 27, 2005

Interrompemos nossa programação



Volto na quarta. Quinta sem falta. Talvez Sexta.

Friday, August 26, 2005

A tie is like kissing your sister

A NHL (Liga nacional de hóquei no gelo) mudou suas regras para a temporada 2005, e agora todas as grandes ligas de esporte dos EUA tem pelo menos uma coisa em comum: Os jogos não podem acabar empatados.

Frank Deford fala sobre isso (leia o texto aqui), e explica como a cultura americana odeia empates. De quebra, ele esclarece um dos mistérios mais analisados por sport-pundits pelo mundo: Porquê diabos os americanos não gostam de futebol?

Esse Deford é muito bom.

Thursday, August 25, 2005

Ainda sobre a cegueira ideológica

Ler a Folha nesses últimos dias está sendo ótimo. Eles não passam um dia sequer sem mostrar (inconscientemente, claro) a loucura ideológica que encobre o Brasil.

No jornal de hoje, temos dois bons exemplos. O primeiro é sobre uma palestra do ministro da Educação, Fernando Haddad, dada num grupo de conferências chamado "O Silêncio dos Intelectuais".

Haddad sugere que:
"...parte desse silêncio pode ser fruto do surgimento de uma nova classe social após 1968. Essa classe, composta pelos que dominam o processo de inovação do conhecimento, não poderia ser enquadrada, a partir da análise marxista nem como proletariado nem como burguesia.

Essa classe criativa passa a ser também parte da explicação da piora dos indicadores de desigualdade nos últimos 20 anos. Ela não produz mercadorias, mas seu processo de inovação dá ensejo a um lucro extraordinário que é repartido entre ela e os detentores dos meios de produção. Portanto, não é uma classe propriamente explorada, como é o trabalhador tradicional, mas não deixa de ser alienada de sua produção intelectual."


O segundo texto tem o título de Sociólogo afirma que PT expressa nova classe social. O sociólogo no caso é Francisco de Oliveira, autor do livro "Crítica da Razão Dualista".

Segundo o artigo:
"Inspirado no marxismo, Oliveira procura explicar as transformações políticas a partir das relações de classe. O que caracteriza a história recente do Brasil é o fato de que os sindicalistas tornaram-se capitalistas sem capital: deixaram de ser trabalhadores sem terem se convertido em empresários. Eles não são burgueses porque não têm a propriedade das empresas, mas controlam os recursos públicos que o capital precisa para sobreviver."

É por essas e outras que eu acho que essa crise é completamente fútil.

Wednesday, August 24, 2005

A fantasia continua

"O PT passou a vida vendendo sonhos. Entregou o mais nefando pesadelo em apenas dois anos e meio de governo.

É um caso de estudo para a ciência política universal. Já escrevi neste espaço uma e outra vez que o PT fez a mais radical e rápida guinada para a direita de que se tem notícia na história partidária do planeta."


Clóvis Rossi para a Folha de hoje.

Tuesday, August 23, 2005

Cegueira ideológica

Algumas pessoas não entenderam bem este post sobre as 10 lições do Emir Sader. Acharam que eu não percebi que ele fazia uma mea-culpa. Eu entendi sim. O ponto a se considerar não é que esse pessoal está finalmente admitindo a corrupção do PT. Seria impossível não admitir. O negócio é notar como esse pessoal acreditava, de verdade, que a esquerda era pura e incorruptível!

Mais um bom exemplo sobre esse assunto aparece nesse texto da Folha (aonde mais?) de hoje, escrito por Marisa Bittar e Amarilio Ferreira Jr., doutores em história social pela USP:

"Hoje, estamos ante outra crise gravíssima envolvendo a esquerda. Porém, crise de natureza distinta. O núcleo dirigente do PT, por meio da triangulação que atacava os cofres públicos objetivando a continuidade do seu projeto de poder, introduziu uma prática estranha à esquerda, corroendo-a por dentro.
Esse erro histórico será muito mais pesado de carregar do que o de 1935 e não atinge apenas o PT mas também o patrimônio mais caro de toda a esquerda: os seus princípios éticos, que, aliás, sempre a distinguiram de todas as demais forças políticas. A história registra que, no caso dos comunistas, por exemplo, ainda que criticados ideologicamente, sempre foram respeitados e até admirados pelas virtudes éticas e morais subjacentes a sua prática política.
A atual crise indica que, infelizmente, o PT deu pouca importância à história do Brasil e da esquerda, minando seus valores mais altos e dificultando a possibilidade histórica de construirmos uma sociedade fundada no bem comum. Agora, será mais difícil remar contra a maré ideológica conservadora para continuarmos acalentando as nossas utopias. "


Seria engraçado se não fosse trágico.

Sunday, August 21, 2005

What Cindy Sheehan Really Wants

"This is an argument, about a real war, that deserves moral seriousness on all sides. Flippancy and light-mindedness have no place. Cindy Sheehan's cheerleader Michael Moore has compared the "insurgents" in Iraq to the American minutemen and Founding Fathers. Do I taunt him for not volunteering to fight himself in such a noble cause? Of course I do not. That would be a low and sly blow. Do I say that he is spouting fascistic nonsense? Of course I do. Is Cindy Sheehan exempt from any verdict on her wacko opinions because of her bereavement? I would say that she is not. Has she been led into a false position by eager cynics who have sacrificed nothing and who would happily surrender unconditionally to the worst enemy that currently faces civilization? That's for her to clarify. While she ponders, she should forgo prayer, stay in California, and end her protest."

Christopher Hitchens, para a Slate.

Saturday, August 20, 2005

They are back baby!

Depois de longas férias, a mundialmente famosa loony translator machine voltou à ativa no UOL.

Manchete do NYT:
"Hey, What's That Sound?"

Chamada do artigo na página principal do UOL:


Título do artigo traduzido no UOL:
"Bush é pior que a Barbie em sua casa de sonhos"

Friday, August 19, 2005

The enemy within

Emir Sader, o sábio, explica as 10 lições que a crise do PT "ensinou". Todas são incríveis, mas a melhor de todas foi:

"5. A corrupção e a imoralidade são exclusivos da direita
As denúncias revelam, de forma eloqüente, que dirigentes do PT praticaram sistematicamente atos de corrupção, seja para comprar votos aliados, seja para benefícios próprios, materiais ou de influência pessoal e política. É certo que os votos comprados serviram para beneficiar projetos da direita, mas foram crimes cometidos por dirigentes do mais importante partido de esquerda do Brasil. A vigilância ética, portanto, tem de ser uma atitude permanente da esquerda, sobre tudo e ainda mais sobre si mesma."

Falando sério, esse sujeito é professor da USP, da Uerj, e coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj. Eu duvido que isso seja muito diferente do que ele ensina nessas faculdades, que supostamente estão entre as melhores que temos.

Nós pagamos o salário dele. Nós patrocinamos décadas de doutrinação de milhares de jovens com esse lixo.

Como não achar que temos o governo que merecemos?

Wednesday, August 17, 2005

Weapons of Mass Destruction

Orson Scott Card (ótimo como sempre) fala sobre as armas de destruição em massa, a origem e expansão do 'clube atômico', e porquê o Cazaquistão é tão ou mais perigoso que a Coréia do Norte.

Imperdível.

The Buck Stops Somewhere Else

É incrível como a cultura brasileira repugna a responsabilidade individual.

Hoje na Folha, o Clóvis Rossi elogia uma carta do governador do Acre, Jorge Viana (PT), sugerindo que o Lula chame além do Conselho da República, os ex-presidentes José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco para ajudar na crise atual, já que eles "também enfrentaram crises de grandes proporções e podem contribuir com suas experiências".

Sacanagem, deixaram o Collor de fora. Ele aliás, deve ser o único a dar risada com esse rolo todo.

Uma consequência comum dessa tara pela coletivização é a fantasia da democracia representativa. O Smart já tinha dado um bom exemplo dessa mania, e o professor titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Fábio Konder Comparato, engrossa o coro.

Um por todos, e todos pela pizza.

Monday, August 15, 2005

Google e a liberdade empresarial

Parece que os militares americanos não gostaram muito de certas imagens do Google Earth.

O Smart comenta a notícia, e lembra que o Google já bloqueia as fotos aéreas da Casa Branca. Ele ainda critica o fato do Google bloquear websites de acordo com as determinações do governo chinês.

Sobre o primeiro ponto, eu acho essas imagens de satélite realmente interessantes. O Google é uma empresa de entertainment, e a idéia de disponibilizar essas imagens deve render muitas visitas de curiosos.

O ponto principal aqui é que essas fotos são somente uma diversão. Qual é o uso prático de uma foto de satélite da Casa Branca? Se o governo americano está certo ou errado em proibir as imagens eu não sei, mas acreditar que eles tenham mais informações do que um sujeito comum para tomar essa decisão não me soa como conformismo.

Já sobre o caso da China, novamente acho que as prioridades estão sendo invertidas. O Google (e muitas outras empresas que estão entrando no mercado chinês) tem basicamente duas opções: Aceitam as imposições do governo chinês ou abandonam o mercado.

Do ponto de vista das empresas, as duas opções são ruins. Se abandonam o mercado, perdem a possibilidade de lucro e principalmente perdem a first mover advantage de um mercado com um bilhão de potenciais consumidores. Se aceitam as imposições, limitam seu modelo de negócio (possivelmente impactando lucros) e podem criar uma imagem negativa de certos grupos de usuários locais e da mídia internacional.

Porém, do ponto de vista do usuário comum as opções são claramente opostas. Ter uma versão censurada do blogger, por exemplo, é imensamente melhor do que não ter blogger nenhum. E mais, o acesso limitado a uma tecnologia cria muito mais força (e consequentemente maior pressão no governo) para que a censura acabe. Além disso, cria mais oportunidades para que work arounds sejam criados.

Já ouvi gente criando um paralelo entre esses casos com o das empresas que cooperaram com os alemães na segunda guerra mundial. Obviamente, a similaridade das duas situações é nula. Primeiro, o Google não está facilitando o governo chinês. Se o Google se recusar à obedecer e abandonar o mercado, o governo terá atingido o mesmíssimo objetivo.

Nem sempre as regras de um mercado se limitam ao universo econômico, e mesmo quando o fazem, podem significar limitações comparativas. Quando o Wal-Mart veio ao Brasil, por exemplo, teve que se adaptar a realidade de pagar juros altíssimos em comparação à outros países. Consequentemente, os preços cobrados no Brasil são muito mais altos. Poderia se dizer que isso é uma censura econômica, já que muitos brasileiros vão se ver proibídos de comprar os produtos que seus equivalentes americanos compram com facilidade. Quem é o culpado por essa situação? O Wal-Mart ou o governo brasileiro? Seria beneficial ao consumidor brasileiro se o Wal-Mart saísse do mercado porquê não consegue seguir o seu slogan de "low prices, everyday"?

"Dançar conforme a música" não é um luxo, e sim uma necessidade para qualquer empresa. Ser socialmente responsável não significa burlar as regras do jogo e sim obedecer as mesmas da melhor maneira possível.

Friday, August 12, 2005

Lula

Me perguntam porque falo tão pouco sobre esses escândalos do governo Lula. A resposta é simples: Essa crise (e por tabela esse governo) é completamente fútil.

Além disso, não tenho nenhuma birra particular com o sujeito. Aliás, sou totalmente contra esse joguinho de cult of personality de políticos, seja para o bem ou para o mal. Ouvi o discurso dele ontem, e meu único sentimento foi pena.

Não que eu ache que ele é inocente. Pelo que tudo indica, ele estava bem ciente da situação, e a dúvida me parece ser somente sobre o que ele fez pessoalmente ou o que mandou/permitiu outros fazerem.

O negócio é que o Lula, e de certa maneira o PT, são somente consequências de problemas muito maiores. Se ele for impeached ou não, não fará a menor diferença. E é muito fácil comprovar isso. Pense em qualquer opção, partido ou candidato, que terá um governo muito diferente do atual. Simplesmente não existe.

Não sei o suficiente para dizer quando e porquê essa situação começou, mas acho que atualmente temos três problemas principais: A constituição, uma total falta de opções ideológicas (gerada por uma cultura apolitica) e nosso sistema educacional. Enquanto não tivermos mudanças consideráveis nessas áreas, nada irá mudar.

O Brasil é um fusca dirigido por elefantes. Troca-se os elefantes, pintam o fusca de uma cor diferente e esperam que a nova combinação funcione. Pior, o povo ainda fica assustado quando os pneus estouram.

Aliados e aliados num mundo globalizado

O comentário do André Kenji sobre o post do atentado terrorista no Egito foi que "O Egito recebe um bilhão de dólares dos EUA em ajuda externa por ano e sempre foi um aliado importante dos EUA na região."

Ah, o mundo seria um lugar bem menos complicado se o envio de dinheiro, fosse por ajuda externa ou através do comércio, significasse que um governo é aliado do outro. Para falar a verdade, esse mundo do dinheiro seria um mar de aliados para os EUA.

A Coréia do Norte, por exemplo, seria uma ótima aliada. Os EUA doaram mais de 1 bilhão de dólares nos últimos 10 anos entre comida e combustível. Considerando que 70% do povo coreano depende dessa ajuda externa para não morrer de fome, os coreanos seriam incrivelmente burros se não fossem pró-EUA. E no fim das contas, eles até teriam um dinheirinho guardado, já que as nukes não vem de graça.

Outro bom aliado americano seria a Venezuela. Atualmente 58.7% das exportações e 33.2% das importações vem dos EUA. Inexplicavelmente, o Chavez faz juras de amor ao Irã e idolatra o Fidel. Não deve gostar muito de dinheiro esse cabeçudo.

E é claro, não podemos esquecer do Brasil. Atualmente exportamos 21.2% dos nossos produtos e importamos 22.4% dos EUA.

No mundo do dinheiro, esse pessoal aqui com certeza não existiria.

What a beautiful dream.

Thursday, August 11, 2005

Serendipity

Engraçado como um pensamento leva a outro.

Quando lí essa história de que o Lula pagou uma dívida de R$ 29 mil in cash, e que o tal presidente do Sebrae não tinha recibo nenhum, pensei que é uma questão de tempo até acharem uma conta do PT na Suíça. Se bobear, devem até ter usado o banqueiro do Maluf.

Isso me lembrou um outro assunto esdrúxulo, uma nova obsessão que eu descobri: a dos indianos pela Suíça. É tiro e queda, todo indiano adora falar que tem um primo estudando em Genebra, ou que vai passar as férias em Zurich. Até agora não identifiquei muito bem porque eles escolheram justamente a Suíça, mas acho tem algo a ver com a imagem de neutralidade. A maioria dos indianos que eu conheço é bem apolítica, o que pode explicar aquela zona burocrática que eles criaram depois da independência dos ingleses. (Esso pensamento me levou a frase do Platão que eu coloquei na coluna do lado).

E ainda falando na bendita Suíça, lembrei do Bill Maher. A nova temporada do show na HBO começa semana que vem, e a 'punch line' da nova routine dele é que os EUA são tão malvados e que influenciam tanto outros países (de maneira negativa, obviamente) que ele queria ter nascido na Suíça, o país mais neutro do mundo. Imagino que ele que ele teria certas dificuldades com as piadas sobre sexo, drogas e religião por lá, but hey, não dá para esperar lógica de comediantes (ainda mais de esquerda).

O que me leva à conexão final do dia: essa semana terminei minha última aula (aquela do professor indiano, que não foge à regra e visita a Suíça duas vezes por ano) e finalmente completei meu MBA. Foi uma das melhores decisões da minha vida, e valeu o esforço. Mas duvido que vou entrar numa sala de aula nos próximos anos.

Quem sabe agora vou ter tempo de ler mais sobre as mutretas do Lula, assistir Bill Maher com tranquilidade, e quem sabe até visitar a Suíça.

Wednesday, August 10, 2005

New design

Resolvi mudar completamente a template. Estou tendo que arrumar alguns posts antigos, mas devagar chego lá. Se alguem achar algum bug é só avisar.

Friday, August 05, 2005

60 anos de Hiroshima

Mark Twain dizia que "To arrive at a just estimate of a renowned man's character one must judge it by the standards of his time, not ours."

É impossivel julgar, principalmente por parâmetros atuais, se a decisão do Truman foi a melhor possível. Será que o Hirohito realmente deixaria a guerra continuar até uma invasão de Tokio? Teríamos quantos mortos de cada lado? Pior ainda, será que ele poderia evitar essa invasão sem o trauma causado pelas bombas?

Pode-se palpitar, mas nada mais que isso. Tentar traçar paralelos atuais é bobagem, porque a cultura japonesa da época quase que não existe mais. É facil assumir culpados quando vemos os japoneses atuais pregando a paz, mas é preciso entender que esses 60 anos fizeram uma diferença brutal.

O fato indiscutível é que o Japão já tinha perdido a guerra há muito tempo, e mesmo depois da destruição de Hiroshima, não admitiam a derrota. Somente depois de Nagasaki, e mesmo assim sem apoio de muitas partes do exército, o Japão se rendeu, no dia 15 de agosto de 1945.

***

Coincidência ou não, ontem a noite passou na TV o Fog of War, e suas 11 lições de vida. O filme merece um post separado, mas falando especificamente das bombas nucleares, McNamara cita sua regra 5: Proportionality should be a guideline in war.

Esta é provavelmente a lição mais absurda do filme. Esperar uma proporcionalidade intencional de forças é como esperar que o seu inimigo se renda por respeito e não por medo. E no geral, conflitos entre nações de forças equivalentes resultaram nas guerras mais sangrentas da história.

Ironicamente, outras partes do filme contradizem essa regra 5: Regra 9 diz "In order to do good, you may have to engage in evil", e principalmente a regra 11, "You can't change human nature".

Essas duas últimas aliás, são especialmente importantes (e mal compreendidas) atualmente.

Tuesday, August 02, 2005

“Fuel Cell Family”

Estou fazendo um trabalho sobre a Honda, e sem querer descobri que já existe uma família na California usando um carro 100% movido à fuel cells.

Alguns postos especiais já foram construídos, e de acordo com o plano do Schwarzenegger, em 2010 o estado terá uma "Hydrogen Highway" disponível. Além desse carro, outros 13 já rodam experimentalmente pelo mundo, 6 desses nos EUA (estados da California, New York e Nevada). O Honda FCX 2005 é o único carro que usa fuel cells certificado para uso doméstico.

Quem disse que a alta do petroleo não é boa?

Sunday, July 31, 2005

Os radicais britânicos

Esse artigo do NYT sobre a origem dos radicais islâmicos no Reino Unido (traduzido aqui para assinantes do UOL) é bem interessante.

A lógica é a seguinte: Imigrantes do Sul da Ásia foram para Inglaterra durante o século passado em grande número. Eram na maioria pobres, e com baixa educação. Trabalharam nas indústrias, e conforme a economia inglesa foi mudando, foram dirigir taxis, montar suas lojas de conveniência, etc.

Essa primeira geração de imigrantes segue uma corrente islâmica de influência sufi, chamada Brelvi. São moderados, e gratos à Inglaterra por os ter recebido e dado oportunidade de trabalho e de liberdade religiosa.

Os filhos desses imigrantes formam a primeira geração educada na Inglaterra. São jovems que cresceram em bairros de classe média/média baixa, e que tiveram que lidar com oportunidades e problemas que seus pais não tiveram (drogas, gangues, sexualidade, ajuda do governo, etc).

Mas ao invés de considerar as causas desses problemas como sendo econômicas, esses jovens comecaram a achar que o faltava era espiritualidade. E quem é que veio salvar os jovens islâmicos das tentações da vida ocidental? O Super-islã! Não a versão civilizada dos seus pais, mas uma alternativa altamente rígida e ortodoxa, a escola Deoband (a mesma seguida pelo Talibã). Eventualmente esses jovens também desistiram da deoband, dizendo que sua abordagem para atrair mais seguidores era estreita demais, seu foco apolítico demais. Era preciso achar um Super-Islã mais poderoso.

A nova solução encontrada foi o salafismo, uma variação que se originou na Península Árabe no século 19 e ajudou a inspirar grupos como a Irmandade Muçulmana e a Al Qaeda. O salafismo exige pureza e rejeição de qualquer Islã exceto aquele dos primórdios, o que pode levar a profunda intolerância mesmo por outros muçulmanos como os xiitas.

Esses "novos convertidos" não somente viraram contra o seu país, mas também contra seus pais. Acham que eles foram subservientes e que sua versão do Islã é uma aberração. Do outro lado, os mais velhos acham que os jovens ficaram mal acustumados. Alguns vivem da ajuda do governo assim que viram adultos.

Enfim, essa é a idéia apresentada pelo artigo, e que na minha opinião, faz sentido. Lógico que a partir daí, pode-se chegar a inúmeras conclusões. A repórter meio que dá a entender que a culpa de tudo isso é da Inglaterra. O que não é novidade, já que muita gente acha que qualquer imigração é invariávelmente prejudicial, e sempre culpa das nações ricas que acabam recebendo esses mesmos imigrantes. E mais, acham que esses países deveriam criar enormes estruturas burocráticas para que os imigrantes se adaptassem 'culturalmente'.

Eu acho que essa é somente uma das muitas respostas fáceis, mas erradas. Primeiro de tudo, se problemas como esses imigrantes fossem tão enraizados na cultura islâmica, teriamos milhões de terroristas na Inglaterra, e não dezenas. Acho que choques culturais entre imigrantes é algo completamente normal, e nem sempre negativo. Essa fantasia explorada pelos radicais islâmicos pode até ter uma origem histórica, mas isso é só um disfarce de grandiosidade.

Oras, qualquer católico que veja seus amigos perdidos nas drogas pode dizer também que o problema é espiritual e não econômico. Essa noção de que o Islã tem um efeito mágico e radicalizador que outras religiões (ou culturas) não tem é um absurdo. E é um absurdo maior ainda achar que a única solução para uma eventual 'epidemia' desse extremismo é uma sensibilidade maior com qualquer islâmico.

Na verdade, vejo dois problemas distintos: o terrorismo patrocinado por estados, que precisa ser combatido no nível global (Talibã, Alqaeda, etc), e o terrorismo local, muitas vezes patrocinado pelos agente globais, mas em muitas outras levado a diante por simples malucos.

Esse último tem que ser combatido como crime, e como tal, corre perigo de cair na armadilha do relativismo exagerado. Querer achar explicações sociológicas para alguém que explode um ônibus com turistas para merecer suas 200 virgens no céu é um exercício de futilidade.

Thursday, July 28, 2005

CAFTA

O CAFTA (Central American Free Trade Agreement) foi aprovado ontem pelo congresso americano pela menor margem de votos possível: 217-215. Mês passado, o Senado tinha aprovado a medida também por uma diferença apertada: 54-45.

Dos 217 representantes que votaram sim, 202 são Republicanos e 15 Democratas. Dos 215 que votaram não, 187 são Democratas e 27 Republicanos (mais um independente). Vale lembrar que na votação do NAFTA, mais de 100 Democratas foram à favor, o que mostra como a rivalidade política domina os debates atuais em Washington.

Aumentaram o coro contra o tratado a insane left, os protecionistas e os sindicatos. Aliás, acho que os sindicatos dos países desenvolvidos são os maiores inimigos externos do terceiro mundo, ganhando de longe do lobby dos fazendeiros.

Tudo isso depois de um período aonde vários tratados como esse foram assinados (NAFTA, Austrália, Chile, Cingapura e outros) e a economia americana cresceu forte (entre 1993 e 2003 crescimento de 38% e quase 18 milhões de empregos criados).

Fica fácil entender porque as negociacões na WTO são tão difíceis. Mas, pelo menos agora existe uma chance.

Wednesday, July 27, 2005

Sudão: O elo perdido

Durante os anos Clinton, o Sudão era considerado um estado terrorista. Relatórios da CIA falavam sobre armas químicas e biológicas. Falavam também que o governo de Hassan al-Turabi teria contratado especialistas iraquianos para ajudar na construção dessas armas. Tudo isso culminou com o ataque de Al-Shifa, em 20 de Agosto de 1998.

Agora, as conexões do Sudão com a Alqaeda são indiscutíveis. Muitos acham que Hassan al-Turabi foi o mastermind por trás do surgimento do terrorismo atual, trabalhando com Bin Laden, Saddam e muitos outros. Ele até ganhou o carinhoso apelido de "O Papa do terrorismo" (ler aqui e aqui).

Tudo isso leva à seguinte pergunta: Porquê o governo Bush mudou de idéia sobre o Sudão?

Teria sido somente mais um erro que a CIA tenta encobrir? Quem sabe algo relacionado com a famosa viagem de Joe Wilson ao Níger? Pode ser.

Outra alternativa seria que o governo americano quer desviar a atenção do público de um problema mais do que complicado. Afinal, entre os massacres de Darfur e todo o backlash da crise das WMDs iraquianas, o governo Bush provavelmente quer ficar bem longe do Sudão.

Pelo menos por enquanto.

Tuesday, July 26, 2005

Gestão pela incitação!

Querem saber como o liberalismo e a individualidade prejudicam o ambiente de trabalho do brasileiro?

Leonardo Mello e Silva, professor de sociologia do trabalho do departamento de sociologia da Universidade de São Paulo explica direitinho: (grifos meus)

...
"A primeira, mais evidente, tem a ver com a adversidade do mercado de trabalho: quanto mais frágeis as condições de contratação, mais difícil fica para o empregado fazer com que seus direitos sejam respeitados. Melhor preservar o emprego realmente existente do que "cutucar a onça com vara curta".

Como o mundo do trabalho tem sido fortemente golpeado pelas políticas neoliberais de ataque aos sindicatos, é lícito projetar que demandas como a do assédio moral ficarão circunscritas a poucos casos e que o medo e a insegurança dos assalariados deverão recalcar a situação real, levando a uma sub-representação de ocorrências. É por isso que o sofrimento no trabalho tem uma explicação objetiva.

A segunda tendência retira sua força, paradoxalmente, da maior abertura proporcionada pelos novos métodos de gestão, que carregam um forte componente de individualização.

É cada vez maior o número de empregados -chamados, muito a propósito, de "colaboradores"- interpelados por seus superiores. Isso eleva em muito a carga de responsabilização e até mesmo de culpa. Se a meta não foi obtida ou a performance esperada não foi alcançada, não é mais o coletivo que assume a falta, mas o trabalhador: ele é quem não foi capaz de conseguir. Moralmente, isso tem um efeito tremendo, pois ninguém vai querer recuar diante de um desafio nem assumir a incapacidade de enfrentá-lo. É o que eu chamo de "gestão pela incitação".

Ainda que tal estratégia seja uma forma marota encontrada pelas empresas para extrair maior produtividade de seus subordinados, as organizações não assumem esse fato, pois o efeito é deixar cada funcionário com uma espécie de pulga atrás da orelha, desconfiado de si mesmo: "Será mesmo que não posso conseguir?".

A regulamentação do assédio moral no trabalho é um passo muito importante para a democratização das relações entre patrões e empregados, mas a lei, por si só, não é suficiente para produzir os efeitos pretendidos pelos legisladores. São as relações sociais de poder e subordinação que vão orientar o sentido que esses importantes marcos regulatórios vão ter na realidade."


Essa foi impagável.

Monday, July 25, 2005

Mensagem clara

O Egito não participou da "Coalition of the willing". Não participou nem mesmo da guerra no Afeganistão.

A justificativa para esse ataque que matou dezenas de pessoas (diferente do ataque de 97, a maioria dos mortos são egípcios) foi que "o Egito é pró-Ocidente".

Esse pessoal que acha que a guerra do Iraque é a mãe do terrorismo mundial devia pelo menos tentar conhecer a história da Alqaeda. E não estou falando somente sobre o tão comemorado financiamento americano dos mujahideen, mas sim dos objetivos da mesma.

É preciso entender que a bronca de Bin Laden and the boys não é com as falsas acusações das WMDs, ou com as disputas internas de Sunitas e Xiitas. Muito menos com o fato de que civis iraquianos são collateral damage do processo (até porque eles continuam matando civis iraquianos propositalmente).

Também se enganam aqueles que pensam que o objetivo é a retirada de tropas ocidentais das "terras sagradas". As tropas americanas já sairam da Arabia Saudita há anos, e nada mudou.

A Alqaeda tem como único objetivo a destruição do Ocidente e a criação de um império islâmico mundial. Qualquer governo que não coopere com a causa, é um inimigo. Pode ser engraçado como esse tipo de declaração lembra o Bush, mas a semelhança está só na superfície. Os EUA não vão bombardear a França, ou qualquer outro país que não ajude na luta contra esse pessoal. Pode-se até criticar a falta de tato, mas a retórica americana nada mais é do que um pedido de ajuda. Já a Alqaeda não é muito chegada em double entendre. Ela vai explodir o que puder e quem quer que fique na sua frente.

Pensem bem: Se o Egito, aonde pessoas são presas por "insulting heavenly religions", é considerado pró-ocidente, todos outros países minimamente civilizados deveriam entender que são alvos.

Infelizmente, certas pessoas só vão entender isso quando começarem a ver o seu quintal pegar fogo. Literalmente.

Sunday, July 24, 2005

Desgraça típica

Será esquecido rapidamente pela sábia opinião pública brazuca que o brasileiro morto em Londres pulou a catraca sem pagar e que não atendeu às ordens da polícia numa cidade que teve 2 atentados nas últimas duas semanas. Só será lembrada a tremenda falta de sorte do pobre coitado, a incompetência da polícia londrina, e o fato de que foram 5 tiros. C-i-n-c-o!

Anotem ai: Ainda vão fazer a conexão de que a morte dele foi culpa da guerra do Iraque. (Blair ou Bush, pick your choice).

E se bobear, também vão falar que eu e os outros gatos pingados que lembramos dessas coisas estamos defendendo o erro da policia, ou que condenamos o coitado do brasileiro à morte.

E a típica desgraça brasileira: uma união de irresponsabilidade com uma completa falta de consideração por tudo que te cerca.

Friday, July 22, 2005

Só a psicologia salva

A polícia londrina geralmente anda desarmada. Ontem, um suspeito terrorista foi morto pela mesma com cinco tiros. Todos à queima roupa.

***

A paternidade deveria ser pré-requisito para qualquer político, seja para o legislativo, executivo ou judiciário. Uma alternativa para os que não pudessem/quisessem ter filhos seria lecionar por 18 anos numa escola pública, passando por todas classes, do maternal à universidade.

Claro que não bastaria ser pai(mãe) ou professor. O público teria que ter acesso aos resultados, e julgaria a eficiência de cada um pelos filhos/alunos de cada um.

Na campanha eleitoral, o desempenho de cada família/classe seria um dos temas principais. "Vejam como eu lidei com a primeira crise escolar do Joãozinho. Notem como o meu plano de controle de mesadas e estudos no verão foram muito mais efetivos do que os castigos lenientes e falsas ameaças do meu adversário."

Seria o fim da loony left e crazy right as we know it.

***

Num mundo globalizado, o terrorismo pode se tornar muito parecido com uma guerra civil. Os 4 homens-bomba de londres eram londrinos.

No seu livro All the Laws but One : Civil Liberties in Wartime, o juiz da Suprema Corte americana William H. Rehnquist fala sobre como certos direitos, incluindo habeas corpus e liberdade de imprensa, foram restringidos durante a guerra civil americana, e de diferentes maneiras e graus, durante a primeira e segunda guerras.

É facil citar Ben Franklin ("They who would give up an essential liberty for temporary security, deserve neither liberty or security"), mas o fato é que essa situação já aconteceu na história de todas democracias modernas. Fingir que isso é algo novo ou inconcebível só piora o problema.

O que parece ser o real desafio é entender o quanto pode-se trocar, como e quando.

***

Já perceberam como as mesmas pessoas que confundem satisfação com nacionalismo parecem sempre querer camuflar ódio como insatisfação?

O que me incomoda, lá no fundo dos meus ossos, é phoniness.

Aussies are no sissies

Via Filisteu

PRIME MIN. HOWARD: Could I start by saying the prime minister and I were having a discussion when we heard about it. My first reaction was to get some more information. And I really don't want to add to what the prime minister has said. It's a matter for the police and a matter for the British authorities to talk in detail about what has happened here.

Can I just say very directly, Paul, on the issue of the policies of my government and indeed the policies of the British and American governments on Iraq, that the first point of reference is that once a country allows its foreign policy to be determined by terrorism, it's given the game away, to use the vernacular. And no Australian government that I lead will ever have policies determined by terrorism or terrorist threats, and no self-respecting government of any political stripe in Australia would allow that to happen.

Can I remind you that the murder of 88 Australians in Bali took place before the operation in Iraq.

And I remind you that the 11th of September occurred before the operation in Iraq.

Can I also remind you that the very first occasion that bin Laden specifically referred to Australia was in the context of Australia's involvement in liberating the people of East Timor. Are people by implication suggesting we shouldn't have done that?


When a group claimed responsibility on the website for the attacks on the 7th of July, they talked about British policy not just in Iraq, but in Afghanistan. Are people suggesting we shouldn't be in Afghanistan?

When Sergio de Mello was murdered in Iraq -- a brave man, a distinguished international diplomat, a person immensely respected for his work in the United Nations -- when al Qaeda gloated about that, they referred specifically to the role that de Mello had carried out in East Timor because he was the United Nations administrator in East Timor.

Now I don't know the mind of the terrorists. By definition, you can't put yourself in the mind of a successful suicide bomber. I can only look at objective facts, and the objective facts are as I've cited. The objective evidence is that Australia was a terrorist target long before the operation in Iraq. And indeed, all the evidence, as distinct from the suppositions, suggests to me that this is about hatred of a way of life, this is about the perverted use of principles of the great world religion that, at its root, preaches peace and cooperation. And I think we lose sight of the challenge we have if we allow ourselves to see these attacks in the context of particular circumstances rather than the abuse through a perverted ideology of people and their murder.

PRIME MIN. BLAIR: And I agree 100 percent with that. (Laughter.)

Wednesday, July 20, 2005

China, China, China

Ah, China. Cada dia uma bagunça nova.

Ontem li sobre a revolta dos fazendeiros. Posso estar enganado, mas já já vão começar a distribuir borrachada nesse pessoal.

E olha que eles tem motivos de sobra para estarem bravos. Mas na People's Republic, comunista ou não, o buraco costuma ser bem mais embaixo.

Já o pessoal com grana continua firme na briga pela Unocal. O que tem deixado certos políticos americanos de cabelo em pé. O que não deixa de ser um tanto ingênuo.

Ah, e também tem o rolo da moeda. E nesse caso, vale a pena ler o Friedman: The Tiananmen-Texas Bargain.

Eita lugarzinho complicado.

Kanitz

Descobri o site do Stephen Kanitz através do Nemerson.

O site parece muito bom, e por coincidência o Smart escreveu hoje um ótimo post comentando uma proposta do Kanitz de implementar uma democracia direta no Brasil. Depois do post do Smart, qualquer comentário meu sobre esse assunto será supérfluo.

Mas um outro artigo dele que já tinha me chamado a atenção foi este, escrito em 2002, sobre o FMI.

Eu sempre esperei pelo dia em que o Brasil não precisasse mais do FMI, para que toda aquela fantasia de que "o pais não dá certo porque o FMI nos manipula" fosse por água abaixo. Pelo jeito eu não era o único.

Tanto estavamos certos que atualmente ninguém fala mais no malvado FMI. Lógico que esse tipo de satisfação é efêmera. Hoje em dia os fantasmas são outros: investidores estrangeiros, PT(?!?), Bush...

O que me leva a outro ótimo artigo dele: Qual é o Problema?

Talvez o problema desse pessoal seja esse. Precisam aprender a formular as perguntas certas antes de sair por ai disparando respostas.

Tuesday, July 19, 2005

Links, posts, etc

Dois blogs que eu não conhecia que linkaram para cá: Charles Pilger e Caos Urbanus. Ah, tem também a Gaiola da LOka.

***

Ele deve ter passado uma pré-temporada em Quaresmeiras Roxas, ou quem sabe comprou uma nova cartola. Só sei que o Soares Silva anda on fire, baby.

Já o LLL entrou numa fase trash que não é brincadeira. Henry Miller is so overated...

***

Eu não ia falar nada, mas... Quem sabe alguém aqui me ajuda a entender este post. Eu não sei qual EUA esse cara vive, mas não pode ser o mesmo que eu. "O norte-americano é um ser que caminha olhando para um horizonte vazio."??? Holy cannoli...

Cabe aqui uma observação sobre como as pessoas escolhem o lugar aonde moram. Acho totalmente compreensível que alguém ache o seu país natal uma porcaria e continue morando por lá, por simples necessidade. Também entendo os que imigram puramente por dinheiro, ficam um tempinho e vão embora. Agora, como é que um sujeito educado, que provavelmente tem a opção de morar em outros países, faz a escolha consciente de morar por tanto tempo em um lugar tão mal educado, tão insensivel, tão sem classe, enfim, tão ruinzinho?

Numa dessas a pessoa corre o risco de ter gente não olhando no olho e ainda achar que o problema é com os outros...

Sunday, July 17, 2005

China

Outro dia, perdido no sono de uma classe um tanto repetitiva, comecei a contar a nacionalidade dos alunos. São 3 chineses, 3 do oriente médio, 1 maláisio, 1 russo (o falante da classe), 1 irlandês, 1 francesa, uma que eu não identifiquei mas parece ser latina, um brasileiro (eu), e 10 americanos.

Chegou uma hora em que o professor (indiano) perguntou exemplos de produtos marcantes de cada país, meio que procurando de uma maneira politicamente correta mostrar como cada um é especial de uma maneira diferente. Um falou sobre os vinhos franceses, outro sobre os relógios suíços, café colombiano, quando de repente o russo gritou "comunismo chinês".

O professor, meio chocado, disse "Não, o comunismo chinês é uma circunstância política, não um produto".

O russo, visivelmente irritado, retrucou "Eu discordo. Qualquer povo que aceita viver num regime ridículo como o comunismo o faz por opção. Eu digo isso porque eu sei como o meu povo fez essa mesma escolha, e sei que quando se cansaram, a coisa toda desmoronou. Os chineses continuam aceitando o produto vendido pelo governo, apesar desses recentes 'upgrades'. Se isso não te diz algo sobre um povo, não sei o que dirá."

Abaixei minha mão rapidinho. Depois dessa, Roberto Jefferson virou brincadeira de criança...

***

O futuro comunista da China já foi condenado há tempos. Todo esse falatório sobre o "modelo híbrido chinês" é coisa de saudosistas do politburo. A tendência é que a China se consolide no velho fascismo, com um governo autocrático, pró-business, e militarista.

Outra grande diferença do cenário atual para o da guerra fria é a escala da integração entre EUA e China. As ligações econômicas entre ambos são complexas, e a tendência é que esses interesses tornem a perspectiva de uma guerra menor.

Os maiores problemas devem vir de disputas locais, como Taiwan e o Japão.

Mas pelo menos por enquanto, acho que o perigo é pequeno.

Thursday, July 14, 2005

Já vai tarde

Parece que o judiciário americano resolveu jogar duro com os criminosos de colarinho branco. Depois de mandar os Rigas para o xilindró, agora foi a vez do maldito Bernnie.

Eu trabalhei 2 anos e meio na Worldcom. Graças as cagadas do dito cujo, perdi meu emprego na pior hora possível (minha esposa estava grávida de 9 meses).

O caso da Worldcom foi tão sério que as consequencias afetam o dia a dia de outras empresas até hoje. No meu atual emprego, perdemos horas e horas aderindo a lei Sarbanes-Oxley, criada para evitar esse tipo de desastre.

Espero que esses dois ladrões tenham o mesmo destino.

Tuesday, July 12, 2005

Just another day

Se eu fosse filósofo (o que atualmente parece ser um tanto impopular), escreveria sobre o bom senso.

Quando digo bom senso, penso em equilíbrio, no que deveria ser óbvio. Essa atração aos extremos que vejo em cada esquina sempre me surpreende... O que não deixa de ser uma falta de bom senso. Afinal, a única coisa em comum entre relativistas, subjetivistas, objetivistas e todos os outros "istas" é a rendição à volúpia do exagero.

Acho que quem chegou mais perto de definir o espírito da coisa foi Ortega y Gasset. But I am not sure.

Considerando tudo isso, me contento com as minhas observações dos absurdos diários. A BBC, por exemplo, não chama terroristas de terroristas. O escritório deles não deve ser em Londres, ou talvez eles tenham mudado de idéia nos últimos dias. Who knows.

Já o SSoB escreveu sobre o "Império americano". É sempre interessante ver como as pessoas usam certas palavras para fins tão distintos. Os leitores do Smart me alertam que os EUA são um "império não-territorial" (algo como uma escola de samba?), e sobre como as bases militares pelo mundo são um horror (só precisam explicar isso para o pessoal que vive nesses lugares), e até me explicaram que a origem do império foi a tomada das terras dos índios. Faltou um comentário sobre como a democracia não é para todos... Fica para a próxima.

Enquanto isso no Iraque, os terroristas (sim, eu uso o termo) continuam massacrando quem vier pela frente. Obviamente, esse pessoal só mata crianças porque os EUA provocaram. Se não fosse pelo Iraque, esse pessoal estaria criando ovelhas no Iêmen, ou rezando pacificamente na Jordânia. Quem mandou os EUA se meterem? Não vai me dizer que voce acredita nessa história de que o Iraque era um país terrorista, não é mesmo?

Ah, essa mania de tentar achar bom senso nas coisas não faz o menor sentido.

Monday, July 11, 2005

Vamos falar de algo realmente importante

Nada como ganhar deles.


Gustavo Nery faz a dança da galinha enquanto Marquito vai buscar a pelota no fundo do gol

Friday, July 08, 2005

Poderia ser verdade...


Mas não é.

Meu post preferido sobre este conundrum foi o A mentalidade servil, do Passa o sal (um dos meus novos favoritos).

O Fernando destacou o discurso do Ken Loonystone, Prefeito de Londres. Eu fico um pouco mais otimista quando vejo partes da esquerda acordando para a insanidade desses radicais islâmicos.

Mas ainda falta muito chão. O Friedman, para variar, matou na mosca : "When jihadist-style bombings happen in Riyadh, that is a Muslim-Muslim problem. That is a police problem for Saudi Arabia. But when Al-Qaeda-like bombings come to the London Underground, that becomes a civilizational problem." Ele ainda tem esperança de que os muçulmanos consigam controlar o problema de dentro, mas eu sinceramente duvido.

Uma hora ou outra vamos ter que encarar essa guerra do jeito que ela se apresenta. Vamos ter que parar com essa loucura de ficar dizendo que o Bush foi um demônio por ter atacado um país terrorista X e não um Y, que ele só queria petróleo, ou que ele queria vingar o papaizinho dele. Vamos ter que parar de achar que radicais islâmicos são culpa exclusiva do Ocidente e que o problema tem que ser resolvido burocraticamente por aqui, e não na fonte (e muitas vezes utilizando violência).

Poucos concordaram sobre o que eu falei sobre o Iraque, e hoje com a cabeça mais fria eu digo o seguinte: o Iraque é a segunda grande batalha dessa guerra. Pode ter sido mal escolhida, por ter sido mal executada, mas é o que é. A primeira grande batalha, 9/11, foi perdida depois de anos de pequenas derrotas (Cole, embaixadas na Africa, etc) e reações covardes.

É provavelmente a última chance de acabarmos com essa guerra num periodo relativamente curto e com um número relativamente baixo de vítimas. Uma guerra no Irã ou Arábia Saudita será um Iraque multiplicado por 100.

A hora tem que ser agora.

UPDATE

Vale muito a pena ler este post do 'O Insurgente' sobre a política e a economia do terrorismo.

Thursday, July 07, 2005

Londres

Sabe o que eu realmente queria que acontecesse?

Que hoje no fim do dia, todos os líderes do G8 anunciassem que estão mandando 20 mil tropas de cada país para o Iraque. Sim, 160 mil tropas chegando em Bagdá nos próximos meses. Um mar de italianos, canadenses, chineses e franceses saindo do vespeiro.

Ah, lá vem você com suas idéias reacionárias e violentas! Violência leva a mais violência! A resposta não é essa!

You know what? Podem chamar do que quiser. E eu até concordo que mandar mais tropas não ia resolver coisa nenhuma a curto prazo. Também concordo que no fundo o problema é econômico e cultural, que os países ricos tem que se mexer mais, etc, etc, etc.

Mas o negócio é o seguinte: Esse pessoal quer briga. A pior coisa que qualquer um pode fazer é mostrar medo. Eles não estão atacando a Europa por necessidade, e sim porque acham que lá está o elo mais fraco. A retirada espanhola foi talvez o evento mais prejudicial dos últimos tempos. É psicologia 101, coisa que qualquer criança aprende nos primeiros anos de escola.

Esses radicais que matam civis inocentes não vão ser convencidos a mudar. Essa geração toda de 'militantes' já está perdida e precisa ser combatida e destruída.

A não ser que estejamos dispostos a morrer antes.

Wednesday, July 06, 2005

Life, Liberty and the Pursuit of Happiness

Andrew Sullivan, para a série "this I believe" da NPR:

"I believe in the pursuit of happiness. Not its attainment, nor its final definition, but its pursuit. I believe in the journey, not the arrival; in conversation, not monologues; in multiple questions rather than any single answer. I believe in the struggle to remake ourselves and challenge each other in the spirit of eternal forgiveness, in the awareness that none of us knows for sure what happiness truly is, but each of us knows the imperative to keep searching. I believe in the possibility of surprising joy, of serenity through pain, of homecoming through exile.

And I believe in a country that enshrines each of these three things, a country that promises nothing but the promise of being more fully human, and never guarantees its success. In that constant failure to arrive -- implied at the very beginning -- lies the possibility of a permanently fresh start, an old newness, a way of revitalizing ourselves and our civilization in ways few foresaw and one day many will forget. But the point is now. And the place is America."

Tuesday, July 05, 2005

O amigo da África

Kristof, para o NYT hoje:

- Bush já aumentou os gastos com ajuda à África em 2/3 comparado com Clinton.
- Ele foi decisivo para o fim da guerra entre Norte x Sul no Sudão.
- Contribuiu para a criação de entidades como o Addis Ababa Fistula Hospital, aonde missionários ajudam mulheres com problemas obstétricos.
- Criou o Millennium Challenge Account, que apesar de um começo lento, já ajudou países que reformaram seus sistemas positivamente, como Madagascar.

Lógico que no fim ele pede para que os republicanos deixem de ser mão-de-vaca, but hey, se ele não falasse isso eu desconfiaria que o Rush Limbaugh tinha hacked a página do NYT...

Saturday, July 02, 2005

Pobre Brasil

Esse é o líder do partido mais poderoso do Brasil.

Essa é a nossa elite, nosso crème de la crème...

Titia Rand já dizia que "I don't like people who speak or think in terms of gaining anybody's confidence. If one's actions are honest, one does not need the predated confidance of others, only their rational perception. The person who craves a moral blank check of that kind, has dishonest intentions, whether he admits it to himself or not".

Mas ela partia do princípio de que existiriam pessoas racionais para decidir em quem confiar.

Às vezes eu me esqueço que o Brasil tem a liderança que merece.

Follow the Leprechaun

Nas duas últimas semanas, o Friedman escreveu artigos sobre a situação econômica da Europa. Semana passada ele falou sobre o famoso "milagre da Irlanda", e ontem sobre o dilema político entre o sucesso dos países que seguem um modelo "less protected but more innovative, high-employment" (Irlanda, Inglaterra e Leste Europeu) comparado com a crise dos que seguem o modelo "shorter-workweek-six-weeks'-vacation-never-fire-anyone-but-high-unemployment" (França, Alemanha, Bélgica).

Além de falar as coisas de sempre, ele cita uns dados interessantes sobre a Irlanda:
- Ela recebeu mais investimento americano em 2003 do que a China.
- 9 das 10 maiores companhias farmacêuticas tem fábricas por lá, assim como 16 das 20 maiores companhias de aparelhos médicos e 7 das 10 maiores empresas de software.
- O ministério da educação criou um programa para dobrar o número de Ph.D.'s em ciências e engenharia até 2010.
- A Dell é a maior exportadora 'irlandesa'.
- A Intel tem 4 fábricas, e emprega 4.700 pessoas.

O Friedman também cita entre os fatores que levaram ao sucesso irlandês o alto subsídio à educação: de graça até o 2.o grau, e com preços baixos nas universidades.

É interessante ver como esse sistema irlandês parece conseguir unir o melhor dos dois mundos: economia liberal (impostos baixos, pouca legislação trabalhista, alto investimento externo) e rede social extensa (educação e seguro saúde de graça).

Mas não podemos esquecer que a Irlanda tem somente 4 milhões de habitantes. Não sei se para um país com centenas de milhões de pessoas esse sistema seria viável.

Thursday, June 30, 2005

Reparando o irreparável

De todas as idéias "progressistas" que surgem aqui pelos EUA (e não são poucas) uma das mais absurdas é a da "Reparations to African Americans", isto é, reparação aos negros pelos abusos da época da escravidão.

A teoria é que a população negra atual ainda sofre com as conseqüências do passado de escravidão. As idéias sobre como poderia-se efetuar essa ajuda vão desde uma isenção de impostos até uma mensalidade a la social security.

Discutir se os negros de hoje em dia ainda sofrem com o passado escravo é um exercício de subjetividade. Todos concordam que tudo aquilo foi um absurdo, a situação foi legalmente corrigida, e os negros atualmente tem os mesmos direitos dos brancos. Se culturalmente essa bronca ainda não passou (o que é compreensível), não vai ser com dinheiro que a situação vai ser corrigida. Desigualdade econômica tem que ser combatida com acesso a educação e melhora da infraestrutura geral. E desavenças étnicas só passam com o tempo.

Mas o pior de tudo é que esse tipo de plano, além de perpetuar uma relação de desigualdade racial, é essencialmente injusto.

Como é que pode se exigir que todos os brancos paguem por um erro que foi cometido somente por um grupo comparativamente pequeno de antepassados? E os brancos que chegaram aqui depois do fim da escravidão? Será que eu tenho que pagar só porque minha pele é de uma cor X? Ou talvez por eu ter vindo do Brasil eu posso me considerar "hispânico" e não branco?

E mais, o que dizer aos imigrantes irlandeses que fugiram da opressão dos ingleses? Será que os imigrantes brancos ingleses tem que pagar uma indenização para eles também? E os asiáticos pagam? E os de raça misturada, tem desconto?

Quer dizer, é simplesmente impossível corrigir algo que aconteceu centenas de anos atrás e fazer com que somente os que lucraram com um abuso indenizem os descendentes daqueles que realmente sofreram.

A história é imutável, e o que devemos lutar é para que vergonhas como essa não se repitam. Tentar quantificar essa dívida moral e pagar discriminação com mais discriminação não é a saída.

Monday, June 27, 2005

Iraque e a opinião pública

Muitos consideram que o discurso de amanhã em Fort Bragg, na Carolina do Norte, será uma das últimas chances do Bush elevar o apoio popular pela guerra, e assim evitar uma retirada prematura das tropas do Iraque.

Parte do pessimismo vem da última pesquisa do Pew Research Center. Ela mostra que 46% dos americanos querem que as tropas saiam do Iraque imediatamente, enquanto 50% ainda acreditam que deve-se esperar até que a situação se normalize. Essa pesquisa também mostra que 44% dos americanos se dizem "menos envolvidos emocionalmente" no conflito. Trinta e cinco porcento acham que esse será um "novo Vietnã", enquanto 47% acham que os EUA vão conseguir pacificar o Iraque.

Já a pesquisa do Washington Post mostra que 51% dos americanos desaprovam o governo atual, enquanto 48 aprovam (o mesmo que no mês passado). Entretanto, essa pesquisa mostra que 53% da população está otimista em relação ao Iraque - um aumento de 7 pontos em relação aos resultados de Dezembro de 2004.

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Esse assunto me fez lembrar de uma história "alternativa" que o guia da minha visita à Pearl Harbor contou. Basicamente, essa versão diz que FDR sabia do ataque japonês, e que conscientemente decidiu deixar acontecer. Ele acreditava que a entrada americana na guerra era inevitável e necessária, mas como a opinião pública era altamente contrária (aproximadamente 75%), não havia outra alternativa senão permitir que os japs atacassem primeiro. (Ele disse ter se baseado nesse documentario da BBC: "Sacrifice at Pearl Harbor").

O coro pacifista (isolacionista) naquela época vinha de todos os lados: direita, esquerda, religiosos e ateus. Dos comunistas do "Keep America Out of War Congress" à os facistas do "America First Committee". (boa referência aqui).

Fico imaginando o que teria acontecido se o fim da história fosse outro, e estivéssemos todos falando alemão e batendo continência para a Swastika. Será que esse tipo de reação fisiológica deixaria de ser o 'default'? Será a "opinião pública" capaz de aprender algo, por maior que seja a paulada?

Oublie ça mon ami!

Saturday, June 25, 2005

Eminent disaster

A Suprema Corte americana decidiu essa semana, por 5 votos à 4, que governos locais podem tomar terras privadas mesmo quando o destino dessas terras é o uso de outra entidade privada. Isto é, o governo pode tomar (comprar na marra) sua terra para que um Wal Mart seja construído.

A decisão na verdade foi sobre a extensão dos poderes da quinta emenda da constituição americana (conhecida como lei do "Eminent Domain"), que dá ao governo o poder de tomar propriedade privada para o "bem público". Históricamente, isso significava a construção de estradas, escolas, etc.

O argumento de agora é que a criação de negócios gera impostos, e que os impostos são então usados para o "bem público".

Não é surpresa que esse pessoal tenha aplaudido a decisão. "A welcome vindication of cities' ability to act in the public interest."

Também não é surpreendente notar quais juízes votaram à favor (John Paul Stevens, Anthony Kennedy, David H. Souter, Ruth Bader Ginsburg e Stephen G. Breyer) e quais votaram contra (Sandra Day O'Connor, William H. Rehnquist, Antonin Scalia e Clarence Thomas).

O que é interessante é entender que os democratas/socialistas preferem confiar no explosivo conchavo corporações-governo do que na habilidade individual de cada cidadão. Afinal, nada impedia que os Wal Marts da vida comprassem as propriedades privadas. O negócio é que nem sempre as ofertas eram adequadas, e outras vezes as pessoas simplesmente não queriam vender suas casas por motivos subjetivos.

Mas agora nada disso importa. O governo não somente vai impor sua vontade, como vai determinar o preço a ser pago pela propriedade (adivinhem se é mais ou menos que o preço de mercado). E depois ainda acusam os Republicanos de favorecerem as corporations.

Lógico que os à favor da decisão deixam claro que "o poder tem que ser usado com cautela" e que "o governo não pode ser manipulado por forças externas". Eu conheço uma boa também, da loira e do papagaio.

Eu não consigo pensar em uma derrota maior do cidadão comum americano.

Friday, June 24, 2005

Globalização

O NYT pode ter seus problemas, mas tem reportagens muito interessantes. Esses últimos dias tem sido especialmente bons quando o assunto é globalização.

Primeiro, um artigo que fala sobrea terceirização de programadores para Índia pela IBM. Eu sempre acho graça quando nego tenta disfarçar interesses próprios como se fossem universais. Afinal, quando o tal Lee Conrad, coordenador de um sindicato ligado à IBM diz que "In all this talk of global competitiveness, the burden all falls on the workers." ele não está pensando em todos "trabalhadores", não é mesmo? Os indianos que vão poder sair da pobreza agradecem.

Outro artigo trata de um dos meus assuntos preferidos: a industria automobilistica americana. Desde o fim da década de 60 o governo americano fez de tudo para proteger as montadoras locais. Bilhões de dólares depois, as empresas japonesas, alemãs e coreanas continuam produzindo produtos melhores. A vantagem é tão grande que essas empresas aceitaram construir fábricas nos EUA e continuam levando vantagem. Atualmente, um quarto de todos os carros produzidos nos EUA é de marca estrangeira. Essas empresas empregam 60.000 pessoas (as americanas ainda empregam mais, 250.000), mas enquanto Ford e GM cortam pessoal, eles continuam contratando.

Depois de modernizar o Reino Unido, o Blair agora quer mudar a UE. A proposta inicial é diminuir os subsidios à agricultura, reduzir os deficits, e aceitar novos membros como a Turquia. Ganha um prêmio quem adivinhar quais países não gostaram muito da idéia.

Esse Blair adora uma confusão (no bom sentido).

Wednesday, June 22, 2005

Backed up

Fiquei esses dias sem tempo para postar e é como se uma pilha de assuntos tivesse entalado na minha garganta. Como ainda vou ficar sem tempo até a próxima semana, aqui vão umas 'rapidinhas':

- Globalization: It's Not Just Wages. Artigo sobre como a globalização proporciona a melhor busca de oportunidades, o que nem sempre significa mão de obra barata.

- Não tenho a menor idéia do que o tal Cesar Maia fez ou deixou de fazer pelo Rio de Janeiro, mas esse editorial dele está muito bom. Segundo ele, os quatro maiores problemas ("cavaleiros do apocalipse") do Brasil são:
1) Insegurança jurídica: precatórios vencidos de valor próximo a R$ 100 bilhões; Créditos tributários ignorados pelo governo estimado em mais de R$ 50 bilhões; Justiça Alternativa praticada por centenas de juízes em todos os lugares; Insegurança crescente quanto ao direito de propriedade (MST).
2) Insegurança política: Perda de poder das agências reguladoras; tentativa de amordaçar o Ministério Público e de limitar a imprensa com a criação de conselhos; infiltração na máquina profissional do Estado de agentes políticos; a tentativa de intervir na Federação por decreto; a ascendente sinalização da política externa quanto aos modelos que inspiram o atual governo e a desmoralização do Legislativo.
3) Insegurança econômica: Errático movimento da taxa de câmbio; Previdência estatal; carga tributária.
4) Insegurança administrativa: Inapetência do presidente para o ato de governar; Orgia de conselhos, grupos e instâncias coletivas de todos os tipos, que arrastam questões emergentes para um prazo indeterminado; Inexistência de controles jurídico e financeiro internos.

- The Ethical Brain. Uma review desse livro que parece ser bem interessante. Será que é possivel aumentar a inteligência geneticamente? Será que essa indústria acabará com o conceito de competição atual? O primeiro capítulo está disponível aqui.

- Por último, a lei que proíbe o uso de animais em apresentações de circo. Acho que esse tipo de lei é um presságio de uma discussão maior: O que é um animal? Continua a ser somente um "resource" (e nesse caso sem direito algum)? Ou será que chegamos num ponto aonde o uso dos animais é desnecessário, e por consequência somente um abuso? Acho que estamos no meio do caminho. Muitos ficam chocados quando ouvem sobre como os animais são tratados, mas ao mesmo tempo ainda acham que comemos carne por necessidade. Tratamos nossos cachorros como membros da família, mas não damos a mínima se coelhos ou porcos são desnecessariamente mutilados e torturados em todo tipo de experimento sem o menor controle.

Enfim, vai chegar uma hora em que essa hipocrisia vai ter que ser pelo menos discutida abertamente.

Friday, June 17, 2005

Como ajudar a África?

Um novo estudo da International Policy Network sobre as consequências da ajuda internacional à África conclui que o envio de dinheiro não somente é ineficaz, mas muitas vezes altamente prejudicial aos países recipientes.

Entre 1970 e 2000, a África recebeu US$400 bilhões de ajuda. Como mostra o gráfico, existe uma correlação inversa entre ajuda e crescimento econômico:



Na verdade, essa relação não é exclusiva da África. Em menor escala, a Ásia mostra o mesmo problema:


O estudo mostra que o dinheiro vindo de doações raramente é usado em educação e saude. Apesar disso, os gastos governamentais crescem exatamente na mesma proporção em que a ajuda cresce (gráfico abaixo). Os governos se tornam mais poderosos, já que a renda é independente da taxação da população, e muitas vezes a corrupção permite que os dispositivos de controle sejam ignorados, e o 'nivel de democracia' diminui, aumentando o ciclo de pobreza. Adicione a tudo isso o fato de que a maioria desses países passaram os últimos 30 anos destruindo sua economia interna com programas socialistas, e fica fácil entender o porquê da pobreza endêmica do continente.



Existem porém algumas exceções. A Uganda, depois de décadas de desastre (GDP per capita caiu 40% entre 1971–85) resolveu abrir sua economia em 1987, e cresceu em média 6.9% ao ano durante a década de 90. Nesse caso a ajuda internacional foi um dos fatores que ajudou o país a se reerguer.



Mas sem dúvida, o caso de maior sucesso econômico na África é o da Botsuana. De país mais pobre do mundo em 1966 (ano da sua independência) a um GDP per capita de U$9.200 (O Brasil tem GDP per capita de U$8.100). Claro que Botsuana não é nenhum paraiso, mas comparativamente a melhora é indiscutível. E quando se analisa o impacto da ajuda internacional, novamente o quadro se repete:



Em resumo, o estudo conclui que o crescimento econômico não depende do nível de ajuda internacional recebida por um país, mas sim de fatores qualitativos como:
- a estrutura legal do direito à propriedade
- a capacidade do sistema judiciário em aplicar eficientemente leis universais e claras
- o tamanho do governo e sua eficácia na implementação de serviços públicos
- a abertura da economia para o comércio e investimento internacional

O estudo tambem conclui que seria mais lógico diminuir o nível de ajuda internacional, e atrelar qualquer dinheiro a reformas internas. Mesmo nesses casos, qualquer ajuda deveria ser à curto prazo. Os países ricos ajudariam muito mais se diminuíssem (eliminassem) os subsídios internos para agricultura.

Thursday, June 16, 2005

Guantanamo e os loucos democratas

Que a anistia internacional compare Guantanamo aos gulags é até compreensível. Mas que um senador americano faça o mesmo, incluindo na comparação os nazistas e Pol Pot, é inconcebível.

O ridículo da situação ficou ainda mais evidente quando o senador democrata Dick Durbin usou como exemplo o caso de um prisioneiro preso numa sala aonde o "ar condicionado era às vezes ligado muito frio, e em outras completamente desligado".

Será que o senador é louco o suficiente para realmente acreditar que esse tipo de comparação é possivel? Será que comparar prisões na Sibéria, aonde mais de 60% dos milhões de prisioneiros morriam (muitas vezes congelados), com uma prisão aonde nenhum dos 520 prisioneiros morreu faz o menor sentido?

E não achem que o tal Dick é qualquer senador. Ele é considerado o democrata número 2 no senado, e era cotado para ser vice do Kerry.

A loucura maior é que Guantanamo é um assunto importante, e muitos aspectos tem que ser discutidos. Mas esse tipo de ataque histérico acaba atrapalhando qualquer tipo de debate. Quem vai aceitar qualquer crítica depois de uma apelação como essa?

É por isso que apesar das continuas cagadas dos republicanos, os democratas continuam perdendo. É simplesmente impossível levar à sério esses democratas atuais.

Tuesday, June 14, 2005

Bola de neve

Segundo a NPR, a grande maioria dos alemães considera que a principal função de qualquer empresa é "criar empregos seguros". A maioria também se diz contra o "capitalismo anglo-saxão", definido como a busca do lucro acima de qualquer outra coisa.

Enquanto isso, a taxa de desemprego na Alemanha continua subindo, chegando a 10.5% em Abril. Já a taxa de desemprego no Reino Unido chegou no nível mais baixo dos últimos 20 anos, 4.2%. A mesma taxa nos EUA é de 5.1%.

Ainda nessa reportagem da NPR, empresários alemães confirmam que essa busca institucional por segurança no emprego é a principal causa do desemprego. Os entraves para se demitir um funcionário são tão grandes (eles tem que "provar" a necessidade) que ninguém contrata. Com isso as empresas deixam de produzir, perdem competitividade, e o ciclo de desemprego aumenta.

Parece uma parábola da Ayn Rand. Some people never learn.

Monday, June 13, 2005

Trade-offs

Até a semana passada, o Canada era o único país do mundo (Cuba e Coréia do Norte são café-com-leite) a proibir qualquer forma de seguro de saúde privado, e consequentemente obrigar seus moradores a usar o sistema público.

Mas semana passada esse experimento acabou, graças à George Zeliotis. Em 1997, ele soube que teria que esperar na fila por mais de um ano pela sua operação de quadril. Mas ao invés de fazer o que a maioria faz, i.e. pular a fronteira e usar os hospitais de Chicago ou New York, ele resolveu comprar a briga. E depois de 8 anos e duas derrotas nas cortes municipais, ele venceu.

Esse artigo me fez lembrar deste outro, aonde os sistemas de saúde dos EUA e do UK eram comparados.

O Thomas Sowell como sempre matou na mosca:
"There are no solutions to modern health care problems, only trade-offs."

Saturday, June 11, 2005


Sábado, 11 de junho, 2005

Ah Bill...

Fomos ver o Bill Maher ao vivo nessa quarta passada. Eu, minha mulher, e aparentemente todos os democratas da região de Washington. Provavelmente eramos os únicos do teatro sem tatuagem, piercing ou bandanas. Ah, provavelmente os únicos também a não gritar "Uh Uh" a cada 3 segundos.

Anyway, eu já tinha comentado que apesar de achar o Maher looney left, assisto o programa dele toda semana. Estava esperando que o show fosse parecido com o programa de TV, quer dizer, estava otimista mas sabia que o lado loony poderia prejudicar.

Infelizmente, foi uma decepção.

Os primeiros dois terços do tempo foram inteiramente dedicados ao Bush. Uma piada boa aqui e ali, mas no geral somente as mesmas rotinas de sempre. Ele até admitiu que a birra com o Bush é exagerada ("When Blair talks about the war it makes a lot of sense to me!") e criticou os democratas aqui e ali, mas mesmo assim essa ênfase no Bush parecia mais paranóia (ou falta de material) do que qualquer outra coisa.

Quando estavamos quase desistindo, ele deixou a política de lado e tudo melhorou. A melhor parte foi quando ele "traduziu" letras de rap para "white".

Mas mesmo assim, o show foi muito abaixo de esperado. Além do material muito batido, tudo foi muito scripted. O wit que ele passa no show da TV se perde nas piadas lineares e punch lines óbvias.

Por último, uma observação. Nao sou cristão, mas imagino se seria possível fazer as piadas que ele fez com outras religiões sem ser chamado de "anti" alguma coisa. Tirar sarro é uma coisa. Mas se ele dissesse que ser muçulmano é uma doença mental, acho que ele teria problemas.

Bom, mas ele também comparou cafeína com cocaína numa diatribe à favor da maconha. Deve ser a tal "liberdade artística" em ação.

Way too looney for me.

Thursday, June 09, 2005


Quinta, 9 de junho, 2005

"Dutch Disease"

Esse artigo do Bresser chamado "Maldição dos recursos naturais" foi a primeira vez que ouvi falar dessa tal "Dutch Disease". Quer dizer, já tinha ouvido a essência da teoria outras vezes, mas não em termos econômicos.

Como não sou economista, resolvi chatear um de verdade. O Marcelo Tavares como sempre foi paciente, e explicou os detalhes. Acho que vale a pena postar para quem tiver interessado. Aqui vai:

"Dutch Disease é um fenomeno em que uma economia termina por concentrar muito da sua capacidade de produção na extração/produção de recursos naturais. Quando falo "muito" da sua capacidade de produção, estou falando de casos como Venezuela, Kuwait, Arábia Saudita, Chile em seus tempos de pobretão, etc. Países cujas economias dependem em elevadissimo grau de uma commodity para exportação.

Como funciona essa "doença"? Basicamente, a economia se calca fortemente em determinada commodity, essa commodity gera um volume enorme de exportações e entrada de divisas, que derruba o câmbio, o que incentiva as importações e diminui brutalmente a competitividade da industria interna dentro e fora do país. E como as taxas de retorno da commodity seriam superiores as da industria em geral, os recursos da economia terminam naturalmente sendo redirecionados para a commoditie em questão. Quando os preços se ajustam por alguma razão, a economia entra em crise profunda, e a recuperação é bastante complicada devido a concentração de recursos em um único setor. Isso é o que alguns economistas chamam de Dutch Disease.

No artigo, o Bresser, aquele do congelamento de preços e do milagre da multiplicação da inflação, tenta vender o seu maior fetiche: intervencionismo estatal.

O Bresser argumenta que os únicos fatores que fazem com que a agricultura brasileira seja competitiva são alta produtividade e eficiência, o que é uma mentira deslavada. As altas taxas de retorno da agricultura brasileira só são possíveis devido ao elevado subsídio que essa agricultura recebe, as linhas de crédito subsidiadas para exportação, e principalmente, pelo crédito barato e que não precisa ser reposto ao governo, condições as quais praticamente nenhum outro setor da economia tem acesso. Sem essas beneces, os outros setores da economia teriam condiçoes muito melhores pra disputar investimentos com a agricultura. Ou seja, a alocação de recursos para a agricultura no Brasil não é algo puramente natural, fruto de uma dádiva divina ou de vantagens comparativas, mas é uma alocação forçada, patrocinada pelo Estado.

Ou seja, se o Brasil sofre de Dutch Disease, trata-se de uma variante nova, a Dutch Disease estatal, com direito até a perdão de dívida devido a má alocação de recursos.

E tem mais. O comercio externo do Brasil é bastante pequeno em relação ao tamanho do PIB, e esse dinheiro só fica por aqui devido as altissimas taxas de juros reais que o país oferece. Esses dois fatores - convenientemente omitidos na simplificação do Bresser - somados aos subsídios oficiais (subsidios a uma atividade que, numa Dutch Disease, deveria ser tão magnanima que sozinha desequilibraria ao resto da economia) que só cresceram nos ultimos tempos, e a alocação forçada de recursos que o Estado promove a agricultura refutam completamente a noção de que o Brasil estaria com uma Dutch Disease.

É o velho mantra dos economistas estatistas ressurgindo das cinzas: "Ah, o Estado não está resolvendo, então coloca mais Estado que agora vai".

Tuesday, June 07, 2005


Terça, 7 de junho, 2005

O outro lado da moeda

Depois de 5 meses de disputa nas cortes, acabou a eleição mais disputada da história dos EUA.

A Democrata Christine Gregoire derrotou o Republicano Dino Rossi por uma margem de 129 votos, de um total de 2.9 milhões, e agora é oficialmente a governadora do estado de Washington.

A primeira contagem de votos havia dado a vitoria à Rossi, por 261 votos. Depois da primeira recontagem, a diferença ainda à seu favor diminuiu para 42, e somente na terceira recontagem se inverteu para os 129 votos de vantagem dos Democratas.

Durante o processo judiciário 1.678 votos ilegais foram encontrados, mas o juiz do King County, o maior condado democrata do estado, recusou a maioria. A decisão oficial de hoje diz que "Unless an election is clearly invalid, when the people have spoken their verdict should not be disturbed by the courts."

A notícia não apareceu em nenhuma capa dos maiores jornais americanos. Não apareceu at all na Folha.

Desconfio que Michael Moore não tem planos de incluir a confusão no seu próximo documentário.

Sunday, June 05, 2005


Domingo, 5 de junho, 2005

Loucura

Essa foi uma dica do medialunas, um blog bem legal de um paulistano em Buenos Aires.

Coluna Análise do dia do Joelmir Beting:

" RECARGA NA OVERDOSE

E saiu a nova Selic: 19,75% ao ano. Trata-se da nova recarga da overdose. Overdose? Anote aí: a taxa real, descontada a inflação, está agora em 13,3% - versus 6,6% na Turquia, o segundo lugar. Ou versus 5,1% negativa, aqui ao lado, na Argentina.

A maior do mundo? Brasil! A menor do mundo? Argentina! A selic global está na média de apenas 1,2%. A dos 30 países mais desenvolvidos, 0,6% na média. A dos 30 maiores emergentes, sem o Brasil, 1,8%. Aqui, 13,3%.

Mais uma vez, o José Maria de Jesus, meu taxista favorito, acaba de me questionar pelo retrovisor: "Ué, se é assim, um dos dois deve estar com o juro errado: ou o brasil ou o mundo..."

Claro, só pode ser o mundo.


E A CULPA?
Mais uma vez está todo mundo discutindo os juros na base, esquecendo-se do problema maior, o dos juros na ponta.

Sim, na ponta do crédito bancário para produção e consumo. Vamos continuar pagando no Brasil até 67% ao ano para produzir e, em média, 144% ao ano para consumir.

Pior, a classe média paga, agora em maio, 156% no cheque especial e 218% no cartão de crédito. E a classe pobre, sem banco?

A classe pobre não tem banco, mas tem crédito. O crédito fácil das financeiras. E nas financeiras, ela está pagando, este mês, em média 275% ao ano. Em alguns casos, mais, até 500% ao ano. As financeiras não têm remorso - elas lavam as mãos, feito Pilatos, dizendo "A culpa é da Selic!"
"

Meio contraditório esse final, não acharam?

Primeiro diziam que a culpa de tudo era do FMI. Agora que "estamos livres", não pode mais ser, correto? Talvez seja culpa do capitalismo... Mas ai o Brasil tem que ser o unico pais capitalista do mundo. Ah, vamos então culpar os bancos e financeiras!

Até nossos bancos são especiais pelo jeito.

Wednesday, June 01, 2005


Quarta, 1 de junho, 2005

Charlton Heston e eu

Melhores partes desse interessante artigo do sociólogo Eduardo Graeff para Folha de hoje:

"Esta é uma das melhores que eu conheço do folclore político mineiro (pré-responsabilidade fiscal, claro). As professoras primárias do Estado, com os salários atrasados há meses, protestavam em frente ao Palácio da Liberdade."
...
"O governador, aflito: "E aí, como é que faz?". Branco total. Até que o secretário da Administração, político tarimbado, deu uma saída: "Bom, governador, já que não é para pagar mesmo, por que o senhor não anuncia um aumento para as coitadas?"."
...
"A polícia arquiva uma quantidade espantosa de inquéritos sem apontar culpados. A morosidade da Justiça deixa criminosos identificados escapar da punição graças à prescrição legal. Milhares de mandados de prisão não são cumpridos por falta de vaga nas penitenciárias. Mas tudo bem: se não conseguimos aplicar a lei na vida real, por que não deixá-la mais dura no papel e dar uma satisfação para a coitada da sociedade?
Receio que algo parecido possa acontecer com a proibição do comércio de armas de fogo. A lei já proíbe o porte de arma pelos cidadãos em geral; a venda de armas a pessoas com antecedentes criminais; a posse de armas classificadas como de uso restrito; disparar arma de fogo em área habitada ou via pública; o comércio não autorizado de arma de fogo. E pune as violações com penas que vão de um a oito anos de prisão. Que bom, não é? Melhor, só se fosse de verdade."
...
"Meu receio não é que a proibição do comércio de armas seja simplesmente inócua. É que ela acabe agravando o mal que deveria remediar e esse brasileiro teimoso acabe sendo empurrado para os desvãos entre a lei e o costume onde habitam os jogos de azar (exceto as loterias federais e estaduais) e o tráfico e uso de drogas (exceto as engarrafadas por multinacionais).
O contrabando de armas pesadas já é um rico filão do crime organizado. Qual o problema de botar mais uns revólveres, pistolas e a respectiva munição no catálogo para a clientela que hoje se abastece nas lojas de armas?

Tenho inveja dos lugares do mundo onde as pessoas nem pensam em ter uma arma em casa porque acham desnecessário. E dos lugares onde em todo caso não usam arma de fogo para atacar ou se defender de outras pessoas. Mas não me consta que esses lugares tenham chegado lá por decreto. Se for conferir, antes de restringir ou eventualmente proibir a oferta, eles passaram por mudanças sociais, políticas e culturais que diminuíram a demanda de armas na mesma proporção em que sedimentaram a confiança das pessoas na proteção do Estado.

Em dois minutos você e eu poderíamos listar uma dúzia de medidas que ajudariam a aumentar a nossa confiança no Estado. Um primeiro item modesto, mas promissor, seria confiscar os telefones celulares que os chefes do crime organizado usam para comandar seus soldados de trás das grandes. Se nem isso conseguimos... Bem, pode ser que seja mais fácil tomar as armas dos cidadãos tementes da lei. Ou não.

Na dúvida, tenho que admitir: se houver o tal referendo, voto contra a proibição do comércio de armas. Em desagravo às professorinhas e em tributo à minha insegurança ancestral. "